EI-LOS, OS ALEMÃES

A jornada de ontem confirmou a Alemanha como adversário de Portugal nos quartos-de-final do Euro 2008.
À partida, no plano teórico, seria o adversário a evitar de entre o lote de equipas que faziam parte do grupo B. Pela sua história, pela sua tradição, pela qualidade dos seus jogadores, a Manschaft é sempre uma equipa temível qualquer que seja a competição que dispute. Uma Áustria, mesmo jogando em casa, ou uma Polónia, mesmo tendo-nos vencido na fase de qualificação, seriam certamente mais apetecíveis, e permitiriam olhar para esta eliminatória com um optimismo, eu diria, mais exuberante.
Não creio todavia que esta Alemanha seja propriamente um papão. Embora se trate de uma equipa organizada, fisicamente dotada, e recheada de jogadores, senão brilhantes, pelo menos competentes, a selecção germânica não tem sido nestes últimos anos a equipa implacável que fez com que um dia o antigo avançado inglês Gary Lineker descrevesse o futebol como um jogo de onze contra onze em que no fim ganhavam os alemães. Desde 1996, ainda com Matthaus e Klinsmann entre outros, que a Alemanha não ganha qualquer competição, embora, é certo, tenha estado no pódio dos últimos dois mundiais. Mesmo a nível de clubes, o futebol alemão perdeu a força que tinha em finais do século passado, não apresentando hoje, à excepção do Bayern de Munique, mais qualquer clube verdadeiramente capaz de ombrear com os melhores do velho continente. Há seis anos que não vemos qualquer clube alemão numa final europeia, enquanto no mesmo período F.C.Porto por duas vezes, e Sporting por uma (além da selecção nacional), conseguiram lá chegar.A selecção alemã que temos visto neste Europeu é uma boa equipa, com processos de jogo bem assimilados, mas à qual falta alguma imaginação. Tem lacunas óbvias, a começar na dupla de centrais, e mesmo no plano atlético não parece ao nível das selecções que no passado impressionavam o mundo – lembremo-nos de Hrubesch, Briegel, Rumennigge entre outros, e perceberemos bem a diferença.
É um adversário de respeito, pode muito bem eliminar-nos, mas não é, de modo algum, inacessível, nem mesmo a uma selecção nacional com os problemas que Portugal também tem, nomeadamente na baliza, no lado esquerdo da defesa e no centro do ataque, como tem sido reiteradamente apontado pela generalidade dos observadores independentes, nem mesmo levando em conta que Low deverá proceder a alguns ajustamentos no onze inicial, dotando-o de maior equilíbrio e verticalidade - designadamente com a entrada de Hitzlsperger para o lado esquerdo do meio-campo, permitindo a Ballack maior liberdade ofensiva, e colocando Podolski (em muito boa forma) bem junto a Klose na frente de ataque.Não me parece que fosse mais fácil para Portugal desembaraçar-se da atrevida e estimulante Croácia que se viu nestes três jogos – até pela imprevisibilidade do se futebol -, do que desta Alemanha, que entusiasmou e assustou na primeira ronda diante da modesta Polónia, mas depois se cingiu a uma qualificação meramente burocrática, sem perfume nem encanto. Aliás, olhando à história das presenças portuguesas em fases finais de Europeus e Mundiais, verifica-se que a nossa selecção costuma dar-se bem com selecções da aristocracia do futebol mundial (venceu em fases finais Inglaterra, Holanda, Alemanha, Brasil e Espanha, algumas delas mais de uma vez), vacilando frequentemente diante de nomes menos sonantes e quando menos se espera (Coreia do Sul, Estados Unidos, Marrocos, Polónia, República Checa e…Grécia).
Por tudo isto, devo dizer que estou optimista para este confronto. Penso que Portugal não tem menos hipóteses com esta Alemanha do que tinha, por exemplo, com a Inglaterra em 2004 e 2006. Vai ser certamente um jogo sofrido, não existirão facilidades, mas acredito que a força mental dos jogadores portugueses os empurre para aquilo que necessitam de fazer, e que, mais do que brilhar, mais do que deslumbrar, se consubstancia em não cometer erros. É neste particular que se vai jogar a presença nas meias-finais: quem cometer menos erros vencerá.
A selecção portuguesa, desde que é orientada por Scolari, tem-nos dados provas sucessivas de estar preparada para enfrentar estes momentos de forma adequada. Depois de amanhã em Basileia, definir-se-á se este vai ou não ser um Europeu para marcar na história do futebol português, ao lado dos de 1984, 2000 e 2004, ou se pelo contrário irá deixar um sabor a desilusão, mesmo que relativa – a obrigação está cumprida, o que vier a mais é ganho.
Vamos acreditar, vamos confiar.
Força Portugal !!!

Equipas prováveis:
PORTUGAL- Ricardo, Bosingwa, Pepe, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Petit, João Moutinho, Deco, Simão Sabrosa, Nuno Gomes e Cristiano Ronaldo
ALEMANHA- Lehmann, Friedrich, Metzelder, Mertesacker, Lahm, Frings, Fritz, Hitzlsperger, Ballack, Klose e Podolski

4 comentários:

Anónimo disse...

A receita é velha e pertence ao falecido "Zé do Boné" - Ir trocando a bola, fazê-los correr atrás dela, não a perder de forma comprometedora no meio campo como têm feito bastas vezes os nossos três médios (Moutinho, Deco e Petit).

No jogo com a Croácia, até aos 2-0 a Alemanha práticamente não tocou na Bola...

LF disse...

e acima de tudo não cometer erros.

Bruno Pinto disse...

Acho que Portugal tem boas hipóteses de passar. Só espero é que a minha sensação de que Scolari jogará no miolo com Meira, Petit e Deco, não se confirme, pois aí estaria a desvirtuar os nossos princípios básicos para se adaptar aos alemães. O meio-campo tem de ser Petit (ou Meira), Moutinho e Deco, sem invenções.
As lacunas de Portugal apontadas, concordo, embora do lado esquerdo da defesa, Paulo Ferreira esteja a realizar uma muito boa competição, pelo que não será por aí que Portugal passará por dificuldades.

LF disse...

O meio campo está formado e é com Moutinho.

Quanto ao Paulo Ferreira, jogador que aprecio e profissional que estimo, lamento não concordar.
É um excelente defesa-direito, mas é um mediano defesa-esquerdo. E está juntamente com Ricardo a ser o elemento menos da nossa selecção.
Quase todas as jogadas de perigo da Turquia e da Rep.Checa foram pelo seu corredor.