LUCHO, LISANDRO E A OPORTUNIDADE

Como já aqui ficou dito, o F.C.Porto tem conseguido, ano após ano, suprir com eficácia as saídas de alguns dos seus principais jogadores. A razão para isso é fácil de perceber, e prende-se com a organização colectiva da equipa, perante a qual cada jogador representa pouco mais que uma simples peça, que se tira e põe sem quebras de rendimento.
Mas há peças mais importantes que outras, e dentro desse lote deve dizer-se que Lucho Gonzalez e Lisandro Lopez foram, de longe, as unidades mais preponderantes no colectivo portista dos últimos anos.
Vejamos por exemplo o número de golos marcados por todos os jogadores que passaram pelo F.C.Porto desde 2005:
Se fosse possível contar com assistências ou outros aspectos de jogo (dados de que não disponho), certamente que o peso da dupla argentina sairia ainda mais reforçado, como qualquer pessoa que tenha visto jogar o Porto nos últimos anos aceitará.
Foi precisamente nos grandes momentos que a classe de “Licha” e “El Comandante” mais se fez sentir. Na Liga dos Campeões marcaram 60 % (!!!) dos golos do F.C.Porto nas últimas três temporadas:A importância destes dois jogadores para o F.C.Porto só é comparável à que Liedson e João Moutinho têm no Sporting (imagine-se a sua saída simultânea…), e à que Simão Sabrosa tinha no Benfica. São jogadores pouco menos que insubstituíveis, que habituam a equipa a girar em seu redor, deixando-a órfã quando saem. O F.C.Porto tem uma impressionante força colectiva, mas, mesmo que por vezes o pareça, não opera milagres.
É óbvio que Pinto da Costa vai procurar alternativas no mercado, mas não creio, francamente, que seja fácil encontrar jogadores que encaixem tão bem na máquina portista como Lucho e Lisandro. Nem Belluschi, nem Falcão estão ao mesmo nível, e a menos que possa haver um surpreendente golpe de última hora, acredito que o F.C.Porto vá mesmo apresentar-se enfraquecido para a nova temporada, sobretudo se também se vier a confirmar a saída de Bruno Alves. E até se entende que, com quatro campeonatos consecutivos, com uma presença de alto nível na Champions, os responsáveis portistas queiram aproveitar os ventos para encher os cofres, mesmo correndo o risco de perder uma época – algo que, por si só, não comprometerá a hegemonia que têm sabido manter.
Esta pode pois constituir uma oportunidade de ouro para Benfica e Sporting se aproximarem do topo, à semelhança do que sucedeu em 2005. Qual estará em melhores condições para o fazer ? Essa é uma dúvida que os próximos meses poderão ajudar a esclarecer.
Da parte do Benfica, é importante que se tenha consciência que uma aproximação competitiva ao F.C.Porto nunca se poderá concretizar descapitalizando a equipa em sentido idêntico ao dos Dragões, mas sim seguindo o processo inverso, ou seja, mantendo os titulares (e já saíram Katsouranis, Reyes e Suazo), e juntando-lhes, cirurgicamente, dois ou três elementos de classe. O F.C.Porto pode dar-se ao luxo de vender os seus melhores jogadores, o Benfica, caso queira mesmo ser campeão e disputar a hegemonia do futebol português, não o pode fazer. Reforçar não é trocar jogadores por jogadores (por vezes certezas por dúvidas), mas sim acrescentar valor ao que já existe.
Em épocas anteriores não houve, no Benfica, muita sensibilidade face a este aspecto, e com a saída de vários titulares (Simão, Petit, Léo etc), voaram as oportunidades de aproximação aos portistas. Veremos até ao dia 31 de Agosto se a lição ficou aprendida, e se jogadores como Luisão ou Cardozo se mantêm mesmo de águia ao peito.