A GRANDE APOSTA
"Nos inesquecíveis momentos que se seguiram à conquista do título nacional, Jorge Jesus confessou que gostaria de ganhar a Liga dos Campeões da próxima época.
É saudável que o nosso treinador manifeste tamanha ambição, e não duvido que, no mesmo grau, esse sentimento seja extensível a dirigentes, jogadores e adeptos - por exemplo, aos benfiquistas da minha geração, que já não viram o Benfica erguer nenhuma das Taças dos Campeões Europeus, jóias da coroa do nosso palmarés, e cimento do prestígio internacional do clube.
Além do mais, dispomos de um plantel que permite - sobretudo se reforçado com mais um ou dois elementos de qualidade - olhar para a Europa de frente e sem medo. Com um pouco de sorte (designadamente no alinhamento dos sorteios) poderíamos efectivamente fazer história.
Mas, deverá a Liga dos Campeões ser a prioridade maior do nosso clube para a próxima temporada? A meu ver, não.
Sou, desde sempre, um apaixonado pelas provas internacionais. Aprendi muito do meu benfiquismo com as inesquecíveis caminhadas europeias dos anos oitenta, onde chegámos a três finais. Sendo de fora de Lisboa, via os benfiquistas da minha terra mobilizarem-se, sobretudo, para os jogos internacionais (foi num deles o meu baptismo de estádio), pelo que aprendi a olhá-los como o pilar fundamental da afirmação competitiva do clube. Nessa altura o Benfica era hegemónico no plano interno, e conquistava campeonatos nacionais em série. E é precisamente essa a diferença face ao contexto actual. O grande objectivo estratégico que o nosso clube tem hoje por diante passa essencialmente por recuperar essa supremacia interna. Perdemo-la para o FC Porto há vinte anos atrás, e não será com um só título que a iremos ter de volta. Um campeonato, um simples campeonato, não vai ser suficiente para varrer do futebol português todo o lixo com que Pinto da Costa o manchou nas últimas décadas. Se não houver continuidade, se este triunfo se vier a revelar um acontecimento episódico (como de alguma forma sucedeu em 2005), ele não fará mais do que algumas cócegas nas forças contra as quais lutamos. Sem a materialização de um novo e consequente ciclo de triunfos, o título que acabámos de vencer, em boa verdade, não servirá para nada.
Deste modo, a prioridade do Benfica na próxima época, bem como, provavelmente, nas duas ou três seguintes, terá de apontar novamente para a conquista do campeonato nacional. Não se trata de escolher entre ser campeão nacional ou campeão europeu (a resposta seria óbvia), mas sim de agarrar primeiro, e com as duas mãos, aquilo que é decisivo para nós, e que só depende de nós, não o comprometendo à aleatoriedade de um percurso europeu escravo das mais variadas circunstâncias.
Obviamente que isto não significa um menor empenho na Liga dos Campeões. Além do prestígio que confere, e da valorização que proporciona aos atletas, a principal prova europeia constitui também uma importante fonte de receitas, que não podemos menosprezar. Há que jogá-la pois com entusiasmo e ambição, mas sem permitir que o combate pelo título nacional resulte minimamente beliscado. Trata-se, no fundo, de seguir a estratégia da época finda, onde até fizemos uma excelente campanha internacional – e muito bem estaríamos caso voltássemos a alcançar os quartos-de-final (agora na Champions), o que no plano financeiro significaria, desde logo, um considerável encaixe.
Talvez não seja fácil passar este discurso para os nossos profissionais. Para eles, para as suas carreiras, para o seu futuro, a projecção internacional é incomparavelmente mais relevante que qualquer luta doméstica, e sabemos que a Liga dos Campeões é, a esse nível, o palco principal. Pouco interessará a um jogador, qualquer que ele seja, e qualquer que seja o clube que represente, quem domina ou deixa de dominar o futebol português para lá do seu contrato. Mas essa é justamente a guerra em que o Benfica, enquanto clube, está envolvido, e todas as batalhas se devem submeter a ela.
Conquistado o “Bi”, e depois o “Tri”, então sim, talvez nos possamos dar ao luxo de sacrificar um ou outro campeonato à frente externa, talvez possamos partir para outro patamar de ambição. Concluído o trabalho de casa, poderemos então sair para a rua que no passado nos consagrou. E se todo este guião se concretizar, muito diferente será o futebol português por esses dias. Esse é, de resto, o meu desejo, mas também meu palpite."
É saudável que o nosso treinador manifeste tamanha ambição, e não duvido que, no mesmo grau, esse sentimento seja extensível a dirigentes, jogadores e adeptos - por exemplo, aos benfiquistas da minha geração, que já não viram o Benfica erguer nenhuma das Taças dos Campeões Europeus, jóias da coroa do nosso palmarés, e cimento do prestígio internacional do clube.
