EUFÓRICO, POIS CLARO !
Quase me apetecia dividir esta crónica em duas partes: uma para o empate e o apuramento de Portugal para o Euro 2008, e outra para a forma como ele foi entendido por alguns jornalistas, comentadores e afins.
Em primeiro lugar, é de salientar a forma como o povo do norte apoiou a selecção, dissipando todas e quaisquer desconfianças que pudessem existir a esse respeito. O estádio estava cheio, e o apoio foi constante, mostrando que felizmente há – como por vezes esquecemos, mas é justo reconhecer – muito Porto para além do fanatismo e facciosismo de alguns. Suponho que nesse particular, a selecção nacional e os portuenses (e portistas) tenham ontem dado um importante passo no sentido de esquecer alguns mal entendidos do passado recente, e partir para uma nova etapa, na qual possa ser possível enfim congregar todo o país em redor da equipa das quinas. Ontem o Porto mereceu a festa e o apuramento. Honra lhe seja feita.
Quanto ao jogo, devo dizer que não diferiu muito daquilo que esperava. Uma Finlândia expectante, a apostar na sua frieza, e num eventual erro que lhe pudesse valer o golo, e Portugal fazendo tudo para chegar cedo a uma vantagem que lhe pudesse conferir maior segurança na abordagem ao resto do jogo, mas com algumas dificuldades no seu processo ofensivo, resultantes sobretudo da ausência de Deco – estratega indispensável a esta equipa -, e do menor fulgor de Quaresma e Cristiano Ronaldo.
A selecção nacional criou algumas oportunidades, obrigou Jaaskelainen a brilhar, e fez até o suficiente para justificar uma vitória. Não empolgou, é um facto, mas há que salientar que a natureza deste jogo dificilmente poderia permitir uma atitude muito diferente à equipa de Scolari, do que aquela que manifestou. Teria sido suicida se Portugal trocasse a segurança com que desenvolveu as suas transições, por uma maior espectacularidade que, diga-se, não estava, com tantas ausências e tantas dificuldades na montagem da equipa, em condições de proporcionar. Aliás, a Finlândia também está longe de ser um adversário dócil, tratando-se antes de uma equipa madura, organizada, forte fisicamente e que chegava ao Dragão apostada em fazer história. Quase o conseguiu.
Nos minutos finais houve tempo para sofrer bastante. Os nórdicos subiram finalmente no terreno e, sobretudo nalguns lances de bola parada, ainda nos assustaram a todos, como por exemplo naquele corte deficiente de Bruno Alves que quase traía Ricardo. O apito final soou como um alívio. O empate foi aquilo que precisávamos para fazer a festa e seguir para a fase final, objectivo primeiro e último desta fase de apuramento.
Agora haverá tempo para preparar estes e outros jogadores, recuperar lesionados, e com toda a gente em boa forma, abordar então o Euro com confiança e determinação em conseguir mais uma campanha ao nível do que tem sido comum com Scolari. Até lá muita coisa se vai passar, mas estou seguro de que o nível futebolístico que a selecção nacional poderá oferecer em Junho, será com certeza superior ao que lhe tem sido possível apresentar nos últimos meses.
Quando se pensava que a conferência de imprensa com o seleccionador nacional ia ter como pano de fundo a consagração de um feito alcançado, eis que alguns jornalistas insistiram, de forma tão ridícula quanto absurda, no facto de a selecção nacional não ter ganho o jogo, não ter dado espectáculo, e não ter esmagado os finlandeses, e todos os outros adversários que foram ficando para trás. Não foi nada que não me passasse pela cabeça, sobretudo depois de ver a inacreditável reportagem da SIC Notícias à saída do estádio, na qual o (suponho) editor de desporto do canal, entrevistava adeptos, e quase violentando as suas opiniões os induzia a criticar a selecção e o seleccionador de forma extraordinariamente obstinada.
Obviamente que Scolari – que irá disputar a terceira fase final em quatro anos desta sua aventura portuguesa - perdeu a paciência e foi-se embora. Eu teria feito o mesmo.
Nunca em trinta anos de futebol vi ninguém festejar exibições. Os jogos, as competições, os campeonatos são definidos pelos resultados e pelas classificações. São estas que levam os adeptos às ruas, que nos fazem vibrar de euforia, ou que, ao invés, nos roem por vezes de amargura e nos banham em lágrimas. O futebol é um jogo em que as equipas procuram ganhar jogos, títulos ou qualificações. Quando não conseguem os adeptos ficam tristes e decepcionados, quando, pelo contrário, os objectivos são alcançados, o mais natural é que reine a alegria e a felicidade. Parece bastante simples e linear, mas no nosso país, cheio de teóricos de algibeira, não o é.
