PRIMAVERA TARDIA

Embora perceba a necessidade de manter viva a moral da equipa, para mim o campeonato do Benfica já terminou. Terminou a luta pelo título com a derrota em casa perante o V.Guimarães, e foi por água abaixo a hipótese de ficar em segundo lugar após o desaire da passada semana, também na Luz, diante da Académica.
Só quem ande cá a pouco tempo poderá imaginar que a equipa de Paulo Bento vá perder quatro pontos para o Benfica nas cinco jornadas que restam, tal como só os mais sonhadores acreditam que o F.C.Porto os perca para o Sporting. Dragões e leões que, desde a segunda jornada da segunda volta (há oito, portanto), apenas perderam pontos no empate entre eles, o que reflecte a regularidade competitiva com que estes conjuntos têm abordado a ponta final da temporada, algo que, diga-se, já não é deste ano.
Pelo que acabei de dizer, vi o confronto com o Vitória de Setúbal praticamente como se de um jogo a feijões se tratasse. E só não o entendi totalmente assim porque o empate da véspera entre Nacional e Sp.Braga deixara a hipótese de garantir desde já o terceiro lugar, coisa que, não podendo entrar ainda no domínio das certezas matemáticas, parece ter agora ficado definitivamente acautelada.
Esta descontracção foi aliás coincidente com o que se passou no relvado do Bonfim, onde uma equipa mergulhada em problemas gravíssimos não foi capaz de fazer frente a um Benfica mais alegre e fluido do que se viu durante a maior parte da época. A história do jogo é a história dos golos. Dos que se marcaram, e dos que ficaram por marcar (Óscar Cardozo, só à sua conta, podia ter conseguido um número histórico).
É preciso dizer também que havia 14 jornadas que o Benfica não vencia por mais de um golo de diferença, o que significa que muitos benfiquistas já nem se lembravam do que era uma noite tranquila de futebol. Ontem tiveram-na.
Estas duas jornadas, mau grado o desaire frente aos estudantes, mostraram um Benfica de cara lavada. Com Ruben Amorim e Carlos Martins o meio-campo do Benfica parece outro. Os dois pontas-de-lança completam a mudança – se contra a Académica não marcaram, não foi por falta de ocasiões criadas. Qualquer semelhança entre este Benfica e, por exemplo, o da Reboleira, resume-se às camisolas. É pena que só agora, com 25 jornadas decorridas, a equipa de Quique Flores dê enfim sinais de que também sabe jogar futebol. Fá-lo quando a época está já irremediavelmente comprometida. Se é vulgar dizermos que mais vale tarde do que nunca, há momentos no futebol, e na vida, em que o nunca e o tarde se confundem e se baralham, acabando por significar uma e a mesmíssima coisa. Para a época do Benfica, esta gorda vitória de pouco vai servir.
Cabe aqui um mea culpa acerca de José António Reyes, que não coloquei na equipa que propus, e foi talvez o melhor em campo. A minha opinião sobre Reyes diz que se trata de um jogador capaz de momentos geniais, mas sem garantias de assegurar, ao longo de toda uma época, o rendimento regular e preponderante para o qual o seu elevadíssimo salário aponta. Para que melhor se entenda: não é um Simão Sabrosa (que além do mais marcava 15 golos por ano). Ontem, esteve muito bem, e foi nele que começou a tranquila noite encarnada.
De destacar foram também as prestações de Di Maria, que entrou muito bem no jogo, e de Nuno Gomes, que regressou aos golos, e logo com dose dupla. Pela negativa há que mencionar Pablo Aimar, que nem frente a uma equipa que lhe concedeu amplos espaços e liberdades foi capaz de mostrar aquilo que dele se esperava no início da época, e que nunca confirmou. Continuo, aliás, sem perceber o que faz ele a mais do que fazia o dispensado Nuno Assis…
No domingo o Benfica recebe o Marítimo, e terá oportunidade de selar o terceiro lugar. Como diria La Palisse, ficar em segundo seria melhor do que ficar em terceiro, mas a diferença entre uma coisa e outra não é sequer comparável ao que sucedia nas épocas anteriores. Enquanto anteriormente o segundo lugar apurava directamente para a Liga dos Campeões, agora obriga a disputar uma primeira eliminatória contra uma equipa forte (Glasgow Rangers? Panathinaikos? Besiktas? Ajax? Shakhtar Donetsk?), que por sua vez dá acesso a uma outra eliminatória ainda mais difícil (Arsenal? Valência? Lyon? Bayern? Roma?), só após as quais será então possível chegar aos milhões. Como se percebe, a tarefa não é fácil, com a agravante de obrigar a alterar toda a planificação da época (o primeiro jogo é logo nos primeiros dias de Julho). A Liga Europa é pois um bom destino para este Benfica, que ainda tem muito que trabalhar até se transformar numa grande equipa, e que nessa nova competição até pode, com um pouco de sorte, fazer um brilharete e - quem sabe? - chegar à final de Hamburgo. Mas sobre a Liga Europa falarei numa próxima ocasião.

