SANGUE QUENTE, MUITO SUOR E UMA LÁGRIMA DE GLÓRIA.
Faltavam poucos minutos para a partida terminar, o resultado mantinha-se em branco, e pensava eu com os meus botões: esta exibição e esta equipa, mesmo sem vencer, merecem um fortíssimo aplauso no final do jogo. Felizmente, o azar não durou sempre, e o golo de Cardozo, a três minutos do fim, veio repor a justiça a noventa minutos nos quais o Benfica quase sempre demonstrou mais e melhores argumentos, e sobretudo, muito mais vontade de vencer, do que um adversário firmemente apostado na conquista de um ponto.
É justo dizer que o Benfica, principalmente na segunda parte, terá ontem feito a melhor exibição da época. Foi uma equipa cheia de alma, de querer, de ambição. Faltou-lhe maior auto-confiança para construir uma vitória mais ampla e mais tranquila. Faltou-lhe aqui e ali um toque de classe extra, que só Rui Costa, Rodriguez e Cardozo (e depois Di Maria) foram capazes de dar, mas no global, jogou o suficiente para afirmar a sua candidatura ao apuramento, sabendo-se que a tendência, daqui para a frente – com a recuperação dos lesionados, e com mais fluência de automatismos -, será forçosamente de melhoria. Não se percebe pois a tonalidade exageradamente negativista das críticas que já li e ouvi (Joaquim Rita, Santos Neves e outros veteranos dos tempos de Eusébio, mal habituados às realidades do futebol actual), como se o Benfica tivesse de massacrar o Celtic do primeiro ao último minuto, e tivesse de vencer por vários golos sem resposta, sempre com um futebol de qualidade sublime - digam-me que equipa vêm fazer isso numa prova como a Liga dos Campeões - para então sim cantarem loas à exibição encarnada.
O Celtic temeu o Benfica. Durante algum tempo pareceu até teme-lo demasiado e injustificadamente, pois a equipa encarnada dava mostras de alguma desarticulação assim que se aproximava da área contrária. A uma muito maior posse de bola (quase 70% na primeira parte) Cardozo e Bergessio não conseguiam fazer corresponder fluidez dentro da área. Rui Costa pautava o jogo do Benfica, mas a partir de posições muito recuadas, criando-se assim um fosso perto da área escocesa, onde uma equipa muito coesa, rigorosa e combativa não permitia grandes veleidades aos nessa fase insipientes avançados encarnados.
É justo dizer que o Benfica, principalmente na segunda parte, terá ontem feito a melhor exibição da época. Foi uma equipa cheia de alma, de querer, de ambição. Faltou-lhe maior auto-confiança para construir uma vitória mais ampla e mais tranquila. Faltou-lhe aqui e ali um toque de classe extra, que só Rui Costa, Rodriguez e Cardozo (e depois Di Maria) foram capazes de dar, mas no global, jogou o suficiente para afirmar a sua candidatura ao apuramento, sabendo-se que a tendência, daqui para a frente – com a recuperação dos lesionados, e com mais fluência de automatismos -, será forçosamente de melhoria. Não se percebe pois a tonalidade exageradamente negativista das críticas que já li e ouvi (Joaquim Rita, Santos Neves e outros veteranos dos tempos de Eusébio, mal habituados às realidades do futebol actual), como se o Benfica tivesse de massacrar o Celtic do primeiro ao último minuto, e tivesse de vencer por vários golos sem resposta, sempre com um futebol de qualidade sublime - digam-me que equipa vêm fazer isso numa prova como a Liga dos Campeões - para então sim cantarem loas à exibição encarnada.
O Celtic temeu o Benfica. Durante algum tempo pareceu até teme-lo demasiado e injustificadamente, pois a equipa encarnada dava mostras de alguma desarticulação assim que se aproximava da área contrária. A uma muito maior posse de bola (quase 70% na primeira parte) Cardozo e Bergessio não conseguiam fazer corresponder fluidez dentro da área. Rui Costa pautava o jogo do Benfica, mas a partir de posições muito recuadas, criando-se assim um fosso perto da área escocesa, onde uma equipa muito coesa, rigorosa e combativa não permitia grandes veleidades aos nessa fase insipientes avançados encarnados.
