CASTIGO MERECIDO


Com uma exibição demasiado pobre, o Benfica desperdiçou esta noite uma excelente hipótese de garantir o apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. A situação era particularmente generosa, mas, por isso mesmo, ou por outra qualquer razão, a equipa da Luz não esteve à altura das circunstâncias, fracassando de forma clara e preocupante.






O empate cedido perante o Basileia não deixou que os encarnados acompanhassem Real Madrid, Barcelona e Milan como equipas qualificadas à quarta jornada da fase de grupos; deitou fora os quatrocentos mil euros de prémio da UEFA; praticamente liquidou a eventualidade de vencer o grupo, e assim manter algumas aspirações para além dos oitavos; impedindo também uma gestão mais tranquila, e menos desgastante, do calendário competitivo até ao Natal. Consequências demasiado pesadas para encarar este empate de ânimo leve, até porque ele não é mais do que o consumar de algo que os últimos jogos vinham crescentemente anunciando.






Quem olhar apenas para os resultados da corrente época, vendo um percurso imaculado de qualquer derrota, um início de campeonato estatisticamente perfeito, e uma porta ainda bem aberta para a fase eliminatória da Champions, será levado a acreditar que o Benfica vende saúde, e segue imparável a caminho de grandes conquistas. Aos olhos daqueles que vêm observando os jogos com atenção (e algum distanciamento), o panorama é, porém, bem distinto. O que se vê, sobretudo nas últimas semanas, é uma equipa cansada, sem chama, insegura, complicativa, e à espera que a sorte (e Artur) a protejam de males maiores. Foi assim em Aveiro, foi assim com o Olhanense (jogos absolutamente miseráveis), e a história repetiu-se esta noite, com consequências mais graves. Mesmo andando algumas semanas para trás, encontramos um empate no Estádio do Dragão, logrado em maior medida por via das substituições suicidárias do treinador portista do que por uma reacção forte a uma primeira parte lastimável, encontramos uma vitória em Bucareste salva por Artur (sempre ele) nos últimos instantes, e triunfos sofridos ante Feirense e V.Guimarães, além do empate cedido em Barcelos. Grandes exibições? Talvez apenas nos jogos com Twente e Manchester United, ocasiões pontuais e já distantes no tempo.






Serve este curto balanço para dizer que as expectativas dos adeptos, o investimento realizado, e os louvores da imprensa, raramente têm encontrado eco no futebol praticado pela equipa de Jorge Jesus, que está a milhas daquele que, há dois anos, com Di Maria, Ramires, Fábio Coentrão, um Aimar mais jovem, e um grande Saviola, enfeitiçou a nação encarnada, apontando desde cedo o caminho do título. Tem-se escrito que há agora mais consistência defensiva. Se ela existe no desenho táctico da equipa (e, sobretudo, na boa vontade de alguma imprensa), a verdade é que não se reflecte nos últimos - e quase sempre aflitivos - minutos de grande parte das partidas realizadas. Ressalvando outra vez Artur (que tem feito, de facto, a diferença), este Benfica é tão sofredor como o do ano passado. Tem tido mais sorte. Até agora.






Não creio que o Basileia seja uma grande equipa. É um conjunto organizado, tem um ou dois bons jogadores, mas não pode ser tomado por mais do que aquilo que é. Jogando em casa, o Benfica tinha obrigação de vencer. Se essa vitória valia um apuramento, qualquer falhanço seria imperdoável. É isso que se exige daqueles com quem o Benfica gosta de se comparar.






As responsabilidades devem ser repartidas. Se há jogadores que parecem completamente desenquadrados das exigências colectivas (Matic, por exemplo, desposiciona-se com uma facilidade irritante, e raramente solta uma bola no timing adequado), e outros totalmente fora de forma (Gaitán, Aimar, Witsel…), há também opções técnicas verdadeiramente incompreensíveis. Cardozo é indispensável no onze, quer tenha alguém a seu lado ou não. É ele que dá peso ao ataque. Sem ele há todo um espaço que fica por povoar, onde caem cruzamentos e passes de ruptura sem alguém que lhes dê sequência, até porque Rodrigo não é um ponta-de-lança puro. Nolito também justificava mais tempo de utilização, sobretudo pela vivacidade que consegue transmitir ao jogo. E depois de se andar a brincar aos defesas-esquerdos (e neste momento é impossível esquecer Capdevila), não percebi porque se queimou uma substituição tirando um jovem lateral de raiz (que estava a fazer o que podia), para colocar um outro jovem, mas neste caso adaptado ao lugar – que, azar dos Távoras, esteve no lance do golo contrário, apenas alguns segundos depois de entrar.






