O MUNDIAL NA TV

Não podendo estar na Alemanha, o Mundial tem-se transformado para mim numa sequeência de torrenciais dias televisivos, procurando perder o menos possível de tudo o que se passa em redor desta extraordinária competição (até agora apenas deixei escapar três jogos, dos trinta já realizados).
Nesse sentido, aspectos relacionados com as transmissões televisivas que normalmente passam um pouco ao lado do adepto comum de futebol, nesta fase assumem uma relevância digna de nota.
Em primeiro lugar há que destacar a pobre realização televisiva dos alemães, que além de seguirem escrupulosamente as (obtusas) indicações da FIFA acerca da censura às repetições dos lances polémicos - como se assim o deixassem de ser -, manifestam por vezes uma intrigante desatenção, deixando passar cartões amarelos sem que se perceba muito bem quem foi admoestado e porquê. Até nas substituições já se baralharam, o que pode não perturbar quem vê os jogos apenas como um mero passatempo, mas arrelia quem procura entendê-los com paixão, rigor informativo e tenta acompanhar as diferentes nuances tácticas das várias selecções, tanto quanto a televisão o permite fazer.
Entre os comentadores há de tudo. Boas surpresas como José Peseiro – o homem pode não ter capacidade de liderança, não ter espírito ganhador, não ser um disciplinador, mas não há dúvida que percebe de futebol -, confirmações como Humberto Coelho (na SIC), que é sempre um prazer ouvir falar ou Jesualdo Ferreira; decepções como Toni, que também é agradável de ouvir, mas não consegue ser claro a explicar o jogo, Diamantino, que diz mal de todos os jogos e selecções, Pedro Barbosa ou Jorge Costa, ainda demasiado “jogadores” e pouco “especialistas” no discurso; e casos absolutamente pitorescos como os comentários de Aloísio aos jogos do Brasil, nos quais, eu pelo menos, não consigo perceber uma só palavra do que diz, pois além de ter um sotaque muito fechado e uma voz abafada, fala muito depressa e certamente que para bem longe do microfone (acredito que fale bem...).
Quanto aos programas de debate e resumos, o da RTP com Carlos Daniel na liderança, é de longe o mais eficaz. Além de bons e alargados resumos, conta com a mais valia que constituem os comentários de Luís Freitas Lobo, entre outros convidados de ocasião de onde sobressai a presença regular do Porfessor Marcelo Rebelo de Sousa, exímio comunicador como se sabe. Chego a ter pena é do pobre do Paulo Catarro, que não só ficou em Lisboa (longe de uma numerosa equipa de profissionais da RTP na Alemanha), como tem que apresentar as imagens tendo por cenário um “estádio virtual” cujo significado e interesse ainda não consegui captar.
Quanto à Sport Tv, com uma programação bem estruturada, e resumos a horas certas (óptimos para quem gosta de os gravar), apenas se lamenta que com tantos assinantes não tenha dinheiro para cobrir mais jogos no local, pois apenas os de Portugal têm merecido comentadores no estádio. Além de perder o efeito sonoro de muito maior carga dramática, na maioria dos casos o comentador não está em condições de acrescentar nada à transmissão do jogo. Por vezes mais valia colocarem no ar apenas o som ambiente...
Queria ainda lamentar que, no meio de uma verdadeira inundação informativa acerca do evento, não haja o cuidado de evitar gaffes como a de se dizer - reiteradamente e em diferentes canais -que Angola tinha ajudado Portugal com o seu empate perante o México, quando a vitória do México também apurava Portugal e o único resultado que o não faria era justamente a vitória de... Angola.
Por fim, uma nota apenas para os insuportáveis comentários em rodapé generalizados como uma praga a quase todos os programas televisivos. Numa época em que, com a comunicação social totalmente empresarializada e concentrada, a voz do povo cada vez menos se faz ouvir naquilo que verdadeiramente interessa, esta absurda forma de fingir o contrário parece-me cínica e abusiva, sobretudo tendo em conta o aspecto financeiro que está por detrás, consubstanciado no preço das chamadas. A pobreza dos comentários é confrangedora e parece bem abaixo de qualquer conversa de café, à semelhança aliás das entrevistas de rua feitas a "adeptos" aos gritos. Recuso-me a aceitar que seja aquela a imagem do país. Um horror, que só serve para perturbar a atenção, cortar uma parte da imagem e estragar a gravação de jogos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Tu não eras para ir à Alemanha ?

Anónimo disse...

Sim. Pensei ir lá passar uma semaninha de férias e andar de comboio dum lado para o outro a ver jogos (ou nos estádios à volta de Colónia, ou ficando em Berlim e indo a Leipzig, Hannover e Hamburgo).
Candidatei-me na net logo na primeira fase da venda de bilhetes, mas fiquei fora do rateio.
Depois, já não dava para escolher datas e jogos disponíveis e concentrá-los numa semana, e acabei por desistir da ideia.
Paciência...

Anónimo disse...

Pois, eu lembro-me de me falares nisso na altura.

Anónimo disse...

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