SELECÇÃO OU CLUBE, QUEM MANDA MAIS NO NOSSO CORAÇÃO
Mesmo aqui ao lado, numa das caixas de – poderei assim chamar-lhe – "sondagem", é pedido ao leitor que diga se o seu entusiasmo se faz sentir mais com os jogos e as vitórias da selecção nacional, ou com os do seu clube. É justo que, mediante tão pertinente desafio, a "casa" manifeste também a sua opção, embora quem por aqui tenha o hábito de passar, já deva saber de algum modo as linhas com que por aqui se vai cosendo.
Pois bem. Para mim é perfeitamente equivalente a emoção, a intensidade, e a vibração que sinto perante um jogo da selecção nacional e um jogo do meu clube – como sabem o Benfica. Clube e selecção preenchem diferentes e complementares espaços da minha vivência futebolística e desportiva, e um e outro a ela fazem falta. É, mal comparado, quase como ter de escolher entre dois filhos, dois irmãos ou o pai e a mãe. Quase sempre assim foi, desde o longínquo ano de 1976, quando, numa noite de Novembro, se jogou na Luz primeiro jogo da selecção nacional do qual tenho memória, ainda que difusa – um Portugal-Dinamarca, que ganhámos por 1-0 com um golo de Manuel Fernandes, e no qual se estreou um menino de barbas chamado Fernando Chalana.
Saía-se então de um período em que, fruto da revolução de Abril, de alguns equívocos ou excessos com ela relacionados, e de uma descolonização tardia e conturbada, a selecção era maldita pelo povo e considerada tão fascista como o Estádio Nacional mandado construir nos anos quarenta por Oliveira Salazar. Foi o tempo em que o próprio futebol era, à boa maneira marxista, proclamado como ópio do povo, e factor de alienação das atenções da classe operária. E era-o justamente por muitos dos que, anos mais tarde, bem estacionados na vida, de pronto esqueceram os desfavorecidos, contribuindo do alto do poder que entretanto conquistaram na sociedade, para um sistema amplamente reprodutor de desigualdades, da ansiedade social, do desemprego e da exclusão, que antes tanto diziam combater, mas que está aí bem de pé. Mas enfim, aqui é de futebol que se fala.
Queria eu dizer que foi justamente numa fase em que a selecção procurava re-ocupar o seu lugar no desporto português que eu a ela aderi de coração aberto, como só uma criança é capaz de fazer. Foi sem dúvida a minha mais precoce manifestação de patriotismo, e ainda hoje permanece como a principal delas, pois nunca como nos jogos da selecção me comovi a ouvir o hino nacional, e poucas vezes senti tanto orgulho em ser português como em algumas das vitórias da nossa selecção.
Mas para além da redundante condição que me é dada pela nacionalidade, a selecção portuguesa sempre representou para mim um bocadinho mais do que isso, até porque o meu patriotismo lacto sensu nunca passou da mediania. A selecção não só era a equipa do meu país, mas também a minha equipa, ou melhor, uma das minhas equipas. Os apuramentos para o Euro 84, e Mundial de 86, e as respectivas fases finais, representaram o sedimentar dessa paixão que, com altos e baixos, se foi mantendo até hoje, tendo talvez como ponto alto a inolvidável vivência do Euro 2004 – meti férias e andei de estádio em estádio a saborear o evento -, sem esquecer o dramatismo com que vivenciei os melhores momentos do último mundial, e que aqui partilhei convosco na altura.
Momentos houve em que o Benfica significou para mim bastante mais do que a selecção nacional. Lembro-me, por exemplo, do período pós Saltillo, durante o qual o Benfica foi a duas finais europeias enquanto a selecção permanecia mergulhada no caos, entre indisponíveis e seabrinhas, entre a vergonha e o desconsolo. Mas também não é menos verdade que noutras alturas, foi a selecção a tomar a dianteira das minhas atenções e da minha paixão futebolística, como por exemplo no final dos anos noventa, quando o "valeeazevedismo" dominava o clube da Luz, e na selecção despontava a grande fornada dos Figos, Rui Costas et autres Fernando Coutos, que ainda por cima já haviam saído dos clubes portugueses, elevando-se assim a um plano de supra clubismo capaz de fazer recrudescer afectos e angustias, e aglutinar atrás de si todo o país desportivo, como de certo modo veio a acontecer nos anos posteriores.
