...E TUDO COMO NO PRINCÍPIO

São tradicionais as dificuldades que quase todas as principais equipas sentem após os grandes jogos europeus. Poupando ou não jogadores, a dificuldade está em motivar aqueles que entram em campo, e que tendem a encarar as partidas seguintes em jeito de descompressão. É assim no Benfica, é assim no FC Porto (empatou neste domingo), no Real Madrid (perdeu), no Milan (empatou), no Chelsea (perdeu), no Inter (empatou), no Arsenal (perdeu), ou seja lá onde for, com as inevitáveis excepções que sempre ajudam a compor a regra.



Quatro dias depois de um jogo de grande intensidade, frente a uma das melhores equipas do mundo, com lotação esgotada e os olhos atentos da Europa futebolística, seriam pois de esperar algumas dificuldades no regresso à lide doméstica. Sobretudo tendo por diante uma Académica tradicionalmente complicada (três triunfos na Luz nas últimas quatro épocas), e agora orientada por um dos vários treinadores satelizados pelo FC Porto – o que constitui dificuldade acrescida para os encarnados, na mesma medida em que irá provavelmente proporcionar dois tranquilos passeios aos azuis-e-brancos, quando o calendário os cruzar com esta já muito pouco simpática Briosa.



Deve dizer-se que o Benfica não facilitou. Talvez motivado pelas boas notícias oriundas de Aveiro, entrou veloz, empenhado, e em busca dos golos que garantissem uma segunda parte relativamente sossegada. Criou oportunidades, marcou, e só por um instante (entre o golo do empate, e a pronta resposta de Nolito), os fantasmas ameaçaram a Luz. A segunda parte não foi, porém, sossegada. O desperdício benfiquista não o permitiu, e foi deixando o resultado tangencial arrastar-se até bem perto do fim, quando Aimar, e depois Nolito, selaram as contas do resultado e do jogo.



Como Pedro Emanuel disse no final da partida, o 4-1 final é um resultado demasiado desnivelado para o que se viu nos noventa minutos. O Benfica jogou bem, mereceu ganhar, mas a Académica, pela réplica que deu, pela forma como nunca deixou de procurar o golo, não merecia, em rigor, sair vergada a tão pesado desfecho. Talvez uns 4-2 reflectissem melhor o que se passou, mas como sabemos o futebol nem sempre se entende bem com a matemática.



Nunca assobiei nenhum jogador do meu clube. Mas não deixa de ser, para mim, um enigma, o motivo pelo qual aqueles que tão implacáveis são para com Cardozo, mostram tanta tolerância para com Saviola. Desde que, em finais da época do título, o argentino soube que não ia estar no Mundial da África do Sul com a sua Selecção, o seu rendimento caiu a pique, para não mais se aproximar dos níveis daqueles primeiros meses. Hoje, como em toda a temporada anterior, Saviola é uma sombra negra do jogador que encantou em 2009-10: não ganha uma bola dividida, não ganha um lance em velocidade, não consegue fazer um drible, raramente decide bem os lances, sendo, na maior parte das vezes, um jogador a menos no conjunto de Jorge Jesus. Não sei se o problema é físico ou psicológico. O que sei é que um jogador assim – sobretudo tendo em conta que é, seguramente, dos mais bem pagos – não tem lugar num Benfica que se quer competitivo e ganhador.



Depois de uma pré-época (tanto quanto me apercebi) prometedora, também Matic não tem mostrado nestas últimas aparições ser alternativa credível a Javi Garcia. Sistematicamente desposicionado, macio a abordar os lances, o sérvio deixou muito espaço por onde os jogadores da Académica puderam penetrar. É, todavia, um caso ainda a rever.



Já que estou com a língua particularmente afiada, mas sem querer ser demasiado cáustico com uma equipa que tem ganho, e jogado genericamente bem, devo ainda dizer que esperava mais de Garay. Tem tentado não complicar, não se deixa expor ao erro mais primário, mas de um central vindo do Real Madrid esperavam-se menos pontapés para a bancada, e esperava-se, por exemplo, um maior e mais rápido entendimento com o lateral do seu lado – e Emerson tem saído algo penalizado por uma deficiente articulação com o central argentino.



