OS BOBOS E A CORTE
"Os “Bobos da Corte” foram pitorescas figuras da História, que nasceram na época do Império Bizantino, e terão subsistido até perto do Iluminismo. De aspecto normalmente excêntrico, a sua missão era divertir os reis e os seus próximos. Para além dessa, não tinham qualquer outra utilidade.
Em pleno século XXI, no Portugal contemporâneo, deles subsistem ainda algumas amostras, muito embora tenham já perdido toda a sua graça e todo o seu encanto. Arrastando-se penosamente pelos salões da actualidade, já não fazem rir ninguém. São caricaturas decadentes e cinzentas, sem alma própria, e penduradas nas saias da inveja e do ciúme.
Vem isto a propósito do Sporting, clube com um passado respeitável, mas com um presente bastante menos vigoroso, não só dentro dos relvados (coisa que pouco nos aflige), como, sobretudo, na estratégia política e institucional que, de há uns anos para cá, tem vindo a seguir – a qual o tem posto frequentemente no papel de “Bobo” de uma corte pouco recomendável.
Quando, em 2005, Dias da Cunha e Luís Filipe Vieira assinaram um manifesto com vista à regeneração do futebol português, abriu-se uma janela de esperança num novo tempo, num tempo a partir do qual os jogos pudessem passar a ser decididos no relvado, exclusivamente pelo talento dos jogadores e pela argúcia dos técnicos. Mais do que o texto em causa, o entendimento entre os dois grandes clubes do arco da respeitabilidade era, por si só, um passo de gigante no derrube de uma ordem já na altura decrépita. O então presidente do clube de Alvalade – talvez o melhor da sua história recente, atendendo até às prestações desportivas de uma equipa que chegou à final da Taça UEFA, e não foi campeã por um triz – denunciara corajosamente os rostos do “sistema”, atribuindo a menção a Valentim Loureiro e Pinto da Costa, antes mesmo do processo “Apito Dourado” ter vindo a público. Sabia bem do que falava, como mais tarde se veio a verificar, e ouvir.
Com o presidente portista detido para interrogatórios (depois de uma mal explicada fuga para Espanha), com os rivais lisboetas sentados á mesa, o chamado “sistema” vivia os seus piores dias. O futebol português esperava, enfim, poder respirar o ar puro da verdade, da justiça e do desportivismo. Os seus mais malignos cancros pareciam estar prestes a ser extraídos. Era a oportunidade histórica para uma enérgica e radical limpeza, para uma varridela que afastasse para longe a corrupção, o tráfico de influências e os resultados adulterados.
Como sabemos, nada disto viria a acontecer. Em larga medida por culpa de um sistema de justiça assustadoramente incapaz, mas também devido aos caminhos que o Sporting (potencial aliado nessa importante batalha) escolheu encetar daí em diante.
Envolvido por um denso manto de contestação, Dias da Cunha viu-se obrigado a desistir. Mais do que nos resultados desportivos, não duvido que a origem da animosidade dos sócios tenha residido no tal manifesto. A maioria deles não se revia numa política que pusesse o Sporting de braço dado com o seu histórico rival. Interessava-lhes no fundo, acima de tudo, ver o Benfica perder, e desse ponto de vista afundar do barco de Pinto da Costa não parecia uma boa ideia. Se as escutas do “Apito Dourado” envolvessem o Benfica, a atitude de mundo sportinguista teria sido seguramente bem diferente. Mas era o FC Porto e Pinto da Costa que estavam em tribunal. Eram aqueles que – não interessava como – tinham impedido o Benfica de festejar vários campeonatos. Era o seguro de vida do anti-benfiquismo que estava em equação.
Quatro títulos do FC Porto, dois títulos do Benfica, e zero títulos do Sporting depois, percebem-se, com clareza, os resultados concretos dessa postura tão pouco leonina.