Portanto a relação amor clubista versus amor selecção nacional é para mim perfeitamente simétrica, sendo que em oportunidades diferentes me chego mais para um ou outro lado, conforme as circunstâncias do momento. Nesta medida, não custa também reconhecer que muitos dos jogos das últimas fases de qualificação, frente a selecções como o Liechtenstein, Azerbaijão, Cazaquistão, Luxemburgo, Andorra etc, não se me afiguraram particularmente estimulantes. Tal aliás, como se o Benfica enfrentasse o Vilafranquense ou o Pêro Pinheiro para a Taça de Portugal, onde o reduzido interesse competitivo me causaria decerto um quase total alheamento.
E, por falar em clubes mais pequenos, há ainda o Juventude da minha terra, que acompanho sempre que posso, e muitas vezes também disputa este, por assim dizer, “campeonato”, onde cada um tem o seu papel, e todos constroem, pedra a pedra, vitória a vitória, a paixão irreprimível que tenho por este jogo, que a todos nos move, que todos amamos e a todos nos une.
Para finalizar, deixo apenas uma reflexão/confissão que me parece oportuna: se pudesse escolher entre a passagem do Benfica aos oitavos-de-final da Champions, e a presença de Portugal no Euro 2008, não hesitava e optava pela segunda.
Pois bem. Para mim é perfeitamente equivalente a emoção, a intensidade, e a vibração que sinto perante um jogo da selecção nacional e um jogo do meu clube – como sabem o Benfica. Clube e selecção preenchem diferentes e complementares espaços da minha vivência futebolística e desportiva, e um e outro a ela fazem falta. É, mal comparado, quase como ter de escolher entre dois filhos, dois irmãos ou o pai e a mãe. Quase sempre assim foi, desde o longínquo ano de 1976, quando, numa noite de Novembro, se jogou na Luz primeiro jogo da selecção nacional do qual tenho memória, ainda que difusa – um Portugal-Dinamarca, que ganhámos por 1-0 com um golo de Manuel Fernandes, e no qual se estreou um menino de barbas chamado Fernando Chalana.
Saía-se então de um período em que, fruto da revolução de Abril, de alguns equívocos ou excessos com ela relacionados, e de uma descolonização tardia e conturbada, a selecção era maldita pelo povo e considerada tão fascista como o Estádio Nacional mandado construir nos anos quarenta por Oliveira Salazar. Foi o tempo em que o próprio futebol era, à boa maneira marxista, proclamado como ópio do povo, e factor de alienação das atenções da classe operária. E era-o justamente por muitos dos que, anos mais tarde, bem estacionados na vida, de pronto esqueceram os desfavorecidos, contribuindo do alto do poder que entretanto conquistaram na sociedade, para um sistema amplamente reprodutor de desigualdades, da ansiedade social, do desemprego e da exclusão, que antes tanto diziam combater, mas que está aí bem de pé. Mas enfim, aqui é de futebol que se fala.
Queria eu dizer que foi justamente numa fase em que a selecção procurava re-ocupar o seu lugar no desporto português que eu a ela aderi de coração aberto, como só uma criança é capaz de fazer. Foi sem dúvida a minha mais precoce manifestação de patriotismo, e ainda hoje permanece como a principal delas, pois nunca como nos jogos da selecção me comovi a ouvir o hino nacional, e poucas vezes senti tanto orgulho em ser português como em algumas das vitórias da nossa selecção.
Mas para além da redundante condição que me é dada pela nacionalidade, a selecção portuguesa sempre representou para mim um bocadinho mais do que isso, até porque o meu patriotismo lacto sensu nunca passou da mediania. A selecção não só era a equipa do meu país, mas também a minha equipa, ou melhor, uma das minhas equipas. Os apuramentos para o Euro 84, e Mundial de 86, e as respectivas fases finais, representaram o sedimentar dessa paixão que, com altos e baixos, se foi mantendo até hoje, tendo talvez como ponto alto a inolvidável vivência do Euro 2004 – meti férias e andei de estádio em estádio a saborear o evento -, sem esquecer o dramatismo com que vivenciei os melhores momentos do último mundial, e que aqui partilhei convosco na altura.
