QUE DERBY ?

Um derby é, por definição, um encontro onde a razão e a objectividade dão lugar a um caldeirão de emoções do qual desfecho final é absolutamente imprevisível. Este Benfica-Sporting não foge naturalmente à regra, que nestes casos não é mais do que um amplo somatório de excepções.
Sem o sabor de outras épocas onde o título permanecia em aberto para ambos os emblemas, no próximo domingo estará em causa, por muito que a matemática possa apresentar outras panorâmicas, apenas o segundo lugar. E este apenas é muito relativo, pois como sabemos a segunda posição representa entrada directa na Liga dos Campeões, o que, não afastando dela o terceiro – sobretudo sabendo-se que qualquer um deles será cabeça de série na eventual pré-eliminatória -, significa uma muito maior tranquilidade na abordagem da próxima época. De qualquer forma, não é em nada comparável ao dramático duelo de há dois anos, no qual se decidia um título importantíssimo para a história recente dos dois clubes, e que culminou com a vitória benfiquista alcançada com o célebre golo de Luisão (lamentavelmente ausente da partida de domingo) a poucos minutos do final.
Há uma clara diferença na abordagem cultural de um jogo deste género por parte de Sporting e Benfica. Se para leões este é “o” jogo, para o Benfica normalmente trata-se simplesmente de “um” jogo, ainda naturalmente mais apimentado que a maioria dos restantes. Se a rivalidade dos leões se limita ao combate ao Benfica, este tem de se haver com um F.C.Porto que lhe quer disputar o palmarés, e normalmente, até de forma algo snob diga-se, remete os derbys com os leões para um plano secundário face aos desafios com os dragões, e sobretudo, aos jogos internacionais, a partir dos quais escreveu as mais belas páginas do seu brilhante historial.
Talvez por isto mesmo, ao longo dos anos e sempre que esta abordagem obedeceu aos parâmetros descritos, o Benfica levou a melhor mais vezes precisamente por ser capaz de ser mais frio e objectivo – ao contrário do que, há que admitir, acontece quase sempre que tem o F.C.Porto pela frente -, perante um Sporting que poucas vezes evita deixar transparecer uma enorme ansiedade quando vê as camisolas vermelhas diante dos seus olhos.
Nos últimos anos todavia, alguns resultados criaram a ideia de desmentir esta tendência, mas apenas de forma aparente. Se verificarmos bem, sempre que se decidiu alguma coisa de relevante entre Benfica e Sporting, a vitória sorriu aos benfiquistas. Foi assim nos inesquecíveis 3-6, na final da Taça de 1996, no segundo lugar de 2004 conseguido com um golo de Geovanni nos últimos instantes, a eliminatória da Taça decidida por penáltis, e na já referida vitória de Maio de 2005, não esquecendo duas ocasiões em que o Benfica contrariou em Alvalade os intuitos leoninos de festejar títulos nacionais. Ao invés, as vitórias do Sporting – várias nos últimos anos, é certo - foram quase sempre inócuas em termos de títulos ou classificações.
Se juntarmos esta ideia à teoria popular segundo a qual ganha estes jogos a equipa que aparenta estar em pior momento de forma, e se tivermos em consideração que para o Benfica esta será a última ocasião de salvar a sua época – ao contrário dos leões que ainda disputam a Taça de Portugal -, o que o fará apostar tantas fichas nesta partida como o seu rival aposta sempre que se defrontam (o que nem sempre é recíproco), poderemos concluir que, mesmo indo contra as aparências, talvez o Benfica esteja em melhores condições emocionais para abordar este jogo e conseguir a vitória.
Sabemos contudo que todas estas, ou outras análise que se façam a este ou qualquer jogo de futebol entre equipas de valor semelhante, esbarra sempre na aleatoriedade do futebol, que num detalhe vê uma equipa festejar uma vitória ao mesmo tempo que num erro vê outra chorar uma derrota. Por isso, tudo o que acabei de dizer, assim como tudo aquilo que quem quer que seja diga antes deste jogo, não passa de retórica especulativa. Não passa no fundo de um estado de alma.
Mas sabemos como os estados de alma por vezes ganham jogos...

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