QUEBRA-CABEÇAS

Com a derrota (e a má exibição) de Alvalade como pano de fundo, e aproveitando as ausências forçadas de Suazo e Yebda, Quique Flores terá chegado à conclusão que era preciso mudar alguma coisa na equipa do Benfica, de modo a não comprometer as hipóteses que lhe restam de chegar ao título nacional. Embora as vicissitudes do jogo com o Leixões condicionem uma análise objectiva dos efeitos produzidos pelas alterações, a verdade é que o Benfica mostrou, com outro figurino táctico, uma aparentemente maior capacidade ofensiva, deixando a ideia de poder partir desta base de trabalho para o que falta de temporada.
Fundamentalmente, as alterações efectuadas remetem para um esquema de 4-2-3-1, por contraponto com o 4-4-2 anteriormente utilizado, e a peça basilar da mudança foi Pablo Aimar que, recuando uns metros, deixou a frente de ataque para ocupar posição no miolo do terreno - chegando inclusivamente a desempenhar o papel de pivot defensivo quando a equipa se viu reduzida a dez unidades. Por outro lado, a deslocação de Ruben Amorim para o centro possibilitou a entrada de Di Maria para a ala direita.

Há poucos dias atrás, neste mesmo espaço, gerou-se uma interessante discussão acerca da possibilidade de os encarnados jogarem deste modo. Disse na altura que não me parecia uma solução consistente entrar em campo com quatro unidades pouco ou nada dadas ao trabalho defensivo, como são Di Maria, Reyes, Aimar e Cardozo. Sem bola, a equipa correria riscos de se ver partida e em clara inferioridade numérica nos espaços que aqueles avançados, pela sua própria natureza, teriam dificuldade em preencher.
Em certos momentos do jogo com o Leixões recordei-me dessa discussão, e quase dei por mim a lamentar a opinião então dada. Na realidade, estando fora das competições europeias, e tendo já disputado todos os clássicos, o Benfica irá ter pela frente até final da época essencialmente desafios à sua capacidade ofensiva. Ora essa, pelo que se viu, parece crescer alguma coisa com esta solução.
Não me custaria nada dar o braço a torcer e considerar que me tinha enganado. E fá-lo-ei se, com este sistema táctico e com estes mesmos intérpretes, o Benfica vier a provar ser esse o caminho para se tornar uma equipa ganhadora, e assim chegar ao título. Por agora acho prematuro fazê-lo.
Olhando atentamente para os médios e avançados do plantel do Benfica, e tendo de formar um onze, a vontade que me dá desde logo é a de desenhar um meio-campo em losango, e colocar em jogo dois pontas-de-lança. Quem tem Cardozo, Suazo e ainda Nuno Gomes, quem não tem um ala direito de raiz que dê garantias (Balboa insiste em desiludir), e disponha de vários médios capazes de jogar em posições interiores, só pode ser levado a essa solução, mas…
Mas, para jogar em losango são necessários laterais capazes de fazer todo o corredor, e capazes de impor desequilíbrios em zonas ofensivas. O Benfica não os tem. Por outro lado, a presença de José António Reyes – um dos mais bem pagos jogadores do plantel – no lote de opções à disposição do técnico, obriga a um aproveitamento das suas melhores características, as quais não são, com toda a certeza, as de médio interior, nem as de ponta-de-lança, e obrigam a alargar os processos de jogo. É em questões como esta que o Benfica terá de pensar ao preparar a próxima época (o que deverá ser feito a partir de agora), de forma a não repetir este tipo de desequilíbrios.
Tendo Reyes num flanco, ou se joga com dois pontas-de-lança e se perde um pivot ofensivo criativo, ou se coloca apenas um homem no centro do ataque, e fica a faltar peso dentro da área. Tem sido este um dos dilemas do Benfica, que se pode traduzir numa incompatibilidade táctica entre três das mais preponderantes figuras do plantel: Aimar, Cardozo (como segundo ponta de lança) e Reyes. Ou seja, optando-se por Aimar e dois pontas de lança exige-se prescindir de Reyes, este e dois pontas de lança obrigam a deixar de fora Aimar, O argentino e o espanhol, em simultâneo, só podem actuar com apenas um homem na área.
Nesta medida, o 4-2-3-1 parece, à primeira vista, ser um ponto de maior equilíbrio face ao 4-4-2. Se apenas possibilita a inclusão de um ponta-de-lança (neste caso Suazo estava lesionado), a duplo pivot defensivo, e o recuo de Aimar para uma linha mais perto da primeira zona de construção, permite aos alas uma maior liberdade para aparecer em zonas de finalização, disfarçando alguma incapacidade dentro da área. Contudo, no momento da transição defensiva o problema mantém-se: Di Maria e Reyes não fecham o flanco, Cardozo não tem velocidade para constituir uma primeira linha de pressão (como fazem, por exemplo, Liedson ou Lisandro), e Aimar não consegue, pela sua morfologia física, ser uma unidade de combate na intermediária. Faltaria então um homem para cobrir, pelo menos, um dos corredores, equilibrando o meio-campo na luta pela posse de bola. Esse homem não existe no plantel, mas, voltando um pouco ao princípio, pode muito bem ser, paradoxalmente, Ruben Amorim. Sacrifica-se um jogador de enorme capacidade – junto às linhas laterais torna-se menos visível -, mas preenche-se uma lacuna táctica da equipa, permitindo simultaneamente a reentrada de Yebda, cujo poder físico não pode ser negligenciado no centro do terreno, local de todas as batalhas. Outra alternativa passaria pelo adiantamento de Maxi Pereira para o meio-campo, como médio ala, deixando a Miguel Vítor o lado direito da linha defensiva. A Di Maria ficaria reservado o papel de Joker, que afinal de contas tem sido o seu mais frequente desempenho.
Resumindo, 4-4-2 só com médios centro simultaneamente fortes, combativos e criativos, que praticamente não existem no plantel. O losango só seria aplicável com (pelo menos) um lateral de grande qualidade, e exigiria prescindir dos extremos. O 4-2-3-1 é uma razoável solução intermédia, mas com uma alteração de intérpretes - na linha de três exige-se a presença de um homem com características menos libertinas. Pelo como abordagem inicial à generalidade dos jogos.
Esta hipótese não resolve contudo o problema do ponta-de-lança – que continuará, contrariando a sua própria natureza, sem apoio directo -, pelo que a próxima época deve ser cuidadosamente preparada tendo em conta que Reyes e/ou Di Maria impedem tacticamente a presença de dois pontas-de-lança, desperdiçando Cardozo e/ou Suazo. Estando Suazo e Reyes emprestados, e dispondo Di Maria de, aparentemente, tão grande cotação em toda a Europa – e de um binómio peso na equipa/valor de mercado a aconselhar uma venda -, é uma escolha não muito difícil de ser feita.
É claro que todas estas questões terão de ser ponderadas de acordo com a crise que o mundo, e necessariamente também o futebol, atravessam, e com um reajustamento da massa salarial do plantel, que creio ser urgente fazer, e que não implica obrigatoriamente, a meu ver, um decréscimo competitivo. Pelo contrário, acho que é possível aumentar alguns ordenados - equilibrando o plantel a esse nível -, diminuir a massa salarial total, e ter uma equipa mais competitiva. Mas essa análise fica para um dos próximos dias.

