SÓ À CABEÇADA SE MATOU O FANTASMA
Numa jornada em que todos os adversários directos haviam perdido pontos, o Benfica tinha diante de si o ensejo de recuperar a liderança (ainda que em parceria) e, sobretudo, cavar uma distância pontual significativa para o FC Porto – sua grande ameaça, pois o Sporting, preso aos seus equívocos internos, está hoje muito mais perto do último lugar (despromoção) do que do primeiro (título) -, antes de uma longa pausa na prova.
Era pois uma oportunidade a não desperdiçar, para uma equipa em ressaca europeia e desfalcada de Ramires e Cardozo, dois dos seus mais influentes jogadores. Era um momento muito importante para o desenho da classificação, que poderia (e poderá) marcar o destino da temporada. Era um daqueles jogos em que as grandes equipas, os verdadeiros campeões, não costumam, nem podem, falhar. Mais do que a deslocação a Braga (onde qualquer resultado era aceitável), este sim, era um verdadeiro teste à capacidade competitiva do Benfica, ao seu edifício mental, e à regularidade que conquista campeonatos.
Encontrando pela frente um rígido “autocarro” defensivo, conduzido por um guarda-redes tocado por inspiração divina, os encarnados viram-se e desejaram-se para obter os três pontos. Foi com muito sofrimento que o conseguiram, depois de 89 minutos em que os fantasmas de Marítimo (Peçanha), do Boavista (William), do Espanyol (Iraizoz) e do União de Leiria (Costinha), fizeram reviver na Luz uma daquelas estranhas noites de tiro ao boneco, em que o boneco assume uma sobrenatural capacidade de atrair todos os cartuxos. Parece sina do Benfica, ver brilhar em sua casa guarda-redes cuja carreira nem sempre passa da vulgaridade, mas que na Luz se enchem de brios e fazem a exibição de uma vida. Enfim, eles estão lá para isso, e ninguém se pode queixar senão das bruxas do azar e da infelicidade.
Mas por muito grande que seja a aleatoriedade que envolve um resultado de um jogo de futebol, a verdade é que as coisas nem sempre acontecem por acaso. Há momentos, no desporto como na vida, em que a vontade e o talento superam a falta de sorte, e em que os objectivos são alcançados sobre os escombros do fatalismo. A poderosa cabeçada de Javi Garcia define um desses momentos, e ajusta-se bem ao que foi a prestação do Benfica nesta partida.
Efectivamente, dado o desenrolar do jogo, olhando às suas estatísticas e às oportunidades criadas, poderíamos estar agora a falar de mais uma goleada. Só na primeira parte, Peiser realizou cinco (!!) defesas de golo, e viu uma bola bater no seu poste. Tivesse sido concretizada uma dessas ocasiões e o jogo seria outro.
Na segunda parte o Benfica perdeu algum fulgor (sobretudo a partir do momento em que as pilhas de Aimar se esgotaram), mas voltou ainda assim a desperdiçar oportunidades de golo em série. Mais um punhado de grandes intervenções do guardião da Naval, mais uma bola ao poste (Di Maria), mais uma escandalosa perdida de Nuno Gomes, com Peiser batido, e uma baliza, enorme e escancarada, á sua frente.
Para além do caudal atacante conseguido, a equipa de Jesus teve o mérito de nunca deixar de acreditar em si própria, e na sua capacidade de reverter uma situação que a cada minuto que passava se ia tornando mais difícil. O desespero invadia as bancadas, mas nunca tomou conta dos jogadores, que lutaram até à última gota de suor – com empenho e com serenidade - por uma vitória que contrariasse o destino de uma noite azarada. Conseguiram-no, o que também é sinal da sua tremenda auto-confiança, da sua força mental, do seu espírito guerreiro e vencedor. Há também quem lhe chame “estrelinha” de campeão.
O ambiente vivido no final da partida não diferia muito das noites das goleadas ao Everton ou ao Nacional. O golo de Javi Garcia fez explodir um estádio já algo angustiado, fazendo lembrar um outro, obtido também de cabeça por Luisão há quatro anos atrás frente ao Sporting. Ganhar assim, com sofrimento e com dramatismo, talvez seja ainda mais saboroso, sobretudo quando tal corresponde à justiça do futebol jogado. Esta foi pois – desengane-se quem pensar o contrário – mais uma grande noite de festa para os mais de 40 mil que estiveram na Luz. Uma festa diferente, mas não menos entusiasmante. Um caldeirão de emoções, com final feliz.
Não se fique no entanto com a ideia de que tudo – excepto Peiser – foi perfeito para o Benfica. Para além da constatação de que sem Cardozo o Benfica perde parte significativa da sua eficácia ofensiva (Nuno Gomes fora de forma, e Keirrison fora do futebol da equipa, não garantem a necessária presença na área) aqueles três minutos de compensação deixaram muito a desejar em termos de segurança defensiva, numa fase em que bastava segurar a bola longe da baliza para que rapidamente o árbitro apitasse. Aspectos que Jorge Jesus terá de rever com a equipa, sabendo-se que se aproximam os grandes clássicos, para os quais tenho algum receio do sector esquerdo da defesa encarnada (sobretudo quando apanhar Hulk pela frente).
