A CONTA QUE DEUS FEZ

Diz a experiência que jogos domésticos precedidos de grandes jornadas europeias apresentam normalmente um grau de dificuldade acrescido. O cansaço, o eventual deslumbramento com bons resultados, o desgaste mental em caso de derrotas, ou a menor motivação para palcos menos iluminados, contribuem para que, com alguma frequência, aconteçam resultados surpreendentes neste tipo de partidas – vejamos por exemplo o que aconteceu a Chelsea, Barcelona, Lyon, Arsenal, Real Madrid e Milan num fim de semana em que nenhum deles ganhou. Por isto mesmo o Benfica-Beira Mar de ontem à noite era, à partida, um jogo de risco e um teste à estabilidade mental da equipa de Fernando Santos, sobretudo tendo em conta a moralização dos aveirenses decorrente da excelente exibição realizada na jornada anterior face ao Sporting.
Mas observando aquilo que aconteceu, o que se pode dizer é que os encarnados atiraram para trás das costas todas estas teorias revelando nos momentos decisivos da partida uma motivação, uma vontade de vencer e uma condição física impressionantes dadas as circunstâncias, e mostrando que são neste momento a equipa que joga o mais vistoso futebol da nossa Liga.
Efectivamente, este Benfica versão 2006-2007 é, em termos de processo ofensivo, talvez o mais forte da última década, criando ocasiões de golo em catadupa quer esteja a jogar no Dragão, diante do Manchester United, do Celtic ou do Beira Mar. Só nos melhores tempos de Camacho os benfiquistas desfrutaram de uma qualidade do jogo de ataque próxima da que Fernando Santos tem sido capaz de implementar (com 16 golos marcados nas últimas 5 jornadas), e que promete cada vez mais tornar-se irresistível, sobretudo quando tem pela frente equipas mais fracas, muito fechadas e incapazes de explorar as lacunas defensivas que o Benfica – aí sim - ainda não conseguiu corrigir inteiramente.
Com Miccoli em super forma - aquele drible no interior da área ficou seguramente gravado na retina dos 38 mil espectadores presentes na Luz -, com Nuno Gomes a concretizar (embora ontem o seu golinho tenha sido, e bem, anulado) e Simão a subir de forma a olhos vistos mostrando toda a sua categoria jogo após jogo, o Benfica conta ainda com uma unidade fulcral no meio campo, capaz de sustentar transições ofensivas e defensivas, e que se vem assumindo paulatinamente como um caso muito sério neste Benfica e na Liga Portuguesa. Falo de Katsouranis, tão injustamente tratado na semana anterior devido a um lance normalíssimo de futebol, mas que ontem voltou a deixar a clara ideia de se tratar de um grande futebolista, um verdadeiro todo-o-terreno ao qual não falta o instinto goleador nem (pelos vistos) um temperamento de gelo capaz de o alhear de todas as polémicas em seu redor (talvez também por não perceber ainda muito bem o que se diz…). Também Petit dá agora finalmente mostras de uma melhor adaptação às suas novas funções, enquanto Nuno Assis, embora ontem não tenha estado ao nível que já o vimos, tem cumprido o seu papel de forma muito positiva, em termos de acções ofensivas.
Como disse acima, falta ainda ao Benfica trabalhar melhor as transições defensivas deste seu novo figurino táctico para se tornar de facto numa grande equipa, isto é, numa equipa ganhadora, numa equipa campeã, algo que só o tempo e o trabalho poderão permitir. Katsouranis parece capaz de ser um elemento determinante nesse particular, mas não podem ser apenas ele e Petit a assumir toda a despesa posicional do meio campo, deixando muitas vezes quatro homens estáticos na frente quando a equipa perde a posse de bola. É este o aspecto a corrigir, pois com a bola nos pés esta equipa tem já condições para se tornar pouco menos que imparável, falando naturalmente em termos nacionais.
O Beira Mar - como o Nacional, o Desportivo das Aves ou o Estrela da Amadora, equipas que visitaram a Luz nesta Liga - não foi de todo capaz de parar a enxurrada de futebol ofensivo que o Benfica aplicou quando decidiu finalmente que o jogo não se ganharia apenas com as camisolas. No início, embora a equipa da Luz tenha dominado o espaço e a bola, não teve imaginação suficiente para ultrapassar a linha defensiva aveirense, procurando apenas através de alguns disparos de meia distância bater o guardião Ale. No segundo período contudo, com legítimo receio que o correr do tempo lhe fosse complicando a vida, o Benfica entrou de rompante realizando meia hora verdadeiramente demolidora, reavivando a marca das suas últimas exibições. Marcou dois golos de rajada e resolveu praticamente aí a partida. A expulsão de Buba e o terceiro golo foram o corolário de um domínio avassalador, e a expressão justa de uma vitória sem mácula.
Segue-se agora uma pausa após a qual se saberá até que ponto os encarnados serão capazes de manter a cadência. Há lesionados para recuperar, e o calendário afigura-se difícil: visita a Braga; e recepção ao Copenhaga absolutamente determinante para o seu futuro europeu.
Individualmente destacaria Simão Sabrosa, cada vez mais ao seu melhor; Miccoli, mau grado alguns laivos de individualismo e exibicionismo excessivos; Katsouranis, pelo que já ficou dito; e Nelson que parece ter definitivamente ganho o lugar que, desde que ao seu melhor, lhe pertence com naturalidade. Pela negativa notou-se, no tempo que esteve em campo, que Karagounis sentiu bastante a paragem forçada, revelando-se bem longe do registo que apresentava antes de se lesionar.
Palavra ainda para Mário Jardel que pareceu estranhamente mais pesado do que já estivera há umas semanas atrás. A reacção à monumental vaia de que foi alvo também não terá sido a mais profissional.
A arbitragem não teve muito protagonismo, embora tivesse poupado a expulsão ao jogador aveirense que entrou de forma bárbara sobre Miguelito perto do final da primeira parte, e que havia visto a cartolina amarela minutos antes. No terceiro golo do Benfica Miccoli não parece interferir no lance, pelo que o seu fora-de-jogo se deve entender como meramente posicional.
Pontuações: Quim 3, Nelson 4, Luisão 3, Ricardo Rocha 3, Miguelito 3, Petit, 3, Katsouranis 4, Nuno Assis 3, Simão 4, Nuno Gomes 3, Miccoli 4, Karagounis 1, Karyaka 2, Mantorras 1.
Melhor benfiquista em campo: Simão Sabrosa.

