ERROS FATAIS, ADEUS CONSUMADO

Tinha dito aqui que este era um jogo em que não se poderiam cometer erros. Tinha pedido aqui uma grande exibição de Cristiano Ronaldo. Não aconteceu nem uma nem outra dessas coisas, e se a elas juntarmos um erro crasso do árbitro no terceiro golo alemão, chegamos facilmente às razões de uma derrota.
Acho uma certa graça às análises que tenho ouvido, a todas as teorias estratégicas e tácticas que, na penumbra das evidências, explicariam o motivo pelo qual Portugal não venceu a Alemanha. É um facto que a ausência forçada de Torsten Frings fez com que Joachim Low aproveitasse para alterar o seu sistema de jogo, e é também verdade que essa inesperada alteração, nos momentos iniciais, surpreendeu a equipa portuguesa. Mas se esse facto poderá explicar os primeiros dez minutos de maior predominância alemã na partida, de nada serve se tentarmos colá-lo ao que se passou daí em diante.
A diferença entre as duas equipas. A verdadeira e única diferença, que se revelou fatal, e que normalmente está associada a este tipo de jogos – a eliminar, em fases adiantadas de grandes competições, e entre equipas equilibradas -, foi que Portugal cometeu erros básicos na sua defensiva, e a Alemanha não. Por isso a Alemanha está nas meias-finais e Portugal volta para casa. É assim o futebol, é assim que se definem os grandes campeões, são assim os Europeus e os Mundiais, e foi também assim – no detalhe, no erro – que a equipa nacional fez a carreira que fez em 2004 e 2006.
No primeiro golo, Pepe – mal posicionado - e Bosingwa correram desde o meio campo ao lado de Podolski e deixaram-no cruzar tranquilamente para a área. Aí apareceu Schweinsteiger, que Paulo Ferreira num momento de desconcentração deixou fugir, voltando a bater Ricardo. Um golo em dois tempos evitável, num momento em que Portugal dava mostras de equilibrar o duelo táctico, e tinha acabado de construir, num lance de João Moutinho, a primeira ocasião de perigo.
O segundo e terceiro golos são quase iguais, e já nos jogos anteriores, nomeadamente com a República Checa, a equipa nacional tinha dado mostras de grandes fragilidades naquele tipo de lance. Pode-se discutir se a marcação nas bolas paradas deveria ser feita à zona ou homem-a-homem, mas na verdade o que se viu, ou melhor dizendo, o que se não viu, foi qualquer tipo de marcação criteriosa e coerente, parecendo cada jogador desconhecer a missão que tinha para cumprir. Pode-se lembrar aqui o facto de Ricardo Carvalho e Pepe terem feito, até ao Europeu, apenas dois jogos juntos, pode-se apontar o péssimo momento de forma de Paulo Ferreira e de Ricardo – mal em ambos os lances -, a baixa estatura dos homens do meio-campo, ou ainda lembrar Costinha e Jorge Andrade. No meio de tudo isto estará a verdade.
Todos nós adoramos as fintas de Ronaldo, as arrancadas de Simão, a magia de Deco, mas uma equipa que denota tamanha fragilidade em tão importante capítulo do jogo como os lances de bola parada, dificilmente poderá pretender ser campeã. Na primeira fase, algo ainda podia ser (e foi) disfarçado, a partir dos quartos-de-final, com adversários bem mais fortes, seria necessária outra consistência. Estas falhas acabaram por trair o bom jogo ofensivo de Portugal – marcou dois e criou mais algumas oportunidades -, a super-exibição de Deco, a alma generalizadamente evidenciada por todos os jogadores, que mostraram bem o quanto queriam vencer este jogo, diante de uma Alemanha forte, é certo, mas com alguma permeabilidades – por exemplo nas alas Portugal foi rei e senhor -que poderiam fazer dela um adversário ultrapassável.
Nos minutos finais, após o golo de Hélder Postiga, ainda acreditei num milagre de N. Srª do Caravaggio. Portugal dominava então o jogo em absoluto, a Alemanha dificilmente respirava, e a sensação que fica é a de que se a partida durasse mais dez minutos o empate iria acabar por aparecer. E num eventual prolongamento, os sete dias de recuperação poderiam vir a ditar leis.
O árbitro apitou, Portugal perdeu. É um absurdo falar de fracasso ou mesmo inêxito. A selecção nacional cumpriu neste Europeu a sua obrigação – que era passar a primeira fase – e caiu de pé frente a uma selecção tri-campeã mundial e tri-campeã europeia. Não teve a sorte de outras ocasiões, e no momento decisivo não conseguiu esconder as suas principais debilidades. Mas ficar entre os oito melhores da Europa não pode ser vergonha para ninguém, e só os “maus” hábitos criados pelos portugueses nos últimos anos, em que a presença em fases adiantadas de grandes competições se banalizou e fez esquecer toda a pobre e longa história das décadas anteriores, podem agora deixar-nos um amargo sabor a frustração. É bom sinal.