O onze de Gordon Strachan limitava-se a defender e a deixar passar o tempo da forma mais conveniente. Killen era o seu único homem mais adiantado, e surgia completamente desacompanhado nas ocasiões em que o seu meio campo conquistava a bola (não sei porque não jogou Nakamura). Ainda assim Donatti ia fazendo golo, mas um seguríssimo Quim não permitiu, sendo esse o único lance da primeira parte em que a bola circundou a baliza benfiquista.
Paradoxalmente, foi a falta de ousadia britânica acabou por dar ao Benfica o alento de que precisava para se tornar mais agressivo no ataque. Se já na primeira parte os encarnados, ainda que sem encantar, haviam sido melhores – mais posse de bola, mais remates, mais cantos, mais oportunidades -, para o segundo tempo a equipa de Camacho juntou agressividade, velocidade e ousadia, à vontade e determinação que já demonstrara até então.
Sem muita gente para marcar, o triângulo Luisão, Katsouranis e Binya dava conta do recado na zona mais defensiva, libertando os laterais e o resto da equipa para o assalto à baliza céltica. Rui Costa apareceu mais adiantado, e mais perto do flanco esquerdo, construindo juntamente com Cristian Rodriguez – e Léo -, um caudal de futebol ofensivo a que o Celtic não foi capaz de corresponder senão pelo seu inspirado guarda-redes, e pela sorte de ver a barra e o poste negarem sucessivamente o golo a um incrédulo Óscar Cardozo. O golo benfiquista anunciava-se a qualquer momento, mas o certo é que os minutos iam passando e os fantasmas iam-se adensando na noite da Luz.
Quando, após a saída de um extenuado Rodriguez, a equipa parecia quebrar, eis que com um passe sublime, Di Maria colocou a bola no peito de Cardozo que, à ponta-de-lança, de forma tão espontânea como, quem sabe, irada, deu cor à felicidade e lançou a euforia nas bancadas. Tal como frente ao Lille há dois anos, e diante do Dínamo de Bucareste no ano passado (então em ambas as vezes por intermédio do saudoso Miccoli), o Benfica conseguia uma vitória europeia nos últimos instantes de uma partida no Estádio da Luz, criando um ambiente absolutamente apoteótico entre os seus adeptos. Fez-se justiça ao excelente Benfica de ontem, e também ao excelente Cardozo de ontem, dia em que finalmente começou a pagar o (muito) dinheiro que custou o seu passe.
Foi uma vitória para o Benfica tão merecida, quanto o foi a derrota do Celtic. Ganhou quem fez por isso, perdeu quem se limitou a defender o empate. Os encarnados mostraram que estão vivos na Europa do futebol, embora o caminho até aos oitavos-de-final seja difícil. Muito difícil mesmo, se pensarmos que o único jogo que lhes resta em casa será diante do campeão europeu A.C.Milan. As matemática fica para depois, mas à partida parece ser imperioso vencer em Donetsk. Nos outros dois jogos, dois empates talvez cheguem.
O árbitro Massimo Busacca, com um ou outro erro de pouca monta (um canto transformado em pontapé de baliza, uma ou duas faltas mal assinaladas), esteve globalmente em bom plano.
Nota final para a decepcionante assistência na Luz. É inacreditável como um jogo decisivo da Liga dos Campeões cativa menos de trinta mil benfiquistas (os restantes eram escoceses), sabendo-se que o clube conta com mais de 150 mil sócios. Não sei o que pensa cada um dos ausentes sobre isto, mas assim o clube que dizem ser do seu coração não irá longe. Além de que, mesmo os que lá estiveram, assistiram impávidos (aqui e ali com absurdos e inqualificáveis assobios) a uma verdadeira lição de como apoiar uma equipa dada pelos sempre correctíssimos escoceses.
Se o que a equipa fez em campo me enche de orgulho, a demonstração de absoluta falta de cultura desportiva dada pelos auto-intitulados benfiquistas – os que não foram, e alguns dos que estiveram presentes – apenas merece uma palavra: vergonha. Para quê seis milhões, se só vinte mil realmente sentem, sofrem e vibram com o clube ? Já lá vão várias jornadas do campeonato, um derby, dois jogos da Champions, e o estádio ainda não esgotou. Há muita gente que não merece vitórias como a de ontem.
