RESISTIR
Estamos a 31 de Janeiro, e até às doze badaladas da meia-noite, a angústia ocupará os nossos espíritos. Alguém deixará o plantel? Como ficará a equipa? Como ficarão os adversários? Quem sairá mais enfraquecido desta espécie de roleta de Inverno? E a Turquia? E a Rússia? E os árabes? Ainda estarão abertos a negócios? Até quando? Porquê? Não me recordo de quem partiu a infeliz ideia de abrir o mercado de transferências de jogadores em plena competição. Mas partiu, seguramente, de alguém que gostava pouco de futebol. Se o calendário de Verão já oferece muitas dúvidas (sobretudo pelo seu encerramento tardio), esta “janela” de Janeiro é uma verdadeira monstruosidade. Porém, ela existe, pelo menos até ao dia em que, para além de recolher os ovos de ouro, os agentes interessados se lembrem também de cuidar da galinha que os põe. Entretanto, e com o entusiástico suporte da comunicação social, assistimos, durante semanas a fio, a uma hemorragia noticiosa – coberta de falsidades, pressões, interesses, e jogadas de bastidores típicas desta espécie de off-shore global em que se transformou o mundo da bola - que deixa as equipas expostas à incerteza, quando não a vulnerabilidades desportivas inesperadas, justamente na fase da temporada em que a estabilidade tem um preço mais elevado. É injusto pedir a qualquer treinador que forme um conjunto, mantenha automatismos, e incremente uma dinâmica ganhadora, quando, num ápice, em momento chave, vê sair porta fora alguns dos mais valiosos elementos da sua equipa. E, pior que isso, vê outros permanecer contrariados, perante o aceno de agentes parasitários, para quem o futebol se tornou terreno fértil para dinheiro fácil. Poucos estão a salvo. Apenas os financeiramente mais poderosos, sendo aqui o futebol uma perfeita metáfora da própria vida. Situado num país periférico, o Benfica não escapa a estas ameaças. É forçado a enfrentá-las, e por vezes a ceder-lhes. Que a meia-noite chegue depressa. Que o mercado feche a porta. Que o futebol resista.
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