VITÓRIA FELIZ, POR ENTRE ALGUNS SINAIS DE ALERTA

À semelhança do que aconteceu no mítico Mundial de 1966, Portugal termina a primeira fase com três vitórias.
Com maior ou menor brilhantismo, com mais ou menos sorte, a verdade é que a equipa de Scolari tem provado estar, sobretudo no plano mental, uns furos acima de outras selecções da história recente do futebol português.
Um mundial é um mundial, e veremos no final da primeira fase quantas selecções se poderão gabar do mesmo feito (para já só a Alemanha o conseguiu), podendo-se também acrescentar que Angola, México e Irão não serão seguramente muito inferiores a Togo, Arábia Saudita, Tunísia, Costa Rica, Trinidad e Tobago, Japão, ou mesmo a selecções europeias como a Polónia e a Sérvia. Os portugueses têm pois motivos para estar satisfeitos, e orgulhosos da sua equipa e do seu seleccionador.
Posto isto, que ao fim e ao cabo é o mais importante, importa todavia dizer que a equipa portuguesa terá ainda que corrigir alguns aspectos se quiser levar de vencida a Holanda (que felicidade livrarmo-nos da super-Argentina...), e que o jogo de ontem foi muito claro a evidenciar essa ideia.
Mais uma vez Portugal entrou de rompante, e realizou trinta minutos de qualidade. Apesar do primeiro lance de perigo ter pertencido ao México, a “equipa das quinas” rapidamente assumiu o controlo do jogo, com Maniche e Simão em grande evidência, quer em termos de construção, quer como primeiro tampão à saída dos aztecas para o ataque.
Não tendo Deco em campo, Scolari optou por fazer subir Maniche, colocando-o lado a lado com Tiago na linha de construção, aspecto que nesta fase do jogo foi responsável pelo total aniquilamento do meio campo mexicano.
Veio o primeiro golo, veio o segundo e só não veio o terceiro porque Tiago não revelou pontaria afinada numa recarga a remate de Hélder Postiga. O jogo parecia resolvido.
Talvez os jogadores portugueses se tivessem deixado então deslumbrar por todas as facilidades que encontravam sempre que aplicavam alguma velocidade ao seu jogo, e aliviassem um pouco os seus índices de concentração – afinal o apuramento já estava nas suas mãos. A verdade é que o México construiu um lance em que obrigou Ricardo a uma defesa in-extremis para canto, e na sequência do mesmo conseguiu, com um cabeceamento de Fonseca, reduzir a diferença.
A forma como o golo surgiu – extremamente facilitado por uma defesa que, além de ter deixado Fonseca saltar quase sem oposição, não colocou ninguém no segundo poste deixando a bola entrar suavemente na baliza de Ricardo – terá perturbado a linha mais recuada da equipa portuguesa, que a partir daí evidenciou uma série de insuficiências que terão deixado Scolari de “cabelos em pé”.
Ainda bem que esses problemas surgiram neste jogo. Há ainda tempo para corrigir alguns deles (designadamente a cobertura aos lances de bola parada), e desse modo entrar na fase decisiva da competição com uma maior segurança em termos defensivos, sem a qual não adianta criar grandes expectativas numa competição desta natureza.
É tremendamente injusto fazer recair sobre Fernando Meira (que não esteve feliz, é um facto) a responsabilidade total pelas falhas de Portugal no seu processo defensivo. Por um lado, a falta de Costinha fez-se (mais uma vez) sentir bastante, pois com a sua perspicaz movimentação e leitura de jogo, é ele quem por norma assume grande parte das compensações no sector. Por outro lado, Marco Caneira não teve uma prestação muito feliz, abrindo bastantes espaços no seu flanco o que colocou os centrais numa situação de maior fragilidade. A agravar este panorama, Ricardo Carvalho parece neste Mundial muito longe do fulgor que exibiu durante o Euro-2004 onde, com Jorge Andrade a seu lado, brilhou tão alto que conseguiu fazer-se transferir para o Chelsea por trinta milhões de euros. Como o único elemento novo (estranho ?) da linha de defesas é Meira, tem sido ele a vítima da maioria das críticas, o que me parece de algum modo cruel, e não ajuda nada à sua tranquilização.
Mas não foi só atrás que a nossa selecção vacilou. Desde o golo mexicano e até final, Portugal não mais conseguiu assumir o controlo do jogo, mesmo jogando contra apenas dez jogadores durante mais de meia hora. Figo não esteve tão em evidência como nos jogos anteriores, Maniche foi perdendo energia, e Tiago não conseguiu fazer o papel de Deco, como elemento mais criativo do meio campo. Postiga e depois Nuno Gomes foram completamente inoperantes na frente de ataque. Restou apenas um Simão Sabrosa em bom plano durante toda a partida.
Um penálti falhado pelos mexicanos, e um outro não assinalado por Lubos Michel (que também havia perdoado o segundo amarelo a Miguel), acabaram por permitir a Portugal uma vitória carregada de felicidade, e que possibilita aos portugueses continuar a sonhar com uma reedição da proeza dos “magriços”.
Agora teremos pela frente a Holanda, que não é nenhuma “pêra doce” (embora a Argentina fosse pouco menos que insuperável), conta com jogadores de enorme qualidade como Robben, Van Nistelrooy, Cocu ou Van Bronckhorst, tem também grandes expectativas para este Mundial, e quererá vingança das suas derrotas frente a Portugal nas meias finais do Euro-2004 e na fase de qualificação para o Mundial 2002. Penso que cada selecção terá cinquenta por cento de possibilidades.
Vai começar o Mundial a sério, e vêm aí os jogos de grande sofrimento e tensão.
Teremos de estar preparados para tudo, e mesmo se eventualmente for a Holanda a passar aos quartos-de-final, esta já será a segunda melhor presença de sempre do futebol português na maior competição do mundo.
Mas, pelo menos até domingo, podemos continuar a sonhar.
Viva Portugal !

