PONTAPÉ NA CRISE

Fernando Santos avisara e na verdade os sócios e adeptos do Benfica presentes na Luz não tiveram outra alternativa senão aplaudir a exibição e o resultado do conjunto encarnado, que derrotou facilmente um adversário mesmo a jeito para quem vinha de uma dolorosa ressaca europeia.
Uma das máximas do futebol diz que uma equipa joga o que a outra deixa jogar. Por isso mesmo, é frequentemente difícil identificar o ponto em que terminam as facilidades concedidas por uma equipa e começa o mérito da outra. Este jogo é paradigmático a esse respeito pois se é verdade que o Desportivo das Aves apresentou alguma docilidade, também é certo que o Benfica, sobretudo na segunda parte, soube fazer, e fazer bem, pela vitória que indiscutivelmente mereceu.
O técnico benfiquista decidiu mudar o figurino táctico da equipa e apresentou-se num 4-4-2 clássico, com dois extremos bem abertos, dois laterais ofensivos, um médio defensivo e um criativo no apoio aos dois pontas-de-lança.
Na primeira parte viu-se um Benfica empenhado, audaz, mas falho de ideias e algo permissivo a contra-ataques adversários – o que tem sido uma constante nesta temporada. Continua a ser gritante a falta de um médio de transição à maneira de Manuel Fernandes, pois o meio campo encarnado alterna trincos (Katsouranis, Petit, Beto) com macios criativos de cariz ofensivo (Rui Costa, Karagounis, Nuno Assis), faltando alguém capaz de pautar as transições, de jogar pelos flancos, de conquistar a bola, mover-se bem nos territórios do choque físico e simultaneamente conseguir romper em penetrações e consequentemente causar desequilíbrios. Para derrotar o Desportivo das Aves acabou por não ser necessário um jogador com essas características, mas para vencer, por exemplo, o Manchester United tê-lo-ia provavelmente sido.
Optando por dois pontas de lança (Miccoli uns metros atrás de Nuno Gomes), Fernando Santos tentou disfarçar esta lacuna, procurando que fossem Paulo Jorge e Simão através das faixas e em articulação com os muito ofensivos laterais Nelson e Miguelito, a conduzirem a maioria das acções ofensivas, às quais todavia Nuno Gomes e Miccoli, muito dados à férrea marcação contrária, nunca conseguiram dar sequência, se exceptuarmos o lance do golo mal anulado ao italiano. Acabou por ser mesmo Paulo Jorge (muito activo em todo o primeiro período) a corresponder a uma defesa incompleta de Rui Faria e a cabecear para a baliza fazendo o primeiro golo do jogo.
Pensou-se que o Benfica, embalado pelo golo, partisse desde logo para uma noite tranquila. Contudo, em dia de águias e de aves, foi um enorme frango de Quim – talvez o melhor jogador do Benfica em todo o início de época, e já depois de nesta mesma partida ter evitado um golo certo a Xano - a reequilibrar o resultado e o jogo. Voltaram os fantasmas à Luz.
Fernando Santos não esperou e logo ao intervalo fez entrar Rui Costa para o lugar de um Katsouranis prescindível dada a fragilidade ofensiva do adversário.
A presença do maestro notou-se de imediato, e com passes milimétricos e criteriosos como só ele sabe, foi nos seus pés que se iniciaram praticamente todos os lances mais perigosos da segunda parte. Mais do que isso, a sua presença pareceu empolgar e libertar Karagounis (que motivação !), que partiu então para uma grande exibição, talvez a melhor desde que veste de encarnado.
Ficou provado que o grego rende mais com outro criativo a seu lado (Rui Costa ou Nuno Assis, fazendo a inversão do triângulo do meio campo), com o qual possa tabelar em progressão, possa melhor fugir às marcações e assim dispor de espaço para soltar o seu talento. Ontem esteve soberbo em toda a segunda parte, culminando a sua noite com um portentoso golo obtido num livre ainda a uns bons metros da área.
Também o capitão Simão se exibiu em grande plano (já na primeira parte estivera bem), marcando, dando a marcar e semeando o pânico sempre que arrancava com a bola controlada para as imediações da área avense. Foi alicerçado neste trio que o Benfica acabou tranquilamente por chegar à goleada, resultado que, para já, se revela um poderoso tranquilizante para o clube da Luz, seus jogadores e sobretudo seu técnico.
Mas convém realçar que o meio campo da segunda parte (reduzido a Karagounis e Rui Costa, ambos sem grande propensão para o choque e a recuperação), embora com momentos de jogo plasticamente brilhantes, é absolutamente inaplicável frente a adversários com mais argumentos que esta modesta equipa do Professor Neca. Na verdade o conjunto nortenho praticamente não existiu em termos ofensivos durante toda a segunda parte, permitindo ao Benfica um grau de risco ofensivo que uma equipa de topo aproveitaria certamente para causar muito perigo em lances de contra-ataque pelo enorme espaço que foi cavado nas costas do seu meio campo. De qualquer modo é mais uma solução à disposição do técnico, e a verdade é que existem muitas “aves” na Liga Portuguesa.
Individualmente atribuiria as seguintes pontuações (de 0 a 5): Quim 2, Nelson 2, Luisão 3, Ricardo Rocha 3, Miguelito 3, Katsouranis 2, Karagounis 4, Paulo Jorge 4, Miccoli 2, Nuno Gomes 3, Simão 4, Rui Costa 4, Fonseca 1 e Nuno Assis 2
Melhor benfiquista em campo: Karagounis.
A arbitragem esteve mal, anulando um golo limpo a Miccoli ainda na primeira parte, e denotando alguma descoordenação entre árbitro e árbitros assistentes. O cartão amarelo a Rui Costa é completamente absurdo.

NOTA: Permitam-me a terminar, um pequeno apontamento auto-biográfico: o golo de Karagounis foi o 300º golo do Benfica que festejei em estádios.
Já que falo em estatísticas, a vitória do Benfica foi a 99ª que presenciei, pelo que a próxima entrará na "minha" história.
Por outro lado, assisti a 40 empates e 27 derrotas do Glorioso, num total de 166 jogos presenciados, 144 dos quais em casa.

6 comentários:

LOM disse...

Boa média.
Espera-se sempre que o Benfica vença todos os jogos, principalmente em casa.
Esperemos que no futuro a média melhore.

Anónimo disse...

E´verdade. Não me posso queixar.
Devo dizer que me inicie com 16 vitórias nos 17 primeiros jogos...
Anos 80...

Anónimo disse...

Os portugueses são mesmo do 8 e do 80.
Ainda há 24 horas atrás o Benfica e Fernando Santos eram os piores do mundo, e com apenas uma vitória parece que a crise passou.

Anónimo disse...

É verdade Xinfrim.
Eu acho que nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Até agora nunca retirei a minha confiança a Santos, e por outro lado não acho que a exibição do Benfica tenha sido extraordinária

cj disse...

prepara-te para a ruína dessas estatísticas.
daqui a mais 100 falamos...

Anónimo disse...

Veremos...