A NOITE EM QUE OS BOBOS SE VESTIRAM DE REIS

Com cinco jogadores impedidos de dar o seu contributo à equipa (Ricardo Rocha, Rui Costa, Petit, Nuno Gomes e Manu) e na sequência de um catastrófico resultado na primeira jornada, não devidamente mascarado na ronda europeia de quarta-feira, seria lícito supor que a recepção ao Nacional se tratava de um jogo tremendamente problemático para o Benfica.
Na verdade, passados os noventa minutos, o improvisado onze encarnado deu muito bem conta do recado e, mau grado o sofrimento dos últimos instantes, construiu uma vitória que só peca por escassa, tal o caudal de jogo ofensivo que demonstrou ao logo de quase toda a partida.
Na sequência do jogo de Copenhaga tinha-me referido aqui à difícil coabitação entre Petit e Katsouranis, jogadores de características diferentes mas que gostam de pisar os mesmos terrenos. Não podendo contar com um deles, Fernando Santos viu ontem o seu meio campo soltar-se e equilibrar-se notoriamente, sobretudo se atentarmos à sua capacidade de circulação de bola. A ausência de Petit foi pois, paradoxalmente, uma das chaves da vitória do Benfica.
Com Katsouranis livre para ocupar a sua zona preferencial – o antigo médio argentino Fernando Redondo, nos seus melhores tempos, dizia que quando lhe colocavam alguém jogar a seu lado era como se lhe tapassem um olho – com um Karagounis muito dinâmico e capaz de inverter o triângulo centro-campista quando em processo ofensivo, e um Nuno Assis criativo, veloz e capaz de, quando necessário, utilizar ambos os corredores para semear o perigo na defensiva contrária, o Benfica apresentou uma linha intermediária alegre, bem disposta e leve como ainda se não lhe havia visto nesta temporada.
Se a este meio-campo juntarmos um Simão Sabrosa em visível crescimento de forma e um Luisão imperial a defender e a…marcar, temos os condimentos para uma exibição escorreita e bem conseguida da equipa da Luz, a quem só faltaram mais golos para se reconciliar com os adeptos ávidos de vitórias.
Será que isto significa que está encontrada, sem Petit e Rui Costa, a fórmula de sucesso para o Benfica 2006-07 ? A resposta é claramente não. Este meio campo benfiquista, como a velha história da manta que só cobre ou os pés ou a cabeça, foi mais criativo e rápido na circulação de bola na mesma medida em que denotou alguma permeabilidade nas transições ataque-defesa (o Nacional criou umas cinco ocasiões de golo na Luz). Karagounis não é um recuperador, e apenas com Katsouranis nessas funções o Benfica deixava muitas vezes cinco elementos fora da luta pela recuperação da bola e do posicionamento defensivo. Além disso, nem Karagounis nem Nuno Assis garantem, como sabemos, uma temporada inteira ao nível daquilo que ontem exibiram. Ao contrário de Petit e, caso esteja fisicamente bem, também de Rui Costa, ambos aliás, por diferentes razões, ainda longe da sua melhor condição.
Mas o que está em análise é este jogo, e a verdade é que ontem o Benfica foi uma equipa fresca e móvel, incisiva e confiante, pressionante e criativa, pecando apenas pela falta de eficácia finalizadora, o que lhe custou todo aquele sofrimento final depois de no momento da justa expulsão de Cléber - e levando em linha de conta o maior cansaço dos madeirenses fruto da sua longa viagem a Bucareste onde jogaram na quinta-feira - tudo parecer ter ficado decidido. Mas o que é facto é que os perigosos pontapés de Bruno Amaro não tiveram êxito, e o Benfica segurou, nas mãos de Quim, três pontos absolutamente justos e merecidos pelo que se passara até aí.
Em termos individuais há que salientar as excelentes indicações dadas por Nuno Assis, Karagounis (surpreendentemente motivado e empreendedor) e Luisão, com destaque também para Léo e Simão (ambos a subir de forma). Quim voltou a brilhar com três intervenções de grande qualidade. Alcides mostrou-se seguro a defender e surgiu também na área contrária em trabalho de finalização na sequência de lances de bola parada (uma novidade de Fernando Santos) e Katsouranis esteve claramente mais acertado do que em Copenhaga. Anderson esteve regular e empenhado em recuperar a titularidade, mostrando que o triste episódio do Bessa já lá vai. Pela negativa terei que falar da ainda deficiente adaptação de Fonseca ao futebol benfiquista, mau grado o empenho e a capacidade de luta que demonstrou, e ainda a complicativa exibição de Paulo Jorge, um jogador sempre muito fogaz e lutador, mas poucas vezes criterioso e lúcido na hora de resolver os lances. Talvez possa melhorar com o tempo, se bem que já não é assim tão jovem como isso.
De 0 a 5 teríamos então: Quim 4, Alcides 3, Luisão 4, Anderson 3, Léo 3, Katsouranis 3, Karagounis 4, Nuno Assis 4, Paulo Jorge 2, Fonseca 2, Simão 3, Miccoli 2, Mantorras 1 e Miguelito -.

