QUEDA LIVRE
Aconteceu aquilo que se esperava. O Benfica nem o segundo lugar foi capaz de segurar.
Se não fosse ontem era no próximo sábado no Funchal ou no derby do fim-de-semana seguinte. A verdade é que se percebia desde há algumas semanas que a equipa de Fernando Santos seria incapaz de evitar a hecatombe total.
Em quinze dias o Benfica perdeu o título, a possibilidade de uma carreira prestigiante na Uefa, e agora também, embora ainda não de forma irreversível, o acesso directo à Champions League. Já antes se vira eliminado da Taça de Portugal pelo modesto Varzim. Seja qual for o desfecho do que resta de temporada, nada apagará o profundo sentimento de frustração e decepção entre as hostes benfiquistas, que chegaram a sonhar com uma época histórica.
Se na verdade o Benfica não perde para a Liga há 15 partidas, e é a melhor equipa da segunda volta (o que vendo bem dissipa algum excesso de derrotismo), o que é facto é que no momento decisivo tem falhado em toda a linha.
Nem F.C.Porto nem Sporting tiveram percursos imaculados nesta época. Recordo a sequência portista de Atlético, U.Leiria e E.Amadora, ou os cinco empates em seis jogos dos leões há poucas semanas atrás, que os pareciam afastar de qualquer ambição. Mas a diferença é que o Benfica teve de recuperar de uma falsa partida, tendo perdido 13 pontos nos primeiros 12 jogos, o que lhe deixava uma pequeníssima margem de erro que as insuficiências do seu plantel (e do seu treinador ?) não permitiram disfarçar no momento das decisões. Foi aí e não agora que o Benfica começou a perder esta época.
Há razões bem objectivas para explicar o percurso deste Benfica e a cujas responsabilidades ninguém poderá fugir. Essas razões devem desde logo ser encontradas na forma pouco criteriosa como foi construído o plantel – as indefinições em torno da permanência ou não de Simão, o caso Manuel Fernandes, o caso Karagounis etc -, e sobretudo no modo como se desaproveitou o mercado de Inverno para corrigir esses desequilíbrios, optando ao invés por descapitalizar a equipa, com saídas de elementos importantes não devidamente colmatadas, para além da desastrosa abordagem do problema-Nuno Assis, que retirou mais uma opção credível a Fernando Santos. Sobre o departamento médico é melhor nem falar, pois de Rui Costa a Luisão os erros foram inacreditáveis, e impróprios de uma equipa da Liga de Honra, quanto mais em quem tinha tantas ambições nacionais e internacionais.
Fernando Santos não é pois seguramente o único, nem sequer será o principal culpado deste fracasso. Mas também seria um erro ilibá-lo de todas as culpas.
Na verdade o engenheiro (supõe-se que o seja de facto…), nestes momentos em que se jogou o destino da equipa nas principais provas em que estava envolvido, não soube dar a volta a uma situação de desgaste físico e anímico profundo, do qual ele é em última análise o responsável. É em situações como esta que emergem os grandes lideres, e ficam muitas dúvidas que Fernando Santos, por muito que perceba de futebol, seja de facto um líder à altura daquilo que uma equipa como o Benfica necessita.
Como alguém já disse, se há técnicos que atraem a sorte para si (Mourinho ou Scolari por exemplo), outros há que não conseguem fugir ao estigma de um impenitente azar, sendo claramente Santos um destes casos. Evidentemente que isso não acontece de forma aleatória, existindo lideres que sabem incutir nos seus pupilos uma tremenda força mental, capaz de resistir a todos os contratempos, transformando-os até em agressividade positiva. Fernando Santos, não só no Benfica, já demonstrou não ter nesses aspectos as suas principais virtudes, eles que constituem cada vez mais uma das questões centrais na abordagem das grandes competições do futebol actual.
Depois, por muito limitado que seja o plantel encarnado, elementos como Manu, Miguelito, Paulo Jorge ou Beto, talvez tivessem merecido mais algumas oportunidades, quiçá as suficientes para os principais elementos da equipa não se arrastarem agora tão penosamente pelos relvados.
Deixando esse balanço para outra ocasião, há que dizer que o jogo de ontem mostrou-nos uma vez mais um Benfica ansioso, cansado e, talvez por isso, ineficaz e infeliz. A equipa encarnada dispôs das mais flagrantes ocasiões de golo, desperdiçando por Simão (duas vezes), Mantorras e Karagounis, o golo que poderia em diferentes momentos de jogo ter catapultado a equipa para uma vitória que, ainda assim seria merecida.
