JOGOS PARA A ETERNIDADE (12) - Os meus clássicos Benfica-F.C.Porto
Joga-se amanhã na Luz mais um grande clássico entre Benfica e F.C.Porto. Amplos dominadores do futebol português no último quarto de século (22 títulos em 25 anos), máximos representantes lusos além fronteiras (ambos bi-campeões europeus e totalizando em conjunto 12 finais europeias), são estes –amigos sportinguistas que me perdoem - inquestionavelmente os dois maiores clubes portugueses da actualidade, quaisquer que sejam os critérios que utilizemos para os avaliar e hierarquizar.
Este jogo surge numa altura em que o Benfica - com cinco vitórias consecutivas na liga - cresce a olhos vistos, enquanto que o F.C.Porto parece dar sinais de alguma quebra, depois de um início de época absolutamente imaculado. Nada que condicione as expectativas para a partida de amanhã, onde é tradicional o F.C.Porto agigantar-se, e conseguir, na maioria das vezes, alcançar os seus objectivos. A história assim o diz, e é dela que pretendo falar agora.
Comecei a ver futebol em 1976. Desde então (nomeadamente desde um F.C.Porto-Benfica 0-1, golo de Chalana), fazendo as contas a todos os Benfica-Portos e Porto-Benficas que se sucederam, cheguei ao bonito e caprichoso número de cem. Foram precisamente cem os clássicos do meu tempo, contando com todas as competições oficiais em que os dois emblemas se encontraram (Campeonato, Taça e Supertaça), não me recordando de um só jogo amigável entre ambos, o que aliás é perfeitamente natural em face de uma rivalidade doentia, alimentada sobretudo pelo presidente portista, mas que tem perpassado para a generalidade dos adeptos de um e outro clube.
Neste período, o F.C.Porto leva vantagem. Dos 100 jogos venceu 43, e apenas perdeu 28, registando-se 29 empates. Essa superioridade tem sido expressa sobretudo nos jogos disputados em sua casa (32 vitórias e 5 derrotas), pois se nos cingirmos aos números registados na Luz, verificamos que o Benfica venceu em 19 ocasiões perdendo apenas 9. Estes últimos números mascaram no entanto uma realidade que tem sido a nota dominante dos clássicos disputados na Luz: em quase todos os momentos de decisão o F.C.Porto tem levado a melhor, quer vencendo, quer empatando (17 empates na Luz), conseguindo frequentemente sair do reduto do rival com a sua situação classificativa reforçada, e por vezes com os títulos praticamente na algibeira.Este jogo surge numa altura em que o Benfica - com cinco vitórias consecutivas na liga - cresce a olhos vistos, enquanto que o F.C.Porto parece dar sinais de alguma quebra, depois de um início de época absolutamente imaculado. Nada que condicione as expectativas para a partida de amanhã, onde é tradicional o F.C.Porto agigantar-se, e conseguir, na maioria das vezes, alcançar os seus objectivos. A história assim o diz, e é dela que pretendo falar agora.
Comecei a ver futebol em 1976. Desde então (nomeadamente desde um F.C.Porto-Benfica 0-1, golo de Chalana), fazendo as contas a todos os Benfica-Portos e Porto-Benficas que se sucederam, cheguei ao bonito e caprichoso número de cem. Foram precisamente cem os clássicos do meu tempo, contando com todas as competições oficiais em que os dois emblemas se encontraram (Campeonato, Taça e Supertaça), não me recordando de um só jogo amigável entre ambos, o que aliás é perfeitamente natural em face de uma rivalidade doentia, alimentada sobretudo pelo presidente portista, mas que tem perpassado para a generalidade dos adeptos de um e outro clube.
Se a história recente vingar, neste sábado o F.C.Porto empatará na Luz, e levará para o norte os mesmos quatro pontos de vantagem que tem neste momento, dando uma machadada na recuperação encarnada das últimas semanas, tal como o fez em diversas ocasiões nesta centena de clássicos. Mas como sabemos, em futebol, nada é seguro, nada é garantido, tudo é possível.
