QUATRO DOSES DE FATALIDADE

Acabou-se.
O futebol é imprevisível, mas há verdades que são difíceis de tornear. Como por exemplo a que nos diz que os chamados “big four” ingleses são claramente de outro campeonato, motivo pelo qual, desde a primeira hora, sempre me mostrei bastante céptico face a esta eliminatória.
O sonho europeu do Benfica caiu no momento em que, num sorteio onde estavam Fulham, Standard de Liége, Wolfsburgo, e mesmo Atlético de Madrid, lhe apareceu pela frente a mais poderosa das equipas em prova. Não fora assim e a presença numa final europeia era uma séria possibilidade, e poderia mesmo tornar-se numa aposta firme e empenhada de toda a estrutura do clube. Com Torres, Kuyt, Gerrard e companhia pela frente, restava esperar por pouco mais que um milagre, tentando ao mesmo tempo fazer da ocasião uma grandiosa festa – aspecto que o jogo da primeira-mão assegurou em pleno.
O milagre não aconteceu. Conforme o próprio Jesus previra, grande parte dos jogadores encarnados surgiu nesta partida em condições físicas muito débeis, e esse acabou por ser um dado determinante no seu desfecho final. Faltou também uma pontinha de sorte em momentos chave, como naquela oportunidade desperdiçada à beira do intervalo, como numa ou noutra bola perdida em lances de superioridade numérica. Creio mesmo que uma coisa estará intimamente ligada com a outra, pois o desgaste, mais do que nas pernas, nota-se sobretudo na cabeça.
Não adianta especular sobre o que poderia ter sido este jogo com Quim na baliza, e David Luíz no eixo central da defesa. Todas as críticas são legítimas, mas raia o absurdo apontar culpas às opções de um homem que, em apenas alguns meses, revolucionou o futebol do Benfica. Jorge Jesus merece todo o crédito, e decerto saberá porque motivo deixou Fábio Coentrão tanto tempo no banco, porque motivo substituiu Carlos Martins (que parecia um dos mais frescos), e porque não retirou um dos centrais (necessariamente Sidnei, sem ritmo) a partir do momento em que a eliminatória tomou tonalidades mais sombrias. Não percebi nenhuma dessas opções, mas ninguém me ouvirá uma palavra de desconfiança para com o extraordinário treinador que o Benfica em boa hora contratou.Júlio César foi a personificação da infelicidade, como fora Costa Pereira em 1965, como fora Bento em 1984. Ramires, Aimar, Sidnei, Javi Garcia, e mesmo Cardozo (apesar do golo), estiveram também, todos eles, muito abaixo daquilo que os temos visto fazer ao longo da temporada. Ainda assim o Benfica, que até entrou muito bem no jogo, discutiu a eliminatória palmo a palmo até oito minutos do seu final, o que, diante de tão poderoso adversário, não deixa de ser meritório. Balanceado no ataque, com ambição de marcar e discutir o resultado, a equipa portuguesa acabou traída pelo fortíssimo e eficaz contra-ataque contrário, motivo pelo qual o resultado se tornou tão pesado (e exagerado) – os terceiro e quarto golo ilustram-no na perfeição.
Esta é obviamente uma noite triste para todos os benfiquistas, mas nem por um segundo o orgulho nesta grande equipa deve ficar abalado. O melhor Benfica de que me recordo (1982-1984 com Eriksson e...Bento) perdeu também por 4-1 com o Liverpool, então em pleno Estádio da Luz, não deixando por isso de ficar na memória de todos, como este porventura também ficará.
O campeonato foi desde a primeira hora considerado pelo clube como a prioridade máxima, e olhando apenas e só para ele, esta até pode ter sido uma derrota útil, uma derrota dolorosamente útil. Há pois que olhar em frente, e mostrar, já na próxima terça-feira, que se na Europa há equipas melhores que o Benfica, em Portugal não as há.
A arbitragem foi confusa, mas não foi por ela que o Benfica saiu da prova.
PS: Inqualificáveis os comentários de David Borges no rescaldo do jogo. Não disfarçou alguma felicidade (alívio?), e aproveitou, alarvemente, para tentar deitar abaixo a equipa benfiquista.