15 comentários:

M disse...

Belissimo exercicio, os meus parabens....

pessoalmente prefiro ultimo esquema táctico, com aimar na posiçao que penso ser a mais indicada para ele, em funçoes de real nº10...apoiado com o musculo do katso e Amorim/Yebda...alias, digo isto desde inicio da epoca face ao plantel apresentado

o aimar a jogar como vagabundo, a 2 avançado, é um desperdicio de todo o tamanho...Benfica joga aos trambolhoes e de pontape para a frente, carente de alguem que acalme, temporize, retenha a bola e distribua em condiçoes...Aimar faz precisamente tudo isso...a equipa parece que acalma quando a bola lhe chega aos pés...

e depois, Cardozo, sem dúvida..

várias razoes..remta mortifero, joga para a equipa, tem melhorado imenso, a progressao em tempos de disponibilidade fisica, no posicionamento, são mais do que evidentes...e depois..é jovem, é nosso activo, foi caro!

suazo é belisimo jogador...quando tem espaço para usar o seu imenso poder de aceleração (vide Alvalade, Madeira, Guimaraes..), em terrenso pequenos ou mesmo na Luz contra equipas muito fechadas, so funciona, quanto muito, como segundo avançado, aproveitando espaços criar por outro avançado (vide golo contra V.Setubal na Luz...)Alem disso, as caracteristicas que tem fazem com que Benfica fique "refem" das mesmas, usando e abusando do pontape para a frente, apostando na sua velocidade, muitas vezes contra defesa composta por 4/5 jogadores ja de prontidao...e ja agora, é emprestado e é caro...assim como reyes, mas este, nao tem substituto à altura.

saudaçoes benfiquistas

Anónimo disse...

Concordo em grande parte com a sua opinião.

Acho que este último modelo de jogo do Benfica é o que melhor se adequa às características dos seus jogadores e às características das equipas deste campeonato. Só faria uma alteração, era tirar o Di Maria e colocar lá o Suazo, sei que em termos defensivos a equipa ficaria fragilizada, mas também é de salientar que os jogos a partir de agora é tudo com equipas que se preocupam mais com questões defensivas, e tendo o Benfica um ataque com Cardozo, reyes, suazo e aimar no apoio, duvido que alguma equipa se atreva a vir para cima do Benfica. Com este ataque poderíamos entrar muito fortes, pressionastes e ofensivos, resolver o jogo de início e então puder gerir a vantagem alcançada.


