O GOLO: ESSE SENHOR QUE TUDO DECIDE

Podem-se elaborar grandes e complexas análises, podem-se estabelecer grandes teorias filosóficas, mas a verdade do futebol é que se trata de um jogo simples, onde a aleatoriedade tem um peso determinante, e onde os golos que entram ou não entram definem o vencedor, por muito que depois possamos arranjar toda uma panóplia de argumentações tácticas ou estratégicas que os justifiquem, como se encontrássemos explicação para o céu ser azul, o sol brilhante ou dois mais dois serem quatro.
Com base naquilo que foi, por exemplo, o Benfica-F.C.Porto do último sábado, seria um curioso exercício imaginar que a grande jogada de Quaresma tinha levado a bola a bater no poste, e que o remate de Freddy Adu tinha passado um centímetro ao lado da mão de Helton e a bola se tinha anichado na baliza portista. O Benfica, mesmo jogando tal e qual como jogou, teria ganho 1-0, o F.C.Porto, por muito boa exibição que tivesse feito, teria saído derrotado. Como seriam então as análises ao jogo ? Também falariam, com as mesmíssimas movimentações das equipas em campo, de uma grande superioridade portista ?
Nesta Liga dos Campeões ficou bem patente a razão de ser do discurso de Camacho, que tanto irrita alguns comentadores, mas ao qual cada vez mais me rendo, nele se encontrando afinal a simples e objectiva verdade suprema do futebol: ganha quem mete golos. Frente ao Milan, na sequência de uma grande exibição e de várias oportunidades desperdiçadas (o que em menor grau já havia acontecido em Glasgow), o Benfica não conseguiu alcançar o seu principal objectivo, vendo-se eliminado da Liga dos Campeões. Ontem, na Ucrânia, os encarnados marcaram dois golos quando pouco fizeram por os justificar, acabando por conquistar os três pontos e o bilhete para a consoladora Taça Uefa, algo que, diga-se, souberam depois guardar com grande capacidade de sofrimento, espírito de combate e sentido de entreajuda.
Fez o Benfica, sob o ponto de vista da plasticidade, e da qualidade técnico-táctica do seu jogo, uma boa exibição ? De modo algum. Durante a primeira parte – paradoxalmente o período em que construiu a sua vantagem – os encarnados raramente conseguiram sair das imediações da sua área, onde foram massacrados por um Shakhtar rápido, agressivo e imaginativo, capaz de criar um caudal de jogo ofensivo verdadeiramente asfixiante para a equipa de Camacho. Com grande felicidade os golos acabaram porém por entrar na outra baliza, na de Pyatov, sendo também legítimo, já agora, comparar a eficácia de Cardozo – ontem sem paralelo na equipa adversária - com os infantis erros defensivos dos jogadores ucranianos, e aí encontrar um factor de superioridade benfiquista e merecimento na vitória. Como se vê, tudo em futebol é relativo.
Ainda antes do intervalo, já depois de Kyros Vassaras ter assinalado uma grande penalidade por suposto derrube de David Luíz a Brandão – que honestamente não me parece ser possível avaliar pelas imagens televisivas -, e com ela a equipa ucraniana ter reduzido distâncias, Maxi Pereira teve nos pés a hipótese de matar definitivamente o jogo. Desperdiçando-a, anunciou uma segunda parte de grande sofrimento, pois um golo atiraria o Benfica para fora da Europa de futebol.
Contudo, no segundo período o jogo foi substancialmente diferente. O Shakhtar, desgastado física e animicamente, não mais foi capaz de manter a mesma pressão, e o Benfica consequentemente soltou-se, subiu o seu bloco no terreno, conseguindo trocar a bola no meio campo adversário com muito maior frequência e tranquilidade. Temia-se todavia que a qualquer instante o Shakhtar pudesse marcar e deitar por terra os objectivos do Benfica, mas a eficácia dos seus avançados foi nula, acabando por permitir a Quim e à defesa encarnada ir resolvendo as situações que se lhes foram colocando. Mas é claro que, a surgir o segundo golo do Shakhtar, estar-se-ia agora a questionar Camacho e os seus jogadores por tão desluzida prestação. Mais uma vez podemos ver como tudo isto é relativo.
O que não é relativo, a única coisa que não o é, é o resultado final de 1-2, que mantém o Benfica na rota da Europa - já não na competição rainha, mas numa prova onde poderá encontrar alguns adversários da sua igualha e, quem sabe, chegar mais longe do que os quartos-de-final onde esteve na época transacta. Mesmo em momento festivo, fica deste jogo, e da classificação final do grupo, um ligeiro travo a frustração por verificar o quanto tudo podia ter sido diferente. Como disse Mircea Lucescu (técnico da equipa ucraniana), se a Liga começasse agora, o Benfica seria provavelmente um dos apurados, pois à excepção do jogo de San Siro nunca se mostrou inferior aos adversários, acabando por, no confronto directo com os adversários, somente perder com o campeão europeu Milan, e por apenas um golo. Tal como no campeonato português, onde as duas primeiras jornadas representaram quatro pontos perdidos, também na Champions o Benfica pagou caro os desvarios da pré-temporada, entrando em falso, com uma equipa por construir e jogadores por integrar.
Era extremamente importante, depois da derrota com o F.C.Porto, e levando em conta a diferença cavada no campeonato, que o Benfica pudesse prosseguir na Europa. A Taça Uefa, como disse aqui ontem, conta para o ranking europeu na mesma ponderação da Liga dos Campeões, o que, podendo até ser discutível, permite a clubes como o Benfica, com uma boa prestação, para além do prestígio que ainda tem associado, trepar na escala que se reflecte, por exemplo, na hierarquização dos potes nos sorteios da Champions. As presenças do Bayern de Munique, Atlético de Madrid, Fiorentina, Villarreal, e possivelmente do PSV, Liverpool, Lyon ou Valência, faz desta edição da Uefa uma espécie de mini-Champions League, e desaconselha sonhos muito altos. Uma presença nos quartos-de-final, já será, julgo eu, de saudar.
Dia 21 será o sorteio. Em Fevereiro dsiputam-se então os dezasseis-avos de final.

