HÁ VIDA PARA ALÉM DAS SUBSTITUIÇÕES

Que a maioria dos adeptos tem a pretensão de perceber mais de futebol do que alguns protagonistas, já todos sabemos. Eu, muitas vezes, também caio nesse logro: olhar para uma superfície sem perceber o que está por baixo, e ter a ousadia de opinar sobre o assunto. Isto não tinha piada se assim não fosse. Mas gosto de, pelo menos, ter a humildade de o reconhecer. Aqui o faço desde já.
O que sabe o adepto do trabalho do treinador? Naturalmente, apenas aquilo que vê, e que é o onze escalado para cada jogo, as substituições, as exibições da equipa, e, sobretudo, o resultado final.
Sem assistir aos treinos, sem conhecer os índices físicos e biológicos dos jogadores, nem a sua personalidade, sem ter, na maioria dos casos, qualquer experiência de liderança, nem conhecimentos de psicologia de grupo, o adepto, sendo quem paga tudo, tem ainda assim naturalmente direito à sua opinião. Volto a dizer, aqui o faço. 
Mas o adepto não pode achar que sabe tudo, nem, faltando-lhe dados, ter a certeza absoluta das suas razões. E muito menos querer impô-las aos outros. Menos ainda através da violência, como aconteceu em Faro, onde a ignorância e estupidez de 15 ou 20 indivíduos se transformou em bestialidade.
É, pois, preciso colocar alguma racionalidade nisto, mau grado estarmos na presença de um fenómeno com contornos totalmente irracionais - como o da paixão clubista.
Independentemente de Schmidt ficar ou não. Independentemente de se defender, ou não, a sua saída (e, confesso, não tenho opinião fechada sobre isso), um treinador, qualquer que ele seja, não pode, antes de mais, ser julgado com base em circunstancialismos. Há um ano atrás, o mesmo Schmidt era um herói, mas a memória do adepto tem a duração aproximada de uma semana. E um treinador também não deve ser avaliado apenas com base no onze que utiliza ou nas substituições que faz.
O aspecto das substituições chega a ser divertido, pois na bancada entende-se que basta tirar fulano e meter sicrano para a equipa ganhar, e se o treinador não o faz é porque é burro. O raciocínio, para não ir mais abaixo, é o do Football Manager, em que os jogadores são bonecos animados, o treinador somos nós, e quando se perde reinicia-se o jogo, sem que alguém nos mostre lenços brancos a partir do ecrã. A seguir vamos jantar e fica tudo bem.
A realidade do futebol profissional não é essa. Quando vejo um jogador sair do campo, posso opinar razoavelmente sobre a sua prestação (na verdade, vi-a), mas não sei mais nada sobre ele, nomeadamente se está mais cansado que outros, se treinou bem durante a semana, se teve algum comportamento desajustado, se fez ou não exactamente o que o treinador lhe pediu (que, de resto, também não sei o que foi). Mesmo a própria prestação no jogo, tem muito que se lhe diga. Depois de Faro, ouvi afirmar algo como isto: "com Carreras no banco, Schmidt foi burro por andar a adaptar Aursnes". Ora o que eu vi foi um jovem com bons pés e um bom golo, mas a ser ultrapassado frequentemente por mau posicionamento, por má utilização dos apoios, e a cometer erros que, com um qualquer Toulouse da vida, representariam oportunidades claras para o adversário. Ou seja, o adepto, e talvez ainda mais o benfiquista, avalia normalmente o jogador com base num único critério: a habilidade com a bola no pé. Ora um jogador de futebol está muto para além disso. Futebol não é Circo.
Volto às substituições. Há de facto treinadores que usam as substituições para alterar tacticamente o rumo de um jogo, e conseguem-no (Jesus, por exemplo, que também, como quase todos, viu lenços brancos na Luz). Outros servem-se delas apenas para refrescar a equipa. Outros ainda (e aqui enquadraria Schmidt) entendem que certos jogadores necessitam de muitos minutos para adquirir um ritmo alto e para o manter. Lamento, mas nem eu, nem certamente a maioria dos leitores e adeptos terá conhecimentos profundos de performance física e atlética (e muito menos da fisiologia específica de Di Maria ou João Mário) para desmentir ou confirmar a tese.