Por falar em árbitro, diga-se que Lucílio Baptista não foi desta vez protagonista. Não houve casos, e assim de repente não me lembro de um único erro cometido pelo setubalense. Mas na televisão apenas vi o golo.
Era pois uma oportunidade a não desperdiçar, para uma equipa em ressaca europeia e desfalcada de Ramires e Cardozo, dois dos seus mais influentes jogadores. Era um momento muito importante para o desenho da classificação, que poderia (e poderá) marcar o destino da temporada. Era um daqueles jogos em que as grandes equipas, os verdadeiros campeões, não costumam, nem podem, falhar. Mais do que a deslocação a Braga (onde qualquer resultado era aceitável), este sim, era um verdadeiro teste à capacidade competitiva do Benfica, ao seu edifício mental, e à regularidade que conquista campeonatos.
Encontrando pela frente um rígido “autocarro” defensivo, conduzido por um guarda-redes tocado por inspiração divina, os encarnados viram-se e desejaram-se para obter os três pontos. Foi com muito sofrimento que o conseguiram, depois de 89 minutos em que os fantasmas de Marítimo (Peçanha), do Boavista (William), do Espanyol (Iraizoz) e do União de Leiria (Costinha), fizeram reviver na Luz uma daquelas estranhas noites de tiro ao boneco, em que o boneco assume uma sobrenatural capacidade de atrair todos os cartuxos. Parece sina do Benfica, ver brilhar em sua casa guarda-redes cuja carreira nem sempre passa da vulgaridade, mas que na Luz se enchem de brios e fazem a exibição de uma vida. Enfim, eles estão lá para isso, e ninguém se pode queixar senão das bruxas do azar e da infelicidade.
Mas por muito grande que seja a aleatoriedade que envolve um resultado de um jogo de futebol, a verdade é que as coisas nem sempre acontecem por acaso. Há momentos, no desporto como na vida, em que a vontade e o talento superam a falta de sorte, e em que os objectivos são alcançados sobre os escombros do fatalismo. A poderosa cabeçada de Javi Garcia define um desses momentos, e ajusta-se bem ao que foi a prestação do Benfica nesta partida.
Efectivamente, dado o desenrolar do jogo, olhando às suas estatísticas e às oportunidades criadas, poderíamos estar agora a falar de mais uma goleada. Só na primeira parte, Peiser realizou cinco (!!) defesas de golo, e viu uma bola bater no seu poste. Tivesse sido concretizada uma dessas ocasiões e o jogo seria outro.
Na segunda parte o Benfica perdeu algum fulgor (sobretudo a partir do momento em que as pilhas de Aimar se esgotaram), mas voltou ainda assim a desperdiçar oportunidades de golo em série. Mais um punhado de grandes intervenções do guardião da Naval, mais uma bola ao poste (Di Maria), mais uma escandalosa perdida de Nuno Gomes, com Peiser batido, e uma baliza, enorme e escancarada, á sua frente.
Para além do caudal atacante conseguido, a equipa de Jesus teve o mérito de nunca deixar de acreditar em si própria, e na sua capacidade de reverter uma situação que a cada minuto que passava se ia tornando mais difícil. O desespero invadia as bancadas, mas nunca tomou conta dos jogadores, que lutaram até à última gota de suor – com empenho e com serenidade - por uma vitória que contrariasse o destino de uma noite azarada. Conseguiram-no, o que também é sinal da sua tremenda auto-confiança, da sua força mental, do seu espírito guerreiro e vencedor. Há também quem lhe chame “estrelinha” de campeão.
O ambiente vivido no final da partida não diferia muito das noites das goleadas ao Everton ou ao Nacional. O golo de Javi Garcia fez explodir um estádio já algo angustiado, fazendo lembrar um outro, obtido também de cabeça por Luisão há quatro anos atrás frente ao Sporting. Ganhar assim, com sofrimento e com dramatismo, talvez seja ainda mais saboroso, sobretudo quando tal corresponde à justiça do futebol jogado. Esta foi pois – desengane-se quem pensar o contrário – mais uma grande noite de festa para os mais de 40 mil que estiveram na Luz. Uma festa diferente, mas não menos entusiasmante. Um caldeirão de emoções, com final feliz.
Não se fique no entanto com a ideia de que tudo – excepto Peiser – foi perfeito para o Benfica. Para além da constatação de que sem Cardozo o Benfica perde parte significativa da sua eficácia ofensiva (Nuno Gomes fora de forma, e Keirrison fora do futebol da equipa, não garantem a necessária presença na área) aqueles três minutos de compensação deixaram muito a desejar em termos de segurança defensiva, numa fase em que bastava segurar a bola longe da baliza para que rapidamente o árbitro apitasse. Aspectos que Jorge Jesus terá de rever com a equipa, sabendo-se que se aproximam os grandes clássicos, para os quais tenho algum receio do sector esquerdo da defesa encarnada (sobretudo quando apanhar Hulk pela frente).
