SABOR A POUCO...

Se antes do jogo alguém me tivesse proposto o resultado de 2-1, tê-lo-ia aceite sem hesitações. O Liverpool é um gigante do futebol europeu, tem na Liga Europa a sua grande oportunidade de conquista, e nesta fase da competição – marcada normalmente pelo equilíbrio - uma vantagem, por curta que seja, não deixa de ser...uma vantagem.
Olhando para o que se passou em campo, para o facto do Benfica ter jogado cerca de uma hora em superioridade numérica, e, sobretudo, para a relativa naturalidade com que deu a volta ao golo madrugador de Agger, não posso deixar de reconhecer que, com um pouco mais de sorte – e acerto na finalização – as contas da eliminatória poderiam ter ficado, desde já, bastante mais favoráveis. E confesso que, quando Cardozo transformou irrepreensivelmente o segundo penálti, me convenci que ainda surgiria mais um golito, que, a acontecer, poderia revelar-se decisivo.
Nada disto reduz a enorme felicidade que todos os benfiquistas devem sentir neste momento: pela grande exibição (foi disso que se tratou), pela vitória ante uma das melhores equipas da Europa (a quarta consecutiva sobre o Liverpool), pelo alimentar do sonho de ir ainda mais além na competição, e pelo grandioso espectáculo a que puderam assistir, dentro e fora do relvado, mais uma vez (a segunda em poucos dias) com as bancadas repletas de entusiasmo e amor clubista. Este 2-1 deixa todas as esperanças em aberto para o mítico Anfield Road, e creio que o Benfica tem hoje mais possibilidades de chegar às meias-finais do que tinha ontem.
O jogo começou muito mal, com um golo consentido a lembrar – também ele – uma épica noite de 2005 em que o Manchester United saiu da Luz vergado a uma derrota por 2-1. O Liverpool dava mostras de conhecer bem o Benfica, limitando-lhe o espaço, e procurando explorar amiúde os corredores laterais, onde Babel e Kuyt eram setas apontadas à baliza de Júlio César, mas, simultaneamente, também os primeiros tampões à construção de jogo encarnada. A ausência de Saviola fazia-se igualmente sentir, e as dificuldades que a equipa de Jesus encontrava no último terço do campo eram visíveis, mau grado os “convites” que a linha defensiva britânica demasiadas vezes distribuía.
Com a expulsão de Babel tudo mudou. Rafa Benitez não fez qualquer substituição, mas alterou radicalmente o seu modelo táctico, transformando um trio de ataque, com alas bem abertos, numa dupla ofensiva (Kuyt-Torres) sem extremos. Era o que o Benfica mais podia desejar, pois residiam precisamente nas alas todas as suas dificuldades nessa fase inicial da partida.
Daí em diante, o Liverpool - talvez também por se encontrar em vantagem - retraiu-se, deixou de ser ameaçador, e foi do Benfica o controlo quase absolto das operações, sabendo aproveitar muito bem a benesse que lhe caíra em mãos. É verdade que de nomes como Steven Gerrard ou Fernando Torres se pode esperar, a todo o momento, um golpe de génio. Mas se o inglês se mostrou, a espaços, ao nível da sua imensa categoria, já o espanhol teve uma noite para esquecer, à qual nem faltou uma oportunidade escandalosamente desperdiçada já em plena segunda parte.
Disse ao intervalo, para quem estava comigo, que tinha a certeza de que o Benfica marcaria pelo menos um golo. Sentia-o, na facilidade com que o conjunto de Jesus controlava o meio-campo, e também na rigidez de movimentos do espaço central da defesa do Liverpool - que mais cedo ou mais tarde proporcionaria a Cardozo novos ensejos para ser feliz. E ele não iria falhar sempre.
Acabou por ser de penálti, e por duas vezes, o que não deixa de ser irónico face ao que se tem passado com o paraguaio no campeonato português. Mas independentemente da forma como chegou ao(s) golo(s), tem de se dizer que o Benfica justificou em futebol, em domínio, em atitude, em classe, a vantagem que alcançou. A justiça fez-se desde a marca dos onze metros, e o resultado final, seja ele suficiente ou não, responde integralmente ao futebol praticado nos noventa minutos – sessenta dos quais reveladores de manifesta superioridade benfiquista.
Individualmente gostaria de destacar Cardozo, que mesmo desperdiçando várias situações de perigo, acabou por se tornar no pai desta vitória; e também Fábio Coentrão, que realizou mais uma grande exibição. O papel dos centrais fica marcado pelo golo sofrido, mas daí para a frente, tanto Luisão, como, sobretudo, David Luíz estiveram em plano elevadíssimo. Javi Garcia também foi dos melhores, tal como Di Maria, que no entanto insistiu demasiado em iniciativas individuais, mesmo quando elas não se justificavam. Em sentido contrário há que referir que Maxi Pereira, Carlos Martins, Aimar e Ramires ficaram longe daquilo que têm feito durante a época.
O Árbitro sueco realizou um trabalho pobre, o que infelizmente tem sido a rotina desta Liga Europa. Perdoou um penálti ao Liverpool (seria o terceiro, mas existiu mesmo); não expulsou Insúa com o segundo amarelo, como se exigia no lance da primeira grande penalidade; mostrou mal o cartão a David Luíz; mas também se deve dizer, em nome da verdade, que a expulsão de Babel deixa algumas dúvidas (um cartão amarelo talvez fosse suficiente). Nos lances dos penáltis assinalados nada a dizer, embora no segundo tenha sido o fiscal-de-baliza (finalmente deu-se pela sua existência) a dar a indicação.
Nota final para o comportamento absolutamente lamentável de alguns No Name Boys. O meu benfiquismo tem-me feito defender frequentemente a claque, mesmo para além daquilo que ela porventura merece. Desta vez porém, não posso deixar de exprimir o meu veemente desagrado com o ignóbil lançamento de petardos, e ainda por cima para perto do local onde estava estacionado o fiscal-de-baliza. Espero, e acredito, que sejam os próprios lideres da claque a pôr na ordem os elementos responsáveis por tamanha estupidez. Os restantes sócios do Benfica, a sua esmagadora maioria, mostraram de imediato o seu desagrado.
Veremos como a UEFA interpreta o sucedido, sendo que se a coisa for além da inevitável (e pesada) multa, haverá que apurar os responsáveis e retirar as devidas consequências.

