PONTO...DE INTERROGAÇÃO


Só no final do campeonato se saberá, em rigor, se o Benfica ganhou um ponto, ou perdeu dois, na sempre difícil deslocação a Braga.

Por um lado havia a expectativa de uma eventual liderança isolada (que saiu gorada), e o destino trouxe ainda o ensejo de, no último lance do encontro, um golpe de felicidade (porventura imerecido) poder garantir os três pontos. Mas por outro lado, há um histórico recente de derrotas na Cidade dos Arcebispos que não nos deixa tomar este resultado por uma catástrofe, para mais sendo ele obtido em circunstâncias muito pouco favoráveis (penálti duvidoso, indisposição de Gaitán, quebras de luz, necessidade de recuperar da desvantagem, tradicional hostilidade bracarense, etc). Empatar hoje em Braga é, para qualquer equipa europeia, um resultado (pelo menos) normal, e não podemos esquecer que este empate permite aos encarnados manter a liderança partilhada da Liga, e também a invencibilidade absoluta em provas oficiais na corrente época (o que, diga-se, é um registo deveras apreciável). Não creio que se possam comparar os dois pontos agora perdidos, com aqueles que o Benfica deixou em Barcelos, ou mesmo com os que, no contexto europeu, o Basileia o impediu de alcançar na passada semana. E não me parece que, se a equipa de Jorge Jesus não vier a ser campeã, possa ser este o primeiro resultado a ser chorado.

Dito isto, há que olhar para a forma como o jogo decorreu, e perceber que o Benfica se expôs seriamente à derrota. Há quem me acuse de resultadista - provavelmente porque entendo dever festejar todos os triunfos, sejam eles justos ou não. Mas se o empate em Braga acabou por não ser, como digo acima, um resultado totalmente negativo, a verdade é que a exibição deixou muito a desejar, e no papel de analista (que aqui desempenho) não posso deixar de a relevar.

Nos últimos tempos, sobretudo desde a “transferência” de Jorge Jesus, os jogos em Braga tornaram-se particularmente complicados para o Benfica. A hostilidade é total, a agressividade dos jogadores da casa vai muito para além dos limites, a pressão do público sobre todos os intervenientes (particularmente sobre os árbitros) faz-se sentir mais do que seria natural, e os episódios macabros sucedem-se (confusões nos túneis, expulsões a pedido, arremesso de bolas de golfe, faltas de luz, etc). Três derrotas depois (Liga 09-10, Liga 10-11, e Liga Europa), o Benfica ainda não aprendeu como enfrentar este tipo de desafio, ficando a dúvida se tal incapacidade se deve a questões estruturais relacionadas com o perfil do seu plantel (mais plástico, mais artista, menos guerrilheiro), ou tão somente à persistência de uma atitude expectante e passiva que lhe tem vindo a sair cara. O que é certo é que nestes jogos vemos, invariavelmente, uma equipa minhota de faca nos dentes, a comer a relva, a pressionar o árbitro, a agredir, a simular faltas e agressões, a disputar cada bola como se dela dependesse a vida, e do outro lado um Benfica de smoking, a procurar impor uma superioridade técnica que manifestamente não faz parte do guião daquele filme.

A história repetiu-se uma vez mais, e mesmo um Sp.Braga, no meu ponto de vista, inferior ao de Domingos Paciência, conseguiu levar a sua avante, impondo-se no jogo, e manietando o Benfica – retirando-lhe os espaços, retirando-lhe a iniciativa e as ideias, obrigando-o, em suma, a bater contra a parede que lhe colocou por diante.

Pode dizer-se que, ao intervalo, com tão pouco futebol jogado, o resultado era injusto. Mas também não acompanho aqueles que dizem ter o Benfica melhorado na segunda parte. Atacou mais, como não podia deixar de fazer, mas sempre sem inspiração (notando-se a saída forçada de Nico Gaitán, seu melhor jogador enquanto esteve em campo), e sempre no fio da navalha de um eventual contra-ataque poder resultar no fatal 2-0. Acabou por ter a felicidade de marcar num lance algo fortuito, mas mesmo a partir daí, quando se esperava um forcing final em busca da vitória, o que se viu foi o Sp.Braga a crescer, a remeter o jogo para as imediações da área de Artur, e um Benfica incapaz de dar a golpada definitiva num jogo que quase nunca lhe correu de feição. À beira dos noventa minutos, confesso que desejava o rápido apito de Pedro Proença. E só o lance final de Rodrigo ofuscou a ideia de que o Benfica estava, por essa altura, encostado às cordas.


