OBVIAMENTE: ZERO A ZERO !

Esperava-se que Sp.Braga e Benfica pudessem proporcionar um bom espectáculo de futebol, jogado entre duas equipas à procura da vitória, como de resto tem sido habitual nos últimos anos. Não foi nada disso que se viu ontem.
Para ambas as equipas, ainda em processo de construção de automatismos (mais o Benfica, diga-se), no meio de um calendário apertadíssimo, com lesões importantes, e com alguns jogadores completamente fora de forma, foi mais forte o medo da derrota do que ambição da vitória. Resultado final, um óbvio e natural zero a zero.
Ao longo de três quartos do desafio, nenhuma equipa se superiorizou à outra, sendo que as poucas oportunidades de golo que foram existindo, ocorreram principalmente na baliza do Benfica e foram salvas por um super-Quim, no melhor momento de toda a sua carreira. Do lado benfiquista, apenas uns ameaços, um remate cruzado de Rui Costa, uma perdida de Rodriguez, um pontapé de bicicleta de Edcarlos ao lado, e…nada mais.
Na fase final da partida, fez-se sentir a diferença de dois dias de repouso após os jogos internacionais a meio da semana. O Benfica assumiu o meio-campo, controlou o jogo mas, além da inoperância atacante que Nuno Gomes parece ter contagiado também a Cardozo, a equipa de Camacho não se terá sentido suficientemente segura para dar o passo em frente, o golpe fatal em busca a conquista de três pontos que seriam de grande importância nas contas que o campeonato já vai deixando fazer.
Este é um Benfica ainda à procura da sua nova identidade. É uma equipa recheada de talentos, mas ainda muito longe de se tratar de um conjunto articulado e no qual a força colectiva se sobreponha à soma das individualidades. É uma equipa ainda, e compreensivelmente, com algum medo de si própria, e em que apenas Rui Costa, com a sua larga experiência, parece assumir o risco. Para os lados da Luz está-se agora a sair de uma espécie de segunda pré-época, e se é verdade que as coisas mostram tendência para melhorar, também se tem de lembrar que já lá vão seis pontos perdidos, sabe-se lá com que consequências.
Todavia, nem tudo foi mau na noite benfiquista. Já me referi à grande forma do guardião Quim, que é neste momento, e de forma incontestável, o melhor guarda-redes a jogar em Portugal – e não tendo assistido a jogos do Betis, não me admira que seja também o melhor português. Também Rui Costa parece determinadamente apostado em desmentir aqueles que o davam por acabado. Mas ontem foi dia de revelações.
Edcarlos, depois de um jogo em que não foi posto à prova (com a Naval), e uma primeira parte sofrível em San Siro, mostrou ontem bons argumentos, solidez, segurança, tranquilidade, capacidade no jogo aéreo, parecendo capaz de formar com Luisão uma dupla de grande qualidade. Estando o internacional canarinho já clinicamente recuperado, havendo ainda Marc Zoro à espreita, o panorama defensivo dos encarnados mostra-se agora bem mais desanuviado.
Luís Filipe, talvez por pisar terrenos onde foi bastante feliz, terá realizado a sua melhor exibição desde que veste a camisola do Benfica. Esteve irrepreensível a defender, e incorporou-se bem nas acções ofensivas. Para já, deve ter conseguido manter a titularidade.
Mas a grande relevação da tarde foi o camaronês Gilles Binya. Já nos poucos minutos que esteve em campo em Milão, me tinha deixado a melhor das impressões. Ontem confirmou plenamente tratar-se de um jogador refinadíssimo, com boa técnica individual, capacidade recuperadora, capacidade de choque, e bom sentido posicional. Mais do que um elemento a ter em conta para os próximos jogos, julgo podermos estar perante um jogador de grande futuro, capaz de se afirmar como sucessor de Petit no Benfica, ou mesmo de poder pensar em mais altos voos. A seguir com muita atenção.
A arbitragem de Paulo Costa não foi brilhante, mas não influiu no resultado.

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