Enfim, com tanto equívoco individual e colectivo, com tão pouca atitude, com tanta indolência competitiva, este “benfiquinha” não mereceia mais.






Infelizmente, os anos vão passando, e a(s) equipa(s) encarnada(s) não consegue(m) libertar-se destes laivos de mediocridade que por vezes a(s) invade(m). Nos momentos decisivos, falta claramente mentalidade ganhadora. Há demasiado espaço para sensações como o deslumbramento ou a ansiedade (conforme os casos). Não há um fio que una os jogadores solidariamente, e os faça comer a relva quando tal se torna necessário. Não há uma cultura de vitória. Não há um espírito de campeão.






Na próxima jornada o Benfica vai provavelmente perder em Old Trafford, e o Basileia vai provavelmente ganhar ao Otelul. Chegar-se-á então à última ronda com empate de pontos na luta pela segunda posição, e com obrigação estrita de vencer os romenos. Estava o pássaro na mão, e provavelmente tudo ficará pendente de um dramático jogo de "mata-mata".






Admito poder estar a ser demasiado exigente, admito padecer ainda de uma hipersensibilidade causada pelas frustrações da época passada (que vão demorar a cicatrizar), mas quando me levantei das bancadas no fim do jogo, apeteceu-me assobiar. Este texto é pois o longo e sonoro assobio que me ficou entalado nos lábios. Também tenho direito a ele, sobretudo depois de ter gasto dinheiro e tempo para, bastante constipado, e numa noite muito pouco convidativa, não deixar de marcar presença junto de outros quarenta mil desgraçados como eu.


Agora só uma vitória inequívoca em Braga me permitirá continuar a acreditar nesta equipa.

13 comentários:

Bruno Pereira disse...

Completamente de acordo contigo! Também lá estive e foi essa a sensação que me invadiu quando acabou o jogo. Já chega de tanta vergonha! Comecem a jogar à bola pois talento existe!
http://orgulhosamentelampiao.blogspot.com/2011/11/uma-ver-go-nha.html

benfica até debaixo d'água disse...

A melhor análise que eu li ao jogo de ontem.

Anónimo disse...

Concordo na íntegra com o comentário e, francamente ainda não entendi o que se passa, mas atrevo-me a dizer que é algo de parecido com a nossa selecção, isto é, há diversos jogadores que não lhes apetece pura e simplesmente jogar mais. Importante será entender o motivo e, para mim que não entendo nada disto, para além do conhecimento dum simples adepto, acho que existem problemas claros de motivação. Problemas causados por o Benfica ainda não ter um sistema táctico definido e, por conseguinte ir variando de jogo em jogo consoante a vontade do seu treinador e não de acordo com as características dos jogadores do plantel; Em consequência do antedito, existem pelo menos uns 3 jogadores claramente fora do posicionamento que melhor potencia as suas características, basta pensar nos alas, que sendo muito mais jogadores do miolo, são totalmente inaptos nas manobras defensivas. Enfim, espero que as coisas melhorem, mas não acredito, porque já toda a gente percebeu que o SLB vai continuar a jogar deste
modo, ao invés de ser feita uma reflexão sobre a forma de melhor aproveitar os enormes talentos individuais que o plantel tem, sem colocar 10 (s) nas alas, sem colocar 8 (s) na posição de 6 (s) etc etc.

Cumprimentos

Guilherme Ferreira

RN disse...

Um dos melhores posts dos últimos tempos. Parabéns!
Para além da falta de atitude, há algo que não consigo entender e que gostava que alguém fosse capaz de explicar: porque é que o Gaitan (e outros, mas ele é o mais evidente) em pleno início de Novembro e tendo sido poupado várias vezes, dá sistematicamente o "estoiro" do ponto de vista fisico entre os 60 e 70 minutos de jogo? A falta de consistência/capacidade fisica tem sido uma constante nas equipas de Jesus, mas este ano está a começar preocupantemente cedo de mais.

PS: O Witsel a fazer o lugar de Aimar não me convence nada...

José Sousa disse...

Foi exatemente este o sentimento com que saí ontem do Estádio da Luz.
É triste e sofredor o que temos visto ultimamemnte...

dezazucr disse...

"Não há um fio que una os jogadores solidariamente, e os faça comer a relva quando tal se torna necessário. Não há uma cultura de vitória. Não há um espírito de campeão."