10 comentários:

Anónimo disse...

Quando falas em bobos referes-te a quem ?

Anónimo disse...

Refiro-me naturalmente aos não titulares que estiveram muito bem neste jogo. Designadamente Karagounis e Nuno Assis.
Independentemente de considerar Luisão à figura da jornada pelo golo que marcou, foi no desempenho e articulação dos médios que esteve a chave da vitória e da diferença exibicional para jogos anteriores.

Anónimo disse...

Como titá-los agora da equipa ?

Anónimo disse...

Será uma "boa" dor de cabeça de Santos.
Há pouco tempo queixavamo-nos de falta de alternativas a meio campo. Pois aí estão elas !

Anónimo disse...

O Geovanni marcou o golo da vitória da sua equipa no Brasil

Anónimo disse...

Eu vi o jogo.
Cruzeiro-Palmeiras 1-0
Geovanni além do golo realizou uma excelente exibição.
Até me custa a acreditar como foi possivel deixar sair um jogador daqueles sem contrapartidas...

Já o André Luís mostrou que não era jogador para o Benfica. Voltou a oferecer um golo ao adversário, que todavia não aproveitou.
Jogou a lateral direito.

Anónimo disse...

Salvou-se o resultado e a subida de forma de Simão, o resto (ou quase) foi de uma vulgaridade extrema... para não dizer mediocridade.
Como é que o vedeta pode achar a exibição do Benfica positiva quando ele próprio assume que o Nacional criou pelo menos 5(!) oportunidades de golo. Bah,bah,bah...

Anónimo disse...

Brytto,

...e quantas oportunidades criou o Benfica ?

Eu disse que a equipa apareceu mais solta, sobretudo em termos ofensivos, e ressalvei que não poderá jogar sempre assim de futuro pois fica demasiado permeável.

Não percebo como não gostaste das exibições de Nuno Assis e Karagounis (sem falar de Luisão e Quim).
Se os juntarmos a Simão, já temos metade da equipa...

Acho que dadas as limitações, o Benfica deu uma resposta acima daquilo que se esperava.
Não foi brilhante, longe disso. Mas o suficiente para justificar a vitória, até por números mais elevados.

Anónimo disse...

Se o nacional tivesse empatado, ainda gostarias assim tanto das exibições, é que esse resultado acabou por não acontecer devido apenas a detalhes... Não esquecer que o Glorioso ficou em vantagem numérica practicamente toda a segunda parte, como teria sido em igualdade numérica?! Enfim, salvou-se o resultado e como disse o Simão, que está a anos luz da maioria do plantel, como é fácil observar.

Anónimo disse...

Se o resultado fosse um empate é óbvio que o contentamento não seria o mesmo.
O objectivo dos jogos é ganhar.
É natural que nesse caso sobressaltasse mais o problema defensivo que a melhoria ofensiva.
Vitória = copo meio cheio
Empate = copo meio vazio
Não existe forma de sair disto, ou então deixamos de analisar jogos de futebol.
Para mim, uma equipa conseguir marcar é importante na análise do seu desempenho. Evitar sofrer também.
O Benfica ontem fez ambas as coisas.
Se teve sorte em não sofrer, também teve, na mesma medida, o azar de não marcar mais.
Todo o futebol, ao mais alto nivel, é decidido por detalhes.
Campeonatos do Mundo, Ligas dos Campeões etc.
O Benfica foi campeão europeu em 1961 porque o Barcelona atirou duas bolas aos postes (uma delas até bateu nos dois). Depois perdeu com o PSV em 1988 porque falhou um penalti no desempate.
É assim o futebol.