UMA VERDADEIRA FINAL

Joga-se o título em Alvalade.
Quem ganhar amanhã será certamente campeão. Qualquer outro cenário, embora possível à luz da imprevisibilidade que o futebol sempre acarreta, tornar-se-á absolutamente surpreendente.
Se o F.C.Porto conseguir a vitória poderá festejar desde logo, pois uma vantagem de cinco pontos (na verdade seis) a quatro jogos do fim será seguramente definitiva. Se o Sporting obtiver o triunfo, embora a prudência aconselhe a guardar as comemorações para mais tarde (um ponto é um ponto), dará também um passo firme e decisivo em direcção ao título, pois com a segurança e regularidade exibida em toda a segunda volta, fortalecida então pela vitória sobre o principal adversário, não parece crível poder vir a vacilar depois. O empate favorece o F.C.Porto, sobretudo se for com golos, e a verificar-se a igualdade, por certo que os dragões também não deixarão fugir o título.
Mas quem poderá então levar a melhor ?
Na minha opinião, o Sporting apresenta-se neste momento com uma considerável dose de favoritismo.
Na verdade o F.C.Porto de Adriaanse, mau grado algumas plasticamente bem conseguidas exibições, nunca convenceu em absoluto da sua consistência, a começar pelos seus próprios adeptos. É uma equipa com um modelo de jogo futurista, incorporando uma dose de aventureirismo táctico que não me parece capaz de se encaixar com muito sucesso na realidade do futebol actual, como ficou bem patente na sua tristonha presença na Liga dos Campeões. Mantém-se em primeiro lugar sobretudo graças ao talento individual de alguns dos seus jogadores e à variedade de soluções atacantes de que dispõe no plantel, tem também beneficiado de uma generalizada quebra de nível de muitas das equipas do principal escalão nacional, dos equívocos do Sporting de Peseiro, que iniciou a época muito mal, e da aposta mais ou menos assumida do Benfica na Champions. Mantém-se em primeiro lugar apesar das corrosivas opções de Adriaanse, e não devido a um qualquer incomum mérito do técnico holandês que, aliás, não ostenta ainda, aos cinquenta anos, qualquer título no seu palmarés. Tenho para mim que um F.C.Porto com Vitor Baía, Jorge Costa, Nuno Valente, Diego, Helder Postiga, quatro defesas e um modelo táctico equilibrado, seria muito mais forte que este. Mas os resultados são o que são, e o F.C.Porto tem ganho os seus jogos e comanda a classificação. Com alguma sorte até pode sair de Alvalade quase campeão.
Quanto ao Sporting, pode-se dizer que a sua segunda volta tem sido uma enorme surpresa. Quem diria, no intervalo do último Benfica-Sporting, com os leões a perderem e a correrem o risco de ficar a nove e doze pontos dos seus dois principais adversários, que nesta fase da época estariam em tão boa posição para se tornar campeões ?
O mérito desta imaculada caminhada vai inteiramente para Paulo Bento. O técnico do Sporting, sem formação nem experiência, tem demonstrado uma personalidade notável, um conhecimento do fenómeno futebolístico (sobretudo das especificidades da nossa liga)que está muito para além do que os holandeses de Porto e Benfica conseguiram apreender nos meses que levam de futebol português.
Disciplina, coesão, união, combatividade e alma, eram elementos praticamente ausentes do Sporting de José Peseiro, de tipologia bastante artística mas demasiado macio e desorganizado para as ambições que tinha. Paulo Bento limpou a cabeça dos jogadores, disciplinou-os, não hesitando em recorrer a represálias sempre que necessário, soube-os motivar fortemente, viu-se livre de alguns elementos a quem o clima no balneário não seria totalmente favorável, e foi capaz de identificar com grande perspicácia as lacunas técnico-tácticas da equipa, designadamente nas faixas laterais da defesa, acolhendo Abel e Caneira como reforços de inverno que dotaram a equipa de uma solidez defensiva que até então nunca havia patenteado. Teve ainda o mérito de re-implementar um esquema táctico que assenta como uma luva nas características dos jogadores do plantel leonino (carregado de criativos médios centro, sem extremos e com um pivot que se sente muito mais confortável só do que acompanhado), designadamente o meio campo em losango e dois pontas de lança, abandonando de vez as ideias de 4-3-3 que Peseiro procurava promover.