No plano individual há que destacar a fabulosa exibição de Deco, que de todo não merecia ver-se fora do Europeu. O mágico, com a frescura de toda uma época a meio gás, apareceu em grande nesta prova, e particularmente no jogo de ontem espalhou pelo relvado toda a sua classe, realizando uma das melhores exibições que lhe vi nos últimos anos. Foi claramente o melhor jogador português no jogo e em todo o Europeu
Pena foi que Cristiano Ronaldo, de quem tanto se esperava, tenha desperdiçado a hipótese de se afirmar como um jogador aparte no panorama futebolístico mundial. Frente à Alemanha, quando seria necessário um grande Ronaldo, o Ronaldo das melhores tardes de Old Trafford, ele não apareceu, andando, por entre marcações cerradas, quase sempre escondido do jogo. Como aqui disse ontem, seria este o momento para Ronaldo se evidenciar como o “melhor do mundo”. Ainda é jovem e terá alguns Mundiais e Europeus para brilhar, mas é bom que ele próprio entenda que não é com golos ao Bolton ou a Reading que ficará na história do futebol. E todos sabemos que dispõe de todas as condições para ficar.
Nuno Gomes esteve muito bem, parecendo algo precipitada a sua saída. O avançado benfiquista mostrou que está vivo, e que dele ainda se pode esperar alguma coisa, assim mantenha os índices de motivação e empenho que patenteou nestes três jogos. Nani entrou muito bem, Simão esteve também em bom plano, e Postiga marcou. Não foi no ataque que Portugal perdeu o jogo.
Cá atrás o panorama foi bem diferente. Ricardo falhou clamorosamente no segundo e terceiro golo, confirmando um momento de forma bastante complicado – e agora sem Scolari, e com o regresso de Quim, deverá ter os dias contados na baliza da selecção -, Bosingwa esteve demasiado desconcentrado em momentos chave, Pepe foi uma sombra do grande jogador da primeira fase, Ricardo Carvalho perdeu-se na descrição das falhas colectivas, Paulo Ferreira mostrou-se, uma vez mais, um erro de casting nesta selecção, revelando-se o elo mais fraco da equipa – o lateral deixou a sua marca no primeiro e no terceiro golos alemães, embora com a atenuante de neste último ter sido claramente empurrado por Ballack.
Petit esteve em plano discreto, João Moutinho saiu lesionado quando prometia uma boa exibição, e Raul Meireles pouco trouxe ao jogo, sendo contudo de saudar a forma como tentou o golo de meia-distância.

Falta falar do árbitro. Ao contrário de outras ocasiões – Euro 2000, Mundial 2002 ou Mundial 2006 – em que todo o Portugal muito se queixou das arbitragens, responsabilizando-as, injustamente, pelo afastamento das respectivas competições, desta vez há mesmo reais razões de queixa. O golo de Ballack é precedido de falta, uma falta clara que o juiz sueco tinha obrigação de ter visto. Este lance foi determinante para o desenrolar da partida, até porque ocorreu num momento em que Portugal ameaçava fortemente alcançar o empate – e até foi obtido com o único ponta-de-lança alemão fora do relvado -, e daí em diante tudo poderia ser diferente. Foi um balde de gelo nas ambições lusas, e como tal bem se pode afirmar que a arbitragem de Fjortfeld influenciou clara o objectivamente o resultado. Se um lance daqueles resolvesse um jogo grande da nossa liga…

8 comentários:

Klaudio disse...

O Nuno Gomes pode, de facto, fazer uma bela época, assim o permitam os sócios e adeptos que o irão seguramente assobiar logo na primeira falha!! É que isso retira-lhe toda a confiança necessária para tentar novamente e desta feita com exito.

Anónimo disse...

Infelizmente fomos eliminados.
Julgo que para além da arbitragem, que efectivamente foi má (Será que o facto de o Sr. Batta ser o observador,não terá sido uma especie de "encomenda" da Uefa, por causa de toda a trapalhice que internamente o futebol português vive ultimamente?)
De qualquer forma, julgo que deve haver uma reflecção interna federativa, agora que um novo Seleccionador terá de ser escolhido.
Gostava de ver a nossa selecção menos comercial e menos "empresa", embora nos dias de hj isso seja complicado.
Onde andou Cristiano Ronaldo?!
Em Madrid?
Em Manchester?!
Na Suiça?!
Sei que um não faz a diferença, mas ele aa meu ver, passou ao lado da competição...
Deixo esta opinião para que se reflicta um pouco, pois julgo que esta equipa podia ter feito mais qualquer coisa.

LF disse...