Lamento que o Sp.Braga não jogue com este entusiasmo e com esta fúria, quando enfrenta o Sporting, e, sobretudo, o FC Porto. Se assim fosse, não teria dúvidas em considerar este um ponto ganho pelo Benfica, pois dificilmente alguém passaria em Braga. Infelizmente sabemos que a atitude competitiva do Sp.Braga, como de outras equipas do nosso campeonato, é selectiva. Mas é com essa realidade que o Benfica tem de contar, e já era assim há dois anos, quando, sentando-se em cima de tudo isso, conquistou brilhantemente o título nacional.


Pedro Proença teve um trabalho difícil. O jogo foi de muito contacto, de muita pressão, e de grande intensidade. Isso atenua alguns erros que cometeu, como a não expulsão do jogador que agrediu Gaitán com o cotovelo, ou alguns livres mal assinalados a favor do Braga. O penálti é daqueles lances que permite todas as interpretações. O que se lastima é que o critério não seja idêntico em todos os jogos, e perante todos os clubes. Tenho a certeza que o mesmo lance, por exemplo num Sp.Braga-FC Porto, se ocorrido na área portista, não só não seria objecto de grande penalidade, como nem provocaria grandes protestos por parte dos minhotos.

4 comentários:

Jotas disse...

Caro LF, um post de grande análise e bastante realista, como deve ser.
Permite-me apenas um desabafo em função daquilo que vou lendo:
nfelizmente, parece-me que por vezes o maior inimigo do Benfica são os próprios benfiquistas, alguns dos quais, no alto da sua sabedoria, certamente seriam campeões invictos ano após ano, parece até que o Benfica joga sozinho, não tem adversários e que estes não têm o seu mérito, não, o demérito é sempre do Benfica.
Desde a última época que o Benfica foi campeão, só falam do rolo compressor, da equipa das goleadas, etc, etc, eu também vibrei com essa época, foi do melhor futebol que já vi, mas é passado e vou ter de lembrar, que essa equipa fantástica perdeu em Braga por 2 a 0, que essa equipa fantástica tinha menos pontos que a actual que tão criticada pelos benfiquistas tem sido.
Julgo que uma equipa que tem 19 jogos oficiais, alguns dos quais de elevado grau de dificuldade, merececia mais carinho e apoio dos seus adeptos

LF disse...

Da minha parte tem todo o carinho, como sempre teve.
Reconheço a invencibilidade, e acho que os objectivos estão todos em aberto.
Mas ser do Benfica também é avisar quando as coisas estão a entornar-se. E há seguramente mais de um mês que não vejo o Benfica jogar um futebol compatível com a capacidade do plantel, e as expectativas dos adeptos.

No ano do título, o Benfica tinha mais um ponto do que tem agora. E o Porto tinha perdido já dois jogos e empatado outros tantos, enquanto o Sporting estava fora da luta.
A situação era substancialmente diferente, e muito mais favorável.

O GLORIOSO disse...

Caro Luis sinceramente fico admirado com as suas analises ultimamente.
Ponto de interrogação porquê? Quer como outros que jogamos sempre com a tal nota artistica como aconteceu muito no ano passado.
Depois onde vê uma situação mais favoravel como no ano do titulo que agora? Pois é tinhamos mais 1 ponto, mas tinhamos 1 derrota precisamente em Braga e ainda não tinhamos ido ao antro da corrupção.

Estamos a jogar pouco é verdade mas mais verdade é que com 1 terço do campeonato estamos em 1º sem derrota tendo já ido ao Porto e a Braga, estamos numa situação muito favoravel na Champions e juntamente com o Barça somos os unicos que ainda não perdemos em toda a Europa. Isto sim são factos e é isso que me interessa quero lá saber de bons jogos e de futebol fantástico quero é ganhar titulos.
Aliás nas 2 proximas jornadas com 2 vitorias o titulo ficará muito bem encaminhado. Diga-se estamos em melhor situação que em 2009/2010.

P.S- Diga um jogo brilhante do Benfica campeão de Trapattoni?

Anónimo disse...

É õbvio que os apagões foram propositados. Coitados dos braguinhos, andavam a queixar-se de terem tido pouco tempo para descansar pois haviam jogado na 5ª feira.
E claro, fazer aquecimentos de 10 minutos e parar, repetindo e repetindo, é muito diferente de fazer 45 minutos seguidos...
E mais ainda porque o Benfica tinha tomado conta do jogo desde o início, aguadando-se a cada momento o seu golo...
A máfia das Antas faz escola...
A.Rodrigues