... ENTÃO ISSO FAZ-SE ?

Tal como a derrota do Benfica na véspera, também o desaire do Sporting ante o Manchester United deve ser entendido como um resultado absolutamente normal e natural, na lógica das hierarquias do futebol europeu da actualidade.
Se as diferenças de orçamento, prestígio, plantel e mediatismo entre os dois conjuntos são abissais, o melhor elogio que se pode fazer aos leões é dizer que as mesmas pouco ou nada se notaram no relvado de Alvalade. Durante grande parte do encontro, foi até o Sporting a equipa que mais procurou a vitória, que melhor trocou a bola e mais se aproximou da baliza contrária.
O jogo pode ser dividido em duas partes completamente distintas: antes do golo, com um Sporting confiante, desinibido e afirmativo, e um Manchester expectante e calculista; e depois do golo de Ronaldo, momento a partir do qual a equipa de Paulo Bento se tornou ansiosa e precipitada, enquanto os britânicos se soltaram, sobretudo por via da grande exibição de Cristiano Ronaldo – que raio de jogo escolheu o puto para retornar à forma…-, para uma ponta final em que ameaçaram fortemente um dilatar de vantagem, que seria, diga-se, de todo imerecido para os leões.
Se o primeiro desses dois períodos foi mais longo que o segundo, quase se poderia dizer que a vitória inglesas pecava por injustiça. Todavia, no futebol, a eficácia é uma implacável ditadura. O Manchester marcou – numa das mais belas jogadas do encontro -, enquanto que do outro lado, em dois momentos, primeiro Liedson e depois Tonel, viram Erwin Van der Sar provar as qualidades que fizeram dele um dos melhores guarda-redes europeus dos últimos anos.
Não me parece que as mexidas que Paulo Bento operou na equipa tenham dado fruto, sobretudo quando alterou o figurino táctico, numa ousadia compreensível mas inconsequente. É verdade que o panorama do jogo se alterou profundamente com o golo de Ronaldo, mas também se tem de dizer que o Sporting – lance de Tonel à parte – praticamente morreu aí, dando a clara sensação de se sentir derrotado e sem forças para buscar o empate, que lhe faria justiça, vendo-se por outro lado bastante fragilizado nas suas transições defensivas, sobretudo nos corredores, onde o madeirense decidiu abrir o livro e semear o pânico junto da área de Stojkovic. Isto remete-nos para outro aspecto que me parece importante de referir em relação à equipa do Sporting: as suas faixas laterais revelam debilidades gritantes, o que foi visível ainda antes das substituições Abel e Ronny são jogadores empenhados, com algumas virtudes importantes, mas estão longe de corresponder ao perfil que se exige a quem queira brilhar numa Liga dos Campeões, tanto a fechar o seu sector, como em processo ofensivo, que num modelo em losango, exige a intensa participação dos laterais. São o elo mais fraco da equipa, e se em termos de campeonato nacional é uma situação passível de ser disfarçada, frente a Ronaldos, Giggs ou mesmo Nanis, o Sporting ressente-se dramaticamente dessa fragilidade.
Ao longo do melhor período do Sporting sobressaíram, a espaços Romagnoli, e de uma forma constante e reiterada Miguel Veloso, que foi, quanto a mim, o melhor sportinguista em campo. É impressionante o criterioso posicionamento, a segurança de passe curto e longo, a capacidade de antecipação, de leitura de todos os elementos de jogo que este jovem já revela. Pode-se dizer, sem exagero, que se trata neste momento da grande figura do futebol leonino, e nada me admirava que seguisse o caminho de Ronaldo e Nani num futuro muito próximo. João Moutinho esteve uns furos acima daquilo que tem feito neste início de época, enquanto Anderson Polga esteve imperial durante grande parte do jogo, não deixando no entanto de ficar ligeiramente desfocado na fotografia do golo.
No plano oposto, além dos casos já referidos, é intrigante a inibição que Liedson revela frente a este tipo de equipas. O “levezinho”, que nas competições nacionais revela uma mobilidade impressionante, na Liga dos Campeões parece permanecer bastante mais estático no centro do ataque, interpretando uma luta desigual com centrais de compleição física incomparável à sua. Em todo o jogo teve apenas um momento ao nível da sua categoria, no tal remate que Van der Sar foi buscar ao canto da baliza.
A arbitragem esteve em plano razoável.
O Sporting tem agora um jogo chave em Kiev. Se quiser pensar em seguir em frente na Champions, terá de apontar para a vitória. Em termos de Uefa, talvez o empate não seja mau.

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