Um problema informático impediu-me até ao momento de publicar as fotos do jogo, e atrasou a crónica.
Espero que em breve esteja resolvido.
As minhas desculpas.

Peter disse...

Digo e repito não gosto do Scolari como treinador mas ontem foi o único que teve a coragem de dizer que fomos prejudicados pela arbitragem, tal e qual como contra a Suíça.Mas no entanto não é a ele que compete afirmar estes factos mas sim o sr.Madaíl que pelos vistos anda ocupado com outras coisas.Quando ao sr.Batta ser o observador da UEFA é mais uma razão para desconfiar,mas os dirigentes não fazem nada,não reclamam nada e nós sempre a sermos roubados.Sim porque este senhor Batta também beneficiou a Alemanha em 97.Que coincidência!?
Detesto atitudes servis,e a nossa federação sempre teve dirigentes assim, já em 66 também paparam o grupo dos ingleses na meia-final violando as regras do torneio e o Eusébio e companhia foram a dormir para dentro do estádio de Wembley.

angelodias disse...

Sempre as arbitragens: Perdemos e perdemos bem. O empurrão é imperceptivel e o Paulo Ferreira nem protesta. Não fomos equipa e notou-se e muito a falta de rodagem de alguns dos nossos jogadores para este nível: paulo ferreira, petit, Ricardo...
E o Cristiano ronaldo vai ficar na história somente por ter sido o maior flop da história do futebol...Até dá dó vê-lo jogar nestes jogos.

Anónimo disse...

Não escandaliza que a falta do Ballack não seja marcada.
Escandaliza-me que Portugal sofra dois golos daqueles, surgindo os remates na pequena área sem qualquer oposição, e que, como se vê na capa do Jogo, que Riicardo tente impedir o 3º golo COM OS OLHOS FECHADOS!!
Nada a dizer, viva a España.

Anónimo disse...

A meu ver, tendo em conta o adversário, Portugal fez talvez o melhor jogo deste europeu... É verdade que cometeu erros defensivos, mas não tinha sido assim já nos dois últimos jogos? Ofensivamente, foi indubitavelmente o melhor jogo de Portugal neste Euro. Ainda que Ronaldo não tenha aparecido(e vamos ver o que dará no Real Madrid sem a equipa já estruturada à sua medida que tem no Man United...), Deco só confirmou a 'bofetada' àqueles que puseram em causa o seu momento de forma... Nuno Gomes, como tem sido habitual nos últimos europeus, mostrou que sabe mais do que o que mostra(ainda bem que não o faz no benfica); Simão não desapontou... Nani deveria talvez ter entrado mais cedo... e até Postiga, que costuma precisar de 50 oportunidades, marcou logo na primeira que teve...
Mais uma vez, quanto a mim, a principal responsabilidade recai sobre Ricardo, tal como na final de 2004. Aliás revejam os dois lances e comparem os pontos em comum... Não conseguem imaginar o Quim naquele lance do 3º golo a saír a punhos como tantas vezes faz? E mesmo no 1º golo Ricardo não está isento de culpas. Poderia perfeitamente ter atacado a bola.
Quanto à arbitragem, tal como tinha sucedido contra a Suíça, fomos claramente prejudicados. Se o sr. Batta teve interferência não sei, mas com a Suíça e Áustria de fora, tem que se empurrar a Alemanha para a final, para a receita ser maior...
Como diz o lf, é bom sinal que fiquemos desapontados... É sinal que estámos mal-habituados...

Anónimo disse...

Estive no estádio, caro amigo, e apetece-me somar "mais um" factor às causas da derrota: o público português.

A diferença de adeptos alemães e portugueses foi abismal. O "lado alemão" estava obviamente cheio de germânicos. O "lado livre", também, o que se compreende pelo maior poder de compra e a proximidade de Basel (na fronteira com a Alemanha). Mas o lado português contava com pouco mais de metade de... portugueses.

Bem tentámos gritar e puxar pela equipa, alto se ouviu A Portuguesa, mas durante o jogo o apoio audível foi, quase sempre, alemão.

Condeno naturalmente os portugueses que, detentores de bilhete, o venderam por uns euros.
Condeno também a quantidade absurda de notáveis que encheram a bancada. Madail deve dar bilhetes a qualquer macaco com tempo de antena.

Por falar em Macaco, também me custou ver o chefe da claque portista a pavonear-se perto do relvado, na zona da pista de atletismo. Será que tem bilhete VIP ou será que a zona era livre?


Positivo? Fiquei pela Suiça e Áustria mais uma semana e posso garantir que a enorme maioria das pessoas com que falei torciam por nós ou acreditavam na nossa vitória.
Suiços, austriacos, ingleses (sim, andaram por lá... palmas para eles), holandeses e até alemães preferiam a nossa selecção.