Em sentido oposto, Nolito e Bruno César vão mostrando jogo a jogo que querem ser titulares. Um e outro jogam, correm, lutam e marcam. A noite foi deles, e é uma pena que não possam jogar juntos mais vezes. Se Jesus conseguir completar aquele futebol empolgante e libertino que ambos vão exibindo, com o rigor táctico e defensivo que ainda não conseguem garantir, teremos ali dois craques de primeiro nível, até porque estamos a falar de jogadores ainda bastante jovens.



O árbitro perdoou um penálti a cada uma das equipas: o corte com a mão de Bruno César é dentro da área, e, pouco depois, um remate, creio que do mesmo jogador, é cortado para canto com os braços por um dos defesas da Académica.



O amarelo mostrado a Nolito foi um completo absurdo, devendo antes, pelo contrário, ter sido admoestado o jogador que o impediu de lançar um perigoso contra-ataque. Com culpas para o fiscal-de-linha, o mesmo Nolito viu ser-lhe levantada a bandeira num lance em que está, pelo menos, uns três ou quatro metros atrás do último defesa.



Juntando tudo isto a uma expulsão perdoada a Abdoulaye por agressão a Saviola, temos erros demais, a configurar uma péssima arbitragem.

15 comentários:

Brytto disse...

Relativamente ao Saviola, embora tenhas razão em muitos aspectos e até nos motivos que o têm levado a exibiçoes menos conseguidas, não nos podemos esquecer que a assistência para o primeiro golo é dele!!!!!!!
Quanto a Garay, não concordo, estou a gostar e até está afazer uma bela dupla com este novo super Luisão.
De quem não tenho vindo a gostar tanto é do Artur que quanto a mim, foi outra vez mal batido (embora não seja um frango),já é o segundo após o golo também consentido ao Guimarães, a continuar assim, talvez não seja má ideia pensar em dar uma oportunidade ao portuga Eduardo!!!!! Imagine-se se fosse o Roberto a deixar entrar estas duas bolas...ter boa imprensa dá realmente muito jeito!!!!!!

Coluna dÁguias Gloriosas disse...

'Hoje, como em toda a temporada anterior, Saviola é uma sombra negra do jogador que encantou em 2009-10: não ganha uma bola dividida, não ganha um lance em velocidade, não consegue fazer um drible, raramente decide bem os lances, sendo, na maior parte das vezes, um jogador a menos no conjunto de Jorge Jesus. Não sei se o problema é físico ou psicológico. O que sei é que um jogador assim – sobretudo tendo em conta que é, seguramente, dos mais bem pagos – não tem lugar num Benfica que se quer competitivo e ganhador.'

é isto caro LF..

é assim que se defende o Benfica...

concordo ctgo e olha que sou um admirador de Saviola...

e ele ontem ainda fez o passe/assist para o 1º golo do Bruno César...

mas de resto é tudo aquilo que tu escreveste aqui e é assim mesmo...

não é nada contra o Saviola..

é defender os superiores interesses do Benfica...

saudações gloriosas

LF disse...

Diferença entre Artur e Saviola:
O primeiro teve duas falhas (uma e meia, para ser mais preciso), em dois jogos, depois de várias partidas a brilhar.
O segundo vai para a segunda época de eclipse total.

Um jogo mau desculpa-se. Uma fase má compreende-se. Um ano e meio de nulidade já é mais difícil de aceitar, por muito crédito que se tenha.
Sobretudo quando se sabe (ninguém tem dúvidas quanto a isso) que o jogador pode render muitíssimo mais.


Quanto ao Garay, acho que o problema está mais na falta de cobertura que dá ao lado esquerdo, expondo o Emerson (este sim, uma bela surpresa) a dificuldades. Além de que, como disse, utiliza em demasia o pontapé para a frente, o que não é comum num jogador que vem do Real Madrid.
Mas ...vamos ver os próximos jogos. Ainda é cedo para uma opinião definitiva.

