MINUTO OITENTA E QUATRO

O fantasma do minuto oitenta e quatro voltou a atacar o Sporting.
Na época passada, em jogo decisivo para a atribuição do título, ao minuto oitenta e quatro o brasileiro Luisão marcou a Ricardo e deitou por terra as ambições da equipa leonina. Agora em Alvalade, no mesmo minuto e em jogo também decisivo, o brasileiro Jorginho marcou novamente na baliza de Ricardo, oferecendo praticamente o título aos dragões, e empurrando o Sporting para a desconfortável situação de mais uma temporada, a quarta consecutiva, sem conquistar qualquer trofeu.
Matematicamente nada está definido, mas todos sabemos que o campeão está, na prática, encontrado. E pode-se dizer, de forma justa.
Defendi neste espaço que o F.C.Porto de Adriaanse não era uma equipa muito convincente. Em Alvalade foi-o, fazendo uma das exibições mais sólidas que me recordo, e na qual, pela primeira vez nesta liga, foi capaz de dominar e vencer um adversário directo.
Mas independentemente dos méritos futebolísticos desta equipa, cujo plantel poderia apontar para uma época mais brilhante, sobretudo a nível internacional, a verdade é que foi até agora indiscutivelmente a mais regular do campeonato, aquela que vacilou menos vezes, e de forma menos drástica, sendo por isso um justo líder.
Embora nas provas por eliminatórias nem sempre seja assim, num campeonato com trinta e quatro jornadas, quem chega ao fim com mais pontos é sempre um campeão justo. Esta é uma verdade insofismável.
No sábado o F.C.Porto soube brilhantemente aproveitar uma enorme lacuna deste Sporting, que é a total ausência de flanqueadores. Ao colocar um elemento sobre Abel, primeiro Quaresma e depois Alan, Adriaanse manietou todo o jogo exterior dos leões, sendo simultaneamente capaz de garantir supremacia defensiva perante os dois pontas de lança adversários – Bosingwa, Pedro Emanuel e Pepe, para Liedson e Deivid – podendo reforçar o meio campo com um pivot defensivo a tempo inteiro (Paulo Assunção), e com um elemento mais livre e ofensivo (Jorginho), capaz de pressionar e condicionar a transição ofensiva do Sporting a partir do seu meio campo.
Na antevisão que fiz do jogo apontei para a utilização de Jorginho (que veio a ser o homem do jogo), mas não tive em conta que a sua colocação numa zona intermédia, juntamente com a subida de Paulo Assunção, fosse capaz de garantir superioridade em todo o campo. Por isso uns são treinadores, como Adriaanse, e outros são apenas curiosos e interessados, como eu.
Mas independentemente desta lição táctica do mal amado técnico holandês, tem que se dizer que houve duas unidades no Sporting que, pelo seu apagamento, acabaram por limitar a força colectiva da equipa, falo dos dois melhores jogadores dos leões, João Moutinho e Liedson. O brasileiro, algo limitado fisicamente, nunca foi capaz de afligir a defensiva nortenha, e Moutinho acabou enleado na teia que foi o meio campo portista, muito povoado e pressionante.
O risco assumido por Paulo Bento de, nos últimos minutos, defender com três homens (surgindo nessa fase o F.C.Porto já reforçado com Adriano), foi um tanto contraditório com o seu discurso, e também com o próprio perfil da equipa. Um resultado de 0-0 deixava tudo em aberto, ficando o Sporting com vantagem no confronto directo. Todavia é fácil elaborar teorias depois dos factos consumados.
O jogo não foi bom, como seria de temer num confronto absolutamente decisivo, mas a agravar contou ainda com uma arbitragem bem “à portuguesa”, sem influência no resultado (Quaresma podia ter sido expulso pelo segundo amarelo, embora na verdade o primeiro tenha sido forçado), mas com forte e decisiva influência no mau espectáculo, com constantes interrupções e cartões absurdos, que originaram inúmeras simulações, foram enervando e limitando os jogadores, e irritando todos aqueles que gostam de futebol fluído. Cinquenta e uma faltas e treze cartões num jogo normal e correcto definem a falta de categoria do árbitro, o mesmo que há uns anos estragou outro clássico, então na Luz um Benfica-Sporting, assinalando uma inacreditável grande penalidade sobre Jardel (curiosamente em lance com Marco Caneira, à época no Benfica), num dos erros de arbitragem mais absurdos que me lembro de ver num relvado português.
Neste clássico, individualmente, destacaram-se Jorginho, Raul Meireles e Pepe no F.C.Porto, enquanto que no Sporting Carlos Martins, até sair, estava a ser o mais batalhador e influente, não se entendendo portanto a sua substituição.
Ficou a justa vitória portista e assim praticamente terminou a luta pelo título, com imagens de desolação e lágrimas nas bancadas de Alvalade, algo recorrente nos últimos anos, pois após a perda do lugar na Champions em 2004 com Fernando Santos e três derrotas nas últimas jornadas (sofrendo também então um golo de um brasileiro Geovanni, nos últimos minutos em casa frente ao Benfica), após o golo de Luisão na Luz em Maio passado, após a derrota em casa na final da Uefa, após a eliminação pela Udinese, após a incrível saída da Uefa aos pés do Halmstad, após a eliminação por penaltys das duas últimas Taças de Portugal, e agora também perdendo o título em casa nos últimos instantes da partida, bem se pode dizer que o Sporting necessita de “ir à bruxa”. E veremos se as coisas ficam por aqui...

3 comentários:

Anónimo disse...

E desta vez nem foi em falta... :)

outra coincidencia sim, foi o roubo q sofremos na meia final da taça... e perdermos em penalties quando mereciamos ter vencido no tempo regulamentar :) A equipa q beneficiou do roubo marcou entao o golo aos 84mn q decidiu o titulo (nova coincidencia... so q desta vez foi um golo legal e uma vitoria justa)

Coincidencias... ou talvez nao!

Cumps

Anónimo disse...

No ano passado também foi.
Até o presidente do Sporting o disse.
Mas, contra o Benfica custa sempre mais, não é ? :)

Anónimo disse...

Caro LF...

Ser roubado custa SEMPRE, digo-lhe por experiencia própria... Já roubar... não sei se custa ou nao :)