15 comentários:

Ricardo Sardo disse...

Luís, permita-me discordar de um aspecto. Li também outros comentários e fico com a ideia de só eu vi um bom jogo de Sidnei. Quase não falhou passes, deixando sempre a bola jogável num colega, cortou muitas bolas (mais do que David Luiz e bem mais do que Luisão) e foi precisamente por causa das limitações físicas do capitão que sofremos tantos golos. Se Torres teve espaço e marcou dois golos, pude verificar que foi em lances em que "calhou" ser Luisão a marcá-lo e não Sidnei. Já na Figueira, em que esteve em dúvida até à hora do jogo, esteve menos bem do que é costume (ainda uma semana antes tinha sido decisivo contra o Braga), e hoje teria-o feito descansar, deslocando David Luiz para o centro da defesa e colocando Coentrão. Mas, pelos vistos, só eu vi um bom jogo do jovem central...
Quanto ao resto, totalmente de acordo.
Abraço.

Anónimo disse...

A arbitragem nao foi confusa, foi um roubo. Não é preciso lances escandalosos para o ser.
Se o arbitro nao tem assinalado o primeiro golo o jogo seria completamente diferente.
Aquele golo aparece na altura em que o Liverpool começou a cair em cima do benfica, o que motivou ainda mais os adeptos ingleses, e , sobretudo a equipa inglesa.
Com a desvantagem, os jogadores do Benfica sabiam que teriam de pressioanr mais, e o segundo golo é fruto disso.
As faltas,nao marcadas, ao meio campo contra o Liverpool chegaram a ser ridiculas.
Ficaram cartoes amarelos por marcar, o que condicona a agressividade com que os jogadores disputam a bola.
Nao vi um Liverpool superior, vi um Liverpool a jogar em casa, com um arbitro caseiro, e com bom aproveitamento na finalizaçao.
Parabéns ás duas equipas, mas a mim parece-me que passou a equipa que tinha de passar.
Já alguem imaginou uma meia final da liga dos campeoes e uma meia final da liga europa sem equipas inglesas? Como alguem diria : "Só na playstation."
E sim o fulham também passou, mas há hora do jogo nao se sabia disso.
E já agora a escolha de um arbitro holandês também me parece um absurdo, por razoes obvias.
Resta agora o campeonato, mas esse duvido que nos escape.
Saudaçoes!

Natálio Santos disse...

Força Benfica, não é um mau resultado que vai apagar toda uma época de verdadeira magia...!!!VIVA O SPORT LISBOA E BENFICA !!!

antonioSLB disse...

Boa análise Luís. Permita-me só uma questão. Tirando o 1º golo sofrido, por erro infantil do nosso guarda-redes, todos os outros 3 resultam de transições rápidas de contra-ataque, em que os jogadores do Benfica não tiveram pedalada para acompanhar os do Liverpool, devido a fadiga física, o principal motivo da derrota do Benfica. Não é normal uma equipa que joga em casa fazer os golos em contra-ataque como se estivesse a jogar fora. Enquanto houve pernas, o Benfica foi melhor, até ao 1º golo do Liverpool, tentando marcar primeiro para depois sim, recuar e gerir o resultado e a condição física. Podíamos estar aqui a falar de outra maneira se o 2º livre do Cardozo não toca num jogador da barreira, ía direitinho para golo e o Reina nem se mexeu. Levanto mais uma questão: porque é que o Liverpool jogou no Domingo e nós só na segunda feira? Porque é que puderam ter mais trinta horas que nós - repito trinta horas - para poderem descansar e recuperar indíces físicos? Porque é que nos outros campeonatos da Europa se pode jogar no Domingo de Páscoa e no Natal e em Portugal não? Será porque continuamos a ser um país de terceiro mundo, parecendo em algumas questões estarmos ainda na Idade Média, onde a Igreja contínua a ser decisiva e a influenciar a vida na sociedade portuguesa, inclusivé no futebol? Assim é difícil progredir para poder competir de igual para igual com os melhores. Agora, concentração total nas batalhas que faltam para conseguirmos a vitória na guerra final.
Saudações Leais e Benfiquistas

LF disse...

Ricardo,

No golo de Lucas a responsabilidade deve ser repartida entre Javi Garcia e Sidnei, e não tanto de Júlio César, como disseram na tv.

