DA MANSIDÃO AO DESESPERO


Num jogo de futebol que termina com o resultado em branco, e no qual a equipa de arbitragem invalida um golo limpo, transforma uma grande penalidade num livre fora da área (as faltas devem ser assinaladas onde terminam e não onde começam, e a linha faz parte da área), não assinala uma outra, marca faltas inexistentes deixando passar outras em claro, transforma pontapés de baliza em cantos, e enche uma equipa de cartões, decisões todas elas em prejuízo da mesma equipa, por muito mal que esta jogue, por muito fraco que seja o espectáculo, não há como evitar que seja ao árbitro e aos seus auxiliares que se tenha de apontar o dedo na hora de apurar os responsáveis maiores pelo resultado.
O Benfica jogou mal. Muito mal mesmo. Mas quem pode garantir o que aconteceria ao jogo se terminasse a primeira parte a vencer por 2-0, como os encarnados, mesmo assim, fizeram por justificar ?
Devo dizer que fui para a Luz sem saber quem era o árbitro, mas assim que vi Paulo Costa no aquecimento disse para quem estava ao lado que iria ser difícil ao Benfica vencer o jogo. Não entendo como este árbitro do Porto continua a apitar jogos do Benfica, quando demonstra desde há muito um peculiar cuidado em prejudicar o clube sempre que se trata de jogos do campeonato, nos quais os prejuízos na Luz correspondem a benefícios noutras paragens. Nesta partida contou com a colaboração de um zeloso assistente, Manso de seu nome, a quem só faltou mesmo entrar em campo para se transformar em mais um defesa da equipa de Matosinhos. Foi ele o homem do jogo. Foi ele que decidiu o resultado. Foi esta eventualmente a pior e mais tendenciosa arbitragem de todo este campeonato.
Passemos então ao futebol.
Conforme já disse, por muito que tenham sido tortas as linhas com que o mesmo se escreveu, o Benfica mereceu inteiramente o resultado. A equipa encarnada entrou a passo, sem ponta de agressividade, com um futebol muito afunilado, com Rui Costa em claro défice de rendimento – precisará talvez de uma ou duas semanas de descanso – e a sentir a falta de Rodriguez como impulsionador do jogo ofensivo da equipa. Na frente, nem a utilização de dois pontas-de-lança valeu a Camacho. Cardozo continua a dar mostras de alguma lentidão e de grandes limitações sempre que tem de utilizar o pé direito – que por vezes parece não ser muito melhor que o meu… -, enquanto Nuno Gomes persiste na sua falta de agressividade e combatividade que são já uma crónica faceta desta sua segunda passagem pelo Benfica.
A equipa encarnada nunca foi um conjunto, mantendo os seus sectores demasiado separados, e denunciando uma gritante incapacidade de se movimentar e trocar linhas de passe de modo a poder manter a bola em zonas ofensivas e causar desequilíbrios no adversário. Estes têm sido aliás os maiores pecados do Benfica nesta temporada, cujos resultados se vão expressando na tabela classificativa. No sábado até poderia ter ganho - com outra arbitragem, ou com uma pontinha de sorte no último lance do encontro - mas não o merecia. Atente-se a este facto: em quinze jogos, a equipa de Camacho ficou a zero em seis deles (!!), quatro dos quais em casa.
Com este empate, e com a vitória portista, o título ficou definitivamente entregue. Senão matematicamente, futebolisticamente todos sabemos já quem vai ser o campeão, pois em futebol podem haver surpresas, mas não costumam acontecer milagres.
É na forma como (não) foi preparada a temporada, que se situam as causas desta anunciada crise benfiquista. Como disse aqui na altura, esta iria ser (mais) uma época perdida, pois dificilmente ao longo da mesma, Camacho, Fernando Santos, José Mourinho ou qualquer outro treinador do mundo, iriam encontrar soluções para as saídas extemporâneas de Simão, Miccoli e Karagounis – os três melhores jogadores do Benfica na última época – e conseguir gerir com eficácia e resultados um plantel de 31 jogadores onde 18 eram novos, 14 dos quais - originários das mais diversas latitudes - sem qualquer experiência no futebol profissional europeu.
Tomando em linha de conta o que foi a conturbada pré-temporada benfiquista, tem de se dizer que o segundo lugar actual não pode ser entendido como um fracasso. Direi mais, no âmbito da actual correlação de forças do futebol português, só acidentalmente o Benfica poderá vencer um título ao F.C.Porto, sendo que para este estado de coisas a médio prazo se alterar, será necessário ao clube da Luz dar ainda muitos e criteriosos passos, um dos quais terá de ser forçosamente, a bem ou a mal, um redimensionamento das ambições dos seus adeptos, de modo a que se deixem mobilizar para objectivos mais modestos e mais de acordo com o potencial actual da sua equipa, não lhe virando as costas por estar em segundo lugar, mas antes ajudando-a a perceber que essa é por agora a classificação possível, e que só um trabalho coerente e paciente poderá permitir ao clube um futuro à altura do seu glorioso passado.
O Benfica teve com o título de 2004-05, a oportunidade de dar um passo em frente, e discutir a hegemonia portista. Hoje percebe-se claramente que, por incompetência, erros crassos, e tiros nos pés, desperdiçou essa possibilidade, deixando-se cair novamente para os patamares competitivos em que se encontrava em 2003. Na altura foi Camacho o homem que ressuscitou a equipa para os títulos, e até agora não ficou, na minha óptica, demonstrado que não possa ser ele, com tempo e paciência, de novo a fazê-lo.
Há jovens com qualidade no plantel, a quem é preciso dar tempo para exteriorizarem todo o seu talento (David Luíz, Freddy Adu, Di Maria, Cardozo, Binya etc, para além dos emprestados). Há taças por disputar, e há uma presença na Champions League a garantir.
O campeonato está perdido para o Benfica, mas a época não o está. E o futuro ainda menos.