Sem muita gente para marcar, o triângulo Luisão, Katsouranis e Binya dava conta do recado na zona mais defensiva, libertando os laterais e o resto da equipa para o assalto à baliza céltica. Rui Costa apareceu mais adiantado, e mais perto do flanco esquerdo, construindo juntamente com Cristian Rodriguez – e Léo -, um caudal de futebol ofensivo a que o Celtic não foi capaz de corresponder senão pelo seu inspirado guarda-redes, e pela sorte de ver a barra e o poste negarem sucessivamente o golo a um incrédulo Óscar Cardozo. O golo benfiquista anunciava-se a qualquer momento, mas o certo é que os minutos iam passando e os fantasmas iam-se adensando na noite da Luz.
Quando, após a saída de um extenuado Rodriguez, a equipa parecia quebrar, eis que com um passe sublime, Di Maria colocou a bola no peito de Cardozo que, à ponta-de-lança, de forma tão espontânea como, quem sabe, irada, deu cor à felicidade e lançou a euforia nas bancadas. Tal como frente ao Lille há dois anos, e diante do Dínamo de Bucareste no ano passado (então em ambas as vezes por intermédio do saudoso Miccoli), o Benfica conseguia uma vitória europeia nos últimos instantes de uma partida no Estádio da Luz, criando um ambiente absolutamente apoteótico entre os seus adeptos. Fez-se justiça ao excelente Benfica de ontem, e também ao excelente Cardozo de ontem, dia em que finalmente começou a pagar o (muito) dinheiro que custou o seu passe.
Foi uma vitória para o Benfica tão merecida, quanto o foi a derrota do Celtic. Ganhou quem fez por isso, perdeu quem se limitou a defender o empate. Os encarnados mostraram que estão vivos na Europa do futebol, embora o caminho até aos oitavos-de-final seja difícil. Muito difícil mesmo, se pensarmos que o único jogo que lhes resta em casa será diante do campeão europeu A.C.Milan. As matemática fica para depois, mas à partida parece ser imperioso vencer em Donetsk. Nos outros dois jogos, dois empates talvez cheguem.
O árbitro Massimo Busacca, com um ou outro erro de pouca monta (um canto transformado em pontapé de baliza, uma ou duas faltas mal assinaladas), esteve globalmente em bom plano.
Nota final para a decepcionante assistência na Luz. É inacreditável como um jogo decisivo da Liga dos Campeões cativa menos de trinta mil benfiquistas (os restantes eram escoceses), sabendo-se que o clube conta com mais de 150 mil sócios. Não sei o que pensa cada um dos ausentes sobre isto, mas assim o clube que dizem ser do seu coração não irá longe. Além de que, mesmo os que lá estiveram, assistiram impávidos (aqui e ali com absurdos e inqualificáveis assobios) a uma verdadeira lição de como apoiar uma equipa dada pelos sempre correctíssimos escoceses.
Se o que a equipa fez em campo me enche de orgulho, a demonstração de absoluta falta de cultura desportiva dada pelos auto-intitulados benfiquistas – os que não foram, e alguns dos que estiveram presentes – apenas merece uma palavra: vergonha. Para quê seis milhões, se só vinte mil realmente sentem, sofrem e vibram com o clube ? Já lá vão várias jornadas do campeonato, um derby, dois jogos da Champions, e o estádio ainda não esgotou. Há muita gente que não merece vitórias como a de ontem.
4 comentários:
LF
Absurdo, são as lições de benfiquismo e a fazer crer que quem vai ao estádio, é que é um verdadeiro Sócio/Adepto do Benfica
Há cerca de 15 anos, ia a todos os jogos do Benfica em casa, como sou de Évora, ia de carro particular, autocarro e até de comboio, agora não posso ir, mas sou tão benfiquista agora, como era dantes
Por outro lado, o Benfica também ganha muito dinheiro com os Sócios/Adeptos que ficam em casa, basta ver as receitas que tem dos canais de TV, se os jogos Benfica não tivessem audiências, não recebia a maior verba dos clubes portugueses
Aceito, que deveriam estar mais Adeptos no estádio, seria bom para apoiar a equipa, para o proximo jogo, já vão estar mais gente de certeza
Caro Catn,
Como é óbvio não me referia a quem, por um ou outro motivo, não pode, ou não pôde, mesmo, ir à Luz.