9 comentários:

Miguel disse...

Sinceramente nao queria o segundo lugar!
começar a epoca em julho iria desmonstrar-se gravissimo para a planificação da epoca!
isso vai ficar provado com quem ficar em segundo!
QUERO SER CAMPEAO E MAIS NADA! E JOGADORES QUE NAO PENSEM ASSIM RUA COM ELES, SEJAM AIMARES OU VICTORES!
MENTALIDADE EXIGE-SE

Peter disse...

Finalmente um jogo tranquilo, mas diga-se de passagem que o vitória foi uma equipa muito frágil, de saudar o regresso aos golos do Nuno e mais 2 do Cardozo que é um jogador na minha opinião foi mal aproveitado esta época, com menos minutos que outros é o melhor marcador, se fosse sempre titular ainda tinha mais. E o Reyes tb esteve bem, até nem concordei muito com a substituição porque estava a gostar de vê-lo jogar.Quanto aos outros o scp percebe-se perfeitamente nalguns dos seus jogos as queixas que apresenta, mas neste jogo, não tem razão nenhuma para tal.Quanto ao fcp o olegário voltou a ser mais uma vez amiguinho e percebe-se bem como é que chegou a internacional.Se fosse um jogador do Benfica a fazer aquilo que o r.meireles fez era capa de jornal, e caia o carmo e a trindade mais uma vez como é do fcp, não se passa nada.

Vitória do Benfica disse...

Boa Tarde Luis Fialho e restantes visitantes do blogue.

A Primavera é sempre Primavera mesmo que seja tardia.

Não partilho consigo o desalento, eu gosto de ver o Benfica jogar bem, mesmo que tivesse, em último lugar do campeonato.

As exibições contra a Académica e contra o Setúbal, mesmo com resultados diferentes, dão sinais de um novo Benfica.

Mas não só. O seu post anterior frisou bem o conjunto de Vitórias a que assistimos. Foram resultados não só neste fim de semana mas já em outros anteriores, e que são sinais de rejuvenescimento do clube.

Eu continuo a achar que o Benfica sofreu grandes destruições na década de noventa que deixaram o clube em condições miseráveis. Factores internos e externos tiveram na origem desta catástrofe. Sem modalidades, sem imprensa, sem estrutura organizacional e cheio de dividas o Benfica em 2000 estava perdido.

Hoje assiste-se a um clube a rejuvenescer. Eu da experiência que a vida me dá, considero que em Portugal com toda a corrupção e ilícitos do futebol português, é muito difícil ganhar campeonatos de futebol. O Benfica por outro lado não soube gerir as expectativas, nem a maioria dos sócios se apercebeu das condições dramáticas em que o clube se encontrava. Estou convencida que até o próprio Rui Costa não tinha consciência da corrupção e do tráfego de influências existente no futebol português. Quique disse recentemente, numa conferência de imprens,a que o Futebol português tinha uma grande desorganização táctica. Eu por aquilo que vejo, concluo que a Liga de Futebol é a Liga do Porto e dos clubes satélites contra o Benfica.