O Braga entrou muito forte no jogo mas não confirmou pelo tempo fora essa nobre atitude. Limitou-se depois do primeiro quarto de hora a especular com o resultado, e a fazer passar o tempo de forma muito pouco desportiva e perante a complacência do árbitro João Ferreira. É de facto um dos grandes e crónicos problemas do futebol português, já com consequências a nível internacional, a forma como os jogadores se entregam ao anti-jogo mais cretino, caindo por tudo e por nada, pedindo assistência em lances onde se percebe claramente nada ter havido, gozando com o público que paga o bilhete e, indirectamente, lhes paga o salário. A culpa deve ser endereçada principalmente aos treinadores, e ontem, num dos lances, vi eu com os meus olhos que foi Jorge Costa a mandar o seu jogador cair…É difícil ver estádios cheios quando as estratégias de muitas das equipas são deste tipo.
Este foi aliás um problema comum aos três jogos que presenciei nesta jornada, e que é a raiz dos frequentemente fracos espectáculos que se vêm na liga portuguesa.
A arbitragem de João Ferreira foi pois condicionada por essa falta de pulso que originou o desespero de quem assistia ao jogo – no meu ponto de vista, jogador que saísse de maca teria de ficar fora do relvado durante uns dois minutos pelo menos, e se ao atravessar a linha hipocritamente se levantasse de imediato, devia ver o cartão amarelo.
Na equipa benfiquista, em termos individuais, há a lastimar uma vez mais as prestações de Nelson, Katsouranis e Nuno Gomes, todos vítimas, cada um à sua maneira, da falta de soluções do plantel. Se no caso do grego é visível um desgaste físico profundo, no caso do jovem lateral parece tratar-se mais de uma questão do foro psicológico a requerer uma cura de banco. O ponta-de-lança padece de um problema já de certa forma crónico, a que Fernando Santos também não foi manifestamente capaz de dar tratamento adequado. Mantorras perdeu uma boa oportunidade de mostrar que é dentro do relvado que os jogadores devem expressar a sua linguagem.
Em bom plano estiveram Karagounis (que lance aquele quase no final…) e o jovem David Luiz, que revelou novas aptidões fazendo quase toda a segunda parte a lateral esquerdo, com muito bons apontamentos.
Pontuações: Quim 3, Nelson 1, Anderson 3, David Luiz 3, Léo 2, Petit 3, Katsouranis 2, Karagounis 3, Rui Costa 3, Simão 3, Nuno Gomes 1, Mantorras 2, Derlei 1e Manu 2.
Melhor benfiquista em campo: Karagounis
Nota final para a recepção prestada a João Vieira Pinto, que depois de alguns assobios, arrancou da esmagadora maioria dos presentes os aplausos que o seu passado no Benfica bem justifica. O jogador foi forçado a sair do clube, e enquanto lá esteve foi um profissional exemplar, contribuindo directamente para muitas vitórias e até títulos do clube da Luz.
Este foi também um exemplo elucidativo de como certos assobios que se ouvem são por vezes enganadores. Segundo me parece, se em 40 mil pessoas há mil a assobiarem intensamente, o estádio quase treme com o ruído, mesmo estando as restantes 39 mil caladas. Cheguei a esta conclusão depois de inúmeras vezes ouvir sonoros assobios na Luz e, olhando para todos os lados, não conseguir detectar nenhum “assobiador”.
Há de facto gente que consegue assobiar muito bem…
Se não fosse ontem era no próximo sábado no Funchal ou no derby do fim-de-semana seguinte. A verdade é que se percebia desde há algumas semanas que a equipa de Fernando Santos seria incapaz de evitar a hecatombe total.
Em quinze dias o Benfica perdeu o título, a possibilidade de uma carreira prestigiante na Uefa, e agora também, embora ainda não de forma irreversível, o acesso directo à Champions League. Já antes se vira eliminado da Taça de Portugal pelo modesto Varzim. Seja qual for o desfecho do que resta de temporada, nada apagará o profundo sentimento de frustração e decepção entre as hostes benfiquistas, que chegaram a sonhar com uma época histórica.
Se na verdade o Benfica não perde para a Liga há 15 partidas, e é a melhor equipa da segunda volta (o que vendo bem dissipa algum excesso de derrotismo), o que é facto é que no momento decisivo tem falhado em toda a linha.
Nem F.C.Porto nem Sporting tiveram percursos imaculados nesta época. Recordo a sequência portista de Atlético, U.Leiria e E.Amadora, ou os cinco empates em seis jogos dos leões há poucas semanas atrás, que os pareciam afastar de qualquer ambição. Mas a diferença é que o Benfica teve de recuperar de uma falsa partida, tendo perdido 13 pontos nos primeiros 12 jogos, o que lhe deixava uma pequeníssima margem de erro que as insuficiências do seu plantel (e do seu treinador ?) não permitiram disfarçar no momento das decisões. Foi aí e não agora que o Benfica começou a perder esta época.
