À HORA CERTA
Sou do tempo em que as tardes de domingo eram sinónimo de futebol. A jornada começava integralmente às 15.00 horas, e terminava às 17.00 horas. No horário de Verão, acrescentava-se uma hora. À noite viam-se os resumos, já no conforto do lar, preparando uma semana de trabalho ou de escola, conforme o caso. A partir da década de noventa, as transmissões televisivas foram afastando o futebol do seu horário natural, afastando, com isso, o povo dos estádios. Talvez fosse esse o intuito daqueles a quem convinha que a estrutura de receitas dos clubes ficasse cada vez mais dependente do cachet televisivo, tolhendo-lhes assim a capacidade negocial, numa relação de poder que se foi tornando cada vez mais assimétrica. Ao passo que nas principais ligas europeias continuámos a ver as principais partidas disputadas à luz do dia, em Portugal quase todos os jogos foram progressivamente empurrados para horário nocturno - por vezes aos sábados, mas também aos domingos, e até às segunda-feiras. Lá fora, estádios cheios. Cá dentro, bancadas tristes e despidas. Lá fora, sustentabilidade financeira. Cá dentro, operadores televisivos ricos e clubes falidos. No caso do Benfica, tratando-se de um emblema com implantação de norte a sul do país, parte significativa dos sócios e adeptos viu-se impedida de se deslocar à Luz. Para quem resida, por exemplo, em Viseu, Guarda, Bragança ou Faro, sair do estádio às 23.00 horas, e ainda ter de suportar uma longa viagem, não pode deixar de ser um exercício penoso, sobretudo se no dia seguinte houver que trabalhar bem cedo. O regresso do futebol às tardes de domingo (ou de sábado) é pois uma excelente notícia que esta temporada trouxe aos benfiquistas. Principalmente àqueles que vivem fora de Lisboa, e para quem ao próprio jogo há que acrescentar a duração da viagem de regresso a casa. Vicissitudes várias talvez ainda não tenham permitido que tal se reflicta com firmeza no número de espectadores no estádio. Mas o tempo irá seguramente dar razão a esta aposta.