SUPERIORIDADE INCONTESTÁVEL PINTOU CLÁSSICO DE AZUL E BRANCO
A vitória do F.C.Porto no clássico da Luz não sofre a mínima contestação, e faz inteira justiça àquilo que se passou no relvado. Os dragões mostraram ser melhores em todos os capítulos do jogo, quer quando, na primeira parte, dominaram totalmente as operações e procuraram insistentemente o golo, quer quando, já em vantagem, foram capazes de conter a tímida e pouco convincente reacção benfiquista.
Importa pois identificar as razões que estiveram na origem de tal superioridade, exercício que até resulta fácil de fazer para quem tenha seguido o jogo com atenção.
Em primeiro lugar, a equipa de Jesualdo Ferreira demonstrou – sem surpresa – que se encontra num patamar de mecanização colectiva e de automatismos de jogo muito superior à recém formada equipa do Benfica. É elucidativo que o F.C.Porto não tenha apresentado no onze inicial nenhum jogador contratado esta temporada, enquanto o Benfica, não só utilizou algumas aquisições deste ano (ainda assim apenas três), como sobretudo apresentou um modelo de jogo, um sistema táctico e um treinador diferentes dos que tinha quando o campeonato se iniciou. Isso reflecte-se naturalmente no desempenho colectivo das equipas, na articulação das suas movimentações em bloco e, naturalmente, nos resultados. Sob o comando de Lucho Gonzalez o triângulo do meio-campo portista consegue uma ligação quase perfeita com os sectores mais avançados e mais recuados, cortando linhas de passe e exercendo uma pressão asfixiante contra a qual se torna muito difícil pensar e executar o jogo. As transições são realizadas com um rigor militar (próprio das grandes equipas europeias), ora fechando a equipa numa concha, manietando por completo a acção do homem da bola, ora desmultiplicando-se em acções ofensivas assim que em posse, servindo-se então da classe individual de alguns dos seus executantes para lançar o pânico da defensiva contrária, o que tão bem fez ao longo de toda a primeira parte. O primeiro defesa do F.C.Porto é justamente Lisandro Lopez, que exerce uma pressão incansável sobre a primeira linha de construção do Benfica, limitando desde logo as suas opções de saída para o ataque. De resto, em todos os momentos de jogo, a equipa portista funciona como um bloco coeso e organizado, por antagonismo com o Benfica, onde há jogadores que defendem, outros que atacam e, bastas vezes, um enorme espaço entre eles.
O segundo aspecto é precisamente o talento das individualidades. Quando o Benfica vendeu Manuel Fernandes e Simão Sabrosa para clubes que pretendiam justamente Lucho e Quaresma, eu disse aqui que, em nome de uns tostões - Simão sobretudo foi muito mal vendido, e ainda estou à espera de saber quem são os tais dois jogadores que o Atlético de Madrid ficou supostamente de ceder -, o clube da Luz tinha provavelmente aniquilado grande parte das suas expectativas para a presente temporada. Pelo que já se viu, não andava muito longe da realidade, pois são precisamente esses dois, juntamente com Lisandro, os elementos que, tanto na Europa como em Portugal têm feito a diferença, e o Benfica não tem manifestamente ninguém em condições de equilibrar a balança. Com as grandes exibições desse triunvirato – o génio de Quaresma, a inteligência de Lucho e a generosidade competitiva de Lisandro complementaram-se na perfeição -, a vitória do F.C.Porto foi também a vitória do talento contra a simples boa vontade.
Finalmente, o terceiro dado a reter desta manifestação de superioridade portista foi a gritante diferença de condição atlética entre as duas equipas. Este F.C.Porto, para além de grandes talentos, tem também grandes atletas. Bosingwa, Lisandro, Fucile, Tarik, para apenas mencionar aqueles que mais me impressionaram nesse particular, são jogadores fortes, ágeis, rápidos e resistentes em muito mais larga medida que a maioria dos jogadores do Benfica. Mas, ao analisar a condição física dos dois conjuntos, não podemos deixar de dizer também que a gestão estratégica desta semana de competição foi bastante mal conduzida por José António Camacho. Com a Liga dos Campeões praticamente perdida e o campeonato nacional ao rubro, não fazia sentido uma aposta tão firme e eloquente no jogo com o Milan. Percebe-se que o prestígio internacional é importante, e eu próprio, enquanto adepto, em igualdade de circunstâncias, privilegio sempre as competições internacionais. Neste caso porém, as possibilidades de êxito não eram equivalentes, e nunca se saberá até que ponto teria sido possível apresentar outra face frente ao F.C.Porto, caso o desgaste físico e emocional do jogo europeu tivesse sido, digamos, mais comedido, quer através da não utilização dos dois ou três elementos mais desgastados, quer pelo menos, por via de uma abordagem ao jogo mais pausada, provavelmente menos espectacular, mas, olhando ao momento competitivo em termos de temporada, talvez mais eficaz. Katsouranis, Maxi Pereira e Rodriguez sentiram claramente nas pernas o peso do esforço de quarta-feira, Rui Costa ou Léo também, enquanto que nos dragões, pago o preço de uma goleada em Liverpool, todas as unidades apareceram na Luz, num jogo fundamental para a classificação, com níveis físicos e anímicos impressionantes. Acresce que o F.C.Porto ficou com todas as suas possibilidades em aberto na Europa, e o Benfica, caso tivesse perdido com o Milan, estaria exactamente como está neste momento, a precisar de vencer em Donetsk para seguir na Uefa.