8 comentários:

Anónimo disse...

LF
A nível táctico Camacho é bastante criticado, porém, no sábado passado, acabei por dar razão aos seus detractores quando o treinador tirou o Nelson e deixou no seu lugar, talvez como prémio, o pior jogador (Máxi Pereira) do plantel do SLB. Como é possivel este jogador ter lugar cativo na equipa?
Neste momento como é que o presidente que, no início época prometeu mundo e fundos, vai apelar aos sócios e simpatizantes para acompanhar a equipe ao 2º lugar?
Enfim, estratégia mal delineada acompanhada de grandes doses de populismo nunca dá bom resultado.
Saudações benfiquistas
FS

LF disse...

Não acho o Maxi Pereira assim tão mau.
Não é um tecnicista, mas é um jogador combativo que fecha bem o flanco e até nem cruza mal.
Como grande parte da equipa, está num momento de forma deplorável.

De facto o populismo, tarde ou cedo, acaba por se pagar.
Se Vieira acreditava de facto naquilo que dizia no início da época, então é que não percebe mesmo nada de futebol.

Mas os benfiquistas têm de ter noção que o tempo não volta atrás, e o leite derramado, derramado está.
Neste momento importa pensar no presente e no futuro, e perceber que nem Camacho, nem os jogadores têm a maior culpa nos últimos resultados, e é com eles que o clube tem de contar, sob pena de repetir todo o processo novamente, e assim perder mais um ou dois anos.
O primeiro passo para termos um Benfica melhor no futuro, é perceber bem aquilo que ele é no presente. E no presente, alcançar o segundo lugar é um êxito. É ser uma espécie de campeão extra-F.C.Porto, equipa de facto de dimensão superior.
Diga LFV o que disser.

Anónimo disse...

Acho que só a azia pode ditar certos comentários, o menosprezar da excelente exibição do Leixões (de lembrar a abismal diferença de orçamentos) também é um argumento típico dos grandes, nunca empatam ou perdem por mérito dos adversários mas sim, sempre, por demérito próprio, em vez de se refugiarem sistemáticamente nos erros da arbitragem, olhem de vez em quando para o próprio umbigo e detectem os erros de mau planeamento de uma época, do desperdício de dinheiro em contrataçõe medíocres e de uma gestão, que de tão populista faz lembrar o Vale de Azevedo, Camacho é bom treinador, mas sem jogadores de qualidade fica limitado, o mesmo acontece ao Paulo Bento, o próprio Rui Costa tem vindo a efectuar um papel pouco digno do seu passado, cola-se demasiado ao presidente, terá algum beneficío indivídual com isso? Parece que sim, mas a politica das vacas sagradas no Benfica já não é de agora, o Benfica parece não se adaptar á realidade do futebol moderno, insiste no modelo da grandeza (não há dúvidas de que é grande), mas não pode viver é à sombra do passado...

LF disse...

Não tirando mérito ao Leixões, um Benfica normal teria a obrigação de vencer. E vendo bem até venceu...
Quanto ao presidente do Benfica, já aqui tem sido muito criticado.
Como ainda há dias disse, apesar do seu importante papel no passado recente, tenho fortes dúvidas que seja o homem indicado para este momento do clube.
O problema é que também não vejo grandes alternativas...

