BRINCAR COM O FOGO

Já começamos a ficar habituados. Jogo do Benfica esta época é sinónimo de sofrimento até ao último segundo, mesmo quando as coisas até não começam mal.
Foi o que sucedeu na Figueira da Foz, onde nem um golo fortuito obtido logo aos dois minutos de jogo fez o Benfica mostrar a segurança e a força de um verdadeiro candidato ao título.
A exibição encarnada entre o minuto dois e o momento em que, já na segunda parte, a Naval chegou à igualdade, foi absolutamente confrangedora, e deixa muitas preocupações aos benfiquistas, que vão vendo a temporada a caminhar para o fim e a sua equipa presa por um fio à luta pelo título, sem convencer ninguém, e sem evitar a ideia de apenas a sorte lhe permitir, neste momento, manter ainda de pé as suas ambições.
Em vantagem desde cedo, o Benfica pareceu não saber, a partir daí, o que fazer com a bola e com o jogo, permitindo uma fortíssima reacção ao adversário, encolhendo-se de forma estranha e perigosa, e colocando-se a jeito da enorme frustração que teria sido outro resultado que não a vitória nesta partida, um dia depois de os rivais terem ambos ultrapassado com facilidade os seus compromissos.
Quando se vê a ganhar, a equipa de Quique opta sistematicamente por baixar as suas linhas e procurar fazer valer a velocidade dos seus atacantes para, em contra-ataque e com espaço, tentar resolver os jogos. Teoricamente até se entende a ideia, mas na prática, o onze encarnado sente-se dessa forma incapacitado para construir uma transição ofensiva criteriosa, e não mais consegue alimentar o ataque sem ser através de pontapés para a frente, como que à procura de um qualquer milagre na cabeça de Cardozo ou nos pés de Di Maria. Mais grave que isso, a permeabilidade do seu processo defensivo – estejam as linhas mais à frente ou mais atrás, vêm-se quase sempre quatro jogadores alheados da luta pela posse de bola - possibilita ao adversário crescer, criar oportunidades, acreditar e, por vezes, marcar, complicando os jogos, e expondo-os sistematicamente aos sortilégios da fortuna e do azar. Tem valido ao Benfica a sua extrema eficácia nos lances de bola parada, onde os seus bons cabeceadores vão conseguindo fazer a diferença – hoje, Yebda no primeiro golo, Miguel Vítor e Katsouranis no segundo. Mas não creio que seja possível a alguma equipa tornar-se campeã fundamentando as suas apostas apenas nos lances de bola parada, como parece ser o caso deste Benfica.
Nem tudo foi mau na exibição encarnada. Na última meia-hora, e sobretudo após o golo de Katsouranis, o Benfica mostrou um cara diferente, não voltando a cometer o erro anterior. Fez pressão no meio-campo adversário, conseguiu de algum modo ir matando o tempo, sem contudo mostrar grande capacidade de circular a bola. Sobretudo ganhou. Ganhou, apesar de tudo, com justiça, mantendo a distância de dois pontos para o F.C.Porto.
Tudo é possível quando faltam ainda nove jogos para o fim do campeonato. Mas o sofrimento por que a equipa faz passar, semana a semana, os seus adeptos, embora tornando as vitórias saborosas, vai paralelamente adensando a desconfiança em torno do seu rendimento e da sua capacidade. Não se pode ter sempre sorte, e a margem de erro é praticamente nula até final.
Com Trapattoni o Benfica foi campeão com um modelo de jogo muito similar. Contudo, nessa altura, para além do plantel não permitir outras abordagens ou opções, via-se um onze geneticamente muito mais dado ao sofrimento e ao rigor táctico do que este, com laterais fortes e extremos capazes de os compensar. Além de que, o F.C.Porto perdeu nessa época 22 pontos em casa, e nesta ainda só vai em 11.
Ao contrário do que, talvez ingenuamente, defende Quique Flores, não creio que seja possível ao Benfica sagrar-se campeão com uma pontuação de sessenta e poucos pontos. Estou convencido de que o F.C.Porto não perde mais do que quatro ou cinco pontos até final (se perder), pelo que só com 68 ou mais pontos é que o Benfica poderá aspirar ao título, o que significa que a margem de erro até ao fim do campeonato se resume a…um empate, isto quando falta visitar, por exemplo, a Choupana e Braga. Em jogos como este da Figueira, ou o da próxima semana frente ao V.Guimarães, o Benfica não pode arriscar um milímetro, pelo que tem de entrar em campo inequivocamente disposto a fazer uma incessante e fortíssima pressão sobre o adversário, com a fúria e com a agressividade com que se jogaria uma final da Champions League. Estará a equipa à altura desse desafio? Veremos.

8 comentários:

Anónimo disse...

Concordo em absoluto o Benfica ainda não domina os princípios de jogo de uma equipa estável e equilibrada, quando se apanha em vantagem não sabe controlar o jogo,nessas alturas a posse de bola e a circulação da mesma com qualidade são essenciais não só para atacar mas também para manietar as acções ofensivas do adversário.De qualquer das maneiras continuamos na luta pelo título mas devemos efectivamente melhorar estes aspectos para nós(espectadores Benfiquistas) e eles (jogadores)terem mais tranquilidade e confiança.Quanto á arbitragem cada vez me deixa mais perplexo, como é que um árbitro como o j.ferreira é nomeado para 1 jogo destes depois do que fez no dragão. O vítor pereira e a sua equipa definitivamente não tem juízo nenhum e eles próprios com actos destes levantam a suspeição sobre o sector.O maxi fez falta sobre o jogador da naval(fora da área, mas fez) não viu o lazaroni fazer 3 faltas para amarelo (sobre o Aimar,Dí Maria, e M.Vítor)e o david não meteu a mão á bola,mas sim levou com ela na face, no livre que originou o 2ºgolo do Benfica.É certo que o árbitro pode estar encoberto pelo jogador da naval e ter sido induzido em erro,mas caramba depois de não ter expulso o lucho no clássico (se não foi expulso devia ter apanhado 1 sumaríssimo, mais uma vez o CD da liga demonstra que não é imparcial)e não ter expulsado o rodriguez por agressão ao caneira que pelas imagens vê-se perfeitamente que o árbitro viu o lance, vão por um árbitro destes a apitar um jogo do Benfica?Sinceramente ele devia ter ido logo para a jarra.Ainda por cima o j.ferreira não tem apitado por se encontrar em missão militar no estrangeiro.Afinal que critérios são estes? Destaco as exibições do Di Maria (finalmente parece estar a afirmar-se), Katso e M.Vítor.

Anónimo disse...

o livre do segundo golo existiu?

Anónimo disse...

Não

Anónimo disse...

O livre existiu e foi muito bem marcado com toda a legalidade.É mais um dos muitos livres em que o arbitro de costas para o lance e com o abrir dos braços do jogador da Naval é apanhado pela situação nada mais do que isso,só como deu golo e é ao Benfica que este ano mais uma vez tem sido gamado a fartar vilanagem cai o Carmo e a Trindade.

Anónimo disse...

Isso é um facto se não fossem as arbitragens o Benfica iria em 1º lugar destacado.

Anónimo disse...

Princípio de Peter?!

Anónimo disse...

Confrangedor, assim, nem o segundo lugar...

Anónimo disse...

Tudo dito e analisado.Concordo inteiramente.
M. Vieira