CICLONE DOS AÇORES VARREU O ALENTEJO
A selecção nacional realizou um interessante teste no passado sábado frente a Cabo Verde. Para além da vitória e da moral com que os jogadores (sobretudo o goleador Pauleta) saíram desta jornada, foi útil também perceber que ainda existem algumas arestas por limar nesta equipa, designadamente em termos defensivos, as quais o adversário africano foi capaz de colocar a nu, mormente durante a primeira parte e enquanto as forças lhe permitiram.
Portugal entrou bem, marcando ainda no primeiro minuto e mostrando agressividade sobre a bola, mas com o decorrer do primeiro tempo foi abrandando o ritmo, talvez algo inebriado pelas facilidades que o golo inicial poderia fazer supor. Cabo Verde foi aproveitando esse afrouxar português, marcou um golo e ainda criou oportunidades para chegar à vantagem o que, conforme decorrera o jogo, não escandalizaria ninguém. Seria contudo novamente Pauleta a facturar, na sequência de um pontapé de canto, repondo a vantagem portuguesa com que se chegou ao intervalo.
Para a segunda parte o jogo mudou de figurino, por um lado devido ao cansaço evidenciado pelos caboverdianos (sem opções de banco capazes de manter o ritmo dos primeiros quarenta e cinco minutos), e por outro, fruto de uma maior rapidez imprimida pelos portugueses, decididos a demonstrar rapidamente a sua superioridade e traduzi-la em golos. Petit num excelente remate de fora da área, e novamente Pauleta num livre directo muito bem marcado, construíram um resultado que nos últimos minutos até poderia ter chegado a números mais desnivelados.
Se a forma evidenciada por Pauleta no ataque tranquiliza os portugueses quanto à capacidade de concretização da equipa nacional, já o sector defensivo ainda tem algum trabalho pela frente, pois a ausência de Nuno Valente fez-se sentir do lado esquerdo e a articulação entre Meira e Ricardo Carvalho está ainda uns furos abaixo do necessário.
No meio campo as dúvidas permanecem, sobretudo devido à indefinição da condição física de Costinha. Pelo que se percebeu deste jogo, Petit tem o lugar mais ou menos assegurado, enquanto a outra vaga será disputada por Costinha, Maniche e também Tiago. Se Costinha recuperar os índices físicos adequados será ele o “trinco” da equipa, podendo jogar Petit mais liberto e adiantado. Caso contrário Petit será o “seis” e Maniche e Tiago discutirão a posição “oito” (com vantagem para o primeiro, que sábado até nem esteve mal).
Mais atrás, a grande dúvida residirá no lado direito, onde Paulo Ferreira ainda terá seguramente uma palavra a dizer na luta com Miguel, que no entanto saiu claramente em vantagem desta partida.
Na esquerda Marco Caneira não esteve feliz, deixando a ideia de se tratar de uma terceira solução atrás de Nuno Valente e Paulo Ferreira (que jogou desse lado toda a segunda parte).
Mas vejamos como se comportaram , um a um, os jogadores portugueses:
RICARDO (3) Não teve muito trabalho, mas quando chamado a intervir não comprometeu, realizando até duas boas intervenções.
MIGUEL (4) Integrou-se muito bem no ataque, participando em inúmeras iniciativas quer com Figo quer com Ronaldo. Terá sido dos jogadores mais em foco, marcando pontos com vista à titularidade.
FERNANDO MEIRA (3) Parece estar em vantagem na luta pelo lugar, mas ainda terá que trabalhar muito de forma a conseguir uma articulação com Ricardo Carvalho próxima da que Jorge Andrade seria capaz de garantir. Acabou por ser infeliz no auto-golo.
RICARDO CARVALHO (4) Uns furos acima do colega do lado no aspecto defensivo, foi dele também o magistral passe para o primeiro golo de Pauleta, além de ter sido cometida sobre si a falta que originou o hat-trick do açoriano.