Portugal conseguiu o seu objectivo, deixando de fora um ex-campeão da Europa, e um ex-vice-campeão, no único dos grupos que tinha cinco (!) candidatos ao apuramento. Enfrentou grandes dificuldades para formar um onze coeso, fruto das saídas, por diferentes motivos, de Figo, Costinha, Nuno Valente e Pauleta, e das inúmeras lesões que marcaram os momentos decisivos desta fase de qualificação (para este jogo Scolari não dispunha de “apenas” Paulo Ferreira, Miguel, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Petit, Deco e Hugo Almeida !, todos eles potenciais titulares). Acabou por cumprir os catorze jogos cedendo apenas uma derrota tangencial. Apurou-se com três pontos de vantagem. O que é preciso fazer mais ?
Sou do tempo das vitórias morais. Do tempo em que as fases de qualificação começavam invariavelmente de modo empolgante, mas na altura das decisões, quase sempre com uma vistosa exibição, Portugal ficava pelo caminho, chorando pontos mal perdidos, bolas que não entraram, falhas deste ou daquele, lamentando, de lágrima no olho, o triste fado português. Scolari acabou com isso, e Portugal tem sabido, com ele, afirmar-se nos momentos decisivos, e chamar a si um sucesso alicerçado numa força mental e numa capacidade competitiva notáveis. Foi assim que, no meio de críticas, insultos, incompreensões e ataques mais ou menos pessoais, levou a nossa selecção a uma final de um Europeu – coisa que nunca tinha acontecido -, e às meias-finais de um Mundial, repetindo a histórica saga dos magriços.
A Inglaterra ficou de fora, França, Holanda e Espanha só in-extremis conseguiram as suas classificações. A Itália, campeã do mundo, qualificou-se nos minutos de desconto do último jogo, festejou exuberantemente, e duvido que alguém se tenha insurgido contra Donadoni por jogar bonito ou feio, defender assim ou assado, atacar com este ou aquele. O que pensam afinal estes nossos senhores “comentadores” sobre o que é o futebol internacional da actualidade?
Se, por exemplo, no caso do Benfica, ainda é desculpável algum saudosismo das exibições e resultados do tempo de Eusébio e dos títulos internacionais então conquistados, à selecção nacional, sem qualquer palmarés relevante, estar-se agora a exigir que massacre todos os adversários, que dê show a cada partida que disputa, que consiga apuramentos antes de toda as mais poderosas selecções da Europa, soa a alarvidade. Tal atitude não faz qualquer sentido à luz de nenhuma lógica, e como tal só pode significar bastante má vontade, caso não lhe queiramos chamar estupidez.
Foi graças a esta mentalidade lunática e sonhadora, a esta mania de grandezas mal dissimulada, a esta constante atracção retórica para o abismo, que Portugal muitas vezes se afundou a si próprio, desperdiçando recursos e virtudes, no futebol e noutros aspectos da sua história. Já é tempo de mudar. Na sua área, Scolari tem contribuido para essa mudança, e o país devia estar-lhe grato por isso.
Vamos pois festejar este apuramento, e ignorar o ruído que alguns - uma sonora minoria - têm feito à volta dele. Portugal está na elite das 16 melhores selecções da Europa. Isto basta. Para já…
Viva Portugal !
Em primeiro lugar, é de salientar a forma como o povo do norte apoiou a selecção, dissipando todas e quaisquer desconfianças que pudessem existir a esse respeito. O estádio estava cheio, e o apoio foi constante, mostrando que felizmente há – como por vezes esquecemos, mas é justo reconhecer – muito Porto para além do fanatismo e facciosismo de alguns. Suponho que nesse particular, a selecção nacional e os portuenses (e portistas) tenham ontem dado um importante passo no sentido de esquecer alguns mal entendidos do passado recente, e partir para uma nova etapa, na qual possa ser possível enfim congregar todo o país em redor da equipa das quinas. Ontem o Porto mereceu a festa e o apuramento. Honra lhe seja feita.
Quanto ao jogo, devo dizer que não diferiu muito daquilo que esperava. Uma Finlândia expectante, a apostar na sua frieza, e num eventual erro que lhe pudesse valer o golo, e Portugal fazendo tudo para chegar cedo a uma vantagem que lhe pudesse conferir maior segurança na abordagem ao resto do jogo, mas com algumas dificuldades no seu processo ofensivo, resultantes sobretudo da ausência de Deco – estratega indispensável a esta equipa -, e do menor fulgor de Quaresma e Cristiano Ronaldo.
