O PAI DE TODOS OS JOGOS

Num há já vários dias completamente lotado Estádio da Luz, joga-se amanhã a partida de quase todas as decisões.
Quis o destino que os dois mais representativos clubes nacionais se encontrassem a sete jornadas do fim do campeonato separados por apenas um mísero ponto de distância, jogando assim, para além dos importantíssimos pontos em disputa (na prática seis), a liderança na prova e, digamos, três quartos do próprio título.
Por muito que Fernando Santos e Jesualdo Ferreira o neguem, todos sabemos que este embate é praticamente decisivo. É certo que matematicamente nada ficará resolvido, e em caso de empate a distância de apenas um ponto permanecerá, mas é também verdade que se alguma das equipas vencer dará um passo de gigante rumo ao título, quer pela vantagem pontual que conquista a poucas jornadas do fim, quer sobretudo pelo suplemento anímico que alcançará face a essas jornadas.
Os encarnados, ganhando, ascenderão à liderança pela primeira vez em quase dois anos (desde que foram campeões), com dois pontos de avanço e vantagem no confronto directo com os portistas, quando apenas lhe restam três deslocações (Aveiro, Setúbal e Funchal). O F.C.Porto por seu lado, em caso de vitória, alargaria para quatro pontos a sua vantagem, que na prática representariam cinco devido às duas vitórias nos jogos entre ambos. Se neste último caso (vitória portista) é pacífico que a liga ficaria praticamente entregue, também naquele (triunfo benfiquista), até pela forma como decorreu a prova até aqui, pela evolução inversamente proporcional das duas equipas, não parece credível a hipótese de a equipa de Jesualdo ainda vir a arranjar forças para encetar nova reviravolta num campeonato que teve praticamente nas mãos há não muitas semanas atrás.
Por tudo isto quer-me parecer que quem ganhar o clássico de amanhã terá todas as condições para festejar em Maio próximo a conquista do título nacional.
Interessa saber pois quem parece em melhores condições para o conseguir.
Não fosse a ausência forçada de Luisão – elemento fundamental na equipa encarnada e extremamente difícil de substituir, quer pela sua capacidade de liderança na defesa, quer pela sua inigualável acção nos lances de bola parada em ambas as áreas -, e o maior desgaste físico resultante dos jogos de selecções onde todo o meio campo do Benfica realizou praticamente os dois jogos completos, diria sem reservas que o Benfica era o grande favorito para esta partida. Os encarnados vêm em crescendo de forma, levam várias vitórias consecutivas a nível interno e externo, contam com algumas das suas unidades em grande momento, têm um conjunto mais experiente e assim mais capaz de resistir à fortíssima pressão de um jogo desta natureza, e jogam perante o seu público. Têm aqui uma oportunidade de ouro de traçar a seu favor o destino desta liga.
O F.C.Porto entrou mal no ano de 2007, desbaratando pontos atrás de pontos (três derrotas em casa !!!), vendo-se afastado da Taça de Portugal e da Champions League, patenteando um desgaste físico e anímico para o qual o seu técnico não tem conseguido arranjar antídoto. Jogadores como Lucho Gonzalez ou Hélder Postiga, preponderantes na primeira fase da época, têm-se arrastado nas últimas jornadas pelos relvados (o português até mais pelo banco) de forma confrangedora. Lisandro lesionou-se.
Como se não bastassem todos estes factos, tenho também como opinião que num jogo, onze contra onze, o Benfica tem muito melhor equipa que o F.C.Porto. O problema dos encarnados é a falta de soluções no seu plantel para suprir as ausências, algo que, diga-se, no F.C.Porto também está longe de corresponder aquilo que alguma crítica fez constar no início da temporada. De facto unidades como Simão, Luisão, Léo, Miccoli, Rui Costa, Karagounis, Petit, Katsouranis, sem limitações de ordem física, são capazes de desequilibrar os pratos de uma balança que do outro lado quase mais não encontra do que Ricardo Quaresma (eventualmente Pepe), e ainda assim de forma intermitente. É verdade que Anderson está de regresso, mas não parece verosímil que se apresente na Luz em condições de ser ele a resolver o jogo.
Todo este hipotético favoritismo esbarra – e volto assim ao início – na ausência de um dos jogadores mais fundamentais (juntamente com Simão) no Benfica, substituído por um jovem inexperiente, e no eventual cansaço adicional provocado pela intensidade dos jogos do Euro 2008 – recorde-se que para além dos importantes jogos que Portugal disputou, a Grécia teve um sábado humilhante ao perder em casa 1-4 com a grande rival Turquia, vianjando de seguida até Malta onde venceu. Nestes dois factores, para além da inspiração dos jogadores, poderão estar as hipóteses do F.C.Porto. Por estes dois factores, não sou capaz de afirmar que o Benfica seja de facto favorito, tal o peso que eles podem vir a ter no desenrolar da partida.
Veremos o que irá suceder. Talvez um empate, sendo um resultado que não liquida as aspirações de nenhum dos dois clubes, seja aquilo que se venha a verificar, até porque dificilmente se assistirá a um jogo tecnicamente muito bem jogado.
Espera-se sobretudo que o ambiente seja ruidoso, empolgante mas sereno e sem violência, e que não existam casos de arbitragem, o que, diga-se, com Pedro Proença é de desconfiar que suceda.
Este é o jogo do ano. Que as equipas e adeptos o demonstrem.
Já agora… que o Benfica ganhe !

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