Dos jogos que presenciei ao vivo (entre 1987 e a época passada, a cinzento no quadro acima), o Benfica venceu 5, perdeu 3 e registaram-se 10 empates, a maioria dos quais com sabor a derrota. Não é portanto um palmarés muito feliz. Tenho todavia algumas recordações bastante gratas, como a do primeiro clássico a que assisti, naquela que foi a maior enchente de sempre registada em Portugal (140.000 espectadores segundo “A Bola”), e numa temporada em que o F.C.Porto conquistaria o seu primeiro título europeu. O Benfica, vindo de uma humilhante derrota em Alvalade (os célebres 7-1), superiorizou-se categoricamente, vencendo por 3-1 com um hat-trick de Rui Águas, encetando aí a caminhada para o título nacional que viria a conquistar meses depois. Foi o último jogo de futebol a que o meu pai assistiu na sua vida.
Outra das vitórias deu-se em 1993-94, quando um golo de Ailton e outro de Rui Costa, selaram um triunfo que também encaminhou o Benfica de Toni para o título, que viria a conquistar depois dos também célebres 6-3 de Alvalade. Foi o jogo da expulsão de Fernando Couto por agressão a Mozer.
Todas as restantes vitórias que presenciei não valeram títulos, ou melhor, não se verificaram em épocas nas quais o Benfica se tenha sagrado campeão. Um livre de Sabry no tempo de Jupp Heynckes e Vale e Azevedo numa tarde chuvosa de sábado, dois golos de Van Hooijdonk nos 2-1 da época seguinte (a do 6º lugar…), e finalmente o golo solitário de Laurent Robert (frango de Baía…) há duas épocas atrás.
Apesar de ter presenciado duas derrotas que quase valeram o título aos dragões (1991-92 e 2002-03), a mais dramática de todas, aquela que mais me custou a digerir, foi indubitavelmente a de 2004-05, quando a um golo de McCarthy na primeira parte, respondeu o Benfica com um de Petit na segunda, que todavia um tristemente célebre árbitro auxiliar e o seu chefe de equipa Olegário Benquerença decidiram não considerar, mantendo assim o placar em 0-1.
Nunca me senti tão revoltado num estádio de futebol, e tenho a sensação de que se me tivessem roubado a carteira, o estado de espírito não seria muito diferente. Nem o título conquistado nessa época foi suficiente para apagar das memórias uma arbitragem cujos malefícios estiveram longe de se situar apenas no referido lance. Benquerença nunca mais voltou à Luz.
O que resta destas vitórias para um e outro lado, é um conjunto de empates mais ou menos frustrantes, de entre os quais ressaltaria o de 1992-93, com Futre vestido de encarnado, e o da época passada, em que, como se recordarão, caso o Benfica de Fernando Santos tivesse vencido, saltaria para o primeiro lugar da tabela e, “caeteris paribus”, sagrar-se-ia campeão. Ainda no estádio antigo assisti ao meu único Benfica-F.C.Porto para a Taça de Portugal, quando Fernando Santos estava no Porto e Maniche no Benfica. O resultado foi um empate 1-1, que remeteu a eliminatória para as Antas (onde o F.C.Porto venceria 4-0), mas a mim marcou-me principalmente a chuva diluviana que me deixou encharcado, num tempo em que não havia qualquer cobertura nos estádios.
Em redor destes clássicos –ao invés dos derbys lisboetas a que assisti, diga-se - foram surgindo quase sempre alguns episódios de violência, dentro e fora do estádio. No ano passado foram os petardos lançados para cima de adeptos benfiquistas. No ano anterior algumas escaramuças à entrada das claques, o que obrigou a uma correria da multidão em pânico. No tal jogo da benquerençada, recordo também os inúmeros problemas com o número de bilhetes cedidos aos portistas, o que levou a uma concentração de milhares de adeptos em pouquíssimo espaço – lembro-me de, à entrada para esse jogo, ver sair um rosto completamente ensanguentado, interrogando-me se teria começado aí a “guerra civil”.
A situação mais complicada que vivi em termos pessoais foi contudo em 1990, quando situado por baixo de uma bancada repleta de portistas, me passaram bem perto das orelhas, moedas, isqueiros e até garrafas de vidro, felizmente sem consequências nem para mim nem para quem estava por perto. Nessa mesma tarde, na zona onde anos mais tarde se ergueria o centro comercial Colombo, vi ainda um adepto do F.C.Porto ser barbaramente espancado por uns oito “benfiquistas”, o que me chocou profundamente também.