Há razões bem objectivas para explicar o percurso deste Benfica e a cujas responsabilidades ninguém poderá fugir. Essas razões devem desde logo ser encontradas na forma pouco criteriosa como foi construído o plantel – as indefinições em torno da permanência ou não de Simão, o caso Manuel Fernandes, o caso Karagounis etc -, e sobretudo no modo como se desaproveitou o mercado de Inverno para corrigir esses desequilíbrios, optando ao invés por descapitalizar a equipa, com saídas de elementos importantes não devidamente colmatadas, para além da desastrosa abordagem do problema-Nuno Assis, que retirou mais uma opção credível a Fernando Santos. Sobre o departamento médico é melhor nem falar, pois de Rui Costa a Luisão os erros foram inacreditáveis, e impróprios de uma equipa da Liga de Honra, quanto mais em quem tinha tantas ambições nacionais e internacionais.
Fernando Santos não é pois seguramente o único, nem sequer será o principal culpado deste fracasso. Mas também seria um erro ilibá-lo de todas as culpas.
Na verdade o engenheiro (supõe-se que o seja de facto…), nestes momentos em que se jogou o destino da equipa nas principais provas em que estava envolvido, não soube dar a volta a uma situação de desgaste físico e anímico profundo, do qual ele é em última análise o responsável. É em situações como esta que emergem os grandes lideres, e ficam muitas dúvidas que Fernando Santos, por muito que perceba de futebol, seja de facto um líder à altura daquilo que uma equipa como o Benfica necessita.
Como alguém já disse, se há técnicos que atraem a sorte para si (Mourinho ou Scolari por exemplo), outros há que não conseguem fugir ao estigma de um impenitente azar, sendo claramente Santos um destes casos. Evidentemente que isso não acontece de forma aleatória, existindo lideres que sabem incutir nos seus pupilos uma tremenda força mental, capaz de resistir a todos os contratempos, transformando-os até em agressividade positiva. Fernando Santos, não só no Benfica, já demonstrou não ter nesses aspectos as suas principais virtudes, eles que constituem cada vez mais uma das questões centrais na abordagem das grandes competições do futebol actual.
Depois, por muito limitado que seja o plantel encarnado, elementos como Manu, Miguelito, Paulo Jorge ou Beto, talvez tivessem merecido mais algumas oportunidades, quiçá as suficientes para os principais elementos da equipa não se arrastarem agora tão penosamente pelos relvados.
Deixando esse balanço para outra ocasião, há que dizer que o jogo de ontem mostrou-nos uma vez mais um Benfica ansioso, cansado e, talvez por isso, ineficaz e infeliz. A equipa encarnada dispôs das mais flagrantes ocasiões de golo, desperdiçando por Simão (duas vezes), Mantorras e Karagounis, o golo que poderia em diferentes momentos de jogo ter catapultado a equipa para uma vitória que, ainda assim seria merecida.
O Braga entrou muito forte no jogo mas não confirmou pelo tempo fora essa nobre atitude. Limitou-se depois do primeiro quarto de hora a especular com o resultado, e a fazer passar o tempo de forma muito pouco desportiva e perante a complacência do árbitro João Ferreira. É de facto um dos grandes e crónicos problemas do futebol português, já com consequências a nível internacional, a forma como os jogadores se entregam ao anti-jogo mais cretino, caindo por tudo e por nada, pedindo assistência em lances onde se percebe claramente nada ter havido, gozando com o público que paga o bilhete e, indirectamente, lhes paga o salário. A culpa deve ser endereçada principalmente aos treinadores, e ontem, num dos lances, vi eu com os meus olhos que foi Jorge Costa a mandar o seu jogador cair…É difícil ver estádios cheios quando as estratégias de muitas das equipas são deste tipo.
Este foi aliás um problema comum aos três jogos que presenciei nesta jornada, e que é a raiz dos frequentemente fracos espectáculos que se vêm na liga portuguesa.
A arbitragem de João Ferreira foi pois condicionada por essa falta de pulso que originou o desespero de quem assistia ao jogo – no meu ponto de vista, jogador que saísse de maca teria de ficar fora do relvado durante uns dois minutos pelo menos, e se ao atravessar a linha hipocritamente se levantasse de imediato, devia ver o cartão amarelo.
Na equipa benfiquista, em termos individuais, há a lastimar uma vez mais as prestações de Nelson, Katsouranis e Nuno Gomes, todos vítimas, cada um à sua maneira, da falta de soluções do plantel. Se no caso do grego é visível um desgaste físico profundo, no caso do jovem lateral parece tratar-se mais de uma questão do foro psicológico a requerer uma cura de banco. O ponta-de-lança padece de um problema já de certa forma crónico, a que Fernando Santos também não foi manifestamente capaz de dar tratamento adequado. Mantorras perdeu uma boa oportunidade de mostrar que é dentro do relvado que os jogadores devem expressar a sua linguagem.