Além do mais, dispomos de um plantel que permite - sobretudo se reforçado com mais um ou dois elementos de qualidade - olhar para a Europa de frente e sem medo. Com um pouco de sorte (designadamente no alinhamento dos sorteios) poderíamos efectivamente fazer história.
Mas, deverá a Liga dos Campeões ser a prioridade maior do nosso clube para a próxima temporada? A meu ver, não.
Sou, desde sempre, um apaixonado pelas provas internacionais. Aprendi muito do meu benfiquismo com as inesquecíveis caminhadas europeias dos anos oitenta, onde chegámos a três finais. Sendo de fora de Lisboa, via os benfiquistas da minha terra mobilizarem-se, sobretudo, para os jogos internacionais (foi num deles o meu baptismo de estádio), pelo que aprendi a olhá-los como o pilar fundamental da afirmação competitiva do clube. Nessa altura o Benfica era hegemónico no plano interno, e conquistava campeonatos nacionais em série. E é precisamente essa a diferença face ao contexto actual. O grande objectivo estratégico que o nosso clube tem hoje por diante passa essencialmente por recuperar essa supremacia interna. Perdemo-la para o FC Porto há vinte anos atrás, e não será com um só título que a iremos ter de volta. Um campeonato, um simples campeonato, não vai ser suficiente para varrer do futebol português todo o lixo com que Pinto da Costa o manchou nas últimas décadas. Se não houver continuidade, se este triunfo se vier a revelar um acontecimento episódico (como de alguma forma sucedeu em 2005), ele não fará mais do que algumas cócegas nas forças contra as quais lutamos. Sem a materialização de um novo e consequente ciclo de triunfos, o título que acabámos de vencer, em boa verdade, não servirá para nada.
Deste modo, a prioridade do Benfica na próxima época, bem como, provavelmente, nas duas ou três seguintes, terá de apontar novamente para a conquista do campeonato nacional. Não se trata de escolher entre ser campeão nacional ou campeão europeu (a resposta seria óbvia), mas sim de agarrar primeiro, e com as duas mãos, aquilo que é decisivo para nós, e que só depende de nós, não o comprometendo à aleatoriedade de um percurso europeu escravo das mais variadas circunstâncias.
Obviamente que isto não significa um menor empenho na Liga dos Campeões. Além do prestígio que confere, e da valorização que proporciona aos atletas, a principal prova europeia constitui também uma importante fonte de receitas, que não podemos menosprezar. Há que jogá-la pois com entusiasmo e ambição, mas sem permitir que o combate pelo título nacional resulte minimamente beliscado. Trata-se, no fundo, de seguir a estratégia da época finda, onde até fizemos uma excelente campanha internacional – e muito bem estaríamos caso voltássemos a alcançar os quartos-de-final (agora na Champions), o que no plano financeiro significaria, desde logo, um considerável encaixe.
Talvez não seja fácil passar este discurso para os nossos profissionais. Para eles, para as suas carreiras, para o seu futuro, a projecção internacional é incomparavelmente mais relevante que qualquer luta doméstica, e sabemos que a Liga dos Campeões é, a esse nível, o palco principal. Pouco interessará a um jogador, qualquer que ele seja, e qualquer que seja o clube que represente, quem domina ou deixa de dominar o futebol português para lá do seu contrato. Mas essa é justamente a guerra em que o Benfica, enquanto clube, está envolvido, e todas as batalhas se devem submeter a ela.
Conquistado o “Bi”, e depois o “Tri”, então sim, talvez nos possamos dar ao luxo de sacrificar um ou outro campeonato à frente externa, talvez possamos partir para outro patamar de ambição. Concluído o trabalho de casa, poderemos então sair para a rua que no passado nos consagrou. E se todo este guião se concretizar, muito diferente será o futebol português por esses dias. Esse é, de resto, o meu desejo, mas também meu palpite."
LF no Jornal "O Benfica" de 28/05/2010
3 comentários:
Eu vi o Benfica campeão Europeu. Tenho esses previlégio e também o peso da idade. Mas concordo m absoluto consigo. Temos de recuperar a hegemonia no futebol português temos de varrer Pinto da Costa. Pelo andar da carruagem mas nem um nem outro dos potenciais parecem estar à altura. Pinto da Costa ganhou muito porque deu muitos conselhos matrimoniais.
Totalmente de acordo. E, penso, todos os benfiquistas com um palmo de testa também estarão totalmente de acordo.
Não tenhamos a ilusão de que o delinquente presidente do clube de gueto tenha como estratégia o novo treinador para voltar rápidamente aos titulos, este ser sinistro só sabe movimentar-se no lodo e conspurcação. Não sabe estar no futebol de forma limpa, o trabalho de investigação que os inspectores efectuaram, originou as provas que todos conhecemos (vide youtube). Julgo que estes factos de sobeja conhecidos, são uma infima ponta do iceberg daquilo que este senhor manipulou e forjou ao longo de quase duas décadas. Temos de continuar muito fortes nas 4 linhas e atentos fora delas.
Viva o Benfica.
Enviar um comentário