OPORTUNIDADE HISTÓRICA

"Após uma noite de sofrimento em Paris, o Benfica atingiu, pelo segundo ano consecutivo, e pela quarta vez nas últimas seis temporadas, os quartos-de-final de uma competição europeia. A entrada nos oito melhores da Liga Europa trouxe naturalmente uma grande alegria à família benfiquista espalhada pelo mundo, e muito particularmente aos emigrantes portugueses de Paris, que puderam presenciar in loco mais um triunfo internacional do seu clube. Vivendo o Benfica à distância, muitos desses compatriotas são um enorme testemunho de amor clubista, e bem merecem que o emblema da sua paixão lhes leve o sabor das vitórias até bem perto do local onde vivem e trabalham. Ultrapassada esta etapa, há que olhar em diante, e perceber que o sonho de uma conquista internacional se está a tornar cada vez mais nítido. A Liga Europa apresenta-se este ano particularmente aberta, e uma presença na final de Dublin, tratando-se naturalmente uma empreitada ainda muito difícil, parece ser um objectivo inteiramente à altura da excelência que a nossa equipa já foi capaz de demonstrar. O sorteio dos quartos-de-final pôs-nos pela frente o PSV Eindhoven, líder da Liga Holandesa, e invicto na corrente época europeia, o que constitui, desde logo, um cartão de visita respeitável. Trata-se de uma equipa forte, com uma veia goleadora notável (72 golos em 25 jogos do seu campeonato), com um plantel recheado de juventude, e de capacidade atlética. É um adversário que não nos traz boas recordações – aquela final de 1988 foi talvez o momento mais triste que o futebol me proporcionou em toda a vida -, mas não é, de todo, inultrapassável. O melhor Benfica, o Benfica que venceu, por exemplo, no Dragão e em Estugarda, será com certeza capaz de disputar esta eliminatória de forma bastante afirmativa, e conseguir o desejado passaporte para as meias-finais, mantendo o sonho de pé. Entre os adversários que o sorteio poderia proporcionar, o equilíbrio era a nota dominante. Pessoalmente, apenas desejava evitar as equipas portuguesas ainda em prova, não só pelo seu valor desportivo, mas sobretudo devido a toda pressão que, inevitavelmente, iríamos ter de suportar dentro e fora dos campos. Gosto que as competições europeias tragam bons jogos de futebol. Não gosto de guerras, nem de terrorismo. Se olharmos para o ranking da UEFA, os dois clubes constantes do quadro dos quartos-de-final com melhor posicionamento são justamente FC Porto e Benfica, seguindo-se este PSV Eindhoven (sendo também estes os únicos antigos campeões europeus em prova). Ou seja, até à grande final de Dublin, temos já a certeza de não encontrar pelo caminho nenhum adversário teoricamente mais forte do que nós (PSV, Sp.Braga e Dínamo de Kiev têm, todos eles, um ranking inferior ao do Benfica), o que de nada valendo se não tiver a correspondente tradução no relvado, não deixa contudo de constituir um precioso sinal quanto ao zelo a emprestar a esta caminhada, e um forte estímulo para acreditarmos que é mesmo possível fazer história. O Benfica está, de facto, perante a possibilidade real de voltar, 49 anos depois, a erguer um troféu europeu. Não creio que tenha existido, nas últimas duas décadas, oportunidade tão clara para romper o maldito jejum imposto pelas profecias de Bela Guttmann, e devolver o Benfica ao seu destino de força universal. Não sabemos se poderão aparecer, no futuro próximo, muitas ocasiões como esta. E até a infeliz circunstância de nos terem afastado da discussão do título doméstico nos empurra para os braços do sonho europeu. Esta oportunidade justifica pois uma aposta total e absoluta. É preciso congregar todas as forças, dos dirigentes aos roupeiros, dos jogadores aos adeptos, para levarmos o Benfica à final da Liga Europa, caminho que terá necessariamente de começar por esta eliminatória frente ao PSV. Espera-se pois que o melhor Benfica da temporada, com toda a energia, com toda a alma, esteja em campo no próximo dia 7 de Abril, quando tiver lugar a primeira-mão da eliminatória com a equipa holandesa. Espera-se também que os sócios e adeptos correspondam à chamada, enchendo o Estádio da Luz, e fazendo reviver as grandes noites europeias do passado, pois isso será ajuda preciosa ao desempenho dos atletas em campo. Nenhum benfiquista com menos de 50 anos de idade viu José Águas erguer a Taça dos Campeões. Para todas estas gerações, o próximo dia 18 de Maio poderá significar a maior alegria desportiva de uma vida. Essa é uma responsabilidade a que a equipa de Jorge Jesus não pode fugir, sabendo-se que no futebol não há vencedores antecipados, e que também não existem campeões sem sorte. Vencer a Liga Europa não pode ser uma exigência, mas terá de ser um pedido. Um pedido forte e sentido. Uma súplica, de todos aqueles que anseiam por uma grande conquista internacional capaz de emparelhar com aquelas que os nossos pais e avós nos contaram, e com as quais nos encantaram o espírito."
LF no jornal "O Benfica" de 25/03/2011

1 comentário:

Vitória do Benfica disse...

è um bom post este seu. Mas eu pessoalmente estou muito pessimista com os próximos jogos. Acho que o Benfica não tem defesa capaz de bater o futebol holandês. Por motivos profissionais não estou na Europa nem a 7 nem a 14de Abril, o que não me permite assistir ao jogo. Estou pessimista, mas desejo o melhor para o nosso Benfica