O NEXO DA CAUSALIDADE

A propósito da formulação da acusação a Pinto da Costa no âmbito do processo "Apito Dourado", algumas vozes se têm levantado clamando pela suposta irracionalidade de corromper árbitro com o título já quase garantido e num jogo frente a uma equipa quase despromovida.
Em primeiro lugar esta ideia é completamente falsa, e não resiste à mera consulta do calendário da época em causa (2003-2004). Na verdade, nem o F.C.Porto estava à beira de ser campeão, nem o Estrela estava quase despromovido (nunca o poderia estar com 17 jornadas por disputar).
O jogo foi em Janeiro, no início da segunda volta. Na altura o F.C.Porto comandava a classificação com 5 pontos de avanço sobre o Sporting, e na jornada seguinte estaria em Alvalade a discutir o título com a então equipa de Fernando Santos, no célebre jogo (1-1) da camisola rasgada, em que Rochembach falhou um penálti. Caso não ganhasse ao Estrela, a equipa portista corria o risco de perder a liderança em Alvalade. Assegurando aquela vitória, avançava para o terreno do principal concorrente com a importantíssima vantagem de poder até perder o jogo e manter a liderança.
Na primeira volta o F.C.Porto empatara na Reboleira, e em todo o campeonato venceu em casa sete (!!!) jogos de forma tangencial, o que denota tudo menos facilidades. Tratava-se portanto, ao contrário do que se tem dito, de um jogo chave num campeonato de que ainda se não conhecia o desfecho.
Curiosamente, uma das partidas que o F.C.Porto ganhou por margem mais folgada durante a 1ª volta foi frente à Académica, na 7ª jornada, em que o árbitro foi tão zeloso que o título da crónica no jornal "A Bola" era "Tanta Paixão...". Foi uma das arbitragens mais escandalosas que me recordo nos últimos anos, com penáltis fantasmas, golos fora-de-jogo, tudo !
Já adivinharam quem era o árbitro ? Jacinto Paixão, ele mesmo !
Obviamente que o título europeu ainda vinha longe. Antes dele ainda o F.C.Porto precisou de eliminar o Manchester em Old Trafford, a quem o árbitro aliás anulou um golo limpíssimo (de Scholes) que bem poderia ter alterado o rumo da história - tal como aliás o penálti de Thiago Motta que um outro árbitro não viu no Benfica-Barcelona da época transacta. Isso são contas de outro rosário, e que na altura ainda estavam longe de se imaginar ser possíveis.
Mas para além de todos estes dados factuais, só não vê quem não quer que o tipo de serviços e "pagamentos" prestados aos árbitros pelo F.C.Porto pressupunham uma lógica de continuidade. Não se pagava um determinado jogo com uma prostituta. Criava-se, pelo contrário, um clima propício a uma atitude simpática das arbitragens face ao clube, que se ia reflectindo ao longo dos anos. Isto é óbvio, e não necessita de qualquer investigação. Basta um raciocínio lógico para o concluir.
Agora, apenas se espera que a justiça seja feita. E em tempo útil, pois enquanto a nossa justiça anda a passo de caracol, os prazos de prescrição - vá-se lá saber porquê - passam rápido como uma lebre.

4 comentários:

David Copperfield disse...

È triste a vossa sina...só perdem porque os outros são corruptos e papões...Aliás o nexo de causalidade tá muito bem explicado...ou não.
Com tantos comentários calaramente trata-se de um blog de sucesso! Continue assim vermelho e aziado...

LF disse...

Este blog é um mero passatempo, que serve apenas para dar prazer a quem o faz, servindo simultaneamente de auto-arquivo de notícias, factos ou estados de alma.
Todos os comentários são bem vindos, inclusivamente se forem críticos, desde que educados (como é o caso, diga-se). Mas não é o número de comentários que me move ou muito menos me causa algum tipo de azia. Para mim é, a esse nível, suficientemente reconfortante saber que cerca de 20 mil pessoas já o leram pelo menos uma vez.
Mas mesmo que tivesse apenas dois ou três leitores, escreveria o mesmo que escrevo (isto nasceu de um forum com dois amigos, que podem comprovar o que digo).

De facto é triste - e isso sim causa alguma azia - perder campeonatos a fio cozinhados fora das quatro linhas e em quartos de hotéis.

Anónimo disse...

Boa resposta! Tenho a acrescentar que não é só pelos comentários que se afere o sucesso de um blogue, neste caso, por exemplo, devido aos excelentes artigos aqui publicados, quer no conteúdo, quer na forma(cada vez melhor), deixa poucas razões para se proceder a comentários, basta ler...está lá tudo! Continua.

LF disse...

Obrigado Brytto.