Voltando à baliza, independentemente das culpas que Artur tenha ou não nos golos, acho que ele é um fantástico guarda-redes (ao nível de selecção brasileira), e muito melhor que o Eduardo.
É a minha opinião, que já vem da época passada (no Braga), e que espero confirmar ao longo deste ano.

Anónimo disse...

Sempre fui um grande adepto do Cardozo portanto não tenho problemas em fazer a defesa do saviola.É verdade que já me irrita um pouco o Saviola com a bola ou na disputa da mesma, já poucas vezes ganha um duelo e, individualmente, pouco resolve, mas tenho de admitir que olhando atentamente o Jorge Jesus acaba por ter uma certa razão, a sua movimentação sem bola continua a ser algo soberbo na criaçao de espaços e na movimentaçao defensiva adversária, está um jogador diferente, penso que a sua avaliaçao já não deve ser feita com golos ou lances individuais.

último! disse...

Dizer que o Saviola não joga há um ano e meio é não entender de futebol, Saviola é muito mais do que marcar golos... é importantissimo em tabelas, joga como ninguém em Portugal entre linhas, tabelas, etc. Mesmo não fazendo golos é de uma classe superior.

Reconheço que neste momento a sua confiança não seja muita e por isso falhe mais golos mas disso até afirmar que não joga nada há ano e meio é ser mauzinho no mínimo e é cair no mesmo erro do assobio ao Cardoso quando não marca!

Coluna dÁguias Gloriosas disse...

'Um jogo mau desculpa-se. Uma fase má compreende-se. Um ano e meio de nulidade já é mais difícil de aceitar, por muito crédito que se tenha.'

ora nem mais LF...

tenho pena é de nunca ter lido isto teu sobre o Nuno Gomes...

quanto ao Artur estou de acordo contigo e a época vai provar isso...

temos a melhor dupla de guarda-redes esta época que me lembre...

e sigo o Benfica aqui em Lisboa desde 1979...

Brytto disse...

Uma das principais caracteristicas do Garay é precisamente ter uma boa leitura e capacidade de passe e segundo parece, até marca muito bem livres, daí que não perceba essa tua avaliação ao Garay, que até parece que o achas tosco!!!!!!!!!

Quanto ao Artur a diferença é que as falhas que cometeu não se traduziram em perdas de pontos, se isso tivesse acontecido, julgo eu, já se tinha falado mais no assunto... Isto não quer dizer que não o ache um bom guarda-redes, mas tenho sempre algum receio dos eudesamentos que se fazem sempre a jogadores por terem tido em alguns jogos boas prestaçoes. Num guarda-redes requere-se regularidade e até agora não é isso que está a acontecer- dois erros comprometedores nos dois últmos jogos da liga. Vamos aguardar pelos próximos capítulos...pois, valha a verdade, ainda é cedo!

Nós Sébio disse...

E esta, LF?
http://www.youtube.com/watch?v=7CBJE3cPAcw

Anónimo disse...

discordo totalmente em relacao a saviola.

o ano passado fez 13 golos e 12 assistencias, e nesse aspecto liderou o plantel do benfica. ontem fez outra e esteve perto do golo.

por mim, jogamios mais vezes em 433 e com ele no banco, mas dai a dizer que ele so jogava bem por achar que ia ao mundial vai uma enorme distancia.

Anónimo disse...

um ano e meio de eclipse total? epa isso e um desvario ao nivel das analises de arbitragem dos jornalistas avencados.

jfk disse...

O Saviloa fez 2 épocas de grande nível na carreira. Uma na Argentina, antes de o Barça o contratar, e outra no Benfica.

Falo de épocas de nível superior.

Anónimo disse...

Comparar o Saviola e o Cardozo é comparar o perneta com o coxo.

Um ainda vai fazendo jogar e algumas aberturas. Mas não marca e perde bolas.
O outro marca. Mas não corre, não ganha uma única bola e não faz jogar.

