ORDENS DE GRANDEZA

"Após quinze anos de decepcionantes resultados desportivos, alguns têm procurado fazer crer que o Benfica seria hoje um clube com menor vitalidade, e que a sua grandeza, outrora reconhecida de forma unânime, estaria agora definitivamente posta em causa. Essa ideia, por muito que o pretendam, não corresponde à realidade.
É verdade que os títulos não têm aparecido com a frequência que desejávamos, mas a dimensão de um clube não se mede exclusivamente pelos critérios da bola que bate no poste ou do penálti não assinalado. Há muito Benfica para além dos resultados do futebol, embora – não o neguemos - seja esse o âmago da actividade do clube, e resida aí o principal motor da sua popularidade e o catalisador mor da militância dos adeptos.
Importa contudo analisar estes quinze anos, e através desse exercício perceber o principal significado do Benfica actual. Importa lembrar os riscos que corremos, e verificar como o rumo entretanto tomado tem, pouco a pouco, reconduzido o clube, enquanto entidade global, ao nível que a sua centenária história exige - sendo este, naturalmente, um processo dinâmico, no âmbito do qual muito há ainda por fazer.
Em meados da década de noventa o Benfica entrou numa perigosa rota de descaracterização que, então sim, por pouco não o levou a uma decadência sem retorno. Desorganização interna, ruína económica, perda de referências e, consequentemente, o criminoso oportunismo de dirigentes sem escrúpulos. Já no novo século, o nosso clube encetou um caminho de regeneração notável, que em poucos anos o colocou em condições de voltar a orgulhar os seus adeptos. Recuperar a credibilidade institucional foi o primeiro passo, ao qual se seguiu o investimento infraestrutural, o cativar de milhares de novos sócios, uma criativa gestão comercial capaz de gerar novas receitas, a aposta forte no ecletismo e, por fim, a requalificação da equipa de futebol, que voltou, com maior ou menor êxito, à discussão dos títulos.

Hoje somos o clube que mais sócios congrega em todo o mundo, dispomos do maior e melhor estádio português, de um moderno e funcional centro de estágio e de dois excelentes pavilhões, mas somos também o clube que participa em mais competições de mais modalidades, o que conseguiu o maior número de medalhas olímpicas alguma vez alcançado em Portugal, e o único no país capaz de lançar um canal de televisão próprio. Continuamos também a ser, com naturalidade, o emblema luso que mais audiências desperta no espaço mediático, e aquele que arrasta maiores paixões nos mais variados locais do mundo, por onde, de resto, se espalham os inúmeros núcleos e casas do clube. No plano organizativo o Benfica é hoje uma estrutura profissionalizada, com as contas equilibradas, e com as potencialidades futuras absolutamente intactas.
Tudo isto é o Benfica, tudo isto constituem motivos de orgulho para nós e para os nossos filhos, nada disto deslustra o legado que nos foi deixado. Tudo isto são realidades que, ainda há pouco tempo atrás, ou não existiam, ou estavam perigosamente postas em causa. Somos, por tudo isto, o clube mais odiado pelos nossos principais adversários, que depois de chegarem a sonhar com o nosso declínio, verificam agora, com inquietação, que os tempos mudaram de forma irreversível.
É evidente que queremos mais. Queremos o principal que é a hegemonia que o futebol nos deu ao longo de décadas. Neste particular foram cometidos alguns erros – de onde ressaltam decisões precipitadas quanto a dispensas de jogadores e treinadores -, mas as condições estruturais entretanto criadas permitem-nos hoje acreditar que o futuro venha a corresponder à ambição dos nossos sonhos. É bom que todos os benfiquistas se lembrem sempre de onde vieram, e pelo que passaram, para juntos conseguirmos chegar onde queremos. O caminho está diante de nós, e o destino espera-nos. Avancemos!"

LF em "O Benfica" 6/3/2009