Na sequência da apreensão das suas simples mas eficazes ideias, o Sporting iniciou uma cavalgada impressionante de vitórias, pouco entusiasmantes em termos de beleza de jogo, mas extremamente seguras e convincentes.
Os leões aparecem assim a cinco jornadas do fim, a depender apenas de si próprios e, na minha opinião, como principais favoritos ao ceptro nacional.
Neste jogo, não será lícito esperar que venham a abandonar as premissas essenciais que lhes suportaram toda esta série de vitórias. Muito calculismo, muito rigor táctico e muita paciência, na expectativa que um erro defensivo ou um golpe de génio de Liedson possam resolver a contenda.
Os quatro elementos da linha defensiva, com o apoio de Custódio, serão certamente capazes de manter a superioridade numérica no processo defensivo perante todos os avançados do F.C.Porto. Na frente, Liedson e Deivid, juntamente com as entradas de Sá Pinto ou de um dos interiores, poderão ser suficientes para obrigar ao recuo permanente de Paulo Assunção para a posição de quarto central (partindo do princípio que Cech não recupera), despindo o meio campo dos nortenhos de um dos elementos mais versáteis nas transições defensivas.
No centro do terreno, o losango leonino terá, a meu ver, todas as condições para se superiorizar a um Lucho regressado de lesão, apenas acompanhado de Raul Meireles, permitindo assim ao Sporting um controlo de jogo capaz de impedir o caudal de jogo atacante com que o F.C.Porto consegue por vezes massacrar equipas mais frágeis.
Não terá então o F.C.Porto nenhumas hipóteses de sair de Alvalade com um resultado positivo ? Claro que tem!
Primeiro que tudo, começa o jogo em vantagem pois o empate favorece-o. Depois, está ainda por provar se a estratégia do Sporting, normalmente muito cautelosa e pouco audaz, também funciona contra equipas de maior quilate, e em jogos onde só a vitória lhe interesse (na Luz enfrentou um semi-Benfica), ou seja, se os leões, promovendo um controlo de jogo mais passivo do que afirmativo (matriz identitária do perfil futebolístico desta equipa), serão capazes de assumir o jogo e criar as situações de golo suficientes para alcançar a vitória, evitando um eventual 0-0. Por fim, resta sempre aos portistas a esperança de resolverem o jogo num golpe de génio de um dos seus artistas, e quando falamos em artistas todos nos lembramos de imediato de Ricardo Quaresma, que se Adriaanse for inteligente deverá tender a aparecer mais pelo lado esquerdo, evitando a forte marcação de Caneira, e limitando simultaneamente as acções ofensivas de Abel (o facto de o Sporting não dispor de extremos, e de Abel poder ficar manietado pela marcação a Quaresma, pode também permitir ao F.C.Porto uma articulação mais segura no seu estranho processo defensivo).
Os dados estão pois lançados, e agora resta-nos esperar um grande espectáculo. Um golo nos momentos iniciais pode ser a chave para o show. Caso contrário veremos seguramente uma partida muito táctica, onde o calculismo do resultado irá imperar sobre a criatividade dos jogadores.
As equipas deverão alinhar deste modo:
Sporting- Ricardo, Abel, Tonel, Polga, Caneira, Custódio, Carlos Martins, João Moutinho, Sá Pinto, Liedson e Deivid.
F.C.Porto-Helton, Bosingwa, Pepe, Paulo Assunção, Pedro Emanuel, Raul Meireles, Lucho Gonzalez, Quaresma, McCarthy, Adriano e Jorginho.

2 comentários:

Anónimo disse...

Jorginho a titular ?????

Anónimo disse...

Se Marek Cech não recuperar, não vejo muitas alternativas, partindo do princípio que Adriaanse não quererá abdicar do seu modelo de jogo.
Ivanildo ? Lisandro ? Não se adaptarão tão bem ao lado direito (de modo a libertar Quaresma para a esquerda), nem serão capazes de preencher zonas intermédias como Jorginho é.