Saudações benfiquistas

Anónimo disse...

O 4-2-3-1 ou 4-3-3 depende da perspectiva parece-me a melhor solução, mas utilizaria o suazo como ponta direita para rasgar e fazer diagonais e o reyes como esquerda. o nº9 seria o Cardozo ou o Nuno Gomes.
Quanto à equipa sem bola se diz que Cardozo e Nuno não têm a disposição física para fechar como fazem Liedson,Lisandro,Adebayor etc, os pontas podiam muito bem fechar o meio-campo e o próprio Aimar também ajudaria a defender(como se viu contra o Leixões), isso agora é treino táctico. Quanto a Di Maria é um jogador para entrar nos últimos 20minutos tal como Carlos Martins, mas Di Maria teria que ter uma posição livre, um jogador vagabundo, e é nessa posição q mal ou bem faz umas coisitas jeitosas
Gostava de saber o que acha..

VASCO;SAUDAÇÕES BENFIQUISTAS

Anónimo disse...

Ah nos últimos 15minutos entraria o talismã.. PEDRO MANTORRAS lol

Vasco

Anónimo disse...

Ah nos últimos 15minutos entraria o talismã.. PEDRO MANTORRAS lol

Vasco

Anónimo disse...

Quando percebers alguma coisa sobre estratégia , tácticas etc diz sff !!

Anónimo disse...

ALGUÉM me poderá dizer quem ganhou a TAÇA BES esta época?
Dão-se alvíssaras....

Anónimo disse...

Boa Tarde Caro Luis Fialho

Gosto desta estratégia mas continuo sempre a preferir Cardozo, apesar de achar que não temos um jogador com acutilância de um Mantorras capaz de jogar 90 minutos. Gosto do Reyes a ala esquerdo apesar de continuar a achar Di Maria muito infantil. Gosto do Miguel Vitor e parce-me uma boa aposta a abordagem que se fz aos juniores nós precisamos de varios jogadores com a garra e a mistica Benfiquista. Não concordo consigo sobre as saudades do leo, apear de hoje não o ter referido, tenho informações de São paulo que ele está muito em baixo de forma.

Quantos ao aumento da massa salarial é preocupante os relatórios que ontem foram apresentados. Preocupante no entido daquilo que considero ser a gestão do FCP. Possui 23 jogadores emprestados ou seja metade do seu plantel nós 8 e o Sporting 5. Revela bem a abordagem desonesta do FCP pois prefere investir em jogadores de medianos mas ter metade do plantel emprestado ou seja para jogar em quase todas as equipas, segundo o Alberto Miguens em todas, com jogadores seus. ISTO E MAIOR BATOTA DO QUE O APITO DOURADO. Porque é legal face aos regulamentos portugueses mas o Benfica deveria manifestar-se veementemente contra esta situação.

Só para dizer ainda que acabei de regresar da Australia onde o canal principal dava em rodapé as declarações de Klinsmann sobre a impressioante (diziam eles) vitória do Bayern 5 a 0 contra o Sporting de Lisboa. Ou seja o mundo inteiro ficou a saber da vergonha do nosso futebol. Mas tudo isto está ligado ao que eu disse inicialmente ou seja o futebol português está ferido de batota.

Saudações Benfiquistas

Anónimo disse...

Excelente analise eu pessoalmente gosto do 4x2x3x1 ou mesmo um 4x3x3 porque é com eles que o plantel do SLB pode render mais.
Com Suazo á direita nos jogos em casa sobretudo.

Anónimo disse...

o benfas faz as festas no estoril para que seja sempre lembrada a ajuda que tiveram do estoril futebol clube...
vergonha continua

jfk disse...

Suazo perde muitas boas e marca poucos golos para os minutos de jogo que tem.

Cardozo segura no peito, mete no chao e passa correcto ou dribla, Suazo não.

Cardozo ganha de cabeça e mete nos colegas, Suazo não.

Cardozo marca muito mais golos do que Suazo.

A equipa é assim muito mais produtiva com Cardozo do que com Suazo, tendo mais posse de bola.

Se Aimar jogar nas costas do ponta de lança, não temos quem faça a transição ofensiva, logo Aimar tem que recuar p o meio campo.

Isto porque Carlos Martis não se revelou jogador com discernimento para agarrar o lugar ao lado de Katso ou Yebda, permitindo o avanço de Aimar.

Tínhamos um jogador para fazer este lugar no miolo, defendendo e transportando, sendo o primeiro elemento de construção e permitindo a Aimar jogar na frente, mas foi dispensado, chama-se Karagounis e no Benfica jogou sempre fora da posição, descaído para a esquerda.