Na segunda parte, lembro-me também de vários corte defeituosos de Sidnei.

Não o crucifico. Simplesmente pareceu-me sem ritmo para um jogo de tão alta intensidade.

LF disse...

Anónimo,

Independentemente da confusão no lance do 1º golo (também eu gostava que o árbitro o tivesse anulado) há que dizer que não existe qualquer falta.

Quanto ao resto, concordo.
Realço também duas jogadas cortadas com Di Maria e Kardec isolados a caminho da baliza.

LF disse...

Natálio,

Claro que não.
E a (justa) recepção dos adeptos no aeroporto diz tudo.

Vamos ao título que é, esse sim, o principal objectivo da temporada.
E para o ano regressamos à Europa pela porta grande. A da Champions.

LF disse...

António,

Os golos em contra-ataque são normais numa equipa que estava em vantagem na eliminatória.
Só o primeiro não o foi, justamente o único que apareceu num momento em que a vantagem era do Benfica (0-0).
É normal.

Se o tal livre de Cardozo tem entrado, e feito o 3-2, certamente que não sofreríamos o quarto golo da forma como ele aconteceu.

Mas perder por 3-1 ou 4-1 era o mesmo, e havia que arriscar no 3-2.


Quanto ao jogo na segunda-feira, foi o Benfica que assim escolheu.
A prioridade é o campeonato, e a vitória sobre a Naval talvez só tenha sido possível precisamente pela margem que houve entre a 1ª mão com o Liverpool, e o jogo da Figueira.
Jogando no domingo o Benfica ficava com o mesmo (pouco) tempo de recuperação para o jogo do campeonato, que teve para este.

Anónimo disse...

Confusa foi a arbitragem da 1ªmão, com 2 penalties oferecidos, uma expulsão exagerada e uma perdoada ao cabeça de ovo.
Agora incharam 4 e muito bem. Não tinham futebol para eles e o resto é conversa.

Vitória do Benfica disse...

Justa análise. O Benfica não tem ainda pernas para estes clubes. Quem conhece as infraestruturas técnico cientificas dos grandes ingleses, sabe que só um milagre poderia fazer com que o Benfica passasse a eliminatória. Não temos ainda estruturas de medicina desportiva de nutrição de bioquimica capaz de ombrear com os grandes a criação do LORD fpo uma grande ajuda a Jorge de Jesus e a Mário Monteiro. Não houve erros nas substituições, o JJ fez uma belessima leitura do jogo no final e mesmo antes. Não saimos humilhados mas antes acho que saberemos aprender com os erros. O facto de o Presidente dizer que vai ficar com JJ por muitos anos isto permite planear estratégicas e melhoarar muito. O Benfica está no bom caminho venha o Sporting. Os adeptos foram maravilhosos

Anónimo disse...

Não foi pelo árbitro...

Estiveram bem e foram a equipa portuguesa que mais longe chegou.

Apanharam um adversário que, enquanto foram 11 para 11 ganhou 5-1, os outros dois golos foram contra 10 elementos e ... de penalti.

E quando assim é não pode haver grande discussão.

Benfica - Orgulho,Honra,Gloria!! disse...

Caro LF

Sou sincero,nem li o post pois já li muitas analises,umas boas,outras más,em alguns casos chegam a ser arrasadoras pra equipa.
Antes do jogo eramos os maiores,hoje já há quem duvide da vitoria no campeonato.
Eu só quero dizer uma coisa:OBRIGADO BENFICA!!!
Por tudo o que nos têm proporcionado esta epoca e pelo esforço no jogo de ontem,notava perfeitamente que deram tudo o que tinham em termos fisicos,o cansaço já é visivel e perder contra uma equipa como o Liverpool não é tragedia nenhuma.
Devemos ter sempre a ambição de vencer mas quem se esquecer que este projecto,que tem 8 meses(ao contrario dos anos de casa de Benitez),já ganhou uma taça da liga e está bem encaminhado pra ganhar o campeonato,portanto nada menos que um agradecimento é de uma ingratidão tremenda!
Se a regra dos "maus resultados" se mantiver,então 3.ª feira já sabemos quem vai pagar a factura.