Vivi no Estádio da Luz (antigo e novo) dezoito clássicos, recheados de histórias para contar, mas devo confessar que as maiores alegrias que os Benficas-Portos me proporcionaram foram em jogos nos quais, por um ou outro motivo, não pude estar presente. As finais de Taça de 1980, 1981, 1983, 1985 e 2004, todas vencidas pelo Benfica (curiosamente não me recordo de uma final da Taça de Portugal ganha pelo F.C.Porto ao Benfica), foram momentos de grande felicidade, sobretudo, devo dizer, as que não coincidiram com títulos nacionais, ou seja a primeira (com um golo solitário do brasileiro César), e a última, para a qual não consegui arranjar bilhetes, com Camacho no banco e golos de Simão e Fyssas diante de um F.C.Porto de Mourinho a quatro dias de se sagrar campeão europeu em Gelsenkirchen. A final de 1983 teve a particularidade de se disputar no início da época seguinte, e no Estádio das Antas, depois de uma conturbada batalha institucional, na qual o F.C.Porto acabou por, como era hábito na altura, fazer prevalecer a sua vontade, mesmo contrariando a lógica e a tradição. Não lhe serviu de nada, pois um golo de Carlos Manuel fez com que o Benfica levantasse uma das mais saborosas Taças de Portugal da sua história.
Nunca tive oportunidade de assistir a um F.C.Porto-Benfica em território “inimigo”. Guardo contudo na memória – e já aqui o lembrei – o duelo de 1991, no qual o Benfica levou a melhor com dois golos de César Brito, e praticamente conquistou, nessa tarde, o campeonato. Para além desta vitória, para o campeonato apenas recordo a de há dois anos, com dois golos de Nuno Gomes, e a tal de 1976-77, que foi, como disse no inicio, o primeiro confronto entre os dois clubes de que tenho memória – recordo o resumo do jogo num programa chamado Telefutebol, apresentado por Cordeiro do Vale. Na Taça de Portugal, além da tal final, lembro-me ainda de uma outra vitória do Benfica, em 1981-82, também por 0-1 com um golo de Nené no prolongamento.
Para além destes pontuais momentos de alegria, os Portos-Benficas disputados a norte não tiveram, neste período, um historial muito feliz. Derrotas, e mais derrotas, um empate aqui, um empate ali, alguns dos quais, no entanto, bem valiosos em termos classificativos. Mas a mais pesada derrota aconteceu, ironicamente, no Estádio da Luz, quando com Paulo Autuori no banco, um Benfica sem alma e sem talento, se viu derrotado por 0-5 (!) por um F.C.Porto emplogante. Jogava-se para a Supertaça, competição maldita para as cores encarnadas (16 derrotas em 24 jogos com o rival portuense na prova).
O que resta destas vitórias para um e outro lado, é um conjunto de empates mais ou menos frustrantes, de entre os quais ressaltaria o de 1992-93, com Futre vestido de encarnado, e o da época passada, em que, como se recordarão, caso o Benfica de Fernando Santos tivesse vencido, saltaria para o primeiro lugar da tabela e, “caeteris paribus”, sagrar-se-ia campeão. Ainda no estádio antigo assisti ao meu único Benfica-F.C.Porto para a Taça de Portugal, quando Fernando Santos estava no Porto e Maniche no Benfica. O resultado foi um empate 1-1, que remeteu a eliminatória para as Antas (onde o F.C.Porto venceria 4-0), mas a mim marcou-me principalmente a chuva diluviana que me deixou encharcado, num tempo em que não havia qualquer cobertura nos estádios.
Em redor destes clássicos –ao invés dos derbys lisboetas a que assisti, diga-se - foram surgindo quase sempre alguns episódios de violência, dentro e fora do estádio. No ano passado foram os petardos lançados para cima de adeptos benfiquistas. No ano anterior algumas escaramuças à entrada das claques, o que obrigou a uma correria da multidão em pânico. No tal jogo da benquerençada, recordo também os inúmeros problemas com o número de bilhetes cedidos aos portistas, o que levou a uma concentração de milhares de adeptos em pouquíssimo espaço – lembro-me de, à entrada para esse jogo, ver sair um rosto completamente ensanguentado, interrogando-me se teria começado aí a “guerra civil”.