A selecção nacional criou algumas oportunidades, obrigou Jaaskelainen a brilhar, e fez até o suficiente para justificar uma vitória. Não empolgou, é um facto, mas há que salientar que a natureza deste jogo dificilmente poderia permitir uma atitude muito diferente à equipa de Scolari, do que aquela que manifestou. Teria sido suicida se Portugal trocasse a segurança com que desenvolveu as suas transições, por uma maior espectacularidade que, diga-se, não estava, com tantas ausências e tantas dificuldades na montagem da equipa, em condições de proporcionar. Aliás, a Finlândia também está longe de ser um adversário dócil, tratando-se antes de uma equipa madura, organizada, forte fisicamente e que chegava ao Dragão apostada em fazer história. Quase o conseguiu.
Nos minutos finais houve tempo para sofrer bastante. Os nórdicos subiram finalmente no terreno e, sobretudo nalguns lances de bola parada, ainda nos assustaram a todos, como por exemplo naquele corte deficiente de Bruno Alves que quase traía Ricardo. O apito final soou como um alívio. O empate foi aquilo que precisávamos para fazer a festa e seguir para a fase final, objectivo primeiro e último desta fase de apuramento.
Agora haverá tempo para preparar estes e outros jogadores, recuperar lesionados, e com toda a gente em boa forma, abordar então o Euro com confiança e determinação em conseguir mais uma campanha ao nível do que tem sido comum com Scolari. Até lá muita coisa se vai passar, mas estou seguro de que o nível futebolístico que a selecção nacional poderá oferecer em Junho, será com certeza superior ao que lhe tem sido possível apresentar nos últimos meses.
Quando se pensava que a conferência de imprensa com o seleccionador nacional ia ter como pano de fundo a consagração de um feito alcançado, eis que alguns jornalistas insistiram, de forma tão ridícula quanto absurda, no facto de a selecção nacional não ter ganho o jogo, não ter dado espectáculo, e não ter esmagado os finlandeses, e todos os outros adversários que foram ficando para trás. Não foi nada que não me passasse pela cabeça, sobretudo depois de ver a inacreditável reportagem da SIC Notícias à saída do estádio, na qual o (suponho) editor de desporto do canal, entrevistava adeptos, e quase violentando as suas opiniões os induzia a criticar a selecção e o seleccionador de forma extraordinariamente obstinada.
Obviamente que Scolari – que irá disputar a terceira fase final em quatro anos desta sua aventura portuguesa - perdeu a paciência e foi-se embora. Eu teria feito o mesmo.
Nunca em trinta anos de futebol vi ninguém festejar exibições. Os jogos, as competições, os campeonatos são definidos pelos resultados e pelas classificações. São estas que levam os adeptos às ruas, que nos fazem vibrar de euforia, ou que, ao invés, nos roem por vezes de amargura e nos banham em lágrimas. O futebol é um jogo em que as equipas procuram ganhar jogos, títulos ou qualificações. Quando não conseguem os adeptos ficam tristes e decepcionados, quando, pelo contrário, os objectivos são alcançados, o mais natural é que reine a alegria e a felicidade. Parece bastante simples e linear, mas no nosso país, cheio de teóricos de algibeira, não o é.
Portugal conseguiu o seu objectivo, deixando de fora um ex-campeão da Europa, e um ex-vice-campeão, no único dos grupos que tinha cinco (!) candidatos ao apuramento. Enfrentou grandes dificuldades para formar um onze coeso, fruto das saídas, por diferentes motivos, de Figo, Costinha, Nuno Valente e Pauleta, e das inúmeras lesões que marcaram os momentos decisivos desta fase de qualificação (para este jogo Scolari não dispunha de “apenas” Paulo Ferreira, Miguel, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade, Petit, Deco e Hugo Almeida !, todos eles potenciais titulares). Acabou por cumprir os catorze jogos cedendo apenas uma derrota tangencial. Apurou-se com três pontos de vantagem. O que é preciso fazer mais ?
Sou do tempo das vitórias morais. Do tempo em que as fases de qualificação começavam invariavelmente de modo empolgante, mas na altura das decisões, quase sempre com uma vistosa exibição, Portugal ficava pelo caminho, chorando pontos mal perdidos, bolas que não entraram, falhas deste ou daquele, lamentando, de lágrima no olho, o triste fado português. Scolari acabou com isso, e Portugal tem sabido, com ele, afirmar-se nos momentos decisivos, e chamar a si um sucesso alicerçado numa força mental e numa capacidade competitiva notáveis. Foi assim que, no meio de críticas, insultos, incompreensões e ataques mais ou menos pessoais, levou a nossa selecção a uma final de um Europeu – coisa que nunca tinha acontecido -, e às meias-finais de um Mundial, repetindo a histórica saga dos magriços.