4 comentários:

dezazucr disse...

Há que ter fé. Esta equipa já mostrou que tem carácter e não se deixa bater facilmente.

Para sermos eliminados vai ser preciso ganharem-nos. E não é fácil ganhar ao Benfica. Até pode acontecer, mas se repararmos bem, quais foram os jogos em que o Benfica perdeu? Aek, num jogo atípico, Braga num jogo roubado e Guimarães (o único em que realmente admiti a derrota pelo colete de forças que o Guimarães do Paulo Sérgio nos colocou). De resto, é muito difícil. Até porque o Benfica marca sempre. Os únicos jogos este ano onde não marcou foram esses 3 mais o jogo com o sporting.

Parece-me que o Benfica até tem mais possibilidades que o Liverpool.

Depois dos banhos tácticos dados em Liverpool ao Everton (0-2) e ao Marselha (1-2), há que confiar nesta equipa. Até porque já pôde ver o que vale este Liverpool.

dezazucr disse...

Não percebo esse pessimismo. A não ser que não tenhas visto os jogos e a performance regular e competitiva do Benfica deste ano.

A propósito disso já havia comentado aqui no dia 16 de Março que o Benfica até pode ter um desaire, mas arranca sempre para mais 6/7 vitórias seguidas.

Ora bem: Nacional, Marselha, Porto, Braga, Liverpool. Só são 5. Faltam 2: Naval e Liverpool novamente:

"O Benfica fez um jogo razoável e teve um desaire, um empate que acontece após uma boa série de vitórias consecutivas, que normalmente não ultrapassa, em qualquer equipa de topo, 6/7. Pôde, com tranquilidade arrancar com o Nacional para uma nova série (e atenção que esse jogo com o Nacional era mais importante), aliás como tem feito ao longo do ano."

Vitória do Benfica disse...

Foi uma noite linda. Talvez por provincianismo não acreditava na supremacia da nossa equipa. Depois de terem marcado o golo, pensei que esta seria uma noite de tormenta igual aquela que Quique Flores nos fez passar na Grécia.

Mas Jesus é Jorge Jesus ou seja faz quase sempre juz ao nome cavaleiro capaz de matar o dragão e filho de Deus que não é menor.


Foi uma noite de gloria e sobretudo a esperança que deposita em Cardozo, revela que é o caminho da confiança que faz os grandes profissionais.

Espero que alguém mande o video a Jorge Sousa e a Vitor Pereira, para eles em silêncio e de forma humilde aprenderem que nem Colina apitava um Itália qualquer coisa, nem que os falhanços ou a má fé em jogo é para ignorar.

Apesar de tudo quem me dera ter em Portugal os arbitros da UEFA.

O comportamento dos NN é muito negativo. è fácil identificar os autores se o Benfica pusesse vigilantes no Piso 1, sector 13 primeira fila da bancada Sagres.

Não quero fazer prognósticos, só digo obrigado LFV

Nuno Figo disse...

Grande jogo, com sabor a pouco... mas obviamente que o jogo fica marcado pela expulsão do jogador do Liverpool.

Acima de tudo, penso ser necessário comentar e lamentar o comportamento dos No Name Boys. Não podemos aceitar aquelas atitudes. Há que repudiar, com toda a força. Tal como muitos, nada tenho contra as claques enquanto tal. Mas tenho tudo contra as claques violentas, contra as que têm comportamentos perigosos, contra as que são mal educadas e que não mostram respeito - pelos adversários e pelos adeptos do seu clube.

Os NoName deviam limitar-se a puxar pela equipa, com cânticos positivos, bandeiras e tarjas. Petardos e tochas, não. Quem paga com essas atitudes é o Benfica... porque a multa é certinha. Espero apenas que a UEFA se fique por aí e não tenha a mão muito pesada...