Quando vemos ilustres sportinguistas fazer coro com a estratégia de silenciamento das escutas e de tudo o que elas nos mostram, percebemos que jamais será possível contar com aquela gente para qualquer combate sério. Nem as boas intenções de alguns dos seus responsáveis (como foi o caso de Dias da Cunha) chegam para derrubar uma ideia por lá cristalizada, segundo a qual o Benfica foi, é, e sempre será, o único alvo a abater – transformando, por consequência, o FC Porto, mais num privilegiado parceiro do que num antagonista ou rival.
Quando, depois de tudo o que se passou, e de tudo o que se ouviu, vemos José Eduardo Bettencourt receber, de braços abertos, Pinto da Costa na tribuna de honra de Alvalade, perdemos de vez o respeito por um clube que, em bicos de pés, tantas vezes se afirma como baluarte da honorabilidade.
Quando assistimos à transferência de Moutinho para o Dragão, e sobretudo observamos a complacência com que a mesma foi acolhida entre os adeptos, entendemos por fim o grau de subserviência de um Sporting decadente face a um FC Porto revitalizado nas águas da impunidade e da mistificação.
Este Sporting até pode ser divertido para muita gente. A nós não nos serve para nada, e esperar dali algum apoio para a suprema luta pela verdade no desporto português será como esperar que cresçam dentes a uma galinha.
Muitos séculos depois, os Bobos da Corte continuam aqui a cumprir o seu papel: divertir o sistema, sem qualquer outra utilidade."
LF no Jornal "O Benfica" de 22/10/2010
Em pleno século XXI, no Portugal contemporâneo, deles subsistem ainda algumas amostras, muito embora tenham já perdido toda a sua graça e todo o seu encanto. Arrastando-se penosamente pelos salões da actualidade, já não fazem rir ninguém. São caricaturas decadentes e cinzentas, sem alma própria, e penduradas nas saias da inveja e do ciúme.
Vem isto a propósito do Sporting, clube com um passado respeitável, mas com um presente bastante menos vigoroso, não só dentro dos relvados (coisa que pouco nos aflige), como, sobretudo, na estratégia política e institucional que, de há uns anos para cá, tem vindo a seguir – a qual o tem posto frequentemente no papel de “Bobo” de uma corte pouco recomendável.
Quando, em 2005, Dias da Cunha e Luís Filipe Vieira assinaram um manifesto com vista à regeneração do futebol português, abriu-se uma janela de esperança num novo tempo, num tempo a partir do qual os jogos pudessem passar a ser decididos no relvado, exclusivamente pelo talento dos jogadores e pela argúcia dos técnicos. Mais do que o texto em causa, o entendimento entre os dois grandes clubes do arco da respeitabilidade era, por si só, um passo de gigante no derrube de uma ordem já na altura decrépita. O então presidente do clube de Alvalade – talvez o melhor da sua história recente, atendendo até às prestações desportivas de uma equipa que chegou à final da Taça UEFA, e não foi campeã por um triz – denunciara corajosamente os rostos do “sistema”, atribuindo a menção a Valentim Loureiro e Pinto da Costa, antes mesmo do processo “Apito Dourado” ter vindo a público. Sabia bem do que falava, como mais tarde se veio a verificar, e ouvir.
Com o presidente portista detido para interrogatórios (depois de uma mal explicada fuga para Espanha), com os rivais lisboetas sentados á mesa, o chamado “sistema” vivia os seus piores dias. O futebol português esperava, enfim, poder respirar o ar puro da verdade, da justiça e do desportivismo. Os seus mais malignos cancros pareciam estar prestes a ser extraídos. Era a oportunidade histórica para uma enérgica e radical limpeza, para uma varridela que afastasse para longe a corrupção, o tráfico de influências e os resultados adulterados.
Como sabemos, nada disto viria a acontecer. Em larga medida por culpa de um sistema de justiça assustadoramente incapaz, mas também devido aos caminhos que o Sporting (potencial aliado nessa importante batalha) escolheu encetar daí em diante.