Há vários elementos de análise numa substituição, que não têm apenas a ver com a equipa estar a jogar mal ou bem. Além de ser preciso saber se quem está no banco oferece condições de melhorar o jogo. Futebol também não é Xadrez. 
Seja como for, as substituições são apenas, talvez, uns 10% do trabalho de um treinador. E a escolha do onze, diria que de 30% a 40%. Tudo o resto é preparação física, construção de dinâmicas e automatismos de jogo, liderança, motivação, agregação, enfim, factores que, em conjunto, conduzem às vitórias. Caso contrário até seria fácil, e não era necessário pagar cinco milhões a ninguém para o fazer. Eu próprio, aos fins de semana, o faria de borla.
Roger Schmidt não é um mago da táctica, mas, como uma vez disse Graeme Souness "football is not about tactics". Acrescentaria talvez um "only" à frase, mas há muitos outros critérios importantes, e seguramente mais importantes, para definir um treinador, do que o onze e as substituições. Em alguns deles (por exemplo a preparação física) Schmidt é fortíssimo. Recordo que praticamente não houve lesões musculares neste Benfica, que jogadores como Di Maria, mesmo aos 36 anos, têm apresentado uma performance física assinalável, e que em quase todos os jogos, mesmo aqueles em que perdeu, o Benfica acabou fisicamente por cima dos adversários - o que foi bastante notório em Marselha, como já o havia sido também nos confrontos com o Sporting. Outro aspecto a sublinhar é a aposta em jovens como António Silva ou João Neves - que o comum do adepto não conhecia de todo quando foram lançados - mas também em Florentino (recuperado das catacumbas dos empréstimos) e Gonçalo Ramos, valorizado até aos 65 milhões. Com Schmidt vimos também Grimaldo, Rafa e João Mário realizarem as suas melhores épocas de sempre ao serviço do Benfica. Sem falar de Enzo Fernandez que veio por 20 e seis meses depois valia 120.
Enfim, como disse atrás, tudo pesa. As virtudes e os defeitos que sempre coabitam num ser humano e, por maioria de razão, num profissional. O que mais pesa, claro, são os resultados. Em duas épocas no Benfica, Schmidt foi campeão numa delas. Se o Benfica ganhasse metade dos títulos nacionais já estaria, digo eu, a cumprir o seu destino.
Vi com os meus olhos Jorge Jesus ser insultado e cuspido no Jamor, depois de quase ganhar tudo em 2013. Contra a vontade de uma larga maioria (não a minha), ficou no clube. Depois, passou de quase ganhar tudo a ganhar quase tudo - e entre uma coisa e outra, como se viu, era apenas um pequeno saltinho, ou seja uma bola a entrar em vez de bater num poste.
Não tenho a certeza que, ficando, Schmidt não possa voltar a ganhar, em 2024-25, o que ganhou em 2022-23. Nem do contrário. Fazendo ou não as substituições de que os adeptos gostam.
Como disse, Schmidt para mim não é um assunto fechado. Vejo-lhe virtudes. Vejo-lhe defeitos. Se fosse para trocar com Guardiola ou Klopp, obviamente assinava já. Mas...seria para trocar por quem? Mourinho? Talvez. De resto, treinadores portugueses e/ou que estejam dentro do padrão orçamental do Benfica, não encontro muitos que, embora porventura mais simpáticos, possam dar garantias de fazer melhor (um campeonato e um 2º lugar, uma supertaça, uns quartos-de-final da Champions, uns quartos-de-final da Liga Europa em duas temporadas). E mudar por mudar não me parece boa política.
Volto ao início. Há quem perceba mais disto do que eu. E muitíssimo mais do que os imbecis de Faro. Rui Costa é presidente do Benfica, tem uma vasta experiência de futebol profissional. Cabe-lhe a ele fazer uma análise rigorosa do que foram estes dois anos, e do que pode ser o próximo. Tenho a certeza que decidirá de acordo com o que entende ser melhor. A responsabilidade será sempre dele. Deixemos que a decisão também seja.