5 comentários:

Boabdil disse...

concordo com a sua nalise no geral, mas acho a preciacao ao Nuno Gomes injusto. Nos poucos minutos que esteve em campo fez mais que o Postiga no jogo todo: ganhou mais bolas e distribiui melhor o jog de costas para a baliza. Nao que tenha feito um jogo brilhante, mas nao terá estado muitos furos abaixo do Pauleta. Este ultimo é um optimo jogador mas parece-me que falta algum apoio para as segundas bolas.

Como li o seu post acerca do 4-4-2 diria que em caso de necessidade portugal pode e deve jogar neste sistema usando o Nuno Gomes no apoio direct ao Pauleta.

Belo Blog de bola.

Anónimo disse...

Caro Boabdil,

Relativamente ao Nuno Gomes, apenas disse que se notou não estar ainda no seu melhor.
Acho Nuno incomparavelmente melhor que Postiga. Simplesmente não joga há três meses e isso viu-se em campo. Ninguém pode dizer que tenha estado muito bem.

Quanto à hipótese de Portugal jogar em 4-4-2, parece-me que se não foi utilizada frente a Angola e ao Irão, também não irá ser com a Holanda que Scolari o irá fazer.
Quem sairia da equipa ? Deco ? nem pensar !, Um dos alas (Ronaldo e Figo) ? também não !
Teria que sair um médio defensivo, o que causaria alguns desequilíbrios tácticos na hora de recuperar a bola.
Se chegarmos aos 80 minutos a perder 2-0 (que o diabo seja cego...), numa situação desse tipo, talvez fosse de arriscar no jogo directo e meter mais um homem na área.

De um modo geral, acho que o sistema táctico deve ser em função dos jogadores que se tem.
Portugal tem grandes extremos, um "dez" fantástico como Deco, e um ponta-de-lança que joga muito bem sozinho (Pauleta).
Este (4-2-3-1)é o modelo em que se potenciam as virtudes dos nossos principais jogadores, pelo que, para já, me parece o ideal.

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