A situação mais complicada que vivi em termos pessoais foi contudo em 1990, quando situado por baixo de uma bancada repleta de portistas, me passaram bem perto das orelhas, moedas, isqueiros e até garrafas de vidro, felizmente sem consequências nem para mim nem para quem estava por perto. Nessa mesma tarde, na zona onde anos mais tarde se ergueria o centro comercial Colombo, vi ainda um adepto do F.C.Porto ser barbaramente espancado por uns oito “benfiquistas”, o que me chocou profundamente também.
Vivi no Estádio da Luz (antigo e novo) dezoito clássicos, recheados de histórias para contar, mas devo confessar que as maiores alegrias que os Benficas-Portos me proporcionaram foram em jogos nos quais, por um ou outro motivo, não pude estar presente. As finais de Taça de 1980, 1981, 1983, 1985 e 2004, todas vencidas pelo Benfica (curiosamente não me recordo de uma final da Taça de Portugal ganha pelo F.C.Porto ao Benfica), foram momentos de grande felicidade, sobretudo, devo dizer, as que não coincidiram com títulos nacionais, ou seja a primeira (com um golo solitário do brasileiro César), e a última, para a qual não consegui arranjar bilhetes, com Camacho no banco e golos de Simão e Fyssas diante de um F.C.Porto de Mourinho a quatro dias de se sagrar campeão europeu em Gelsenkirchen. A final de 1983 teve a particularidade de se disputar no início da época seguinte, e no Estádio das Antas, depois de uma conturbada batalha institucional, na qual o F.C.Porto acabou por, como era hábito na altura, fazer prevalecer a sua vontade, mesmo contrariando a lógica e a tradição. Não lhe serviu de nada, pois um golo de Carlos Manuel fez com que o Benfica levantasse uma das mais saborosas Taças de Portugal da sua história.
Nunca tive oportunidade de assistir a um F.C.Porto-Benfica em território “inimigo”. Guardo contudo na memória – e já aqui o lembrei – o duelo de 1991, no qual o Benfica levou a melhor com dois golos de César Brito, e praticamente conquistou, nessa tarde, o campeonato. Para além desta vitória, para o campeonato apenas recordo a de há dois anos, com dois golos de Nuno Gomes, e a tal de 1976-77, que foi, como disse no inicio, o primeiro confronto entre os dois clubes de que tenho memória – recordo o resumo do jogo num programa chamado Telefutebol, apresentado por Cordeiro do Vale. Na Taça de Portugal, além da tal final, lembro-me ainda de uma outra vitória do Benfica, em 1981-82, também por 0-1 com um golo de Nené no prolongamento.
Para além destes pontuais momentos de alegria, os Portos-Benficas disputados a norte não tiveram, neste período, um historial muito feliz. Derrotas, e mais derrotas, um empate aqui, um empate ali, alguns dos quais, no entanto, bem valiosos em termos classificativos. Mas a mais pesada derrota aconteceu, ironicamente, no Estádio da Luz, quando com Paulo Autuori no banco, um Benfica sem alma e sem talento, se viu derrotado por 0-5 (!) por um F.C.Porto emplogante. Jogava-se para a Supertaça, competição maldita para as cores encarnadas (16 derrotas em 24 jogos com o rival portuense na prova).
Este é pois um jogo recheado de história, de memórias e também de alguma conflitualidade. Muitas vezes foram os árbitros a tomar o protagonismo, a maioria das quais, é preciso dizê-lo, beneficiando o mesmo lado. Expulsões absurdas (Rojas, Miguel, Ricardo Rocha, Eder), golos anulados (Amaral, Kandaurov, Petit), penáltis mal marcados (Rui Bento sobre Rui Filipe, Mozer sobre Vinha), definiram muitas vezes o resultado do clássico. É tudo o que se espera não aconteça amanhã.
Deseja-se que, após o jogo, seja dos artistas que se fale, que se assista a um grande espectáculo, e que, já agora, ganhe o Benfica. Julgo que, clubismo à parte, seria bom para o campeonato que tal acontecesse. Desejos à parte, a sensibilidade e a experiência apontam-me o empate como o desfecho mais previsível para esta partida. Veremos amanhã se se confirma este meu palpite, ou se o Benfica é capaz de dar uma grande alegria aos seus incontáveis adeptos.
2 comentários:
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