Por falar em árbitro, diga-se que Lucílio Baptista não foi desta vez protagonista. Não houve casos, e assim de repente não me lembro de um único erro cometido pelo setubalense. Mas na televisão apenas vi o golo.
Por fim deixo uma nota para a postura da Naval. Defendeu, estacionou o autocarro em frente da baliza, prescindiu de qualquer acção ofensiva, mas não simulou lesões, não agrediu ninguém, não queimou tempo em demasia. E assim, podia ter empatado o jogo. Se houvesse quatro pontos em disputa, a equipa de Inácio mereceria um deles.
7 comentários:
Eheh. Nem uma palavrinha sobre o cartão amarelo poupado ao Fábio Coentrão e ao facto da falta de que resultou o golo do benfica não ter existido.
Só falas do árbitro quando os outros ganham, quando perdes, e antes dos jogos.
Sim foi uma noite de grande sofrimento, eu saí do estádio sem sentir os joelhos.
Mais uma grande exibição e coisas que é preciso rever. O público foi fantástico mesmo no último momento do golo.
Mas eu pergunto. Será que a explosão do Cardozo em túnel cujas imagens ninguém viu, até hoje,será que foi só por uma agressão de Cardozo?
Ontem vi um bom GR, seria uma optima aposta para substituir a estaca do Quim!
Excelente, LF, não podia estar mais de acordo, de facto, este jogo revestia-se de enorme importância para o Benfica e num jogo muito complicado, fruto do camião TIR utilizado pela Naval, as nossas Águias voaram alto mesmo à beira do fim, com alguma felicidade, mas muito mérito, fazendo-se justiça, numa vitória não só do Benfica, mas também do futebol, contra o anti-futebol, no fundo, um merecido castigo para uma equipa que apenas pensou em defender e um justo prémio a uma equipa que só tentou atacar.
A equipa deu uma prova de querer e determinação, mostrando a vontade dos campeões.
"mais uma escandalosa perdida de Nuno Gomes, com Peiser batido, e uma baliza, enorme e escancarada, á sua frente".
Quantas mais são precisas?
Quem andou já não tem para andar!
Júlio César porque ainda não?
Já é tempo; amanhã poderá ser tarde!
Foi um autêntico massacre aquele que o Benfica impôs á naval, parabéns ao peiser que quase tudo defendeu,mas felizmente não defendeu aquela "monada" do Javi Garcia um jogador que tem uma entrega total ao jogo.Não critico equipas que põe o "autocarro" á frente da baliza cada qual utiliza a sua estratégia para conseguir os seus objectivos.Mas como o LF salientou e bem a naval não fez anti-jogo os seus jogadores quando faziam faltas admitiam e pediam desculpa demonstrando aquilo que falta a muitos outros desportivismo e boa educação.Uma palavra para o inácio que embora tenha uma carreira de treinador e de jogador nos outros 2 rivais do Glorioso admitiu claramente a justiça do resultado ao contrário de outros quando perdem com o Benfica mesmo a levar 6 dizem barbaridades a rodo, mas agora contra o leixões nada disseram e foi uma roubalheira das grandes que os beneficiou.Até porque o inácio tb tem um historial de desavenças com o JJ mas soube manter o nível.Quanto ao amarelo do Coentrão, aonde é que isso se passou!? Na playstation ou no fm? E o Dí Maria é claramente ensanduixado pelos 2 jogadores da naval o que o leva a perder o controle de bola e consequentemente falta que óbviamente não é violenta mas mesmo assim não deixa de a ser.O Benfica lutou sofreu e venceu com toda a justiça, houve outros esses sim mesmo quando perdem são beneficiados este fim-de-semana ficou mais 1 penalty por assinalar contra, nas semanas anteriores o bruto alves pela centésima vez se livrou de levar cartões vermelhos, e ainda vem aqui dar lições de moral tenham mas é vergonha na cara porque pior cego é aquele que não quer ver.
Destaco o enorme Javi Garcia, pelo golo, pelo que jogou, pelo que fez jogar (muito importante nestes jogos em que o adversário parece o terminal de Sete Rios) e pela forma vibrante e emocionada como celebrou.
Já se sabia, mas confirma-se: temos HOMEM.
Não posso também deixar de destacar a atitude da Naval. É "chato" vir com 2 autocarros para o campo, não beneficia o jogo e não é assim que vamos vender o futebol português como uma indústria de espectáculo...
Mas não houve simulações, nem quedas aparatosas, nem o guarda-redes teve dores nas mãos. Não houve sururu nem tricas insustentadas.
Um aplauso, desta forma, para o Inácio e para a Naval: foram para a Luz de cabeça erguida, sem querer ser o bôbo da corte. Perderam, por um golo, é verdade, mas saíram certamente de cabeça erguida. Não gosto de futebol demasiado defensivo, mas vou torcer pela sua manutenção.
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