UM TIRO NO PÉ

O Benfica, perante mais de quarenta e cinco mil pessoas, desaproveitou de forma quase suicida a oportunidade que se lhe deparava de aproximação ao Sporting, na luta pelo acesso directo à Liga dos Campeões.
Koeman pediu desculpa aos adeptos pelos primeiros quarenta e cinco minutos, mas a verdade é que podia tê-la pedido também por um largo período do segundo tempo, pois só após o 0-2 e a entrada de Manduca, os encarnados jogaram um futebol capaz de justificar o amplo favoritismo que traziam para esta partida. Ainda foram a tempo do empate, mas os dois pontos perdidos não deixam de ser um rude golpe na esperança de aceder directamente à próxima edição da Champions League, que a derrota do Sporting na véspera proporcionara.
O técnico holandês, antes de lançar o anátema da culpa em cima dos seus jogadores, podia também reflectir sobre o seu desempenho à frente de uma equipa que era campeã quando ele lhe pegou, mas passado um ano, muitos reforços depois, e mau grado algumas excelentes prestações internacionais, a verdade é que continua a denotar uma incrível desorganização e falta de imaginação em campo, não tendo ainda encontrado, à 30ª jornada, a receita para ultrapassar defesas rigorosas e povoadas como são as da maioria das equipas que visitam a Luz na competição nacional. Devia também repensar certas opções que tem tomado e que, mais do que fragilizarem a performance técnico-táctica da equipa – de onde ressaltam os paradigmáticos casos de Marcel e, sobretudo, Laurent Robert – têm fragilizado a coesão do grupo, que se tem apresentado nos jogos domésticos sistematicamente sem alma de campeão, deixando a quem assiste a constante e incómoda sensação de desunião entre jogadores, e entre estes e o seu técnico.
A direcção do clube da Luz deve equacionar muito bem no final desta época, se um técnico com o perfil deste holandês, proveniente de uma cultura de matriz eminentemente nórdico-protestante, por norma um tanto negligenciadora de aspectos de índole psicológica, será o mais adequado para gerir um plantel onde abundam latinos e sul-americanos, cujas idiossincrasias comportamentais requerem seguramente um estilo de liderança muito mais afectuoso e estimulador. Na minha opinião, apesar da gratidão a que os bons resultados europeus obrigam, não me parece que o Benfica tenha muito a ganhar com a continuidade de Koeman no comando da equipa. Um renascer da filosofia da época passada, começada a edificar dois anos antes por José António Camacho, seria quanto a mim o caminho mais próximo para a reconquista duma hegemonia nacional, sem a qual as eventuais boas prestações e vitórias europeias acabam por ficar de algum modo descalças de uma sustentabilidade efectiva.
Mas deixando este tipo de análise para o final de um campeonato que ainda não acabou, o que se pode dizer do jogo de ontem é que, apesar de todas as críticas que se possam fazer, o Benfica até podia e devia ter ganho. Em primeiro lugar porque criou várias oportunidades (além dos dois golos teve, pelo menos, mais quatro ocasiões flagrantes); em segundo porque o Marítimo - à imagem do seu técnico e daquilo que havia feito no mesmo local ao leme da equipa do Gil Vicente logo na segunda jornada – nada fez para ganhar o jogo, e passou grande parte dos noventa minutos tendo como única estratégia a queima de tempo e a irritação aos adversários e ao público; e em terceiro porque o árbitro não assinalou uma grande penalidade por empurrão pelas costas a Ricardo Rocha, que no momento em que sucedeu, podia ter ajudado a virar o jogo (além deste lance houve um outro com Miccoli, que no entanto é desculpável pois a bola não estava no local, e no estádio confesso que também não me apercebi da agressão).
Já referi acima que os últimos minutos do Benfica foram empolgantes, com Mantorras, Simão e Manduca muito activos e empenhados em evitar a derrota, e um Marítimo já desesperado, quase sem sair da sua área, e completamente incapaz de trocar dois passes sem perder a posse de bola. Julgo que, se o jogo durasse mais cinco minutos, o Benfica poderia chegar a uma vitória que os seus quarenta e cinco mil adeptos presentes bem mereciam. Paradoxalmente, esses momentos foram jogados com um esquema táctico de três defesas, que Koeman tentou implementar no início da época e ao qual entretanto nunca mais voltou.
Individualmente, além dos três casos referidos, gostaria de absolver também Léo, Manuel Fernandes, Ricardo Rocha e Petit, este apenas pelo golo marcado.
Pela negativa, além de um Marcel pesado, lento e complicativo, há que referir um Nelson claramente inferiorizado, e um inqualificável Laurent Robert, que sendo seguramente dos mais bem pagos do plantel, insiste em evidenciar uma indolência e uma apatia absolutamente incompreensíveis num jogador com as referências que este francês trazia (recordo as palavras de José Mourinho dizendo tratar-se de uma grande contratação). Luisão esteve mal no lance do segundo golo madeirense, enquanto que Moretto, depois da segura exibição da Catalunha, voltou aos seus piores momentos, com duas “morettisses" crassas (perdoem-me a expressão, que todavia acho ser a mais adequada para descrever os respectivos lances) que mais uma vez, para sua felicidade, não resultaram em golo (mas mesmo nos golos, o brasileiro podia ter feito mais).
Sobre o árbitro, além do que disse acima, será ainda relevante referir que a grande penalidade assinalada não oferece qualquer dúvida, tal como o golo bem anulado a Miccoli. No cabeceamento de Mantorras que Marcos defende sobre a linha, ficou a dúvida se a bola a teria ou não ultrapassado. Em consciência não poderei afirmar uma nem outra coisa, pelo que sou forçado a dar o benefício da dúvida ao árbitro assistente.
O segundo lugar não fica assim nada fácil para os da Luz, pois além dos quatro pontos de desvantagem, o Sporting leva a melhor no confronto directo, o que o obrigaria pelo menos, a perder um jogo e empatar outro, dos quatro que restam, tendo o Benfica que vencer todos os seus (entre os quais três deslocações ao Bessa, Choupana e Mata Real perante um dos mais aflitos), para haver um volte-face classificativo. Com uma vitória ontem, e a pressão que cairia sobre os leões, talvez fosse possível lá chegar. Assim não é crível que tal aconteça, pelo que teremos o Benfica, em ano de mundial, a ter de começar a época bastante mais cedo e a ficar dependente dos ditames de um sorteio para se saber que tipo de adversário terá que ultrapassar para entrar na elite do futebol europeu.

5 comentários:

Anónimo disse...

Koeman prá rua !
Volta Camacho !

Robert, Beto, Moretto, Marcel e Marco Ferreira fora !!!

Anónimo disse...

Chamo a atenção para o facto de Beto ser dos jogadores mais lutadores do Benfica.
Eventualmente não deveria ser titular tantas vezes, mas penso que cabe no plantel.
Quanto aos outros...

Anónimo disse...

Tenham lá calma.
O segundo lugar ainda não está perdido.
Vamos esperar até ao fim da época.

Anónimo disse...

Se o Benfica não ganhar no Bessa, prometo para a próxima semana um post sobre aquilo que eu considero devesse ser o Benfica de 2006-2007.
Enquanto o segundo lugar for matematicamente possível, não quero desestabilizar ainda mais.

Anónimo disse...

Por mim, já não vejo hipótese...