A Inglaterra ficou de fora, França, Holanda e Espanha só in-extremis conseguiram as suas classificações. A Itália, campeã do mundo, qualificou-se nos minutos de desconto do último jogo, festejou exuberantemente, e duvido que alguém se tenha insurgido contra Donadoni por jogar bonito ou feio, defender assim ou assado, atacar com este ou aquele. O que pensam afinal estes nossos senhores “comentadores” sobre o que é o futebol internacional da actualidade?
Se, por exemplo, no caso do Benfica, ainda é desculpável algum saudosismo das exibições e resultados do tempo de Eusébio e dos títulos internacionais então conquistados, à selecção nacional, sem qualquer palmarés relevante, estar-se agora a exigir que massacre todos os adversários, que dê show a cada partida que disputa, que consiga apuramentos antes de toda as mais poderosas selecções da Europa, soa a alarvidade. Tal atitude não faz qualquer sentido à luz de nenhuma lógica, e como tal só pode significar bastante má vontade, caso não lhe queiramos chamar estupidez.
Foi graças a esta mentalidade lunática e sonhadora, a esta mania de grandezas mal dissimulada, a esta constante atracção retórica para o abismo, que Portugal muitas vezes se afundou a si próprio, desperdiçando recursos e virtudes, no futebol e noutros aspectos da sua história. Já é tempo de mudar. Na sua área, Scolari tem contribuido para essa mudança, e o país devia estar-lhe grato por isso.
Vamos pois festejar este apuramento, e ignorar o ruído que alguns - uma sonora minoria - têm feito à volta dele. Portugal está na elite das 16 melhores selecções da Europa. Isto basta. Para já…
Viva Portugal !
5 comentários:
Subscrevo até as vírgulas deste teu texto.
Queria escrever alguma coisa sobre o assunto, mas penso que tudo o que queria dizer está aqui.
Abraço
Um abraço
LF
Parabens, para Portugal por mais um apuramento, desta vez para o Euro2008
Estou de acordo consigo em algumas coisas, tambem acho que o resultado deste jogo com a Filandia, era mais importante que a exibição
Nos outros jogos desta qualificação, penso que Portugal só fez um jogo bom (Portugal-Belgica), nos outros jogos, jogamos apenas o sofrivel para no fim nos qualificarmos
Em relação ao espírito de vitórias, Portugal desde 1989, com a vitória dos Sub 20 em Riade e em particular com a vitória de Lisboa, começou a trilhar um percurso de vitórias e de apuramentos para as grandes provas a nivel de Selecções
O grande passo, foi dado por Carlos Queiroz a nivel de mentalidade competitiva, deixamos de nos considerarmos "os coitadinhos", jogadores como Vitor Baia, Fernando Couto, Jorge Costa, Paulo Sousa, Figo, Rui Costa e outros, jogaram ou ainda jogam em grandes clubes europeus, trazendo essa experiência para a nossa Selecção
Luís F. Scolari, trouxe a união do povo com a Selecção, tambem por causa do Euro2004 ter sido em Portugal, estes exitos devem-se á força exercida por Gilberto Madail, para manter este treinador e dar estabilidade á Selecção
Todos apontam Scolari como salvador, mas eu penso que este percursos de vitórias, deve-se a Queiroz+jogadores+Madail+Scolari+Clubes
Queria ainda referir outra coisa, se Scolari fosse português, quanto tempo teria ficado á frente da Selecção, depois de brigas com os jogadores, clubes, jornalistas e acabando na agressão ao jogador da Servia, a passagem de Scolari, não foram só "rosas", houve tambem muitos "espinhos"
Enfim, agora é preparar a Selecção para o Euro2008, de maneira a que demonstre o seu real valor, pois o apuramento foi muito fraquinho e sem brilho
Concordo com o papel de Queiroz.
Quanto a Madail, acho que foi mais um caso de estar na hora certo no local certo. Se descontarmos a selecção A, todo o restante edifício do futebol português tem muitas carências, que não têm sido resolvidas.
De qualquer modo, a aposta em Scolari foi muito bem conseguida.
Pelo valor individual, espero agora que os índices colectivos de Portugal subam significativamente em Junho próximo. Apesar de tudo, parabéns Portugal!
altobola.blogspot.com
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