Tendo em conta todos estes aspectos, a vitória do F.C.Porto reveste-se da maior naturalidade. Há que reconhecer que a força dos encarnados tem residido, nas últimas e vitoriosas semanas, mais em aspectos do domínio emocional do que propriamente técnico-tácticos. Ou seja, o Benfica tem conseguido vitórias alicerçadas no seu carácter e na sua atitude competitiva – elementos incutidos por Camacho -, que o têm feito, e provavelmente farão, perder poucos pontos contra equipas mais pequenas e com menores argumentos técnicos. Num jogo desta natureza esses elementos estão necessariamente presentes de ambos os lados em igual medida, sendo assim neutralizados. Vêm então ao de cima a organização colectiva (táctica), a qualidade das individualidades (talento) e, neste caso também, a condição atlética (força). Em todos eles o F.C.Porto fez um verdadeiro xeque-mate, tendo agora caminho aberto para o título.
Com sete pontos de atraso, em desvantagem no confronto directo, a ter de visitar Alvalade e o Dragão as contas do título complicaram-se dramaticamente para o Benfica. Resta-lhe tentar a presença na Uefa – o jogo da Ucrânia ganhou nova dimensão -, procurar manter o segundo lugar na Liga, e vencer a Taça de Portugal para poder terminar a época em festa. E no próximo defeso não voltar a cometer os inacreditáveis erros que cometeu nos dois últimos, sob pena de o F.C.Porto se perpetuar como crónico campeão português, e afirmar ainda mais a sua já total hegemonia.
Importa pois identificar as razões que estiveram na origem de tal superioridade, exercício que até resulta fácil de fazer para quem tenha seguido o jogo com atenção.
Em primeiro lugar, a equipa de Jesualdo Ferreira demonstrou – sem surpresa – que se encontra num patamar de mecanização colectiva e de automatismos de jogo muito superior à recém formada equipa do Benfica. É elucidativo que o F.C.Porto não tenha apresentado no onze inicial nenhum jogador contratado esta temporada, enquanto o Benfica, não só utilizou algumas aquisições deste ano (ainda assim apenas três), como sobretudo apresentou um modelo de jogo, um sistema táctico e um treinador diferentes dos que tinha quando o campeonato se iniciou. Isso reflecte-se naturalmente no desempenho colectivo das equipas, na articulação das suas movimentações em bloco e, naturalmente, nos resultados. Sob o comando de Lucho Gonzalez o triângulo do meio-campo portista consegue uma ligação quase perfeita com os sectores mais avançados e mais recuados, cortando linhas de passe e exercendo uma pressão asfixiante contra a qual se torna muito difícil pensar e executar o jogo. As transições são realizadas com um rigor militar (próprio das grandes equipas europeias), ora fechando a equipa numa concha, manietando por completo a acção do homem da bola, ora desmultiplicando-se em acções ofensivas assim que em posse, servindo-se então da classe individual de alguns dos seus executantes para lançar o pânico da defensiva contrária, o que tão bem fez ao longo de toda a primeira parte. O primeiro defesa do F.C.Porto é justamente Lisandro Lopez, que exerce uma pressão incansável sobre a primeira linha de construção do Benfica, limitando desde logo as suas opções de saída para o ataque. De resto, em todos os momentos de jogo, a equipa portista funciona como um bloco coeso e organizado, por antagonismo com o Benfica, onde há jogadores que defendem, outros que atacam e, bastas vezes, um enorme espaço entre eles.
