LEMBRAR 1995

Maio de 1994, Manuel Damásio, presidente do Benfica, embriagado por um título conquistado numa época muito peculiar e por uma bem sucedida campanha de angariação de novos sócios, decidiu afastar o técnico campeão Toni e contratar aquele que era, na altura, um autêntico “Rei Midas” do futebol português, o circunspecto e sofisticado Artur Jorge.
A uma equipa campeã, que primava pela coesão e camaradagem (além do talento de Rui Costa, João Pinto, Isaías ou Paneira) não seria necessário adicionar muita gente, até porque a situação financeira era calamitosa. Ainda assim entraram (já com aval do novo treinador) Preud’Homme, Caniggia, Tavares, Nelo, Stanic, Edilson, Rui Esteves, Amaral, Clóvis, Paulo Bento e Paulo Madeira (uns muito bons, outros nem tanto).
Artur Jorge levou a equipa aos quartos de final da Liga dos Campeões, sendo derrotado pelo Milan, com quem perdeu em San Siro por 0-2 (num jogo que levou o técnico a dizer que aquela era a pior equipa que alguma vez havia orientado), empatando depois na Luz a zero.
No campeonato, o Benfica ficou em terceiro lugar, e desde cedo afastado da luta pelo título, sendo também afastado da taça pelo Vitória de Setúbal no Bonfim, num jogo após o qual Artur Jorge decidiu abandonar os seus jogadores e seguir sozinho de taxi para Lisboa. Já nessa altura havia sinais claros de instabilidade no balneário, causada, quer pela problemática integração dos novos elementos, quer pelo relacionamento dos principais jogadores do plantel com o treinador.
No verão de 1995 Manuel Damásio, ainda convicto da sua aposta, não só manteve a confiança na equipa técnica, como lhe deu amplos poderes para restruturar a equipa. Artur Jorge dispensou então jogadores como Neno, Veloso, Mozer, William, Vitor Paneira, Isaías e César Brito, para sugerir a contratação de, entre outros, King, Paredão, Marcelo, Luíz Gustavo, Mauro Airez, Hassan ou Paulão.
Ao fim da terceira jornada o Benfica apenas tinha dois pontos, resultantes de dois empates em casa com V.Guimarães e Salgueiros, obrigando Manuel Damásio, já fortemente pressionado, a tomar uma decisão.
O Benfica ficou então sem treinador (viria a ser Mario Wilson a pegar nas pontas e salvar a época na célebre taça do very-light), e sem a maioria dos seus principais jogadores (além dos dispensados, Rui Costa e Schwarz haviam sido vendidos, e os russos Kulkov, Yuran e Mostovoi saíram em litígio com toda a gente).
O clube mergulhou então na maior crise da sua história, esteve mais dez anos sem ser campeão, durante os quais as convulsões directivas e a falta de qualidade das dezenas de jogadores que por lá foram passando, acabaram por ser as notas mais salientes.
Quando se coloca a hipótese de o clube da Luz manter o holandês Ronald Koeman no comando da sua equipa de futebol, é bom que dirigentes, sócios e adeptos se recordem do que se passou em 1994 e 1995.
Todos temos obrigação de aprender com a história e, embora ela não se repita, há verdades que são eternas. Pior do que cometer um erro é insistir nele.

6 comentários:

Anónimo disse...

É impressionante a coincidência...
Artur Jorge liquidou o Benfica, e demorámos mts anos a voltar a ganhar.
Acho q agora vai ser diferente, mas convém ter cuidado.
Se R.Koeman ficar, podem sair Quim, Ricardo Rocha, Mantorras e Nuno Assis. Se Simão e Luisão forem vendidos ficamos sem equipa

Anónimo disse...

Foi justamente para isso que eu quís chamar a atenção.
Quando se dá certos poderes a um técnico, tem de se ter total confiança no seu trabalho.
A mim, pessoalmente, o perfil de Koeman inspira-me muitíssimas dúvidas.
Até acredito que perceba de futebol, mas parece-me desenquadrado da realidade do Benfica, sua história recente, e características da Liga Portuguesa (e não terá feito um grande esforço para colmatar essa lacuna). Algo que nunca senti relativamente a Camacho e Trap.

Anónimo disse...

...e creio que não terá o balneário com ele.
Os campeões foram os jogadores, ele não ganhou nada, logo entre uns e outro não tenho dúvidas em quem abandonar.

Anónimo disse...

Pois é,
E teve reforços com fartura, ao contrário dos treinadores antes dele.

Anónimo disse...

Há demasiadas conincidencias
- 3º Lugar a uma dezena de pontos do Porto
- Perdemos os 2 jogos com o SCP
- Ficamos pelos Quartos nos Campeões, por sinal com o mesmo resultado deste ano (0-0 na Luz e 2-0 em San Siro).
Houve jogos em que o Mr. Artur Jorge só fazia 1 substituição (na altura só podia fazer 2) e houve mesmo jogos onde não efectuou nenhuma.
Ou seja o filme se não é igual é muito parecido

Anónimo disse...

Veremos se o final é diferente.
Na altura foi um erro crasso não deixar cair Artur Jorge, mantendo Paneira, Isaías, Mozer, Neno Veloso, C.Brito etc.
Temo que o mesmo erro seja cometido agora com Koeman, para depois acabar demitido a meio da época, com jogadores entretanto dispensados e contratações inadequadas.
Mas o Benfica tem a estranha sina de prescindir de técnicos campeões e ficar com os que nada ganham...
Confiemos em Vieira