8 comentários:

Anónimo disse...

LF

O Benfica está a jogar a um ritmo avassalador, os jogadores estão muito bem físicamente e psicologicamente

Dei a minha opinião, pouco favoravel ao treinador FS, mas agora tenho de dar " o braço a torcer " o esquema do " losango " está a dar frutos, embora haja momentos em que a equipa jogue num 3-1-4-2, com a subida do Nelson para o meio campo e com o Simão encostado a ala esquerda a dinamica deste Benfica é muito forte, isto no plano ofensivo

No plano defensivo, julgo que há ainda muitas arestas por limar, continuamos a ver o Petit muito avançado no terreno sem compensação defensiva, o maior exemplo foi o segundo golo, onde estavam o Petit e o Katsouranis dentro da area do Beira-Mar em posição de rematar

Agora falta encaixar o Rui Costa nesta equipa e melhorar o esquema defensivo, quando isso acontecer, seremos sem duvida, uma grande equipa a nível Europeu

Parabéns ao FS, que conseguiu pôr esta equipa a funcionar e dar alegrias aos seus adeptos

Anónimo disse...

Concordo em absoluto.

Veremos é até que ponto o Benfica consegue, não só melhorar em termos de processo defensivo e transição ataque-defesa, como também manter o ritmo durante toda a época.

As equipas de Fernando Santos têm por marca uma extraordinária preparação física. Veremos como a equipa reage também em termos mentais e de coesão.

Será que em caso de eliminação na Champions (que reconheçamos, continua a ser uma hipótese com bastante força), sairá algum jogador titular ? Estou a lembrar-me de Simão, por exemplo...

Recordo com prudência, que também no ano passado o Benfica se exibiu muito bem na fase final da primeira volta (lembra-se das 7 vitórias seguidas, com o estádio sempre cheio e num clima de grande euforia ?), e era apontado como favorito ao título até que em Janeiro o plantel foi completamente descaracterizado.

Estou curioso também para ver como a equipa se irá arrumar para receber Rui Costa. Para já vejo como hipótese mais forte a saída de Nuno Assis e o deslocamento de Simão para interior esquerdo, onde certamente vai perder alguma influência. Será um difícil puzzle, mas mais do que nunca confio em Fernando Santos.

Anónimo disse...