Considero que a maneira como as equipas se comportam perante o Benfica, são esquemas tácticos não utilizados quando jogam com outras equipas, eu quase que me atrevo a dizer que os treinadores tem lições de táctica, com professores, antes dos jogos contra o Benfica. Para além disso os jogadores sabem que podem fazer o que quiserem que só são expulsos, para não jogarem contra o Futebol Clube do Porto.

Ao Benfica é preciso dar tempo e por isso considero muito importante que o Benfica ganhe os jogos que restam, não porque vá ganhar alguma coisa, mas antes porque lhe cria esquemas de rotina indispensáveis para a próxima época. Não esqueça, que tivemos muitos anos sem estar em primeiro lugar. E até penso que aquela do Cajuda na véspera do jogo com o Benfica dizer que é Benfiquista, isto foi também uma manobra de diversão.

José Manuel Delgado, que muito aprecio, escreveu no principio da época que Quique tinha que aprender a matreirice do futebol português. Esse foi o seu grande handicap do nosso treinador.

O que se viu no Domingo, no Bonfim (esperemos que o se faça jus ao nome) foi uma equipa com confiança, foi um Reyes estável e acarinhado. Foi um Cardozo, agradecido a Rui Costa, foi um Nuno Gomes que eu vi nos treinos dois dias antes em tabelas com Cardozo. Foi um meio campo muito bom, com Ruben Amorim no seu lugar e não dois jogadores Katso e Yebda, exactamente com a mesma leitura e movimento de jogo que se sobrepõem em vez de se complementarem como é o caso de Ruben e Carlos Martins ou uma substituição bem feita de este por Katso. Foi um Sidnei influente e um David Luis que jogue onde jogar joga sempre bem.

Eu acredito nesta equipa, eu não dispensava qualquer jogador. Temos equipa. Assim o espero como o esperamos todos.

Saudações Benfiquistas

Peter disse...

Vitória estou de acordo consigo.

mário disse...

Discordo em absoluto da sua opinião relativamente a Aimar. Mas querem que ele faça o quê afinal? Que tire três ou quatro da frente e que marque golo????!!!! Ele apresentou uma qualidade de passe muito grande permitindo ao meio-campo do benfica circular bem a bola e fazê-la chegar aos homens de ataque. E joga fora de posição natural dele, aliás em toda esta época nunca jogou onde as suas características melhor são aproveitadas.

Saudações Benfiquistas e viva o benfica

Vitor Esteves disse...

Resumindo ... para o ano há mais.
Espero que mais futebol, mais títulos e mais organização.

L. Rodrigues disse...

Caro LF,
só um comentário lateral para a sua referência a La Palisse. O homem nunca disse coisas desse género, embora da fama já não se livre.

Vale bem a pena ler a Wikipédia sobre o assunto, que a história, que é História, é bem interessante.

Anónimo disse...

Cá está, para os Benfiquistas, basta uma andorinha para fazer a primavera!

LF disse...

Mário,

Tem razão quanto ao facto de ele jogar a maior parte das vezes deslocado.

Mas de um jogador que ganha 150 mil euros por mês, eu espero que faça a diferença, e que, sozinho, decida jogos.
Era afinal o que fazia, por exemplo, Simão.

Não digo que Aimar seja mau jogador. Mas veio para fazer a diferença, para ser a peça em torno da qual o futebol do Benfica iria girar, e nunca o foi.

Depois, ao olhar para ele e para a sua atitude em campo, parece-me um jogador triste, acomodado, sem raça, sem ambição.
Não digo que seja mau profissional, até porque acho que não é esse o caso.
Mas é um jogador para quem o Benfica ganhar títulos ou não tanto faz.
Corre um bocadinho, faz o seu trabalho, e vai para casa. A quem ganha tanto exige-se mais.

Continuo a dizer que até agora não fez nada a mais do que Nuno Assis teria feito.


Depois, este tipo de jogadores acaba por minar o balneário, pois ganham muito mais que os outros, correm menos, são sempre titulares, e nem todos aceitam isso de bom grado.
São no fundo um factor de menor coesão do grupo.

O Benfica precisa de mais Maxis Pereiras, e menos Aimares.
Precisa de gente combativa, agressiva, rude, forte, corajosa, e não de artistas de circo.