UFF... QUE SUSTO!

Faltavam apenas 17 minutos para o final do jogo, o Benfica empatava em casa, e não criara, ao longo de toda a segunda parte, uma única oportunidade de golo.



Ansiedade, talvez seja palavra curta para descrever o estado de espírito que então assaltava a família benfiquista, ao ver fugir, a cada segundo que passava, dois preciosos pontos, numa luta cada vez mais renhida com o seu principal opositor. Era o deitar por terra, não das hipóteses na luta pelo título, mas de toda uma envolvência de entusiasmo e confiança que a equipa fizera por merecer em seu redor. Era um murro no estômago, tão forte quanto inesperado.



Ao longo do jogo, as dificuldades colocadas por um improvável Gil Vicente foram muitíssimas. Pressionando alto, a equipa minhota descaracterizou por completo a primeira fase de construção do Benfica, deixando-o sem espaço nem ideias para aplicar o seu habitual futebol ofensivo. E não era tudo. Conseguindo recuperações de bola já perto do meio campo encarnado, os gilistas ameaçavam frequentemente a área de Artur, construindo lances de ataque em número e nível de perigo verdadeiramente surpreendentes para uma equipa que luta para não descer.



Há que dizer, todavia, que um Benfica ao seu melhor nível teria tido obrigação de encontrar as soluções mais indicadas para o puzzle que lhe foi colocado por diante. Marcando primeiro, até fez o que parecia mais difícil, mas o golo do Gil, já muito perto do intervalo, recolocou tudo como no início, com a agravante de haver menos tempo para jogar. Quer antes, quer depois dos golos, os encarnados estiveram sempre longe da melhor inspiração, não conseguindo levar a cabo as saídas rápidas para o ataque que a situação aconselhava. Foram uma equipa lenta, previsível, e de certa forma bloqueada pelas inesperadas dificuldades que o adversário ia originando. Durante a primeira parte, o Benfica parecia expectante. A meio da segunda parte, o Benfica parecia… rendido.



Aimar é um grande jogador, e, como todos os grandes jogadores, a sua ausência não é fácil de suprir. No conjunto de Jesus, a falta do mago argentino é um buraco que se abre entre uma linha intermediária com pouco pendor ofensivo (Javi Garcia e Witsel), e avançados de último toque, sem grande apetência para a construção de jogo. Gaitán, que também sabe jogar pelo corredor central, poderia, a espaços, disfarçar a lacuna. Acontece que o jovem extremo está num período de forma deplorável, não conseguindo sequer cumprir com acerto as suas funções na ala. Esta conjugação de factores tem obrigado o Benfica a privilegiar um modelo de transição ofensiva iniciado uns metros mais atrás. Foi essa necessidade que Paulo Alves interpretou na perfeição, atingindo o Benfica onde mais lhe poderia doer.



Com Aimar em campo, o onze encarnado reequilibrou-se. Aí, o problema já não residia no plano táctico. Eram sim as emoções, e as inquietações, que começaram a tomar conta das almas e das pernas dos jogadores do Benfica. Passes errados, precipitações, dificuldades em serenar, e até alguns assobios das bancadas (de uma estúpida inoportunidade, diga-se).



O golo lá surgiu, e com ele o respirar fundo de uma equipa que já não sabia muito bem o que fazer do jogo. Logo a seguir, Aimar punha uma pedra sobre o resultado, e sobre a ansiedade, garantindo os três pontos. Mesmo assim o Gil Vicente reagiu, mas já era tarde para conseguir mais do que uma vitória moral, alicerçada numa exibição impressionante de audácia, rigor e frescura.



O que se passou esta noite fará certamente o Benfica pousar os pés no chão, e interiorizar que o título ainda está muito longe de ser uma realidade. Aparecerão mais alguns Giles Vicentes nas esquinas do Campeonato, pelo que a caminhada não permite repousos. Na próxima semana, novo desafio à equipa encarnada, com um jogo disputado numa caixa de fósforos, frente a um adversário aguerrido – que, por sinal, tirou pontos ao FC Porto.



O árbitro esteve globalmente bem.


Não têm razão os responsáveis gilistas ao reclamar a falta que origina o primeiro golo, que, de facto, existe . No lance do livre indirecto, à luz do que se tem visto noutros estádios, até aceito o critério, mas não creio que ele se enquadre no espírito da lei (que é o de evitar perdas de tempo propositadas).

3 comentários:

Vitória do Benfica disse...

Não concordo que o benfica estivesse mal, acho é que o Gil Vicente esteve muito bem e uma equipa não joga sozinha. Aimar é crucial e Artur também cada um a seu jeito e com a sua responsabilidade. Não percebo porque Jesus não põe a Capedevilla a jogar, ninguém entender quando Emerson não é claramente uma grande aposta. Cardozo lá vai andando, mas Rodrigo que grande jogador e Nolito maravilhoso.Fiquei assustada quando Javi saiu mas depois percebi que Witsel tinha de mudar de posição.

Enfim com equipas amigas do FCP o Benfica não pode esperar facilidades, veja-se como eles festejaram o golo.

Anónimo disse...

Concordo na globalidade com (excelente) comentário ao jogo de ontem. Acrescentaria ainda a exibição paupérrima (mais uma vez)de Emerson e frouxa de todo o meio-campo e Gaitan está sem confiança. Houve muita lentidão e excessiva lateralização de jogo. Valeu-nos a entrada do "mago" Aimar que fez com que o nosso jogo fosse mais fluído.
O Gil foi um adversário digno, atrevido e perigoso. Não têm razão os gilistas em criticar o árbitro na falta da falta no primeiro golo, pois o seu jogador fez jogo perigoso passivo, falta punida, como foi livre indireto, tal como não tem razão o Artur que não deveria ter agarrado a bola. Assistimos a uma vitória justa do Benfica, que tem que ser mais consistente para ser campeão. Tem que continuar assim: lutar e pensar jogo a jogo.
A arbitragem foi isenta e imparcial.

António Rodrigues - Santarém

NunoFigo disse...

Na altura li e concordei com o comentário a propósito das "equipas amigas do FCP"... mas depois do TGV (Três do Gil Vicente), há que dar mérito aos homens de Barcelos.

Dois grandes jogos em duas semanas.