As viagens ficam caras, os bilhetes também não são oferecidos, há a comida, a bebida etc. Há muitos milhares de benfiquistas no país e no mundo, que embora adorassem não podem, com muita pena decerto, estar presentes.
Sei também que, com jogos às 19.45, a meio da semana, muitas pessoas não têm como faltar ao trabalho para ir ao futebol.
Todos esses naturalmente não são menos benfiquistas por isso.
Referia-me sim aos muitos que, podendo fazê-lo, vivendo perto e/ou dispondo de todas as condições para lá estar, decidiram não ir.
E esses são aos milhares, e chegavam perfeitamente para encher o estádio.
Aprendi o benfiquismo com 120 mil pessoas no estádio, também a meio da semana, e numa altura em que se vivia pior em Portugal.
Quem ler as memórias de jogos que tenho escrito, percebe que por vezes fiz enormes sacrifícios (físicos até) para ver os jogos e apoiar a equipa. Muitas vezes na convicção de que fazia lá falta, como todos os outros.
Continuo muitas vezes a sacrificar a vida pessoal, familiar e até profissional para acompanhar o clube, e como tal sinto-me perfeitamente à vontade para dizer o que disse.
Não acho tolerável que o F.C.Porto tenha menos de metade dos adeptos, pouco mais de metade dos sócios, e tenha maiores assistências no estádio. Isso custa-me a engolir, sobretudo em momentos como este, em que se decidia o futuro europeu da equipa.
Custa-me também ver à noite os resumos, e perceber que todos os estádios da Champions estavam repletos menos o nosso (e esta semana, por acaso, o da Roma também).
Ver quase 10 mil escoceses na Luz, poucos dias depois de terem levado 3-0 do Rangers, também me fez pensar.
Julgo que isto tem a ver com uma certa cultura de benfiquismo, comum a muitos dos 6 milhões,e que passa por exigir tudo e mais ainda da equipa, criticar por tudo e por nada, semana a semana, e manifestar total ausência de generosidade (a todos os niveis) com o clube, ostentando por vezes até um certo distanciamento.
Isso não se vê nem no Porto nem no Sporting. Têm menos adeptos, mas os que são são mesmo. Sem equívocos.
Mas isto é um tema que dá pano para mangas, e ao qual infelizmente é natural que volte.
Em todo o caso, fique claro que não quis beliscar ninguém pelo simples facto de não ter ido ao jogo. Espero ter sido claro quanto a isto.
E já agora, alguns dos que lá foram, se calhar deviam ter ficado em casa, pois assobios num jogo destes, numa altura destas, não cabem na minha compreensão.
Incomodam-me tanto que um dia destes ainda me pego por lá com alguém...
LF
Não vale a pena pegar-se com alguem, nada vai alterar a maneira de muita gente entender este jogo de grandes paixões e muitas emoções
Eu também penso, que alguns assobios não fazem mal a ninguem, não sei qual o resultado dos Sócios/Adeptos demonstrarem o seu desagrado pela exibição da equipa, podem "espevitar" ou "amuar" alguns jogadores, repare que durante 1ª parte houve alguns assobios de desagrado, a equipa tinha de perceber que tinha de fazer algo, mudar o rumo dos acontecimentos e ora que aparece aquela belissima 2ª parte
Agora, assobiar só por assobiar, também não me parece correcto
Só aceito assobios aos jogadores no final dos jogos. Aí sim, acho que as pessoas são livres de mostrar o seu desagrado.
Agora quem assobia jogadores, por vezes com dificuldades de adaptação e sob grande pressão,logo nos primeiros minutos dos jogos, não diga que vai lá apoiar o Benfica.
Assobiar sim, mas os adversários. Ainda ontem o Makukula falhou o penálti, também, por esse motivo.
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