POUCO BRASIL

Do Brasil espera-se sempre espectáculo. É a selecção que normalmente reúne maior quantidade de talentos, esteve presente em todas as edições dos Mundiais FIFA, é penta-campeã, e transporta consigo toda uma mística vencedora que faz dela eterna favorita em todas as competições em que participa.
Por tudo isto se exige ao “Escrete Canarinho” bem mais do que a simples vitória. Exige-se show !
Por tudo isto se tem que dizer que, apesar da vitória frente à Austrália e da consequente qualificação para os oitavos-de-final, o Brasil foi mais uma vez uma desilusão.
Já frente à Croácia o Brasil tinha deixado uma imagem bem distante daquilo que o talento dos seus jogadores permitia esperar. Nesta segunda jornada os problemas voltaram a repetir-se.
Emerson e Zé Roberto não chegam manifestamente para segurar um meio campo nem fazer as respectivas compensações defensivas numa equipa com laterais de vocação extremamente ofensiva e com quatro jogadores exclusivamente de “de bola no pé” (o tão falado “Quadrado Mágico”). Por outro lado, os dois pontas de lança têm-se revelado completamente estáticos e pouco combativos - Ronaldo, magro ou gordo, não joga absolutamente nada, à semelhança do que faz no Real Madrid, onde passa mais tempo em iniciativas publicitárias do que a treinar e onde nunca ganhou sequer um título. Por fim e a agravar a situação, Ronaldinho Gaúcho, depois de uma temporada fabulosa no Barcelona parece surgir algo cansado neste Mundial, com muita pena de quem gosta de bom futebol e esperava um Ronaldinho “maradonizado” para este Mundial da Alemanha.
O resultado de tudo isto é uma equipa pouco imaginativa no ataque (salvo um ou outro pormenor de Kaká ou a irreverência de Robinho quando entra), e algo permeável quando perde a bola, o que faz com que os seus adversários consigam construir situações de golo em catadupa, evitadas por um bom desempenho dos centrais e por um inspirado Dida, além naturalmente de alguma sorte.
É claro que basta Ronaldinho Gaúcho emergir deste seu obscuro início de prova para recolocar o Brasil no topo do favoritismo, pois sabemos o que ele é capaz de fazer quando está bem. Parreira aliás, já demonstrou que se alicerça nas suas estrelas para conseguir um bom resultado (que para o Brasil só pode ser o título), submetendo o equilíbrio do conjunto à coabitação de talentos aparentemente sobrepostos. Todavia, a continuar com este semblante acinzentado, o Brasil terá seguramente grandes dificuldades para ultrapassar equipas como a Argentina ou a Alemanha, para não falar já nos oitavos-de-final, onde terá pela frente Itália, Republica Checa ou Gana.
Caso as estrelas insistam em não brilhar, julgo ser de considerar a hipótese de proceder a uma revolução no conceito táctico desta equipa, com o recurso a homens como Gilberto Silva, Juninho Pernanbucano, Robinho ou Fred, pois opções é coisa que não falta no plantel brasileiro. O jogo com o Japão será certamente uma boa oportunidade para as testar.