Tenho imaginado este plantel com ele e acho que seria de grande utilidade.

Anónimo disse...

LF

Bom exercicio, mas faltou uma outra forma de jogar 4132 que para mim seria :

Moreira

Maxi
Luisão
Sidnei
D. Luiz

Katso

Ruben Amorim
Pablo Aimar
Reyes

Cardozo
Nuno Gomes

Quando a equipa defende, o Ruben Amorim roda para o centro do meio campo fazendo dupla com Katso e Nuno Gomes roda para a esquerda fechando esse lado

Quando a equipa ataca rodam para as posições iniciais

Eu pensei neste esquema porque a maioria das equipas que vamos apanhar lutam para não descer e o Benfica tem de ser mandão e impor uma forte toada ofensiva, não dando tempo para essas equipas atacar

Agora este esquema necessita de ser treinado com muita dinamica e sentido posicional

LF disse...

Catn,
Só tenho dúvidas quanto ao recuo do Nuno Gomes.
Contra o Leixões aconteceu, mas foi um acidente.
De resto é uma hipótese jogar apenas com um pivot defensivo.
Mas recordo que o Porto de Mourinho jogava assim, mas tinha o Deco que quando perdia a bola era uma verdadeira carraça. O Aimar não é assim.

JFK,
Quanto ao Karagounis, concordo, mas tratava-se de um jogador com um salário elevadíssimo e rendimento intermitente.
Julgo que a ideia de Carlos Martins era esse papel. Mas até agora não se afirmou.

Vitória,
Já falei várias vezes dos emprestados. É de facto um escândalo que urge eliminar.
Mas vai ser difícil os clubes aprovarem isso em sede de Liga.

M,
Concordo quanto ao Suazo. Creio ser um excelente jogador, mas não adequado à Liga Portuguesa e ao que o Benfica precisa.
Numa equipa do meio da tabela da Premier League seria uma estrela absoluta, pois teria espaço e apelos à velocidade em contra-ataque. No Benfica isso só acontece nalguns jogos.

Mário,
Nunca vi Suazo jogar na ala. Acredito que pudesse ser uma hipótese, mas com franqueza não o estou a ver a compensar as subidas do lateral.
Não sei se em Itália alguma vez jogou assim.

Vasco,
O treino táctico nem sempre consegue contrariar as características naturais dos jogadores. Perdoe o exagero, mas nenhum treino táctico faria de Nuno Gomes um bom defesa central.
Há adaptações que se podem fazer, há aspectos que se podem limar, mas quando determinado jogador tem características para um determinado papel, nem sempre é fácil fazê-lo desempenhar outro.
O Benfica tem demasiados jogadores no ataque que não pressionam, que quando perdem a bola desaparecem do jogo.
Quanto ao Di Maria, ao que sei, jogava assim na Argentina.
Mas num grande clube europeu, a um jogador que jogue como segundo avançado exige-se maior capacidade de remate e de golos (ele não tem), e se jogar um pouco mais atrás exige-se cultura táctica, temporização de jogo, capacidade de pressão, tudo coisas que também não tem.
Acredito que nas alas é onde ele pode crescer mais. Lamento que não esteja a evoluir tanto quanto eu esperava. Mas ainda vai a tempo.

Anónimo disse...

Vá lá, uma palavrinha para a TAÇA BES... foi o benfica que ganhou este ano, não foi? e o ano passado, e o outro, e o outro, e o outro....

Anónimo disse...

Sim, concordo que o treino táctico é muito dificil p/ certos aspectos, mas há outros q podem ser afinados.
O Di Maria para ala nunca defende, mas como jogador livre como O CR7 fez ou faz no MU a aparecer no meio, na esquerda, na direita, de trás, de frente, etc poderia-se adaptar bem. O CR7 até na 2ª epóca no United rematava mal, mas com treino foi ao sítio, o Nani também melhorou bastante.

Engraçado que, hoje na faculdade, numas horas vagas eu e um colega não tinhamos nada para fazer, então fizemos o seguinte, cada um fazia-se de Quique Flores, fazia a táctica e colocaria os respectivos jogadores, ele pôs a táctica igual ao CATN mas quem descairia era o Cardozo tal como fez contra o leixoes no centro p o Nuno Gomes, e eu igual ao LF(4-2-3-1 ou 4-3-3) mas com o suazo na direita, e de facto numa liga onde quem ganha o meio-campo ganha o jogo quase sempre e com 2avançados que pouco trabalhao dão aos centrais a táctica do CATN falha(teoricamente).
O Que tinha curiosidade em ver era o Suazo e oReyes a pontas de lança ou o Reyes a jogador vagabundo.

VASCO; SAUDAçÕES ENCARNADAS