9 comentários:

Mark Trencher disse...

Eu consegui ser despedido no FM, ia em primeiro com um bom avanço e em todas as frentes (a jogar em modo "Aliança do Altis, Proença & Associados" obviamente), mas como estava sempre a multar os jogadores a Direcção correu comigo.

Agora a sério, apesar de ter sido dos primeiros a torcer o nariz a algumas das decisões de Roger Schmidt, e de considerá-lo o principal responsável do fracasso desta época, como tenho a ideia de que o campeão desta época já estava decidido e que seria o "todos menos o Benfica", e como também não meto as mãos no fogo por toda a gente dentro da estrutura do Benfica, pois para mim há lá gente ao serviço do anterior presidente e/ou da já citada "Aliança do Altis", tendo em conta que a época passada foi quase o oposto desta, julgo que se deveria dar outra oportunidade a Roger Schmidt. No entanto, mesmo condenando os excessos de quem protesta, penso que os protestos são perfeitamente legítimos. Roger Schmidt tem se mostrado casmurro, incompetente, e com pouco tacto na comunicação, portanto se tem de se queixar de alguém pela contestação, esse alguém é o próprio Roger Schmidt.

Anónimo disse...

A parte das lesões musculares ou a falta delas é um ponto a favor do Schmidt mas acho eu que não percebo nada disto que o responsável deve ser o preparador físico o único mérito do Schmidt foi ter escolhido esse tal preparador físico, justificar as opções ou falta de conhecimento tática do Schmidt com o souness é que não é lá muito inteligente simplesmente acho que são os dois piores treinadores da história RUA SCHMIDT

Anónimo disse...

Jogar CM qualquer um é campeºão basta não gravar o jogo que perdeu e jogar de novo!
Contudo na minha opinião e por isso a contestação a direcção é que o Benfica não tem estado só aquém no futebol Profissional.
Nesta época temos visto um pessimo planeamento em várias modalidades com repercussões nas maesmas indesculpavéis no Andebol por exemplo onde parecia existir um projecto a meio de uma época se dispensa mais de metade dos jogadores internacionais de valor abdicando de lutar por títulos para as próximas épocas isto quando nem a 2 épocas se ganhou um competição internacional.
No basquete tb masculino se viu alguns equivocos que veremos não iram custar tb o campeonato.
No Hoquei mais do mesmo, uma equipa constantemente a ir do inferno ao céu em cada semana que passa e eleiminada vergonhossamente da final four da champions.
Quanto a futebol o treinador teve mts equivocos usou e abusou de Auserns para toda a posição e mais alguma, tendo Florentino sido peça fundamental no seu 1 ano de Campeão no Benfica na 2 época a presente praticamente abdicou dela quando começando a época dispensando o defesa esquerdo suplente, perder o titular e o novo a dar pouca segurança de tal forma que passado 6 meses é dispensado, com problemas no defesa direito pois só tinha um e a extremo esquerdo nunca colocou um jogador com o pé para esse lado, repetidamente colocando lá J. Mário.
Eu diria que o treinador do Benfica não procurou solucções pois já vi treinadores do Benfica como JJ aqui referenciado a transformar Coentrão num defesa lateral, Enzo na altura extremo em médio centro e Matic a médio defensio ou até Ruben Amorim o vi a Jogar a 10 ou extremo direito.
O treinador actual do Benfica não lhe vejo apetÊncia para tirar o melhor dos jogadores, porque não abdica do seu esquema táctico nem que para isso tenha que apostar num Tengestad que não tem apetência pela baliza e o golo, pelo contrário.
Não se deixem enganar o treinador teve mt culpa no que aconteceu esta época mas ele só é treinador do futebol masculino as outras modalidades não andam melhores e não é culpa exclusiva dos treinadores.

Ass: Madskinn

Maluco de Linda a Velha disse...

Quem joga football manager a sério não reinicia depois de perder.

Anónimo disse...

Ao ler este post até parece que já estou a ficar com pena de Schmidt e assim atura-lo mais uma época. É claro que também não me revejo no que aconteceu em Faro, mas independentemente de tudo, substituições tardias ou não, mal feitas ou não, ma gestão do plantel ou não ,etc.o Sr. Schmidt é o principal responsável dos maus resultados desta época. E quando é assim...vamos continuar na mesma?

Anónimo disse...

este Post até era bom se nós vissemos futebol há dois dias. nota-se quando os treinadores ja deram tudo o que tinham a dar. quando nao têm rotinas, quando não têm o balneário na mão.

PedroM disse...