Abraço

FORÇA BENFICA!!!

antonioSLB disse...

Luís, o problema é que a opção, parece-me, era jogar no Sábado, só com 48 horas de descanso ou na 2ª feira, porque devido à Páscoa, e se não estou errado, não podia haver ninguém a jogar no Domingo, como seria o ideal, tendo as tais 72 horas antes do jogo com a Naval e beneficiando do mesmo tempo de repouso do Liverpool. Por isso levanto a seguinte questão. Porque é que em Inglaterra jogam no Boxing Day, o dia seguinte ao do Natal e em Portugal não? Porque é que cá se faz uma pausa de 2 semanas?
Por fim uma dúvida, vou tentar confirmar na gravação do jogo, mas parece-me que, ao contrário do que os comentadores habituais aziados de frustração disseram, o motivo pelo qual o fiscal de linha levanta a bandeirola no 1º golo não é por carga sobre o Júlio César mas por um possível fora de jogo de Kuyt. Ao contrário do que geralmente se pensa, pode acontecer num pontapé de canto, que não deixa de ser um livre, desde que não seja marcado directo ao jogador que faz golo, já que me dizem haver um desvio para a frente de Kirgyakos ao 1º poste, apanhando Kuyt só com o guarda redes entre ele e a linha de golo, portanto em fora de jogo. Também o 3º golo de Torres me deixou dúvidas, ele está sempre à frente do nosso último defesa, falta confirmar se no momento do cruzamento da direita também não estará à frente da linha da bola.
Terça feira é o jogo mais importante da época, porque é o próximo, vamos todos lá estar a ajudar a ganhar, teremos de fazer pelo menos um resultado igual ao Braga nesta jornada para mantermos a distância.
E pluribus unum

ulisses disse...

Há decisões do JJ que não se entendem bem: a retirada do carlos martins quando estava melhor que o aimar; os laterais adaptados, ficando, especialmente no lado esq, a equipa com menor capacidade de contra-atacar; o demasiado tempo que demorou em colocar o kardec, a insistência no julio cesar nesta fase ( e aqui não concordo nada com o LF, a culpa é todinha do guarda-redes pois se se fizesse ao lance de outra forma, haveria sempre contacto e a tendência é o árbitro marcar sempre falta).
De qualquer maneira,após uma derrota é fácil criticar. Não se pode crucificar ninguém , até pq não o merecem...há que levantar a cabeça e concentrarem-se nas próximas batalhas que aí vêm.

No conjunto das 2 mãos não gostei das arbitragens: se na luz o liverpol se pode queixar de algum exagero na expulsão, ficaram-nos mais 2 penaltys claros por marcar, que podiam fazer toda a diferença. Ontem, por duas vezes, a 1ª das quais ainda 0-0, o árbitro errou de forma grosseira em benefício do infractor, em jogadas que dariam golo pela certa.

LeaoZito disse...

O post anterior sobre a nacionalidade do árbitro já deixava perceber qual seria a "nota" a dar à arbitragem.
Curem-se!! Tiveram azar, quiçá, mas as coisas são assim. O Babel foi expulso de modo duvidoso (sério??? mão na cara???? quantas vezes vemos isso nos nossos jogos e só se pede amarelo???), e isso mudou por completo o jogo da 1ª mão. Claro que o Benfica não tem culpa, e podia ter resolvido cá...

O jogo de ontem, só umas notas:
O benfica está de rastos. O 3º golo começa na pequena área do Liverpool(!!!!!!). A pressão alta não existe. Claro que por cá ainda vão disfarçando, porque em terra de cegos quem olho é rei. Corressem as equipas portuguesas como as inglesas, e o Benfica tinha destinadas 5 derrotas até ao fim do ano. Infelizmente, preparação física e agressividade são conceitos por cá desconhecidos, pelo que mesmo que sofram 2 golos de rajada ainda vão a tempo de virar. A verdade é: as equipas portuguesas não têm andamento para isto. os únicos que ainda iam disfarçando eram os do Porto, e... ainda por cima não têm arbitragens manhosas como as de cá, que constantemente arranjam livres, param o jogo dando hipótese aos mais cansados de respirar e ganhar fôlego, etc...