O segundo aspecto é precisamente o talento das individualidades. Quando o Benfica vendeu Manuel Fernandes e Simão Sabrosa para clubes que pretendiam justamente Lucho e Quaresma, eu disse aqui que, em nome de uns tostões - Simão sobretudo foi muito mal vendido, e ainda estou à espera de saber quem são os tais dois jogadores que o Atlético de Madrid ficou supostamente de ceder -, o clube da Luz tinha provavelmente aniquilado grande parte das suas expectativas para a presente temporada. Pelo que já se viu, não andava muito longe da realidade, pois são precisamente esses dois, juntamente com Lisandro, os elementos que, tanto na Europa como em Portugal têm feito a diferença, e o Benfica não tem manifestamente ninguém em condições de equilibrar a balança. Com as grandes exibições desse triunvirato – o génio de Quaresma, a inteligência de Lucho e a generosidade competitiva de Lisandro complementaram-se na perfeição -, a vitória do F.C.Porto foi também a vitória do talento contra a simples boa vontade.
Finalmente, o terceiro dado a reter desta manifestação de superioridade portista foi a gritante diferença de condição atlética entre as duas equipas. Este F.C.Porto, para além de grandes talentos, tem também grandes atletas. Bosingwa, Lisandro, Fucile, Tarik, para apenas mencionar aqueles que mais me impressionaram nesse particular, são jogadores fortes, ágeis, rápidos e resistentes em muito mais larga medida que a maioria dos jogadores do Benfica. Mas, ao analisar a condição física dos dois conjuntos, não podemos deixar de dizer também que a gestão estratégica desta semana de competição foi bastante mal conduzida por José António Camacho. Com a Liga dos Campeões praticamente perdida e o campeonato nacional ao rubro, não fazia sentido uma aposta tão firme e eloquente no jogo com o Milan. Percebe-se que o prestígio internacional é importante, e eu próprio, enquanto adepto, em igualdade de circunstâncias, privilegio sempre as competições internacionais. Neste caso porém, as possibilidades de êxito não eram equivalentes, e nunca se saberá até que ponto teria sido possível apresentar outra face frente ao F.C.Porto, caso o desgaste físico e emocional do jogo europeu tivesse sido, digamos, mais comedido, quer através da não utilização dos dois ou três elementos mais desgastados, quer pelo menos, por via de uma abordagem ao jogo mais pausada, provavelmente menos espectacular, mas, olhando ao momento competitivo em termos de temporada, talvez mais eficaz. Katsouranis, Maxi Pereira e Rodriguez sentiram claramente nas pernas o peso do esforço de quarta-feira, Rui Costa ou Léo também, enquanto que nos dragões, pago o preço de uma goleada em Liverpool, todas as unidades apareceram na Luz, num jogo fundamental para a classificação, com níveis físicos e anímicos impressionantes. Acresce que o F.C.Porto ficou com todas as suas possibilidades em aberto na Europa, e o Benfica, caso tivesse perdido com o Milan, estaria exactamente como está neste momento, a precisar de vencer em Donetsk para seguir na Uefa.
Tendo em conta todos estes aspectos, a vitória do F.C.Porto reveste-se da maior naturalidade. Há que reconhecer que a força dos encarnados tem residido, nas últimas e vitoriosas semanas, mais em aspectos do domínio emocional do que propriamente técnico-tácticos. Ou seja, o Benfica tem conseguido vitórias alicerçadas no seu carácter e na sua atitude competitiva – elementos incutidos por Camacho -, que o têm feito, e provavelmente farão, perder poucos pontos contra equipas mais pequenas e com menores argumentos técnicos. Num jogo desta natureza esses elementos estão necessariamente presentes de ambos os lados em igual medida, sendo assim neutralizados. Vêm então ao de cima a organização colectiva (táctica), a qualidade das individualidades (talento) e, neste caso também, a condição atlética (força). Em todos eles o F.C.Porto fez um verdadeiro xeque-mate, tendo agora caminho aberto para o título.
Com sete pontos de atraso, em desvantagem no confronto directo, a ter de visitar Alvalade e o Dragão as contas do título complicaram-se dramaticamente para o Benfica. Resta-lhe tentar a presença na Uefa – o jogo da Ucrânia ganhou nova dimensão -, procurar manter o segundo lugar na Liga, e vencer a Taça de Portugal para poder terminar a época em festa. E no próximo defeso não voltar a cometer os inacreditáveis erros que cometeu nos dois últimos, sob pena de o F.C.Porto se perpetuar como crónico campeão português, e afirmar ainda mais a sua já total hegemonia.
No plano individual, além dos destaques já feitos entre os portistas, é de referir que, no Benfica, Nuno Gomes, Rui Costa e Quim foram os que mais próximo estiveram do seu real valor.
A arbitragem não teve influência no resultado, se bem que talvez pudesse ter evitado assinalar muitas das faltas que assinalou, sem as quais o espectáculo teria sido bem mais bonito.