Para dizer que quanto ao Carreras, em minha opinião, está redondamente enganado.
O Carreras é o melhor defesa esquerdo do Benfica. Sim, aos 20 anos é superior no lugar a Aursnes e então a Morato nem se fala.
O que se viu no S. Luís em Faro evidenciou isso mesmo. O Carreras foi ultrapassado em situações em que qualquer lateral o pode ser, em situações de dois para um e na parte final do jogo, quando a frescura física já não era muita e o apoio de Neres era inexistente.
Mas ainda assim não foi ultrapassado muitas vezes. Aconteceu mais na fase inicial do jogo, a meu ver por falta de rotinas e de ser pouco utilizado e já perto do final pelos motivos acima indicados.
É claro que com 20 anos o Carreras precisa de jogar, para ganhar ritmo e traquejo e foi precisamente isso, que por opção do treinador não aconteceu.
Falamos de Carreras mas poderiamos dizer o mesmo de Rolheiser e do Tiago Gouveia, embora este tenha jogado um pouco mais. E não me venham com a treta de Toulouse porque se esse jogo for bitola para definir quem deveria ser titular daí em diante, creio que só o Trubin tinha o lugar assegurado.
É inexplicável como tendo o Carreras no banco desde meados de Janeiro, andámos a levar com o Morato, um bom jogador mas não naquela posição, até inicio de Março e depois disso com o Aursnes. E que falta o Aursnes nos fez para reforçar o meio campo nos últimos 15/20m do jogo de Alvalade com os lagartos, ingloriamente perdido.
Não é dando descanso de dois em dois meses aos inamovíveis titulares, colocando a jogar uma equipa inteiramente diferente que, a meu ver, se gere o plantel. Pelo contrário, os jogadores têm de ir entrando para ganharem ritmo e momento de forma, 15m aqui, 20m acolá, 30m mais à frente, de modo a que estejam o mais possível preparados quando forem chamados a competir.
Não é por exemplo ter o Carreras a marinar no banco mais de um mês e depois quando em Toulouse a equipa se está a afogar mandar o rapaz lá para dentro para salvar o barco. Um puto de 20 anos!!!

Não sou especialista em futebol, mas vejo o jogo há dezenas de anos e como adepto também dou os meus 5 tostões para esta conversa.

joão carlos disse...

mas o treinador o ano passado era o herói precisamente para aqueles que não percebem de futebol e só olham aos resultados e não para os erros que o treinador comete.
os erros já lá estavam todos o ano passado só não os viu quem quer.

o problema é que se fazem heróis por meia dúzia de jogos bem conseguidos achando que são logo os melhores treinadores do mundo, ou então o melhor treinador português de todos os tempos noutros casos, sem ver que os erros do treinador estavam mascarados pela qualidade de alguns jogadores e pela excelente forma de outros.

querer focar apenas o problema das substituições a este jogador que devia sair ou aquele que devia entrar é fugir ao problema.
acha que substituições, quando a equipa não estar a vencer, aos oitenta e nove minutos de jogo tem algum sentido, a não ser que acha que se deva queimar tempo nestas condições.
porque destas é aos montes.

no entanto não fala na coisa mais importante alguma vez durante esta época demonstramos ser um coletivo em campo, e depois porque razão é que nunca o demonstramos.

esse argumento do dinheiro não cola, porque com o que pagávamos ao bazofias e com o que pagamos agora a este treinador, o que que teríamos de pagar ao mourinho, o que não que não faltam é treinadores melhores do que o roger nesse mundo fora se estariam interessados em vir para cá treinar isso é que já poderá ser outra conversa.

Anónimo disse...

“A solução preferido dos portugueses é a saida do Schmidt”, disse um canal de criminosos. É a solução preferida dos adeptos dos dragartos. A agenda é a mesma, dividir o Benfica!!

Há movimentos de taberneiros que se dizem benfiquistas, assim como meia dúzia de adeptos a quem prometerem lugares numa futura direcção, que estarão a ser pagos para dividir o Benfica. Isso já acontece há largos anos. Sabemos quem lhes paga.
Há membros corruptos dos media que também estarão a ser pagos para fazer a mesma campanha. Pagam-lhes como se estivessem a pagar publicidade.
Não se lembram do RGS? Era um dos que queria levar a seita a que pertence a mandar no clube, a mesma seita que está por detrás dos lagartóides e desta campanha. Mas que está a ser extinta em todo o mundo pela Aliança Militar Global. Estão desesperados.
A estratégia que usam é igual em todo o lado do mundo. Investiguem a História verdadeira.

Depois temos alguns alegados adeptos que de tão arrogantes até sabem que o Schmidt já vinha a falhar (em quê?) desde o ano passado, como se fossem especialistas e soubessem e vissem coisas que mais ninguém vê. A ignorância e a estupidez humana é mesmo muito atrevida.

Sou da mesma opinião do Jonathan Soriano, Schmidt é mesmo muito bom treinador, o melhor a seguir a Ericson, grande pessoa, muito comunicativo, com mentalidade muito diferente, com estilo agressivo e com um dos melhores estilos e filosofia de jogo da Europa. É cá dos meus, não dá confiança a idiotas.