FRACA GENTE
Só ontem pude assistir ao triste espectáculo proporcionado pelos chamados “homens do futebol” no programa “Prós e Contras” da RTP.
A discussão naturalmente girou em redor do Caso-Mateus, mas a única coisa que ficou clara foi a total incapacidade daquela gente para regenerar o futebol português e colocá-lo, em termos organizativos, ao nível do que os jogadores e técnicos têm feito dentro do campo.
Se de Valentim Loureiro já sabíamos o que poderíamos esperar, ou seja nada, e se Gilberto Madaíl deu mais uma vez mostras de ser um homem cansado e sem chama – tenho para mim que se trata de alguém sem grandes capacidades, mas com a felicidade de ter estado no lugar certo à hora certa -, o secretário de estado Laurentino Dias, que pouco ou nada se dera a conhecer até agora (a única situação em que apareceu foi no caso Nuno Assis e de forma totalmente despropositada, diga-se), foi a maior decepção da noite. Já sabemos de que massa é feita a classe política deste país: a massa da incompetência e da mediocridade, normalmente proporcional ao “jogo de cintura” que lhes permite ascender nas estruturas partidárias até chegarem a estes “poleiros”. Mesmo assim, Laurentino conseguiu superar, pela negativa, todas as expectativas, que já de si não eram muito altas. A primeira ideia que me veio à cabeça é que a única preocupação do homem era sair dali politicamente incólume, ou seja, bem com gregos e troianos (deve seguramente ter dito mal da vida dele quando este caso lhe caiu em cima da mesa). A segunda e final foi que não percebia nada daquilo que se estava a falar, embora a sua verborreia, tipicamente politiqueiro-governamentista, por vezes quase transmitisse a sensação contrária.
José Luís Arnaut foi o único capaz de acrescentar alguma coisa de útil à discussão – o seu relatório sobre o desporto europeu tem pontos de algum interesse, nomeadamente no que toca aos aspectos financeiros que rodeiam o futebol -, mas nem assim conseguiu fugir a uma populista e demagógica tentação acusatória à FIFA, qual carrasca do pobre, pequenino e desprotegido portugalzinho, que estes senhores constantemente evocam, estando eles muitas vezes entre os responsáveis por essa mesma pequenez.
Do debate propriamente dito pouco há a acrescentar. O Caso-Mateus ficou no mesmo sítio onde estava, e os telespectadores mais impressionáveis lá ficaram com a sensação que a FIFA (que eu tanto critiquei noutras questões, mas que nesta tem a razão do seu lado) é culpada de todos os males. Não retenho nenhuma ideia forte, nenhuma proposta, mas apenas a guerra surda Liga-Federação, a necessidade urgente de reformular as estruturas desportivas portuguesas de alto a baixo, e um secretário de estado do qual não se pode esperar absolutamente nada, quer na solução do impasse em que estamos, quer no desenvolvimento do desporto do nosso país.
Apesar de eu ainda me lembrar do que era o futebol português pré-liga (dos Adrianos e Lourenços Pintos, dos Guímaros, dos Silvanos, dos Calheiros, dos “quinhentinhos”, das poderosas associações nortenhas, da corrupção generalizada), dada a situação actual, e pelo que já se viu de Hermínio Loureiro, o melhor se calhar seria mesmo acabar com a Liga, tal como Luís Filipe Vieira pretende. Até porque podia ser que esse fosse, neste momento, o empurrão para que o “apito” viesse mesmo a apitar, sendo esse o passo, sem o qual, tudo o resto nunca passará da podridão e da vergonha. Além disso, poupava-se dinheiro.
Infelizmente parece-me que, passada esta turbulência, irá continuar tudo como está.
Coitados dos jogadores, dos treinadores e sobretudo dos adeptos.
Coitado do futebol.
6 comentários:
eu uma vez tanbém estive no lugar certo à hora certa, nomeadamente numa despedida de solteiro, onde, lá para os lados do marquês de pombal, dou de caras com a federação em peso numa elegante casa de putas e respectiva comitiva devidamente emparelhada.
Ora bem !
Tudo certamente pago com dinheiro da utilidade pública...
recordo até, que aquando da chegada, ía eu a descer as escadas e vunha na subida um ex-árbitro de futebol, que entretanto já faleceu, que teve de, devido às circunstâncias etílicas, de sair mais cedo e deixare aquele alegre convívio.
prontamente, um primo meu muito conhecido das noites lisboetas mostrou-lhe um cartão vermelho virtual, fazendo o gesto com o braço, seguido de um apito labial improvisado, ao que o conviva se mostrou resignado.
eis as noites típicas de reunião da nossa federação.
p.s.-agora, imagino as da liga...
Fantástico !
Excelente texto.
Até que enfim, que deitas-te cá para fora a tua revolta e pegaste o touro pelos cornos
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