5 comentários:

Anónimo disse...

LF

O jogo da bola é facil e simples, as pessoas é que o complicam, com grandes teorias tácticas e transições muito complicadas e com outras coisas, ás vezes pouco cláras, que condicionam a verdade do próprio jogo

Eu tambem estou de acordo com Camacho, quem marca mais, ganha de certeza, deixem-se de estatisticas, como posse de bola, remates, livres perigosos e outras, o objectivo do jogo é, meter a bola na baliza adversária, e pronto, ontem o Benfica marcou 2 vezes, o Shaktar marcou 1

Fala-se em sorte por ter marcado logo aos 6 minutos, mas ninguem fala de azar, por o Benfica ter sofrido 1 golo aos 42 minutos contra o fcp e que mudou completamente o rumo do jogo

Eu acho que os benfiquistas, devem respeitar muito esta equipa e este treinador, podemos não estar de acordo com algumas atitudes e opções, devemos discordar, mas temos de respeitar o seu trabalho e o empenho, isto é jogar "á Benfica", até podem jogar mal, mas deixam tudo em campo pela nossa camisola

Na Ucrânia estava tudo contra o Benfica, foi a viagem, era o tempo, era uma equipa que ainda lutava pela Champions e que nos tinha ganho em casa, tinhamos poucas hipoteses, mas lá ganhamos

Agora, que venha a Taça UEFA, vamos ver o que podemos fazer, jogo a jogo como diz o Camacho

dragao vila pouca disse...