PS: Camacho continua sem ser feliz nos jogos em casa frente aos grandes. Nas duas passagens pela Luz, em seis jogos, duas derrotas e um empate com o F.C.Porto, duas derrotas e um empate com o Sporting.
4 comentários:
Como benfiquista é triste ler esta crónica que retrata a real qualidade do SLB, mas contra factos não há argumentos. Será que o nosso presidente aprendeu alguma coisa com os disparates dos últimos dois anos, no que diz respeito a contratações? Com um bocadinho de húmildade, menos populismo e aconselhamento de ex-jogadores que muito deram ao clube (Humberto, Toni, José Augusto e...), talvez conseguisse adquirir o mínimo de qualidade nas contratações invés da quantidade.
Enfim, mais um ano frustrante aguardando "os amanhãs que cantam", como promete o "camarada" LFV.
FS
É importante reflectir sobre várias coisas:
1- Porque é que muitos jogadores não querem continuar no Benfica e fazem tudo para sair para o estrangeiro, enquanto no F.C.Porto isso aparentemente não acontece, ou se acontece, é rapidamente sanado ?
2- Porque se vendem reiteradamente jogadores sem ter substitutos encontrados previamente, tendo que os encontrar à pressa e em desespero ?
3- O que seria deste Benfica se Camacho não tivesse trazido, in extremis, Rodriguez e Maxi Pereira ?
4- Quem é o responsável pelas contratações de Zoro, Bergessio e Andrés Diaz ?
5- Será que Luís Filipe Vieira quer mesmo que seja o Benfica o campeão ?
LF
Sempre que o Benfica perde ou empata, tem de se reflectir, pondo tudo em causa, vai-se sempre buscar os antigos jogadores, esses jogadores saiem, porque lhe dão muito mais dinheiro, com o fcp acontece o mesmo, só que o fcp abre os cordões á bolsa e mantem os melhores jogadores, para exemplo basta ver os orçamentos das duas SADs
No jogo contra o AC Milan, estavamos a jogar muito e fizemos uma belissima partida, com o fcp foi uma nódoa
Eu acho, que se devia falar das causas deste jogo menos conseguido e a grande diferença, em tão pouco tempo, no meu modo de ver, foi realmente o tempo de recuperação entre os dois jogos, que foi pouco para os jogadores do Benfica
Repare, o fcp tira 4 jogadores da sua melhor equipa, para jogar com o Liverpool, já a pensar no jogo com o Benfica, por sua vez o Benfica arrisca tudo no jogo da Champions e repete a totalidade da equipa contra o fcp, era provavel que a equipa tive-se problemas fisicos
Depois, temos a táctica de Camacho, "colar" Rui Costa a Paulo Assunção, foi suicidio completo, o Benfica ficou sem o seu "motor" e o seu "cerebro" e tinha de dar só fcp
O Camacho a perder, não teve coragem de jogar com 2 pontas de lança, nos poucos minutos em que tiveram em campo criaram logo uma grande oportunidade para Nuno Gomes, Camacho deveria ter estudado melhor as movimentações do fcp
Deveria ter estudado tambem as prioridades, a condição fisica e moral do Benfica nesta altura da época, a Champions não deveria ser uma prioridade
Quero ainda falar de Jorge Sousa, o arbitro do clássico, deixou por marcar 2 penaltys uma para cada lado, mas na mais nitida, ainda mostrou cartão amarelo a Di Maria, ficando o Benfica prejudicado 2 vezes
O problema é que os erros cometidos no início da época pagam-se ao longo da mesma. É claro que quando o Benfica perde, analisando as causas, chegamos a eles.
É preciso afirmar claramente que a culpa da situação em que o Benfica está é da sua direcção, que não soube, não pôde ou não quis, manter um mínimo de estabilidade na sua equipa, quando a mesma tinha ficado a dois pontos do título, e nos quartos-de-final de uma prova europeia.
Por muito boa vontade que haja, agora não há milagres. Esta é, mais que provavelmente, mais uma época perdida.
Mais ano menos ano temos o F.C.Porto com os mesmos títulos, enquanto nós continuamos com o pão e o circo que esta direcção nos dá.
O F.C.Porto é um bom modelo. É apenas fazer o que eles fazem. E sobretudo não fazer aquilo que eles não fazem.
Como seria o campeonato com o Benfica com Simão, Manuel Fernandes e Miccoli, e o F.C.Porto sem Lucho e sem Quaresma ?
Quanto à gestão estratégica desta semana, concordo e reafirmo que a prioridade das prioridades deveria ter sido o jogo com o F.C.Porto.
Mas não tenho a certeza de que a culpa tenha sido do treinador.
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