AÍ ESTÁ ELE !
O Campeonato do Mundo é o expoente máximo de cada quadriénio de futebol.
Por mais que se goste dos clubes, das discussões em redor das arbitragens, das picardias entre adeptos, a verdade é que, enquanto esses aspectos marginais se esgotam no seu próprio imediatismo, a história dos mundiais confunde-se com a história do próprio futebol.
Os maiores futebolistas de sempre ficaram, todos eles, de algum modo ligados a um ou mais mundiais, e edificaram as suas carreiras a partir de inesquecíveis prestações realizadas nesses grandes palcos. Pelé deslumbrou em 1958 e 1970, Maradona em 1986, Cruyff e Beckenbauer em 1974, Eusébio e Bobby Charlton em 1966, Garrincha em 1962, Platini em 1982 e 1986, Zidane em 1998, Ronaldo em 2002 e Romário em 1994, entre outros.
Também a nível táctico, foram os campeonatos do mundo a marcar as grandes inovações, desde o mítico WM ao “futebol total” (a última grande revolução táctica protagonizada pela Holanda de Rinus Michels), passando pelo 4-2-4, pelo 4-3-3, até aos dispositivos da actualidade, que variam entre as reminiscências deste último, o 4-4-2, o 4-5-1 e o 3-5-2.
As histórias em redor dos mundiais são elas próprios autênticas lendas do desporto-rei. Quem não viu ou ouviu falar do golo de Maradona com a mão à Inglaterra ? ou da reviravolta do Portugal de Eusébio contra a Coreia ? ou o plémico golo da Inglaterra frente à Alemanha no mesmo torneio? ou dos golos de Paolo Rossi ao fantástico Brasil de 1982 ? ou mesmo da ainda mais célebre e dramática derrota brasileira de 1950, em pleno Rio de Janeiro frente ao vizinho Uruguai ?
Este vai ser o “meu” oitavo Mundial (no primeiro na Argentina, tinha oito anos), e em todos eles vivi, e mais tarde revivi, momentos inesquecíveis.
O contrário do adepto português mais comum, apesar de adorar o meu clube, sempre gostei ainda mais de futebol do que do Benfica. São realidades distintas é certo, mas para além de todos os factores identitários que envolvem a relação com um clube (e a minha relação com o meu clube é fortíssima) o espectáculo em si, as estrelas, os golos, as cores, a incerteza do resultado, sempre foram, por si só, mais que suficientes para alimentar a minha paixão por este desporto. Percebo isso claramente em alturas como esta, e percebi-o mesmo noutros eventos desta natureza onde não estava sequer a selecção portuguesa.
Em 1978, aquando do Mundial da Argentina, disputado nos terríveis tempos da ditadura de Videla no país das pampas, o futebol estava ainda longe de ser o produto eminentemente televisivo que hoje é. Em Portugal, a única estação existente (RTP) apenas transmitia a final da Taça dos Campeões Europeus, a final da Taça de Inglaterra, e um ou outro jogo que a selecção nacional disputava fora do país. Resumos, só ao domingo à noite, e normalmente apenas do jogo mais importante da jornada, num programa chamado Tele-futebol apresentado por Cordeiro do Vale ou Amadeu José de Freitas (que mais tarde daria lugar ao Grande Encontro de Mário Zambujal, posteriormente ao Girabola e ao Domingo Desportivo que se manteve muitos anos).
Nesse Junho de 1978, faz agora vinte e oito anos, o Mundial proporcionava a possibilidade de os portugueses assistirem pela TV a quinze jogos de alto nível (alguns deles em diferido), e só isso que fosse, chegava para gerar um entusiasmo imenso à volta da competição. Terá sido aí que nasceu o meu fascínio pelos campeonatos do mundo e por tudo o que eles representavam. Eram a festa do futebol. Um verdadeiro éden para adeptos ávidos de ver os grandes craques - de quem apenas ouviam falar - em acção, ainda que o preto e branco dos receptores não permitisse identificar as cores dos equipamentos, nem apreciar o verde do relvado.
Recordo-me de todos os jogos desse campeonato e de, um mês depois, ver pela primeira vez, embevecido, as cores dos equipamentos da Holanda, do Peru, da Polónia etc, numa edição hors-série do “Onze” sobre o Mundial, que ainda tenho guardada.