Envolvido por um denso manto de contestação, Dias da Cunha viu-se obrigado a desistir. Mais do que nos resultados desportivos, não duvido que a origem da animosidade dos sócios tenha residido no tal manifesto. A maioria deles não se revia numa política que pusesse o Sporting de braço dado com o seu histórico rival. Interessava-lhes no fundo, acima de tudo, ver o Benfica perder, e desse ponto de vista afundar do barco de Pinto da Costa não parecia uma boa ideia. Se as escutas do “Apito Dourado” envolvessem o Benfica, a atitude de mundo sportinguista teria sido seguramente bem diferente. Mas era o FC Porto e Pinto da Costa que estavam em tribunal. Eram aqueles que – não interessava como – tinham impedido o Benfica de festejar vários campeonatos. Era o seguro de vida do anti-benfiquismo que estava em equação.
Quatro títulos do FC Porto, dois títulos do Benfica, e zero títulos do Sporting depois, percebem-se, com clareza, os resultados concretos dessa postura tão pouco leonina.
Quando vemos ilustres sportinguistas fazer coro com a estratégia de silenciamento das escutas e de tudo o que elas nos mostram, percebemos que jamais será possível contar com aquela gente para qualquer combate sério. Nem as boas intenções de alguns dos seus responsáveis (como foi o caso de Dias da Cunha) chegam para derrubar uma ideia por lá cristalizada, segundo a qual o Benfica foi, é, e sempre será, o único alvo a abater – transformando, por consequência, o FC Porto, mais num privilegiado parceiro do que num antagonista ou rival.
Quando, depois de tudo o que se passou, e de tudo o que se ouviu, vemos José Eduardo Bettencourt receber, de braços abertos, Pinto da Costa na tribuna de honra de Alvalade, perdemos de vez o respeito por um clube que, em bicos de pés, tantas vezes se afirma como baluarte da honorabilidade.
Quando assistimos à transferência de Moutinho para o Dragão, e sobretudo observamos a complacência com que a mesma foi acolhida entre os adeptos, entendemos por fim o grau de subserviência de um Sporting decadente face a um FC Porto revitalizado nas águas da impunidade e da mistificação.
Este Sporting até pode ser divertido para muita gente. A nós não nos serve para nada, e esperar dali algum apoio para a suprema luta pela verdade no desporto português será como esperar que cresçam dentes a uma galinha.
Muitos séculos depois, os Bobos da Corte continuam aqui a cumprir o seu papel: divertir o sistema, sem qualquer outra utilidade."
12 comentários:
Lá estás tu a falar do grande. Mas não querias que o Sporting saísse dos debates?
Texto fantástico e que resume bem a postura dos sportinguistas hoje em dia.
Repare-se que este ano o Sporting já está fora do título, em parte graças às arbitragens que favoreceram o Porto, mas não vemos qualquer indignação por causa disso (pelo contrário, ridicularizam a revolta do SLB).
Por outro lado, é vê-los aos berros quando são prejudicados por arbitragens quando estão em luta com o SLB (o Paulo Bento foi testa de ferro muitas vezes neste desígnio, e nem falo da final da taça da Liga).
Esses pobres coitados deixaram à muito de contar seja para o que for. Sporting importante só mesmo o de Braga.
Mais uma vez parabéns!
Excelente texto, pena nem todos perceberem o alcance do mesmo, como o anónimo que foi o 1º a comentar o demonstra.
Já agora não daria também para publicar o mesmo no jornal do sporting? Era um favor que lhes era feito...
Falam do Orçamento de Estado para 2011, mas nesse orçamento não se fala sequer dos salários milinonários dos jogadores do Porto, Benfica e do Sporting assim como a recuperação da dívida super-milionária que têm para com as finanças....porque será?
Mas o LF Vieira não foi amigo tantos anos do mesmo Pinto da Costa? Não lhes facilitou o Deco? Não comemoravam todos juntos no Altis, as vitórias do FCP frente ao SLB em Lisboa?
Há provas disso, asseguram...
E essa de querer excluir o SCP dos debates televisivos, para além de uma bacoquice, não é democracia expectável da sua pessoa, desculpe que lhe diga, LF.
Nos últimos dez anos, em termos de futebol lusitano, na Europa fala-se de quê?
Para sermos sinceros das vitórias do FCP, dos jogadors do Sporting (CR, Figo, Nani, e mais, treinadores ilustres conhecidos) e da selecção!