Em bom plano estiveram Karagounis (que lance aquele quase no final…) e o jovem David Luiz, que revelou novas aptidões fazendo quase toda a segunda parte a lateral esquerdo, com muito bons apontamentos.
Pontuações: Quim 3, Nelson 1, Anderson 3, David Luiz 3, Léo 2, Petit 3, Katsouranis 2, Karagounis 3, Rui Costa 3, Simão 3, Nuno Gomes 1, Mantorras 2, Derlei 1e Manu 2.
Melhor benfiquista em campo: Karagounis
Nota final para a recepção prestada a João Vieira Pinto, que depois de alguns assobios, arrancou da esmagadora maioria dos presentes os aplausos que o seu passado no Benfica bem justifica. O jogador foi forçado a sair do clube, e enquanto lá esteve foi um profissional exemplar, contribuindo directamente para muitas vitórias e até títulos do clube da Luz.
Este foi também um exemplo elucidativo de como certos assobios que se ouvem são por vezes enganadores. Segundo me parece, se em 40 mil pessoas há mil a assobiarem intensamente, o estádio quase treme com o ruído, mesmo estando as restantes 39 mil caladas. Cheguei a esta conclusão depois de inúmeras vezes ouvir sonoros assobios na Luz e, olhando para todos os lados, não conseguir detectar nenhum “assobiador”.
Há de facto gente que consegue assobiar muito bem…
5 comentários:
Sim, de facto há muito bons assobiadores.
Meia duzia de bons assobiadores fazem eco num estádio.
LF
Em relação ao Benfica-Sp.Braga, julgo que está tudo dito na crónica do LF
Agora quero-me referir a outro assunto da sua prosa - os assobios, os silêncios e os aplausos, para o jogador J.V. Pinto
Quando eu comecei a perceber e a ler jornais e ver programas desportivos, umas das coisas que mais gostava, era as grandes entrevistas dos jogadores dos 3 grandes, com essas entrevistas dava para nós perceber o caracter e o modo como falavam nos seus clubes e nós tinhamos um contacto mais "intimo" com os craques da bola, sabiamos o que eles pensavam sobre a actualidade dos seus clubes
Toda esta conversa para dizer, que a entrevista dada num programa desportivo pelo J.V.Pinto, deu para perceber a mágoa que ele tem, quando fala da sua saída do Benfica, deu para perceber que por sua vontade ainda jogava no glorioso, pois nunca disse mal do clube, nem dos seus adeptos, que durante muitos anos achavam que era o seu "menimo de oiro", quando nessa entrevista o tema era Benfica, ficava nitido o esforço para controlar as suas emoções, falando mais lentamente, medindo todas as suas palavras, os benfiquistas perceberam e retribuiram-lhe o seu apreço pelo Benfica com palmas
A reação do publico da Luz, quando começaram os assobios, o publico demonstrou um total desacordo e começaram a bater palmas, alguns de pé, eu vi o jogo pela tv e o realizador teve o cuidado de mostrar as bancadas da Luz a aplaudir o J.V.Pinto, por muito que alguns tentem desvalorizar a sua passagem pelo nosso clube, ele será sempre um jogador muito acarinhado pelos verdadeiros Benfiquistas, que percebem que durante vária épocas, a equipa era o J.V. Pinto mais 10 e que sempre deu tudo em campo para defender o Benfica e estas acções ficam gravadas na memória daqueles que vivem realmente o nosso clube
Gostei da reação dos Benfiquistas, temos de dar valor aos que suaram a nossa gloriosa camisola e que só sairam por desvaneios de um Presidente, que só se queria servir do Benfica para encher os bolsos e que tem agora a sua paga
Subscrevo inteiramente.
João Pinto foi o maior símbolo do Benfica dos anos 90, foi muitas vezes o oasis no meio de um deserto, foi sempre um excelente profissional, e não foi por sua vontade que saiu do Benfica.
Ninguém esquece (bem...parece que alguns esquecem...) os célebres 3-6 em Alvalade em que ele quase sozinho nos deu um importantíssimo titulo.
Fiquei muito triste quando o vi ser assobiado no início, mas desde logo se sentiu alguma indignação nas bancadas para com esses assobios. Viu-se que havia uma maioria silenciosa que não concordava com aquela absurda recepção.
Quando o jogador foi substituido essa maioria enfim expressou-se, e fez justiça.
O Benfica não deve ser ingrato.
Escusado será dizer que fui um dos que aplaudiu de pé o jogador.
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