DE REGRESSO

Depois de uns dias de ausência, cá estamos de novo, e muito se passou entretanto. Para não alongar muito coisa, aqui vão reunidas algumas notas sobre cada um dos temas mais actuais.
TAÇA DA LIGA- A eliminação do Benfica foi tudo menos inesperada. Desde o início da sua participação (na Amadora) que os encarnados deram mostras claras de esta competição não ser uma aposta sua. É triste para os adeptos, que querem sempre ganhar, que querem evitar ver os rivais levantar troféus, mas percebe-se que para, os profissionais, esta competição nada acrescente e apenas complique.
No meio de um calendário apertado de Champions e Liga, os jogadores do Benfica ficam assim aliviados de mais três ou quatro jogos, podendo centrar atenções nas provas que lhes conferem dinheiro e prestígio.
Da noite do Bonfim importa ressaltar ainda as fraquíssimas prestações de Zoro, Bergessio e Miguelito, que se terão colocado bastante a jeito de uma eventual dispensa em Janeiro. Nota ainda para as condições do estádio do Bonfim, muito deficitárias para um encontro que congregou seguramente mais de 15 mil pessoas (bilhetes a 5 euros…).
O Sporting cumpriu a sua obrigação, eliminando o Fátima, e dando um pontapé nos sinais de crise que se adensavam no seu horizonte.
QUESTÕES DIRECTIVAS NO BENFICA – Ciclicamente aparecem no Benfica estes casos de demissionários insatisfeitos e com vontade de ajustar contas numa comunicação social ávida de sangue. Deu-se agora mais um episódio.
Por muito que haja a criticar na gestão de Vieira – e tenho-o aqui feito ultimamente – não me parece que as razões de Andrade e Sousa sejam as mais pertinentes. Está em causa, basicamente, o facto do vice-presidente para a área financeira ser simpatizante do Sporting.
Preferia que o Benfica estivesse apenas entregue a benfiquistas, mas Domingos Soares de Oliveira é dos profissionais mais competentes de todo o universo empresarial do clube da Luz, e além do mais está lá por sugestão (imposição?) do sindicato bancário responsável pelo financiamento do estádio, o que de certo modo atesta a sua credibilidade. Se há aspectos em que a vida do clube tem melhorado com esta direcção, o plano financeiro e empresarial é seguramente um deles. Critique-se pois Vieira pela gestão desportiva, e deixe-se trabalhar profissionais competentes, independentemente de na intimidade da sua vida pessoal torcerem para que a bola entre numa ou noutra baliza.
Já agora importa lembrar que Andrade e Sousa foi o responsável pelo inqualificável recurso no caso Nuno Assis, que levou ao agravamento do castigo do jogador, o que não abona muito em seu favor.
SIC – Grande parte da comunicação social rejubila com estas e outras polémicas. O próprio adepto português é muito propenso a elas, gostando na verdade mais delas que do jogo propriamente dito.
Há jornais e jornais, televisões e televisões. Uma há contudo que se destaca, não no combate a este ou aquele clube, mas numa guerra impiedosa contra o próprio futebol. Trata-se da SIC, e em particular da SIC Notícias.
Vendo as transmissões da Liga fugirem para a TVI, e as das provas internacionais manterem-se na RTP, a estação de Balsemão faz tudo para descredibilizar e corroer o produto que a concorrência vende. Programas como o “Dia Seguinte” – onde os erros dos árbitros são escalpelizados até ao absurdo, e as mais variadas insinuações são levianamente deixadas no ar -, e o “Tempo Extra”, onde Rui Santos passa uma hora a cultivar a intriga, o boato e a insinuação, respondem na perfeição a esse paradigma, que não é de hoje (lembram-se dos “Donos da Bola” ?), que faz audiências, mas de “desportivo” e de inocente nada tem.
FAIR-PLAY - Excelente artigo de Carlos Daniel no "Record", chamando a atenção para uma evidência que parece não ter sido ponderada por muitos dos defensores da lógica cabe-ao-árbitro-interromper-o-jogo-em-caso-de-lesão. Também a mim me parece que, deixando ao árbitro a decisão de parar ou não parar o jogo (que aliás a lei sempre permitiu), a opção será sempre a primeira, e o anti-jogo triunfará. Dos jogadores adversários, até por sentirem melhor a questão, sempre se espera mais critério...
"CORRUPÇÃO" - Tive na sexta-feira oportunidade de assistir ao filme inspirado no livro de Carolina Salgado, curiosamente ao mesmo tempo que, no Estádio do Dragão, o F.C.Porto empatava com o Belenenses graças a um golo irregular de Helder Postiga.
Quem me conhece de outras lides sabe bem da minha paixão por cinema, pelo que o olhar sobre os filmes a que assisto é o olhar de um cinéfilo, frequentador de festivais, que tem em casa uma colecção de mais de 700 filmes em video e DVD. Por este motivo, e porque este espaço é de futebol que trata, vou deixar de lado a análise artística da obra, e dizer apenas que o filme, quase exclusivamente centrado no livro, é uma oportunidade perdida quanto à denúncia daquilo que se passou no futebol português nas últimas duas décadas. Dir-me-ão que não era esse o objectivo. Talvez não fosse, mas era seguramente aquilo que eu e muita gente esperava dele, e como tal saí da sala com um ligeiro sentimento de frustração - em vez de um documento de denúncia, tive diante dos meus olhos apenas cinema, bom ou mau, mas cinema.
TRINTA JOGOS SEM PERDER ! – Em Inglaterra foi em tempos lançado um vídeo comemorativo de uma brilhante série de jogos do Arsenal sem perder (suponho que uns 40), feito que os adeptos terão considerado como se de um título se tratasse.
Pois em Portugal, sem que a comunicação social dê disso conta, o Benfica leva já 30 jogos da Liga sem conhecer a derrota (20 vitórias e 10 empates), e se não perder na Luz com o Boavista na próxima ronda, completará um ano civil inteiro imbatido na principal prova nacional- a última derrota data de 18 de Novembro de 2006 em Braga.
Embora estes resultados não tenham ainda valido qualquer título (fruto do desastrado começo da época passada), é um registo assinalável, sendo necessário recuar até 1983 e ao Benfica de Eriksson, para encontrar semelhante série (então 36 partidas).
Se isto é uma crise…
JORNADA 9 - De todo o fim-de-semana futebolístico apenas pude ver a segunda parte do Paços-Benfica, e os golos do Porto-Belenenses e Sporting-Naval.
Não gostei da exibição do Benfica (diz-se que no início esteve melhor), que foi extremamente feliz na forma como conseguiu uma vitória crucial nesta fase do campeonato. Os encarnados não souberam impor-se ao adversário. Lutaram muito, mas a qualidade de jogo mais uma vez esteve ausente. Valeu o golo de Katsouranis, pleno de oportunidade, que permite ao Benfica depender agora apenas de si próprio com vista ao título - se bem que ainda seja cedo para fazer essas contas, trata-se, em todo o caso, de um factor psicológico importante. De realçar a incrível série de golos marcados pelo Benfica nos ultimos minutos, que não deixa de significar uma atitude de crença bastante louvável. Copenhaga, Leixões, E.Amadora, Milan, V.Setúbal, Celtic, Marítimo e P.Ferreira foram para já as vítimas deste estranho sindroma dos últimos 5 minutos.
A arbitragem fica remetida para a rubrica "Classificação Real", a editar ainda hoje. Por ora, e a propósito do jogo da Mata Real, fica apenas uma pergunta: o que é uma obstrução ?

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