Nunca se conseguirá fazer valer as nossas razões com este tipo de argumentação, mas enfim...
Discutimos ideias à mesa com moderação e galhardia ou de forma alarve em torno da rulote dos couratos?
Já vi que, assim, não dá para debater ideias com elevação, mas isso é um espelho do país actual. Daí nós estarmos como estamos!
É assim mesmo. Excelente artigo. Está tudo dito em relação a este Sporting. Um clube que em cerca de 20 anos viu o seu historial ser vulgarizado por um Porto corrupto e ainda os aplaude. Ainda me lembro do Sporting ser isoladamente o 2º clube português com mais adeptos e há cerca de 2/3 anos sofreu outra humilhação histórica ao ser passado pelo Porto até a esse nível. Reacção dos adeptos? Aplaudir o Porto e odiar o Benfica.
Porquê este ódio ao Benfica e a submissão ao Porto? Muito sinceramente não consigo explicar. A reacção normal seria o contrário, ou seja, ódio ao Porto, que vulgarizou o Sporting em pouco tempo, recorrendo à corrupção, e submissão ao Benfica, que durante toda a sua história foi melhor que o Sporting, quer a nível Europeu, quer a nível interno.
Uma das situações que tira qualquer dúvida em relação à grandeza do Sporting foi aquilo que se passou à cerca de um ano atrás. O Sporting tinha acabado de fazer uma época em que não ganhou nada e foi eliminado da Europa com uns históricos 12-1. A reacção dos adeptos foi considerar a época boa e reeleger um presidente, que garantiu continuidade e considerou o treinador como "o melhor da história do clube", com 90% dos votos. Agora pensem, isto alguma vez aconteceria num Barcelona, Real Madrid, Manchester Utd ou até mesmo no Benfica ou no Porto? Mas se calhar já era capaz de acontecer num Vit. Setúbal ou num Leiria. Aí está a grandeza do Sporting.
PS - Respondendo ao 1º comentário, se lesses os textos com o mínimo de atenção e usasses o cérebro, percebias que o facto de querer o Sporting fora dos debates é uma consequência directa deste e de outros excelentes artigos que retratam a situação ridícula que o clube vive. Se o objectivo dos debates é incluir apenas os clubes "grandes" e que lutam pelo título, então o Sporting deve ser excluído, pois o facto de lá estar representado, é um insulto a todos os clubes "pequenos" e aos telespectadores.
O Rui Oliveira e Costa ontem disse que o Paulo Sérgio esteve mal pois criticou a televisão sem o mínimo de conhecimentos. Qualquer equipa que jogue fora deve ter mais tempo que a equipa que joga em casa na Europa. Afirmou que o Paulo Sérgio não podia falar sem conhecimento de causa, que não estava no Benfica pelo amadorismo praticado. Afirmou que não houve um responsável que o informasse previamente ou lhe preparasse a conferência de imprensa. Ele que é um verdadeiro fã do Vítor Baía como o admitiu diversas vezes, ontem no programa trio d'ataque. Não sei muito bem porquê mas lá deve ter as suas razões. Tudo isto para dizer que passou o programa todo a atacar o Benfica e a dizer que era um grande fã do Vítor Baía. É desta massa adepta que o Sporting é feito?
belos textos para entreter cegos como tu que escreves nesse "jornal".
É impressionante como ate nesse "jornal" se fala do FCP. Voces nao sabiam mesmo viver sem nos.
E depois ainda se chamam glorioso. So se for GLORIGOZO
Deixem o clube do Lumiar em paz. Coitados.
http://forcamagicoslb.blogspot.com/2010/10/regra-de-nao-se-defrontarem-os-grandes.html
há muito que o sporting é um CLUBE PATÉTICO, SUBMISSO AOS CABRÕES DOS CORRUPTOS NORTENHOS E RIDICULOS. SÓ EXISTE UMA COISA QUE AINDA OS MANTEM DE PÉ. O ÓDIO AO GLORIOSO
Ontem houve festa no Casino de Espinho, lá estava Valentim Loureiro, sentado no meio dos dragôes. è uma vergonha, tudo o que se passa
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