DOIS GÉNIOS, DOIS CASOS, UM DESTINO

Para além de Carlos Queiroz (e de Madaíl), há um outro grande responsável pela tristonha (perdoem-me o eufemismo) carreira que a Selecção Nacional tem feito nesta fase de qualificação. Chama-se Cristiano Ronaldo.
As prestações do agora jogador do Real Madrid têm sido invariavelmente medíocres, chegando ao ponto de se questionar inclusivamente a sua utilidade entre os convocados. Ronaldo não marcou qualquer golo em toda esta fase, não marca na selecção desde o Euro 2008 - onde, de resto, já se exibiu de forma bastante discreta - e a sua carreira caminha a passos largos para a decadência (penaltis à parte, não marca golos há mais de 4 meses).
Continuo a não perceber como o Real Madrid pagou tanto dinheiro por ele, com tantos jogadores em crescendo (e bem mais baratos) que se vão afirmando pelo mundo fora. Em Junho, aquando do anúncio da sua transferência escrevi o seguinte:
"De há sensivelmente um ano para cá, o madeirense não tem passado de um jogador vulgar, à semelhança de outros 20 ou 30 espalhados pelos campeonatos de Inglaterra, Itália e Espanha (só no Barcelona há uns 3 ou 4). Conquistou o prémio da FIFA pelo que fizera na época anterior (essa sim, de altíssimo nível), mas as suas últimas prestações, há que o dizer, têm ficado longe, muito longe, de um jogador que dizem ser o “melhor do mundo”. E nem falo do que (não) tem feito na selecção, onde desde o Euro 2008 não marca um só golo.Cristiano Ronaldo tem um talento incomum. Tem também condições físico-atléticas de excepção. Estes dois vectores, conjugados com a ambição e a vontade de vencer, poderiam fazer dele um nome para a eternidade do futebol, onde poderia figurar ao lado de Cruyff, de Eusébio ou Di Stéfano. Mas é justamente na ambição e na vontade de vencer que a sua carreira parece estar a esbarrar.As suas milionárias férias americanas são o espelho daquilo em que Ronaldo se está a tornar: uma pop-star, que se comporta como quem já não precisa do futebol para nada. E Madrid não o irá ajudar muito a inflectir um caminho que, uma vez iniciado, raramente tem retorno. Quem sou eu para atirar pedras a um jovem de 24 anos que tem tudo quanto quer e é livre de escolher a forma de vida que mais prazer lhe dá. Enquanto adepto do futebol, lamento todavia que, em vez de procurar entrar para a história como um dos melhores de sempre na sua actividade, em vez se concentrar nesse objectivo e trabalhar arduamente para ele, em vez de recriar e buscar novas metas competitivas, e depois, uma vez terminada a carreira, viver então todos os prazeres do dinheiro ganho, Ronaldo queira desistir já, aos 24 anos, de uma história e de uma carreira que, temo bem, poderá ficar bastante aquém das suas reais possibilidades, e daquilo que nos foi prometendo.À semelhança de Beckham, Ronaldo Lima (“Fenómeno”), Ronaldinho e outros, Cristiano Ronaldo, a prosseguir neste caminho, pode até vir a ganhar muito mais dinheiro, poderá viver rodeado de luxos e opulências o resto da sua vida, mas não creio que volte ao nível que exibiu há dois anos, nem volte a ser “Bola de Ouro” de coisa nenhuma. Ficará provavelmente por saber, como em muitos outros casos, até onde poderia ele ter chegado. É pena."
Daí para cá, as suas exibições, a incapacidade que demonstra em campo para cumprir o seu papel (fazer a diferença), e até a forma como protesta com os árbitros, chegam a ser chocantes. O pior é que - como já havia dito - não creio que este caminho tenha retorno.
Cristiano Ronaldo saberá (ou talvez não) os motivos desta caída a pique, verificada precocemente com apenas 24 anos. A mim, seu outrora admirador, apenas me resta lamentar.

Noutro quadrante, outro génio arrasta-se também pelo futebol, enxovalhando (mais uma vez) o seu divino nome, e a memória dos seus melhores tempos.
Agora como treinador, Diego Maradona – o melhor jogador que alguma vez vi na vida – tem dado sequência a uma carreira catastrófica com a sua Argentina, selecção recheada de intérpretes de excepção como Mascherano, Tevez, Aguero e Messi, e que está em risco de não marcar presença no próximo Mundial, coisa absolutamente inimaginável dada a valia da sua matéria-prima e as características do grupo de qualificação sul-americano.

Maradona não pára de mexer na equipa, e leva três derrotas em quatro jogos, estando neste momento em 5º lugar e fora do espaço do apuramento directo.
Ainda que pense que a Argentina, com ou sem Maradona, se acabe por qualificar (recebe o Peru na próxima e decisiva jornada), o que fica deste período é a total e manifesta falta de habilidade para a função por parte do seu seleccionador, por contraponto com a habilidade fora do comum que tinha para driblar os adversários sobre o relvado.
Mas Maradona para os argentinos não é o mesmo que Maradona para os simples admiradores da sua genialidade. E estará certamente aqui a raiz da sua estranha escolha, num país onde El Pibe está (ainda) sentado ao lado de Deus.
Um erro de casting que, mais do que uma eventual eliminação, pode custar o prematuro terminar de uma carreira de treinador que talvez nunca devesse ter começado.

6 comentários:

angelodias disse...

Há quatro meses que não marca um golo? Estás a contar os meses que esteve de férias? Que eu saiba ele em amigáveis marcou sem ser de penalty. E lembro-me do golo no dragão e do jogaço na meia final contra o Arsenal ( e mais dois golos). Ora, fim da época passada em grande forma e este ano houve um jogo oficial pelo clube em que aliás marcou de penalty. Queres mais? Ele não é um super-homem e vê como anda a Argentina! Dizes o mesmo do Messi então? Que tem ele feito pela selecção? A culpa da Argentina estar como está então é do Maradona e do Messi certo?
O rapaz tem 23 anos e já é o quinto ou sexto melhor marcador de sempre de Portugal! Ele não é uma máquina e sinceramente faz-me confusão esta mesquinhez típica do Tuga a deitar abaixo um gajo que por acaso fez uns jogos menos conseguidos...

P.S - E vai mostrar tudo o que vale em Madrid!

RN disse...

Caro LF,

Grande parte do problema da Selecção está, como em outras épocas, na cultura das "vacas sagradas". Não quero fazer de Ronaldo o principal responsável pelo actual estado de coisas - esse "prato" reservo-o para Queiróz - mas é um facto que a sua evidente falta de forma (para também usar um eufemismo) associada à sua arrogância dentro do campo em nada ajudam a Selecção. E quando já se admite publicamente, como foi o caso de ontem, que não se substituiu o "menino" para não perturbá-lo, então está tudo dito...

Anónimo disse...

acho injusto o que se anda a dizer de ronaldo. ele nao pode jogar ao memso nivel numa equipa disfuncional, do que jogando numa equipa a funcionar.

no manchester jogava muuuuuito... porque a equipa funcionava e de que maneira. ele era o melhor e mais infulente jogador duma equipa que foi a duas finais da champions seguidas.

quanto ao seu rendimento na seleccao, proponho que vejas o filme dos ultimos 3 ou 4 jogos da argentina, e diz-me como jogou o messi. zero. pelo mesmo motivo.

cj disse...

Já viste o filme do Kusturica sobre o Maradona?

LF disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
LF disse...

Não CJ, não vi ainda.

Quero ver em breve, apesar de não ser um grande fã do Kusturica.