Jotas disse...

este comentário que fique bem claro não se refere em particular a ninguém, julgo mesmo que só aqueles que sabem que assim são se vão rever nesta crítica.
Analiso este momento sem pânicos, até porque sempre fui avesso ao 8, péssimismo excessivo e teoria do está tudo mal,ou de pedir cabeças a rodos porque para alguns estranhamente bom era no tempo do Vale e Azevedo!!!, nem do 80, euforia desmedida onde toda a gente é fantástica, como vejo em alguns lados e para quem Jesus era mais que um Deus e agora...enfim, coerência da parte deles.
No entanto e analisando o momento, Confesso que saí ontem preocupado do Estádio da Luz, não pelo resultado, até porque em termos meramente desportivos e tendo em conta o objectivo do apuramento, não sendo excelente não foi negativo e deixa o Benfica a depender apenas de si, mas sim pela incapacidade que em muitos momentos do jogo a equipa demonstrou, até porque ao contrário do que alguns dizem, acho este Basileia uma equipa banal e não tenho dúvidas que um outro Benfica, ganharia facilmente.
Preocupado, porque essa incapacidade também não me parece ser de agora, desde o jogo de Aveiro que me parece ver um Benfica em quebra, oxalá esteja enganado agora que se avizinha um ciclo que poderá decidir toda uma época.

Anónimo disse...

desculpe ke lhe diga ms sem verborreia mental era so os jogadores porem na cabeça "epa se a gente ganhar a esses gajos ficamos ja apurados e pode ser ke o treinador nos poupe nos proximos dois jogos ke ja nao contam pra nada pois tamos apurados" assim temos tempo pra descansar mas enfim gajos com sorte a ganharem milhoes com iq de gaitans e witselseis filipe estremoz

mino disse...

So uma palavra para descrever este post e quase todos os comentários
PÉSSIMISMO!!!!!!!

Vasco disse...

101% de acordo contigo! Subscrevo..
E quando não joga naquele 4-4-2 ou como queiram chamar, que mais parece um 4-2-4 à Otto Gloria, joga com um Aimar a 2º avançado e com o Matic muito próximo dos centrais, resultado? meio-campo despovoado!

xirico disse...

Cardozo para além de ser indispensável ofensivamente é um grande activo na estratégia da equipa.Com Rodrigo,a defesa defende em linhas mais baixas,e a culpa aqui não é do Rodrigo pois é o bom jogador.Não sei que raio de estratégia é esta de a meio da 1ªparte se começar a defender o resultado.Ainda não entrámos no Inverno e será que a equipa já está a estoirar?Estes 3 últimos jogos dão cabo da maior da fé dos benfiquistas.Não há fé que resista.

L. disse...

estas a ser demasiado exigente e bota-abaixista. luis martins fe zo primeiro jogo senior da vida, so tinha treinado esta epoca e percebe-se que tivesse saido a meio da segunda parte.

na segunda parte no dragao jogamos bem.

na recepcao ao paços ganhamos bem.

com o olhanense ao intervalo mereciamos estar a ganhar 3-0 e ainda nos roubaram um golo,. com o basileia ficou um penalty por marcar.

obvio que a equipa esta cansada. ninguem se lembra que tivemos que começar a epoca muito mais cedo por causa das pre-eliminatorias? todas as equipas que tiveram isso sofrem as consequencias, vejam a epoca que o guimaraes e nacional estao a fazer. vejam o mesmo em equipas de outros paises.

jesus consegue te ro merito de chegar a novembro sem perder um unico jogo oficial. tentem lembrar-se de um ano assim... so no tempo do jimmy hagan, decerto.

tanta vontade de dizer mal no post e nos comentarios, o nosso maior problema sao estes adeptos que acham que so por sermos benfica temos obrigacao, porque sim, de ganhar sempre QUINJE A JERO.

em 18 jogos oficiais, 2 resultados menos bons: barcelos e recepcao ao basileia. de resto, 12 vitorias e 4 empates que sao positivos.

puxem pela equipa que esta a fazer um grande esforço por passar este momento de dificuldade fisica PERFEITAMENTE NORMAL.

e enoja-me ver acusacoes de "falta de empenho ou de vontade". benfiquismo desse dispensa-se.

capdevilla? deixem-se de tretas. fez 2 jogos, ambos medianos, nao explica absolutamente nada.

sorte? em barcelos houve o contrario, na recepcao ao manchester idem.

os mesmos que dizem que a equipa nao massacra sao os que o ano passado pediam mais contencaoe prudencia...

obrigado, jesus, por continuares o grande trabalho que estas a fazer. haja o bom senso de te renovar ja o contrato.

L. disse...

tanta parvoice. alguns dos comentadores deste post devem ser a favor do uso de doping, ou coisa parecida.