LF

O Sr. Luís Filipe Vieira, terá de optar :

1º- ter uma equipa para a Europa, pois não podemos esquecer que a pouco provavel eliminação da champions ( na minha opinião )ainda temos a UEFA, que nos poderá levar a vencer uma prova europeia, assim como uma equipa a jogar um bonito e pratico futebol com muitos golos, que leva ao Estádio da Luz milhares de adeptos, o mesmo será dizer, muitos milhares de Euros

2º- Vender alguns jogadores nucleares, na estratégia da equipa, receber muitos Euros de uma só vez e hipotecar o plano desportivo, por mais um ano

O Presidente LFV tem de arranjar mecanismos para não vender os melhores jogadores antes de ganhar titulos, os clubes necessitam de Euros para se manter, mas necessitam de titulos para os tornar grandes, respeitados e vivos

Neste momento o Benfica está a realizar muitos Euros em bilheteira, 38 mil espectadores num jogo com o Beira Mar, 14º classificado na liga Portuguesa, é muita " fruta ", se a equipa deixar de ganhar e de marcar tantos golos, os Euros serão muito menos de certeza

Há mais uma coisa, o Presidente LFV, diz que quer vencer a Champions, portanto não pode, nem deve vender os melhores jogadores

Eu acredito no LFV e no seu projécto para o Benfica

Anónimo disse...

Eu também acredito em LFV.

Todavia não posso deixar de reparar que desde que o Benfica foi campeão em Maio de 2005 (momento até ao qual a gestão desportiva do Benfica foi muito criteriosa), foram dados alguns tiros nos pés.

Na época passada houve demasiadas aquisições (sobretudo em Janeiro). Jogadores como Robert, Marcel, Marco Ferreira, Manduca, Moretto nada acrescentaram ao clube e minaram um balneário que era nesse momento a principal força da equipa.
A própria contratação de Ronald Koeman também não foi muito feliz.
As posteriores saídas de Manuel Fernandes e Geovanni também nunca foram cabalmente explicadas e vão em sentido contrário à construção de uma equipa para a Europa.
A contratação de Kikin Fonseca, sem questionar o valor do jogador (com quem eu simpatizo e de quem eu ainda espero golos), é própria de um clube que contrata "nomes famosos" e não tem um departamento de prospecção de mercado muito eficaz. Não se compreende comprar um jogador por 3 milhões de euros para o banco de suplentes.
Tiago e Miguel eram jogadores "demais" para o futebol português, mas poderiam ter sido muito mais bem vendidos.

Os sportinguistas olham para a selecção e falam nos jogadores formados em Alvalade, mas eu lembro-me de durante o mundial pensar também nso jogadores que passaram pela Luz e nem sempre foram rentabilizados da melhor forma.
Miguel, Fernando Meira, Marco Caneira, Maniche, Deco e Tiago estiveram todos no Benfica e pouco renderam ao clube.

Enfim, nada disto retira o mérito a esta direcção, que eu já elogiei aqui várias vezes.
Acho que no aspecto económico-financeiro, bem como ao nível das infra-estruturas, têm feito um trabalho fantástico.
Em termos de gestão desportiva, pelo que disse acima, poderia ser melhor, o que me deixa algo céptico em relação à ideia de o clube poder voltar a ser campeão europeu, algo em que eu há pouco mais de um ano atrás até acreditava vir a ser possível.

Anónimo disse...

LF

Eu penso que essa responsabilidade é do Sr. José Veiga, ele é o diector desportivo ( ou lá como lhe chamam )e ganha muito bem para desempenhar essas funções, também é certo, que o Presidente devia ser mais intreventivo nessa materia e mais humilde, pois quando mete uma coisa na cabeça, ninguem lhe pode dizer o contrario e já se viu, que a maioria dos Benfiquistas não estão de acordo com esse Sr. no Benfica, nem com o seu estilo ( do fcp ) no futebol

O Benfica, necessita de homens para unir, e não para separar os seus adeptos, em minha opinião este Sr. José Veiga, já devia ter saído do clube á muito tempo

Anónimo disse...

É bastante discutível.

Se por um lado os problemas que referi são de facto da responsabilidade dele, não sei em rigor, embora suspeite, da influência que ele tem no balneário junto de jogadores fundamentais.
Pelo menos Moreira, Quim, Ricardo Rocha, Petit, Simão Sabrosa e Nuno Gomes eram representados por ele, e segundo julgo saber, alguns deles não têm qualquer outro empresário.
Uma saída abrupta de Veiga poderia resultar num grave problema de balneário.
Por outro lado Veiga tem sido também importante na união da equipa, estando sempre perto dos jogadores e defendendo-os até à morte. O seu papel de mau da fita, liberta também o presidente das tricas em que naturalmente se veria envolvido caso não houvesse um Veiga para o aparar.

Acho que esta temporada é crucial para definir o seu futuro no Benfica. Depois de um excelente desempenho em 2004-2005, e de algumas ineficiências em 2005-2006, esta constituirá o desempate final.

Mas também eu não simpatizo com o personagem. Aliás, quem simpatiza ?

Anónimo disse...

LF

O Luís Filipe Vieira, gosta

Será ?

LF disse...

Pelos vistos sim.