MARCO CANEIRA (2) Não passou no teste, demonstrando algum nervosismo e uma insegurança que nunca patenteou em toda a temporada no seu clube. Foi pelo seu lado que Cabo Verde imprimiu a maior parte das suas acções ofensivas mais perigosas, e foi de um mau passe seu que nasceu o lance do golo africano. No ataque foi inexistente.
PETIT (4) À semelhança de Miguel, aproveitou muito bem este particular para marcar a sua posição entre os titulares. Foi dos mais combativos como é habitual, e acabou por ser premiado com um excelente golo.
MANICHE (3) Começou muito bem, procurando dar ao meio campo o dinamismo que a sua movimentação normalmente permite, mas com o tempo foi-se apagando, talvez fruto da sua natural falta de ritmo de competição. Parece todavia ter a predilecção de Scolari para um lugar no onze.
DECO (2) Foi um sub-Deco aquele que esteve em Évora no sábado. Pouca movimentação e quase nenhuma inspiração, fizeram dele uma sombra daquilo que é capaz de fazer. Precisa de descanso, muito descanso, de modo a apresentar-se no mundial ao seu melhor nível. E Portugal bem precisa dele.
FIGO (2) As palavras utilizadas para Deco, assentam também na perfeição ao desempenho de Luís Figo. Um canto para golo e um ou outro passe bem medido foram o que se aproveitou da sua exibição. Esperemos que possa melhorar bastante.
PAULETA (5) O homem do jogo. Um hat-trick num jogo internacional não acontece todos os dias, mas para além dos golos (ainda marcou um outro, limpo, que não valeu), o açoriano foi um moiro de trabalho no ataque português, arcando quase sozinho com todas as despesas ofensivas da equipa, tal a desinspiração dos seus colegas da frente. Promete vingança de um Euro 2004 menos conseguido.
CRISTIANO RONALDO (2) Individualista e complicativo serão os adjectivos que melhor podem caracterizar a exibição do jovem prodígio português. Nos treinos a que assistimos esteve sempre muito bem, demonstrando uma excelente forma física, mas neste jogo a sorte não o acompanhou. Foi substituído na sequência de um incompreensível lance que no mundial teria certamente valido um vermelho directo.
PAULO FERREIRA (3) Entrou numa fase em que os caboverdianos pouco atacavam já, pelo que não teve necessidade de brilhar para manter o seu flanco a salvo de qualquer risco. Integrou-se menos no processo ofensivo do que seria de esperar, o que pode indiciar uma condição física mais deficitária. Entrou na luta por um lugar à esquerda.
COSTINHA (3) Praticamente não se mexe, mas o seu exímio sentido posicional (elogiado por Scolari) faz dele uma unidade tremendamente importante para esta equipa. Que bom seria se ainda fosse a tempo de recuperar a sua melhor forma, pois ninguém neste lote de jogadores faz o seu trabalho táctico com idêntica eficácia.
TIAGO (1) Esteve pouco tempo em campo e pouco se viu, ele que era à entrada para este estágio o centrocampista em melhor forma de todos os convocados.
HUGO VIANA (3) Entrou pouco seguro e teve alguns problemas na abordagem aos primeiros lances em que participou. Com o tempo foi tranquilizando e atingiu um nível surpreendentemente positivo para alguém que passou os últimos meses no banco de suplentes do seu clube.
SIMÃO SABROSA (3) Outro elemento que entrou com muita vontade de brilhar, prometendo nos primeiros instantes uma performance ao seu melhor, ideia que contudo se foi desvanecendo com o desenrolar do jogo. Foi veementemente repreendido por Scolari após um canto à maneira curta mal executado, do qual resultou uma perda de bola. Salvo qualquer lesão, não será ainda este o seu mundial, pois os lugares da frente parecem absolutamente fechados.
HÉLDER POSTIGA (2) Ensaiou durante alguns minutos uma parelha com Pauleta que até nem foi mal conseguida, nomeadamente através de progressões em tabelinha. Contudo não conseguiu criar perigo, o que pouco abona para a exibição de um ponta de lança.
