NUVEM DE GLASGOW ENSOMBROU NOITE DE LUZ
Quando ao intervalo do jogo de ontem na Luz o Benfica vencia categoricamente o F.C.Copenhaga, e em Glasgow Celtic e Manchester permaneciam empatados a zero, tudo parecia conjugar-se para uma noite perfeita de Liga dos Campeões, capaz de inundar de esperança o horizonte benfiquista com vista à última jornada e a uma eventual passagem aos oitavos de final da prova rainha do calendário europeu e mundial. Um empate em Glasgow podia até permitir ao Benfica apurar-se mesmo perdendo em Old Trafford, caso os escoceses não fossem além do mesmo resultado na Dinamarca.
Todavia, em futebol os resultados não são aquilo que poderiam ser, mas sim aquilo que fria e objectivamente são. Nakamura marcou um golo fabuloso na conversão de um livre directo a nove minutos do final e, pior que isso, Louis Saha - que havia marcado na Luz - desperdiçou uma grande penalidade já no período de descontos do jogo do Celtic Park, deixando o Benfica com uma tarefa tremendamente difícil – vencer o Manchester United em sua casa – para se poder classificar para a fase seguinte.
Pode parecer estranho começar a crónica dum jogo do Benfica falando do que se passou a milhares de quilómetros de distância, mas a verdade é que o resultado do jogo de Glasgow era determinante para as contas do grupo, pelo que o Benfica, por um penálti falhado por outra equipa, passa de uma situação de algum conforto para um nível de hipóteses quase residual – ficando até de algum modo pior do que estava anteontem - por mais optimismo que dirigentes, técnicos e jogadores queiram transmitir uns aos outros. Esta realidade, conjugada pela pobre exibição encarnada nos segundos quarenta e cinco minutos da partida de ontem, estará em grande parte na origem do ambiente de pouco entusiasmo que se vivia à saída do estádio.
Apesar de tudo, olhando à parte meio cheia do copo, uma vitória europeia é uma vitória europeia, o Benfica garantiu pelo menos a repescagem para a Taça Uefa, e manteve-se apenas dependente de si próprio à partida para a última jornada do grupo, o que dada a situação com que saiu da primeira volta até se poderá considerar positivo.
Pelo que ontem se viu, salvaguardando desde já o integral cumprimento da obrigação por parte dos jogadores encarnados, não se pode deixar de lembrar o travo amargo dos dois pontos perdidos em Copenhaga no primeiro jogo. De facto, os dinamarqueses mostraram grandes limitações, nunca discutiram o jogo ou o resultado, foram dóceis defensiva e ofensivamente, e só não foram amplamente goleados porque o Benfica na segunda parte, com 3-0 no marcador, decidiu adoptar uma postura de repouso activo. A equipa da Luz até nem começou muito bem o jogo deixando notar alguns laivos de nervosismo, próprios aliás de quem foi (inaceitavelmente, diga-se) assobiado à entrada para o aquecimento, de quem foi (idem idem) criticado na praça pública pelo próprio presidente, de quem se viu sem o seu director desportivo, envolvido em conturbados processos na esfera da justiça, e de quem vinha de uma inapelável derrota em Braga. Ontem porém, a sorte até parecia querer estar com os encarnados que, nos dois primeiros remates à baliza de Christiansen, marcaram outros tantos golos, e quase sentenciaram desde logo para quem iriam os três pontos em disputa.
Até final da primeira parte a equipa galvanizou-se, partiu para cima do adversário, e acabou por fazer o suficiente para merecer a sorte que tivera, para justificar os três pontos, e para lavar a sua face do triste desempenho de Braga. Nesse período os encarnados conseguiram mais um golo – pelo irrequieto Miccoli -, e construíram pelo menos mais duas claras ocasiões para marcar, deixando água na boca para o que poderia suceder no segundo tempo.
Depois do intervalo, como já disse, de forma calculada ou não, a verdade é que o Benfica praticamente deixou de jogar, mau grado o facto de ter ainda criado duas boas situações de finalização, desperdiçadas por Nuno Gomes e Simão respectivamente.
Nos últimos momentos o golo nórdico acabou por ser um justo castigo para a enfadonha segunda parte do Benfica, numa fase em que as notícias de Glasgow apontavam já para a desnecessidade de pensar na diferença de golos.
Para pensar em discutir o jogo de Manchester, ou pelo menos para de lá sair de forma digna e honrada, o Benfica terá ainda muito que trabalhar no pouco tempo que já lhe resta. Estes modestos dinamarqueses não foram um teste conclusivo, e o que já lá vai de temporada deixa-nos muito pouco tranquilos face, sobretudo, à capacidade do Benfica travar o futebol atacante dos ingleses.
Este modelo de jogo tem futuro mas não tem ainda presente, e o Benfica precisa de ganhar em Alvalade e em Old Trafford, dentro das próximas duas semanas, se não quer ficar desde já arredado dos dois principais objectivos da época. Talvez uma reestruturação do meio-campo faça sentido nesta altura, eventualmente com a inclusão de Beto, um mal amado de Fernando Santos, mas que com Koeman foi de uma enorme utilidade neste tipo de compromissos em que o Benfica tem prioritariamente de saber defender para poder ganhar espaços para o contra-ataque.Pontuações: Quim 3, Nelson 3, Anderson 3, Ricardo Rocha 3, Léo 4, Petit 3, Katsouranis 3, Nuno Assis 3, Simão 4, Nuno Gomes 3, Miccoli 4, Karyaka 1, Karagounis 2 e Mantorras 1.