Momentos houve em que o Benfica significou para mim bastante mais do que a selecção nacional. Lembro-me, por exemplo, do período pós Saltillo, durante o qual o Benfica foi a duas finais europeias enquanto a selecção permanecia mergulhada no caos, entre indisponíveis e seabrinhas, entre a vergonha e o desconsolo. Mas também não é menos verdade que noutras alturas, foi a selecção a tomar a dianteira das minhas atenções e da minha paixão futebolística, como por exemplo no final dos anos noventa, quando o "valeeazevedismo" dominava o clube da Luz, e na selecção despontava a grande fornada dos Figos, Rui Costas et autres Fernando Coutos, que ainda por cima já haviam saído dos clubes portugueses, elevando-se assim a um plano de supra clubismo capaz de fazer recrudescer afectos e angustias, e aglutinar atrás de si todo o país desportivo, como de certo modo veio a acontecer nos anos posteriores.
Portanto a relação amor clubista versus amor selecção nacional é para mim perfeitamente simétrica, sendo que em oportunidades diferentes me chego mais para um ou outro lado, conforme as circunstâncias do momento. Nesta medida, não custa também reconhecer que muitos dos jogos das últimas fases de qualificação, frente a selecções como o Liechtenstein, Azerbaijão, Cazaquistão, Luxemburgo, Andorra etc, não se me afiguraram particularmente estimulantes. Tal aliás, como se o Benfica enfrentasse o Vilafranquense ou o Pêro Pinheiro para a Taça de Portugal, onde o reduzido interesse competitivo me causaria decerto um quase total alheamento.
E, por falar em clubes mais pequenos, há ainda o Juventude da minha terra, que acompanho sempre que posso, e muitas vezes também disputa este, por assim dizer, “campeonato”, onde cada um tem o seu papel, e todos constroem, pedra a pedra, vitória a vitória, a paixão irreprimível que tenho por este jogo, que a todos nos move, que todos amamos e a todos nos une.
Para finalizar, deixo apenas uma reflexão/confissão que me parece oportuna: se pudesse escolher entre a passagem do Benfica aos oitavos-de-final da Champions, e a presença de Portugal no Euro 2008, não hesitava e optava pela segunda.
2 comentários:
LF
No meu coração manda mais o meu clube, porque fui eu que o escolhi, português sou porque nasci cá e nada posso fazer
Como nasci em Portugal, serei português até morrer e sou muito nacionalista, penso que a selecção de Portugal deveria ser compósta exclusivamente por portugueses nascidos em Portugal
Quero ainda referir, que antes de 1975, as colónias (para mim) eram Portugal e estou de acordo que os jogadores africanos jogassem por Portugal, tudo isto para dizer, que estou contra os jogadores naturalizados nas Selecções Nacionais Portuguesas, seja em futebol ou noutra modalidade qualquer
Quero deixar aqui bem cláro, que apoio a Selecção Nacional, como apoio o Benfica, ou o Juventude de Évora e que quero que vença sempre
Agora, o Benfica "mexe" muito mais comigo, talvez por viver em Portugal, acredito que para os imigrantes a Selecção seja muito importante e que represente um pouco do seu país natal e que a vivam com mais intensidade do que eu
Em relação á qualificação do Benfica para os oitavos de final da Champions ou a qualificação de Portugal para o Euro2008, estou de acordo com o LF, é mais importante para Portugal estar no Euro, que o Benfica nos oitavos de final da Champions, até porque o Benfica dificilmente poderá vencer a Champions e Portugal poderá vencer o Euro2008
E também porque CHampions há todos os anos, e Euros são só de 4 em 4.
De resto o argumento da escolha é forte, mas, no meu caso, se escolhesse uma selecção e um país, também escolhia o nosso.
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