TRÊS PONTOS E DUAS CARAS

Eram muitos os focos de dificuldade a sinalizar a deslocação do Benfica a Paços de Ferreira: um terreno tradicionalmente difícil, um campo de pequenas dimensões, a ressaca de um jogo europeu, as ausências de três jogadores fundamentais, e ainda por cima um clima adverso. Por tudo isso Jesus pedia, e bem, uma equipa de combate, uma equipa capaz de deixar no relvado a pele e o sangue em nome dos três preciosos pontos, mesmo que plasticamente não deliciasse a plateia.
Perante este quadro, nada melhor do marcar cedo, obrigando desde logo o adversário a abrir as portas do seu tesouro, e tornando o jogo um pouco mais macio. O golo madrugador de David Luíz tranquilizou a equipa e os adeptos, e foi o tónico de que o Benfica precisava para embalar para a sua sexta vitória consecutiva na Liga.
Até ao intervalo viu-se um Benfica ao seu melhor nível, equivalente ao que mostrara, por exemplo, no Restelo ou diante do V.Setúbal. As ausências não se fizeram notar, Carlos Martins entrou muito bem na equipa, e a mobilidade e combatividade dos dois avançados (Saviola e Cardozo em altíssima rotação) encarregavam-se de desestabilizar a defensiva contrária. Javi Garcia e Ramires dominavam o meio-campo, e só Fábio Coentrão demorava a encontrar o seu ritmo, naquela que era a sua primeira oportunidade enquanto titular.
Os golos surgiram com naturalidade – todos excelentes, em especial o do imparável Cardozo -, e ninguém teria estranhado que o resultado se tivesse avolumado ainda mais face à forma categórica e eloquente como que o Benfica foi capaz de afirmar a sua superioridade durante os primeiros 45 minutos.
Alguns terão esperado uma nova goleada, na senda daquelas que nesta época a equipa da Luz já nos havia reservado. Compreensivelmente, não terá sido isso que Jorge Jesus pretendeu, e o Benfica entrou para a segunda parte com um ritmo muitíssimo menor, não escondendo a vontade de gerir tranquilamente o jogo até final, sem grandes brilhantismos, mas também sem grande desgaste físico.

No meu ponto de vista, não o conseguiu porém fazer da melhor forma. Percebia-se que privilegiasse o controlo da bola, e que evitasse correr riscos no ataque. Custa a entender a forma como se expôs a uma eventual recuperação do adversário – e se aquele estupendo lance de Cristiano tivesse sido concretizado (instantes após o único golo pacense), os minutos finais teriam sido dramáticos e de consequências imprevisíveis.
Controlar um jogo não é deixá-lo entregue aos desígnios da sorte e dos falhanços do adversário. É controlar a bola, preencher espaços, não permitir desequilíbrios, não revelar desconcentrações. Neste particular o Benfica demonstrou ter ainda muito que crescer, até porque o campeonato lhe irá seguramente proporcionar outras situações semelhantes, para as quais a resposta terá de ser mais sólida e segura.
Outro aspecto que continua a preocupar neste Benfica é a questão do lateral-esquerdo. Nem César Peixoto nem Shaffer mostram ser soluções ao nível do resto da equipa, e quando imagino qualquer deles a encontrar pela frente um adversário directo como, por exemplo, Hulk, sinto um arrepio na espinha. O argentino voltou ontem à titularidade, e a permeabilidade que quase sempre demonstrou foi a raiz de grande parte dos lances de ataque que o Paços de Ferreira conseguiu levar a cabo. Enfim, um problema para resolver em Janeiro, e para tentar disfarçar até lá.

Em suma, a vitória foi justa, a exibição parcelarmente boa, e a perseguição ao Sp.Braga continua. Ao contrário de muitos, creio que este Sp.Braga, embora seja inegavelmente uma boa equipa, não é nenhum furacão, tendo ganho vários dos seus jogos, ora com a ajuda dos árbitros, ora com uma felicidade inusitada. Mas dentro de duas jornada poderemos tirar isso a limpo.
O árbitro João Ferreira esteve globalmente bem.