Quatro anos depois, já a cores, recordo-me daquele que foi até hoje o melhor Campeonato do Mundo do meu tempo. Coabitaram na mesma competição jogadores como Zico, Sócrates, Falcão, Rummenigge, Paolo Rossi, Boniek, Blokhine, Keegan, Breitner, Bruno Conti, Maradona, Kempes, Dasaev, Santillana, Krankl, Madjer, Platini, Giresse, Tigana, Cubillas, Roger Milla, Dalglish, Pfaff, Zoff, Antognioni, Gerets ou Whiteside. Era a primeira vez que a prova era disputada por vinte e quatro países, o que representava um acréscimo significativo de jogos. Dos quinze jogos transmitidos aquando do Argentina-78 , passava-se agora para cinquenta e dois !
O jogo de abertura em Nou Camp, disputado entre Argentina e Bélgica (que os belgas venceram surpreendentemente por 1-0) representou desde logo uma sensação indescritível de início de festival (ainda por cima coincidia com o início das férias escolares). Nunca esquecerei o célebre Brasil-Itália (2-3), que terminou em tristeza profunda, ou o Alemanha-França (3-3) das meias finais, ainda hoje considerados entre os melhores jogos de futebol alguma vez disputados.
Depois foi o México, de Saltillo e de Maradona, que terá feito nesse torneio as melhores exibições da sua sumptuosa carreira. No Itália-90 o futebol foi fraco e o entusiasmo também (salvou-se o toque africano de Roger Milla), mas em 1994 (no Mundial de Romário e Roberto Baggio), e sobretudo em 1998 (outro grande torneio, com Zidane, Ronaldo, Rivaldo, Beckham e Batistuta), o Mundial recuperou toda a sua magia e, ainda que já numa época de abundantes transmissões de futebol na televisão, não deixou mesmo assim de constituir um verdadeiro zénite para qualquer adepto do futebol-espectáculo.
Infelizmente o último campeonato, na Coreia e no Japão, não foi aquilo que se esperava, pois o fraco futebol e os erros de arbitragem foram a nota dominante.
Certamente que no seu regresso à Europa, onde o futebol tem outra tradição e envolvência, o Campeonato do Mundo voltará a oferecer momentos de deleite a quem dele tanto gosta. Artistas não lhe vão faltar, pois Ronaldinho, Messi, Rooney, Henry, Ballack entre outros possíveis candidatos (como os nossos Deco e Cristiano Ronaldo), são perfeitamente capazes de fazer reviver outros tempos aqui recordados. Ao contrário do que cheguei a pensar (e a tentar), não será ainda este o primeiro Mundial que poderei presenciar. Estou resignado, e preparado para 2014, no próximo disputado na Europa. Por ora, irei desfrutar via TV, tal como aconteceu com todos os outros, ainda que a inesquecível experiência do Euro-2004 me tenha deixado água na boca para este tipo de competições, e todo o ambiente que nelas se vive.
Já que falo em Euro-2004, para nós portugueses este Mundial poderá ainda renovar a alegria colectiva dos bons resultados, que nas últimas participações nesta competição andaram arredios. Faz já quarenta anos que Eusébio e companhia levaram a selecção nacional ao terceiro lugar do Campeonato do Mundo. É tempo de nos reconciliarmos com a história e vivermos, também no Mundial, todo o entusiasmo inesquecível que rodeou o nosso Europeu.
Se assim não puder ser, o Mundial não irá contudo deixar de ser aquilo que sempre foi: o maior espectáculo desportivo do mundo !
8 comentários:
Caro amigo, a tua paixão pelo futebol é evidente neste comentário. Não tenho duvidas que durante este mês vais ser feliz, independentemente do exito dos nosso magriços, patrícios.. Reparo agora que os moços não têm nome? Ou se têm, não tem sido muito divulgado…
Ótimo texto!!!!!!
Obrigado pelas vossas palavras.
Vai ser 1-0 a Angola 2-0 ao Iraõ e 3-0 ao México. Vão ver...
viva Portugal
Here are some links that I believe will be interested
Keep up the good work. thnx!
»
Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
»
Na época de 77-78 para além do Telefutebol de cerca de 20 minutos, transmitido lá para as 23 horas, já havia o Grande Encontro que ia para o ar das 18.30 até ás 20 horas e possivelmente já mostrava reportagens da jornada futebolística.
A partir de 78-79, passou só a haver o Grande Encontro, que pelo menos num domingo de Fevereiro de 1979 foi para o ar desde as 14 até ás 17.40 ,só por curiosidade a seguir deu mais um episódio da Abelha Maia, e aos sábados dava o Desporto 79, programa de 30 minutos.
Será que algum dia, vai aparecer algum iluminado que ponha no ar estes clássicos do desporto na nossa RTP MEMORIA?
Enviar um comentário