Passei aqui por acaso,mas, achei curioso encontrar um benfiquista realista...só quer ir aos quartos-de-finalda taça UEFA?!Cuidado, esse não é o discurso,o maior clube do mundo, só pode pensar em ganhar as provas todas.Mas, agora reparo no comentário anterior,Lf? já o encontrei no portistas de bancada,ou será impessão minha?
Se a bola do QUARESMA,não entrasse e entrasse a do Adu,e se o jogo fosse o mesmo, estariamos a dizer vitória injusta do Benfica, o F.C.P.não merecia perder.Essas análises, se,se,se...andei eu a fazer durante 18 anos.

LF disse...

Caro Dragão,

Ao contrário da maioria dos portistas (não todos, reconheço), no Benfica não andamos necessariamente a reboque do que diz o nosso presidente.

Ser o maior clube do mundo não é necessariamente ter a melhor equipa de futebol do mundo. O nosso futebol está, como se sabe, mergulhado numa crise e, apesar de sermos ainda 5º no histórico da Taça/Liga dos Campeões, estamos neste momento apenas em 18º no ranking actual da Uefa. Portanto, há melhores !

Curiosamente, de entre as 17 equipas que estão à nossa frente no ranking, seis poderão estar no sorteio dos dezasseis-avos de final da Uefa (Liverpool ou F.C.Porto, Lyon, PSV, Villareal, Valencia e Bayern).
Com adversários tão fortes, ir aos quartos-de-final será o suficiente para considerar a prestação positiva, até porque seria a terceira vez consecutiva que estariamos nessa fase.
Se me perguntar o que queria, naturalmente que queria a final e a taça. Mas os quartos já aceito como, digamos, razoável.

De vez em quando apareço no "Portistas de Bancada", sobretudo quando lá vejo publicadas mentiras e embustes que não me permitem ficar calado.
Apesar de ser por lá constantemente insultado (mas, como se costuma dizer, só me ofende quem eu deixo), acho que se trata de um bom blogue, que defende os interesses do clube que o inspira, e tem alguma merecida projecção no espaço do portismo.
Peca por vezes por falar demasiado nos bastidores, no Apito Dourado, na Maria José Morgado e no Luís Filipe Vieira, e menos de futebol que se joga no relvado, aspecto onde, diga-se, o F.C.Porto tem muito mais motivos de orgulho.
Apesar de não conhecer pessoalmente, até tenho alguma consideração pelo Zirtaev, seu editor (que me parece ser uma pessoa equilibrada, ao contrário de muitos que por lá passam), pois caso contrário nem sequer o abriria, quanto mais comentar lá.

dragao vila pouca disse...

Ok lf,tu não és um daqueles benfiquistas arrogantes, agarrados ao passado, que vivem adormecidos no populismo e na demagogia do F.Vieira.És um benfiquista moderno, que reconhece o mérito e a superioridade do Dragão. Vou continuar a passar por aqui, espero não ser insultado.Mas, acreditas mesmo nessa do teu clube ser o maior do mundo?Olha que eu tenho-te em boa conta!

LF disse...

Todos os adeptos do futebol (de todos os clubes), que não utilizem linguagem insultuosa, são bem vindos a este espaço.
Eu nunca insulto ninguém, nem mesmo quando o fazem a mim.Existem provas disso.
Enfim, acho que cada um deve ficar na companhia das palavras que escreve...

Segundo rezam as estatísticas, e não vejo motivo para desconfiar delas, o Benfica é o clube com mais sócios em todo o mundo.
Nessa perspectiva, à luz desse critério, pode-se dizer que é o "maior" do mundo.
Esse aspecto tem sido, de resto, muito bem utilizado pelo marketing do clube.
O Porto também dizia que era campeão do mundo quando venceu a intercontinental, e na verdade, em rigor, não o era, pois só mais tarde foi criado o mundial de clubes.

Mas o maior do mundo é sempre o nosso, seja ele qual for, não é assim ?

Quanto ao mérito portista ele parece-me indiscutível. Neste momento o F.C.Porto tem melhor equipa e maior organização que o Benfica. Em grande parte isso também acontece fruto de erros próprios, e de uma gestão desportiva ruinosa de LFV.