6 comentários:
LF
Gostei do Texto, mas discordo com a sua parte final, o Beto a jogar, com o Petit e o Katsouranis, vai dar o jogo ofensivo ao Manchester ou ao Sporting e o Benfica fica a jogar em contra ataque, assim dificimente poderemos ganhar o jogo
Sabendo nós, que o grande probléma do Benfica é no processo defensivo, temos de afastar o jogo da nossa area, só os podemos afastar, jogando ao ataque, obrigando o nosso adversário a defender, ou quando atacar, ter de deixar jogadores na sua defesa
Eu penso, que o FS tem de acertar todo o processo defensivo, escolher muito bem os jogadores, ( porque não trocar o Ricardo Rocha pelo Anderson a fazer dupla com o Luisão ) e especialmente o guarda redes, o Quim está em baixo de forma e pouco confiante, a entrada do Moreira iria trazer confiança a toda a defesa
Isso seria partindo do princípio que o Benfica é superior, o que manifestamente não me parece verdade, nem sequer, neste momento, em relação ao Sporting.
Que tal Beto no lugar de Nuno Assis ?
O brasileiro é tosco, é verdade, mas tem sentido posicional e é disciplinado tacticamente, fazendo muito bem as coberturas aos laterais, que é justamente aquilo que tem faltado ao Benfica.
O problema do Benfica não está na linha defensiva, mas sim na forma como o resto da equipa a deixa desguarnecida. A começar pelo facto de quatro jogadores do onze muitas vezes se alhearem da bola assim que a perdem (Simão, Miccoli, Nuno Gomes e Nuno Assis), o que me parece insustentável numa equipa moderna.
Depois falta olear o mecanismo das compensações de Katsouranis a Nelson e o interior esquerdo (Nuno Assis ou outro) a Léo.
Falta ainda que Petit interprete melhor as suas novas funções, nas quais que em muitas situações de jogo terá de ser praticamente um terceiro central.
Por fim falta subir a linha defensiva uns metros de modo a encurtar os espaços entre ela e o resto da equipa, facilitando assim os aspectos de que falei.
Simão e Nuno Assis não se alheiam da bola assim que a perdem - de todo!!
O problema é mais colectivo do que imputável às características deste ou daquele jogador - pode ser de índole táctico-técnica, i.e. de concepção do treinador, ou de incorrecta interpretação "do jogar que o treinador pretende"por parte dos jogadores...
Também sou daqueles que reconhece utilidade ao "mal-amado" Beto, contudo, penso que será melhor não mexer num onze que até tem tido louváveis resultados (mais no que respeita ao processo ofensivo que defensivo)
Esperemos que os processos defensivos sejam aprimorados, e de uma coisa tenho eu a certeza, o Benfica tem potencial para vencer o Manchester United em Old Trafford.
Abraços
LF
Por esse modo de pensamento a troca posicional, deveria ser com o Petit, jogando este no lugar do Nuno Assis, ficando o Benfica a jogar num 4-3-3, uma linha de 3 médios defensivos ( Beto mais a trás, Petit e Katsouranis como interiores ) e 3 avançados ( Simão na posição de Nº 10, Miccoli e Nuno Gomes na area
Até pode ser, agora só falta saber qual o caudal ofensivo que este esquema daria ao Benfica
Eu continuo a pensar, que o probléma reside na mentalidade dos jogadores, o Eurico falou disso mesmo, ontem num programa desportivo na RTPN, se a equipa joga bem em casa, não se compreende como joga tão mal, fora do seu estádio, isto só pode ser mentalidade, os jogadores até parecem que estão mal físicamente, mas depois em casa demonstram que estão bem
Este trabalho de mentalização, é que tem de ser feito, não sei se é trabalho do treinador, ou de um psicologo, mas que tem de ser feito, isso tem
Caro Paulo Santos,
Quando falei de Nuno Assis e Simão, por sinal dois jogadores fisicamente muito parecidos, ambos formados no Sporting e grandes amigos, não quis beliscar o seu profissionalismo, que é a todos os títulos notável.
O que eu penso é que são jogadores genética e físicamente pouco agressivos a defender, e com uma cultura futebolística totalmente virada para o ataque.
Para além disto, a própria organização da equipa faz com que eles muitas vezes permaneçam próximo da defesa contrária, quando na minha perspectiva deviam acompanhar a equipa em bloco nas tarefas defensivas.
O problema é que a eles os dois há que acrescentar Nuno Gomes e Miccoli...
A equipa fica partida em dois: os que atacam e os que defendem.
Nada tem a ver com entrega em campo. Sim com organização e características inatas dos atletas.
LF,
Não disse, ou dei a entender, em parte alguma do que escrevi que "beliscavas" o profissionalismo de Assis e Simão, nem tampouco que apontavas falta de entrega em campo aos dois jogadores! Apenas, e reafirmo, discordo da tua opinião que sustenta que eles não são agressivos a defender! Simão, então tem sido um bom exemplo do jogador que vem atrás pressionar e esta época já por várias vezes o fez, recuperando a bola e lançando ataques rápidos! O problema muitas vezes tem sido junto às laterais, onde Nélson e Léo (ou quem aí jogue) se vêem desprotegidos sem cobertura por parte dos colegas, do meio campo - em algumas situações, com maior responsabilidade de Petit - relembro o golo de Quaresma no Dragão, em que Nélson está no 1x1, com Petit alheado do lance. Mas claro que, também KAtsouranis e Assis têm que "bascular" para dar cobertura aos laterais.
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