Anónimo disse...

LF

Acho engraçado quando quer diz, que Camacho e os jogadores têm poucas culpas, as culpas são todas de LFV e do inicio da temporada e da falta de planificação

1º- Camacho quando veio para o Benfica sabia, ou deveria saber o plantel que tinha

2º- A nossa Liga chegou ao fim da 1ª volta e o Benfica não consegue fazer uma jogada com inicio, meio e fim, Quim passa o jogo a mandar chutões para a frente, tal como Luisão e David Luiz, isso é culpa de quem ?, do LFV, não me parece

3º Dizer que os jogadores do Benfica não prestam, a sua maioria jogadores internacionais pelos seus países, de certeza que são melhores que os do Leixões, ou não será ?

O LFV, tem a sua culpa no "cartório", mas não é o mais culpado, Camacho tinha a obrigação de fazer esta equipa jogar mais, teve 5 meses para demonstrar trabalho e não o fez, o Benfica não joga nada, até a "garra" de Camacho, já não aparece e somos humilhados em pleno Estádio da Luz, por uma equipa que vem da II Liga e que atira 2 bolas aos ferros da nossa baliza e nós ZERO

Ontem estive a ouvir Humberto Coelho a falar, ele falava na mentalidade do Benfica, que actualmente ficar em 2º lugar já é bom para se ir á Champions, este não é o objectivo do nosso clube, o nosso objectivo é, vencer sempre para se ganhar titulos e não para ficar em 2º lugar

Em relação ao jogo Benfica/Leixões, aceito que se o arbitro tivesse validado aquele golo de Nuno Gomes, a historia seria outra, mas não posso aceitar aquela 2ª parte, não percebi o que ganhou Camacho com a saida de Nelson e a permanencia de Maxi Pereira, o que verá Camacho em Maxi, para lhe dar tantos minutos de jogo

O titulo já lá vai, fica a Taça de Portugal e a Taça UEFA, para se tentar ganhar, a Taça de Portugal ainda pode ser, agora a Taça UEFA, não me parece que estes jogadores tenham estofo para uma vitoria dessas

LF disse...

A questão é que, não só não foi Camacho que escolheu o plantel, como ainda chegou em cima de uma completa reconstrução do mesmo.
Viu-se forçado a trabalhar com um amontoado de jogadores escolhidos por outros sem critério, muitos sem qualquer experiência de futebol europeu, e muito longe de constituir uma verdadeira equipa.

A direcção do Benfica talvez tenha pensado que podia substituir Anderson, Karagounis, Simão e Miccoli por Zoro, Andrés Diaz, Coentrão e Bergessio, e que seria assim que se iria superiorizar ao Porto.
Não fossem os uruguaios que vieram depois pela mão de Camacho, e não sei o que seria o plantel do Benfica, que LFV numa das suas tiradas típicas de megalomania, populismo e demagogia, dizia ser o melhor da última década.

Para se chegar ao nível do Porto (equipa madura, experiente, com espírito colectivo e automatismos bem afinados), e fazer do Benfica campeão, cinco meses não bastam. Se calhar nem duas épocas inteiras...

O que é necessário agora é que LFV não volte a revolucionar tudo, culpando Camacho como culpou Fernando Santos, para assim tentar escapar por entre os pingos da chuva de uma clara decadência desportiva do Benfica sob a sua presidência e por culpa dos seus erros e da sua incompetência e inabilidade.

Aos sócios pede-se paciência, e que tenham consciência que depois de tudo o que aconteceu na pré-temporada ( e que já acontecera na anterior, e com Vieira suspeito que volte a acontecer na próxima), não é legítimo nem aceitável exigir ao treinador o título.
Neste contexto, o segundo lugar será muito bom, e veremos se na próxima jornada não ficamos já sem ele....

As últimas exibições são também fruto da ansiedade do grupo, resultado da sua pouca maturidade colectiva, e em muotos casos também individual.
E depois, há muitos jogadores do Benfica que não são tão bons como os jornais os fazem...

Paulo Santos disse...

"E depois, há muitos jogadores do Benfica que não são tão bons como os jornais os fazem..."



O mesmo se aplica ao treinador espanhol...

LF disse...

Não é nenhum Mourinho, nem nenhum Fábio Capello.
Mas quem seria a alternativa ?

Já cá estiveram Mourinho, Koeman, Fernando Santos, Jesualdo Ferreira, Autuori, Manuel José, Heynckes etc, e nenhum foi campeão.
Será mal dos treinadores ?