No entanto o Saviola devidamente motivado e em condições, joga e faz jogar.
O Cardozo devidamente motivado e em condições, continua a não ganhar bolas, não correr e não faz jogar.

LF disse...

"Mas não corre, não ganha uma única bola e não faz jogar"

..também não faz cortes de carrinho, defesas impossíveis nem piruetas.
Ele está lá para marcar. Apenas para isso. É essa a sua função.

O Artur também não faz nada dessas coisas (salvo as defesas), e é um grande jogador.

Anónimo disse...

LF,

Ganhar bolas não compete a um avançado?! Sempre que um guarda redes chuta para a frente pede-se ao avançado que receba e segure a bola à espera de apoio, por exemplo...

Correr suponho que também fica para os outros, não é?

Fazer jogar também é coisa para os médios e outros que têm de se mexer...

Depois de ver recentemente, em Portugal, avançados como Liedson, Lisandro, Falcão ou Micoli que faziam tudo isto e marcavam, não percebo como se chega ao "se marca, não se pode criticar".

Aplaudir um jogador que passa grande parte dos jogos na "mama" e em 4 épocas completas, apenas numa foi o melhor marcador...
O João Tomás faz o mesmo, não custou 10M, não ganha o ordenado do Cardozo nem tem Aimar's, Gaitan's e Saviola's a servi-lo. Deve ser especial o João Tomás.

LF disse...

Anónimo,

Se vê os jogos do Benfica deve começar a contar as bolas que o Cardozo ganha de cabeça enviadas pelo guarda-redes. É uma das formas preferenciais de saida para o ataque, sobretudo em jogos grandes. Por exemplo, com o Manchester, aconteceu várias vezes.


Quanto às comparações, vejamos:
Quantos golos marcou o Miccoli no Benfica? O que ganhou ele no Benfica? O que fez ele de produtivo, no espaço de tempo em que não esteve lesionado?
Pronto, está bem, era artista da bola. Totalmente inconsequente, mas isso não interessa.

Quantos golos marcou o Lisandro (que foi vendido por mais de 20 M) no FC Porto?
Era um jogador raçudo, combativo, mas não era um ponta-de-lança puro. Não é comparável ao Cardozo.

Quantos golos marcou o Mantorras, que era idolatrado pelas bancadas?


E quantos marca o Cardozo?

Um avançado avalia-se pelos golos que marca. É a única posição em campo onde a avaliação é totalmente objectiva. Sobretudo tratando-se de um ponta-de-lança puro, como é o caso.


O Liedson foi dos melhores jogadores da história do Sporting. É bem comparado, embora fosse um jogador diferente, mais leve, mais móvel, menos poderoso no choque (enfim... fariam uma boa dupla)

O Falcão rendeu ao Porto 45 Milhões, e já lidera os marcadores na Liga Espanhola. Também é bem comparado.

O Cardozo não vale tanto como Falcão, nem é seguramente o melhor avançado do mundo (como parece que lhe exigem ser), mas é o melhor ponta de lança que passou pelo Benfica desde, pelo menos, Magnusson. Disso não tenho dúvidas.
Tem um pé esquerdo fulminante, tem remate espontâneo, um sentido posicional apuradíssimo, capacidade de choque, cobra livres muito bem, e marca. Marca muito. Muitíssimo.

Quanto ao João Tomás, creio que no momento actual da carreira, numa equipa como o Benfica, sujeito a marcações impiedosas, a defesas cerradas, e a pouquíssimos espaços, não marcaria mais do que 2 ou 3 golos por ano.
Com espaços é mais fácil.


A história recente do futebol português, e também do Benfica, está cheia de pontas-de-lança que vivem de rodriguinhos, de tabelinhas, de toques de calcanhar, de missões de sacrificio, jogo de costas, de lances para a bancada aplaudir.
Raramente tivemos avançados que façam aquilo que é a sua função: meter as bolas dentro da baliza.
Este mete-as. Mas o povo quer é circo...