Pode parecer paradoxal o facto de serem os elementos do ataque menos pontuados, quando os maiores problemas que este jogo deixou entender se situam na defesa. Isso acontece em virtude de duas evidências: uma delas foi a esplêndida exibição de Pauleta, que resolveu sozinho o jogo, e a outra é que os problemas defensivos de Portugal começaram justamente na pouca predisposição que elementos como Figo ou Cristiano Ronaldo mostraram para as acções defensivas, algo que no mundial tem de ser corrigido.
Duas notas finais apenas. Uma para os inacreditáveis intervalos para beber água, que além de uma falta de respeito para com os espectadores (também eles com sede e com calor, e tendo pago um bilhete para ver um jogo internacional) podem causar alguns problemas perante a Fifa. Outra nota vai justamente para os dez mil espectadores presentes que fizeram deste jogo uma verdadeira festa, apoiando sempre a equipa, aplaudindo os adversários, e vibrando com um espectáculo que souberam fazer por merecer.
7 comentários:
O Cristiano Ronaldo, devia pedir desculpas publicas, ao jogador de Cabo Verde e a todos os Portugueses, depois daquela agressão, reveladora do seu caracter, o jogador de Cabo Verde, não tinha culpa dele não estar a jogar bem e o publico foi para uma festa do futebol
O Cristiano Ronaldo, tem de perceber, que ele é uma referencia para os mais novos e não pode ter actitudes deste genero
Eu ainda não me esqueci do gesto dele no Estádio da Luz, quando as coisas não lhe correm bem, é assim
Tem de crescer, como homem
Sim, é um facto.
É um grande jogador, mas talvez o facto de estar a ser demasiado mediatizado o possa estar a perturbar. Ele não se deve esquecer que tem uma carreira à frente, que pode saber aproveitar ou não.
Octávio Machado dizia aos jogadores que queria que eles aparecessem no France Football, no Don Ballon ou no World Soccer, e não no Caras ou no Vip.
Seria bom que Ronaldo interiorizasse o espírito destas palavras, se de facto quer ser um dos melhores do mundo, como o seu talento permite esperar.
Mas devo salientar que, ao contrário do caro leitor, eu também estive na Luz nessa fantástica noite mas já me esqueci do gesto do jovem jogador português. Temos de saber perdoar e tenho esperança que ele ainda nos dê, a todos, grandes alegrias ao serviço da selecção.
Caro LF, como o anónimo de 20/06/2006, eu tambem não posso esquecer os gestos, que o C. Ronaldo fez aos adeptos do Benfica, insultar os adeptos do Benfica, mesmo aqueles que viram o jogo pela TV, é insultar mais de metade da população Portuguesa, já para não falar dos Benfiquistas espalhados pelo mundo
Podem me chamar fanático, mas :
" Português, gosto, porque fui obrigado ( nasci cá ), agora, do Benfica, gosto, porque quero ( de opção )"
As maiores felicidades, para a Selecção do Sr. Scolari
Queria dizer " Anónimo de 29/05/2006 " as minhas desculpas
Compreendo a vossa indignação.
Simplesmente, e fazendo um pouco o papel de advogado do diabo :), temos de entender que se trata de um jovem de 20 anos, numa situação de grande pressão, para a qual talvez não estivesse devidamente preparado, e não tenho dúvida que se fosse hoje não voltaria a fazê-lo, como Figo por exemplo não fez em situação idêntica que viveu em Barcelona.
Ronaldo procurou explicar mais tarde, podia ter pedido perdão logo nesse dia (ficaria melhor), mas ainda assim desejo o melhor para a sua carreira, sobretudo ao serviço da selecção.
Ao fim e ao cabo, se fizermos o difícil exercício mental de nos colocarmos na situação que ele viveu na Luz, quantos de nós resistiríamos a uma reacção semelhante ?
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